O
desenvolvimento do comércio em Jequié, foi acompanhado de um sentimento de
devoção religiosa que, sempre nutre os habitantes de uma localidade em fase de
crescimento. A necessidade de um acompanhamento espiritual, que favorecesse aos
primeiros povoadores, foi tida com fator essencial, que não poderia ser
negligenciada. Para isso, a população, ciente de seus deveres cristãos, começou
a agilizar, no sentido de construir sua primeira igreja. Enquanto esse ensejo
demorava de ocorrer, Jequié era visitava, dentre outros, pelos padres Marinho e
Bernardino, de Maracás e pelo padre Galrão, de Ubaíra. A margem direita do Rio
das Contas, por pertencer à freguesia de Poções, ficava sob os cuidados do
padre Luís França. Esses sacerdotes quando vinha prestar seus serviços em
Jequié, eram hospedes de honra do grande José Rotondano, que sempre promovia
eventos cívicos e religiosos no povoado.
A
construção da primeira igreja de Jequié foi feita com muito sacrifício por
falta de dinheiro para sua conclusão. Joaquim Fernandes da Silva, morador do
arraial, doou o terreno na Praça do Comércio, hoje Luís Viana e encaminhou em 9
de fevereiro de 1885, uma petição ao Monsenhor Vigário Capitular, que logo foi
deferida
pelo Arcebispado e fez uma campanha a fim de angariar fundos para terminar as
obras da única igreja existente no povoado.
Concluída
a edificação da igreja, não foi difícil a criação da Paróquia de Santo Antônio
de Jequié, que foi desmembrada das freguesias de Rio de Contas, Porções e
Maracás, pelo arcebispo metropolitano de São Salvador da Bahia e primaz do
Brasil, D. Jerônimo Tomé da Silva. O evento ocorreu em 19 de janeiro de 1899,
havendo consenso entre brasileiros e italianos na escolha do padroeiro, pois
Santo Antônio era português de Lisboa e se notabilizou em Pádua, cidade
italiana. O primeiro vigário foi o cônego Jacinto Hilário Ribeiro Sanches, que
trouxe o primeiro piano para Jequié, destruído completamente na enchente de
1914. Foi ele quem, na noite de Natal de l889, celebrou a primeira Missa do
Galo no povoado.
Com a
criação da paróquia e igreja matiz, Jequié já emancipada na categoria de vila,
pôde dar andamento às festividades com mais propriedades. Em 5 de setembro de
1907, Jequié, recebe pela primeira vez, a visita de um arcebispo. D. Jerônimo
Tomé da Silva foi recebido com louvor pelos jequieenses com muitos aplausos,
sob o pipocar dos foguetes e concertos das duas filarmônicas jequieenses: “Lira
Carlos Gomes” e “União Recreativa”. Foi uma festa esplendorosa. Durante os dias
em que o arcebispo permaneceu em Jequié, foram realizados diversos atos
religiosos, entre eles, 271 batizados, 3026 crismas e 106 casamentos. Para se
ter uma avaliação da extensão do acontecimento, segundo consta, cerca de oito
mil pessoas acorreu de toda parte para receber as bênçãos do arcebispo; isso,
numa época, em que a vila, não tinha atingido, ainda, os dois mil e quinhentos
habitantes para ser elevada à categoria de cidade.
Sendo
Jequié uma cidade predominantemente católica, a festividade religiosa mais
importante da vila ficou sendo o “13 de junho” dia do padroeiro local, seguida
da Semana Santa e do Natal. Nessa época a Festa de Santo Antônio de Jequié já
atraia gente de toda a redondeza e durante muito tempo constituiu o principal
evento da cidade, com suas trezenas, precedidas das novenas do Mês de Maria,
suas quermesses maravilhosas e sua famosíssima procissão, que percorria as
principais vias públicas da cidade. A fama de ser a melhor festa da região foi
mantida até meados dos anos 80, quando foram introduzidas em suas quermesses
músicas e alegorias alienígenas, pouco condizentes com a sua tradição.
A
grande enchente do Rio das Contas em 1914 trouxe grandes prejuízos a Jequié. A
cidade que crescia com vigor, sofreu bastante com a calamidade. Tudo começou
nos primeiros dias de janeiro daquele ano, quando, depois de oito dias de
chuvas constantes, as águas do rio começaram a subir assustadoramente. Com o
aumento das chuvas em toda a região, as águas invadiram a cidade e sobreveio a
catástrofe. Para se ter a extensão da tragédia, as águas atingiram a atual
Praça Ruy Barbosa, que na época era um mangueiro da firma de Vicente Grillo. A
cidade de Jequié perdeu dois terços de suas construções e sua primeira igreja,
construída com tanto amor e sacrifício, sucumbiu diante da revolta das águas.
Passada
a tempestuosa agitação das águas e o leito do rio voltando a sua normalidade, o
povo arregaçou as mangas para reconstruir a sua cidade. Uma nova igreja foi
erguida para abrigar a Paróquia de Santo Antônio, ela foi edificada numa área
bastante elevada, de terreno regular, doado por Vicente Grillo, situado numa
praça aberta entre o traçado da Avenida Rio Branco com o traçado da Rua Nestor
Ribeiro. O antigo cemitério da cidade, que era situado nessa área, foi demolido
e transportado os restos mortais de seus sepultos para uma colina, afastada da
cidade, onde é hoje o atual cemitério São João Batista. No terreno onde outrora
ficava o antigo cemitério, 20 anos depois, foi erguido o Grupo Escolar Castro
Alves (1934), hoje Museu Histórico de Jequié. Em seu principio, a construção da
nova igreja foi elaborada de uma maneira prática, para atender as imediatas
necessidades religiosas da população. Entretanto sua edificação obedecia alguns
fatores essenciais em sua estrutura visando alguma alteração futura. Por muito
tempo funcionou sem a sua famosa torre. Mais tarde em 1928, a igreja foi
reformada, obedecendo ao estilo Neo Gótico, projetado pelo arquiteto francês
André Saffrey e executado pelo engenheiro alemão Carlos Kuenh, o qual construiu
as escadarias da igreja e a sua torre, colocando nela um grande relógio, doado
por Vicente Grillo, deixando todo o projeto pronto para ser terminado em etapas
posteriores, sendo concluído, definitivamente, em 1945.
Em
1939, o arcebispo D. Augusto Álvaro da Silva visita Jequié e é recepcionado
pelo pároco da Igreja de Santo Antônio, Padre Altino Freire, que veio a falecer
em 29 de junho de 1949, ficando em seu lugar o padre o padre Climério Andrade
que ocupou o cargo de pároco da Paróquia de Santo Antônio e Igreja Matriz de
Jequié.
No
início dos anos 50, a Paróquia de Santo Antônio ganha uma sede própria.
Edificada atrás da igreja, na Rua Nestor Ribeiro, de esquina com a Rua 10 de
Julho, a Casa Paroquial, residência oficial do pároco primaz, é beneficiada com
um magnífico teatro, que fez História em nossa cidade. A partir de sua
inauguração, pode a comunidade jequieense deleitar-se com suas tertúlias
semanais nas tardes de domingo. Palco de peças teatrais amadoras, a maioria das
quais infantis, abrigou em seu auditório o Clube de cinema durante os anos 60.
A
década de 50 foi muito envolvente para a comunidade católica jequieense. Em
1952, Jequié recebeu a visita da Imagem da Virgem de Fátima, vindo da cidade de
Fátima em Portugal, que durante alguns dias foi recepcionada na Igreja Matriz
com missas e procissões nas principais ruas da cidade, como também na Igreja do
Perpétuo Socorro no Jequiezinho e na capela do Ginásio Jequié, com missa
campal, rezada pelo padre Leônidas Spínola.
As
festas religiosas dessa época eram bastante animadas. Havia novenas no final do
ano, do Natal até o dia dos Santos Reis, com missas do galo no Natal e Ano
Novo, com o altar armado na escadaria da igreja, lotando toda Praça Castro
Alves de fieis. A festa de Santo Antônio, padroeiro da cidade era a mais
bonita, com suas
trezenas,
suas quermesses e sua famosa procissão, que segundo as pessoas mais antigas, no
ano de 1958 contou com a presença de dez mil fieis, os quais acompanharam o
saudoso padre Climério Andrade em seu préstito religioso, numa época que a
população do município era apenas de 52 mil habitantes.
No
início dos anos 60 o padre Climério é ordenado bispo, sendo designado para
ministrar a diocese de Vitória da Conquista. Entre os párocos que o sucedeu, um
se destacou perante os outros e a paróquia de Santo Antônio ganhou um grande
pastor, que muito fez pela comunidade católica jequieense; trata-se do padre
Jairo Ruy de Matos, que mais tarde e ordenado bispo, com cerimônia na Igreja
Matriz de Jequié, foi transferido para a diocese da cidade Senhor do Bonfim.
No dia
07 de novembro de 1978 é criada a diocese de Jequié, desmembrada da diocese de
Amargosa, sendo seu primeiro bispo, monsenhor Cristiano Jacob Krapf. Sendo
assim a Igreja Matriz de Jequié passou a ostentar o nome de catedral.
Esse
artigo foi baseado nas obras do professor e historiador Emerson Pinto de Araújo
e depoimento de diversos cidadãos jequieenses.
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