Quem compra uma bebida sabor uva espera que ela tenha uma coloração arroxeada, semelhante ao fruto. Para isso, são utilizados corantes alimentícios que, como é indicado pelo nome, são usados para conferir ou realçar a cor dos alimentos industrializados e torná-los mais atrativos para os consumidores. No entanto, o uso de corantes artificiais pode ser nocivo à saúde. Estudos apontam a associação dessas substâncias com o surgimento de alergias, ação cancerígena, problemas respiratórios e gástricos, déficit de atenção e hiperatividade em crianças, entre outros problemas. Agora, imagine um corante natural extraído de uma fruta que, além de ter alta atividade antioxidante e propriedades anti-inflamatórias, possui ação associada à redução do risco de doenças cardiovasculares, diabetes e câncer? É nesse sentido que um estudo científico tem sido desenvolvido, por meio de colaboração entre a Uesb e outras três instituições de pesquisa: a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e a Associação dos/as Agricultores da Serra dos Paus Doias (Agrodóia-PE). Com a extração de corante natural da fruta Eugenia gracillima Kiaersk (Myrtaceae), comumente conhecida como murta no Nordeste do Brasil, a nova substância tem uma vasta possibilidade de aplicação em produtos de mercado, como os segmentos farmacêutico, cosmético, indústria têxtil, através do tingimento, e, mais particularmente, o alimentício (gelatinas, derivados lácteos, doces, sucos, entre outros). No ramo dos alimentos, a nova substância surge como alternativa aos convencionais corantes artificiais industrializados e ainda podem ser utilizados para adição de propriedades bioativas, naturalmente presentes nesses pigmentos. De acordo com a pesquisadora Iasnaia Maria de Carvalho Tavares, pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciências de Alimentos (PPGCAL) da Uesb, o fruto da murta foi identificado com alto poder de pigmentação, pois tem pigmentos naturais em grande quantidade, que provocam uma coloração roxa escura intensa em diversas aplicações, a exemplo de licores, fermentados, doces, etc. “Os pigmentos naturais responsáveis pela cor são muito instáveis e podem ser afetados por vários fatores, como a estrutura química, concentração, pH, temperatura, luz, presença de copigmentos, íons metálicos, enzimas, oxigênio, ácido ascórbico, açúcares e seus produtos de degradação. É preciso conhecer a estrutura química, as possíveis reações químicas que podem ocorrer durante o processo de extração para se estabelecer um processo no qual se minimize as perdas, obtendo, assim, um corante com alto poder de pigmentação e estável”, explicou Tavares.
Registro de depósito de patente – Por conta do seu conhecimento sobre corantes naturais, a pós-doutoranda da Uesb foi convidada para contribuir no trabalho, auxiliando no suporte técnico. A pesquisadora vem colaborando nas etapas de idealização, testes preliminares, desenvolvimento e validação da tecnologia e escrita do pedido de depósito de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). De acordo com Tavares, esse registro tem como objetivo proteger um estudo científico inédito, que relata a extração de corante natural da polpa, extratos, farinha ou subprodutos do fruto da murta, por meio da aplicação de um processo tecnológico apropriado. “É um trabalho muito especial, porque fui convidada para participar como especialista em corantes naturais. Eles tinham a ideia do projeto, mas não estavam conseguindo desenvolver o processo, por não ter nenhum pesquisador que conhecesse quimicamente o composto. Então, foi um reconhecimento de meu trabalho e sou muito orgulhosa dessa patente”, celebrou Tavares. (Ari Moura)
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