domingo, 25 de julho de 2021

Bob Mancada.

                                                                     J. B. Pessoa

Era um belo tipo de homem. Alto de compleição atlética, cabelos e olhos negros, tez morena e um sorriso cativante que demonstrava uma personalidade simpática e atraente. Apesar de todos esses dotes, o rapaz fazia pouco sucesso entre as garotas de sua cidade, devido à sua fama de negligente e de pouca cultura. Notoriedade essa, que foi aumentada pelos despeitos de certos rapazes, que morriam de inveja do jovem atraente. Ele era, constantemente, motivo de chacota por parte da turma, com quem convivia, devido aos seus equívocos. Seu nome era Roberto Costa e Silva. Justamente por causa de suas gafes e por despeito de seus desventurados amigos, ficou sendo conhecido por Bob Mancada.

Uma bela noite, daquelas que a lua parecia sorrir para a cidade, uma turma de rapazes estava reunida em frente de uma residência, muito bonita, conhecida como “Casa de Lomanto”. Eles estavam comentando a respeito de um filme, que tinham acabado de assistir. Tratava-se de “os Reis do Iê, Iê, Iê”, primeiro filme dos Beatles a passar em Jequié. De repente, no meio da algazarra juvenil, Roberto aparece e diz com uma alegria pueril:

- Ei turma!... Uma grande novidade! No sábado que vem, vai ter uma festa no Tênis, em homenagem aos comerciantes, com um conjunto que tem corneta, chamado “Os Trigues”!

Silêncio total!... Todos os rapazes olharam admirados para aquele jovem ingênuo, que ostentava um sorriso, de quem trazia uma grande novidade. Nesse momento, atento às palavras de Roberto, o maior zombeteiro daquela turma de pândegos, não perdeu a oportunidade de caçoar o rapaz. Virou-se para os presentes no local, e comentou com um sorriso sarcástico:

- É inacreditável, o número de erros que Bob Mancada cometeu, ao divulgar essa desastrosa notícia! – Rindo às gargalhadas, começou enumerar as falhas cometidas pelo rapaz:

- Em primeiro lugar a palavra é tigre e não trigue!... Segundo, o nome do conjunto é “Os Panteras” e não “Os Tigres” e depois a festa é em homenagem aos comerciários e não aos comerciantes; a festa vai ser no Clube dos Cadetes e não no Jequié Tênis Clube e será um chá dançante domingo a tarde! – O rapaz parou um pouco para respirar, fingindo cansaço. A seguir, emitindo um sorriso gozador, continuou:

E tem mais: o instrumento não é corneta e sim saxofone e depois Os Panteras não tem sax e sim escaleta e, por último, o chá dançante não será animado pelo Conjunto “Os Panteras” e sim pelo “Bossa Seis” – concluiu o zombador, com uma estridente gargalhada, sendo acompanhada por um coro de zombarias. Um rapaz embriagado, conhecido como Zé Porre, que tudo ouvia e nada dizia, finalizou aos berros:

- Por último uma porra!...Não vai ter porcaria de festa coisa nenhuma!... Os sacanas queriam que o Bossa tocasse de graça e ainda queriam cobrar ingressos dos associados.

(Publicado pelo jornal Livre Arbítrio)

Do Livro, não publicado: “Velhos Tempos Jequieenses”


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