J. B. Pessoa
Houve
uma época em que, o programa predileto da meninada de Jequié era ir às matinês
aos domingos. Era o tempo das trocas de revistas em quadrinhos nas portas dos
cinemas, antes e depois de cada sessão. Época dos grandes filmes de faroeste,
filmes em preto e branco e alguns raros coloridos. Tempos dos famosos seriados
que, com a sua “volta na próxima”, deixava o herói em perigo e ele só se
safaria na próxima semana, em outro capítulo, obrigando o espectador a
retornar, sempre, no próximo domingo.
Enquanto a garotada entrava no
cinema, com o inocente propósito de ver um bom filme, alguns moleques tinham
intenções completamente diferentes. Compareciam ao espetáculo, no intento de
paquerar alguma garota. Marcavam os encontros sempre nas portas dos cinemas.
Outros, mais espertos, esperavam dentro da sala de projeção para não pagar o
ingresso da menina.
Em um desses maravilhosos
domingos, apareceu na matinê do Cine Teatro Jequié, um rapaz acompanhado de uma
linda garota. Era uma menina de quinze anos, loura de olhos claros e um corpo
escultural. O malandro procurou com o olhar e encontrou dois lugares vazios, em
frente de uma turma de guris que, naquele momento, gritavam com alegria à
espera da projeção cinematográfica. Sentaram os dois de mãos dadas e o sujeito,
olhando em volta, encarou a meninada com um sorriso zombeteiro. Quando as
primeiras cenas apareceram na tela, surgiram entre os dois pombinhos um
colóquio tão escabroso, que a gurizada ficou indecisa, a qual das artes
assistia: se a do celulóide ou a do drama ao vivo. O namoro iniciou entre
suspiros e beijos prolongados. A “mão boba” do malandro não parava de
trabalhar. A turminha observava, atentamente, tudo àquilo com interesse e ao
mesmo tempo com certa dose de inveja. O rapaz, que não passava de um sujeito
exibicionista, ao perceber a plateia que se formava ao seu redor, resolveu dar
mais ênfase no seu desempenho. Com um olhar de galã hispânico e um falso
sotaque carioca, interrogou a guria num sussurro adocicado.
- Diga-me broto! De quem é esses
olhinhos que não se cansam de me admirar?
- É seu querido! – Respondeu a
garota com voz melosa de menininha apaixonada,
- E esse narizinho?
- É seu, meu querido!
- E essa boquinha gostosa?
- Também é sua, meu bem!
À medida que ia perguntando à
garota, sempre no diminutivo, a quem pertencia àqueles dotes físicos, o
malandro acariciava a todos eles: no queixo, no pescoço e ia descendo,
descendo... Tocando nos seios da menina perguntou novamente!
- E esses peitinhos durinhos,
broto!... Diga pro papai aqui! De quem é?
A menina, uma tanto
envergonhada, disse baixinho:
- É claro que é seu, meu bem!
Nesse momento, a gurizada tinha
esquecido completamente do filme que assistia e todos estavam com os olhos
grudados na cena ao vivo. O sacana, ainda não satisfeito, desceu a mão grande
mais abaixo, indo pousar naquela maravilhosa flor, que toda mulher traz entre
as pernas.
- E essa bocetinha!... De quem
é?
A ninfeta percebendo a atenção
da turma em sua volta, envergonhada, tirou a “mão boba” de suas partes e
calou-se timidamente.
O patife perguntou mais e mais!
Como a menina teimava em não responder, e ele, querendo mostrar-se senhor da
situação, berrou bem alto e de bom som:
- De quem é essa bocetinha
aqui?!
Subitamente, um moleque famoso
da cidade gritou bem alto, sendo ouvido por todo o recinto:
- Acode Seu Guarda!... Perderam
uma boceta aqui dentro do cinema!
(*) do livro (não publicado) “Velhos Tempos Jequieenses”
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