Por Carlos Eden Meira
Jaime morava no pé da “ladeira
do vinte e sete”. Era um rapagão de seus dezoito ou dezenove anos, alto, louro
e de pele rosada com “cara de gringo”, como diziam os vizinhos. O interessante
é que ele era ardoroso fã de James Dean, assim como todos nós garotos
pré-adolescentes na época, e também, muitas das garotas nossas vizinhas que
viam a grande semelhança entre o Jaime e o ator James Dean, morto em um
acidente de carro havia poucos anos. E não era só a semelhança física além do
nome Jaime, ou seja, James, na forma inglesa. Acontece que o Jaime de nossa
rua, era mais feio do que o ator norte-americano, mas sabia que era parecido
com ele apesar de ser mais alto, e abusava nos trejeitos, modo de andar, no
penteado, inclusive na invejável jaqueta vermelha, camiseta branca, calças
jeans e botinas pretas.
Nós garotos ficávamos a vê-lo
subindo a ladeira todo manhoso, de cigarro pendurado na boca, as duas mãos
enfiadas nos bolsos das calças, enquanto as garotas, para nossa inveja,
suspiravam nas janelas ao vê-lo passar. Principalmente a Maria Lícia, garota
bonita, de cabelos longos presos em “rabo de cavalo”, coisa da moda nos anos
cinquenta. Maria Lícia queria também, acompanhar a “performance” na versão
feminina hollywoodiana das jovens do momento, usando calças jeans, tênis branco
e camisas brancas masculinas por cima das calças, de mangas arregaçadas,
querendo chamar a atenção do Jaime, o que causava ciúmes nos garotos
“apaixonados” pela beleza de Maria Lícia. Como não podia deixar de ser, Jaime e
Maria Lícia foram influenciados pelo “fantasma” do James Dean, e acabaram sendo
namorados. Passeavam ali pertinho pela antiga Rua Bela Vista, de mãos dadas,
trocando beijoquinhas e deixando a galerinha verde de inveja.
- Se eu fosse maior, eu ia dar
uns cacetes e tomar a Maria Lícia desse James Dean de araque! – Disse alguém da
turminha. Bem, o tempo foi passando, e Vivaldo “Araruta”, um dos nossos amigos
da rua que era meio maluco, mas era também muito prático em consertar e
construir carros-de-mão, patinetes e coisas semelhantes, resolveu construir uma
“prancha”. Era um carro de madeira, feito com um caixote preso a uma base de
tábua, adaptada com parafusos a duas pequenas tábuas transversais, que
seguravam os eixos e as rodas de madeira de bordas revestidas com borracha.
Vivaldo incrementava o veículo, colocando freios e volante improvisados com
madeira, cordas, metal e borracha. Fomos todos convidados a inaugurar a
“prancha”; uns cinco garotos ao todo, amontoados dentro daquilo, resolvidos a
descer a ladeira do Vinte e Sete. E lá fomos nós, numa maluca descida, quando
percebemos que o freio não suportou tanto peso, numa ladeira cheia de buracos,
pedras e barrancos. Ninguém sabia o que fazer quando avistamos “James Dean”
subindo a ladeira, todo cheio de manha, como sempre. - A “prancha” vai quebrar!
– gritou Vivaldo, quando um dos meninos ciumentos teve a idéia: - Joga em cima
do sacana do “James Dean” que ela para!.
Dito e feito. Vivaldo dirigiu a “prancha” na direção do Jaime que assustado, levantou a perna com seu pé calçado de botinas pretas lustrosas, e deu uma espécie de coice, virando a “prancha” de banda, espalhando meninos e pedaços de madeira para todos os lados. “James Dean”, que nessa empreitada quase se esborracha, saiu xingando nomes impublicáveis, indo em direção à casa de sua namorada, a linda Maria Lícia. A turma, arranhada, amassada e chateada, teve que dar graças a Deus por ter colocado “James Dean” no seu caminho, pois, ainda havia muita ladeira esburacada para descer, e o “desastre” poderia ter sido pior.
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