J. B. Pessoa
Havia
dois estudantes do Colégio Comercial de Jequié, que não primavam pela
inteligência. As mancadas que esses rapazes cometiam, tornaram-se piadas que
ultrapassaram as fronteiras jequieenses. Andavam sempre juntos, pois cursava o
mesmo ano, do curso de contabilidade. Eram jovens brancos, de famílias
distintas, bastantes conceituadas na cidade. Quando os dois se sentavam em uma
mesa de bar para beber e começavam a discutir, ostentavam uma postura elegante,
parecendo verdadeiros intelectuais. Quando um afirmava uma coisa, que o outro
discordava eles debatiam o tema com posturas acadêmicas, usando expressões
eruditas. Porém, a fama dos dois era grande, pois suas afirmações esdrúxulas
eram frutos de uma delirante percepção anormal, que chegava ao ridículo. Freqüentavam
a alta sociedade jequieense, e pelas suas famigeradas carraspanas, fiaram sendo
conhecidos pelos apelidos de Chico Cana-Doce e Zé Chupeta. Não conseguiam
convencer ninguém de suas opiniões, nem mesmos os menos instruídos e, até os
analfabetos, olhavam para eles com desdém.
Em um
domingo à noite, após a da última sessão de cinema do Cine Teatro Auditorium,
um grupo de estudantes encontrou os dois discutindo em frente de um palacete
branco, conhecido como da casa de Lomanto. Era uma turma de vadios, famosa
pelas suas molecagens, cujo passatempo predileto era ridicularizar os menos
informados. Não poupavam ninguém. Nem mesmo os próprios elementos do seu grupo.
Eles eram liderados por um temível gozador, conhecido como Paulo Presley.
Quando viu os rapazes, Zé Chupeta, morrendo de rir, foi ao encontro deles
dizendo com escárnio:
- Olha
pra aqui, turma! Veja o que Chico está falando! O cara é burro pra porra!
- O
que Chico está falando? – Perguntou Paulo, fingindo surpresa.
- Ele
está dizendo que a lua está andando!... Vê se pode!
Percebendo
a chance de ridicularizar o rapaz com uma gozação, Paulo perguntou:
- A
lua andando! Como é mesmo o negocio Zé?
Nesse
instante Chico Cana-Doce interferiu na conversa, dizendo:
-
Estou dizendo pra esse otário, que a lua está andando e só ele, que é cego, não
vê isso!
- E eu
estou afirmando pra esse jumento, que a lua não anda! São as nuvens que passa
debaixo dela, dando a impressão de que ela está andando! Não é mesmo turma? –
Esclareceu Zé Chupeta, certo da aprovação da rapaziada.
Paulo
disfarçou o sorriso e, piscando o olho para sua turma, disse em alto e bom som:
- O
Chico está coberto de razão! A lua está realmente andando! – Chamando Zé
Chupeta à parte, disse com amabilidade:
- Você
não se lembra de quando nós encontramos vocês dois por aqui, antes das oito
horas, quando a gente estava indo para o cinema? Você até comentou como ela
estava bonita!... Ela estava nascendo por traz daquele morro! Se ela não
estivesse andando não estaria na posição, onde se encontra agora!
Zé
Chupeta começou a coçar a cabeça e, chateado com seu “erro”, se desculpou:
- Puxa
turma!... É verdade! Eu não tinha pensado nisso!
-
Porque é burro! – Disse Chico se vingando do amigo.
- Bom,
desta vez você ganhou! Eu me atrapalhei! – afirmou Zé Chupeta se rendendo ao
companheiro.
- Pois
é! Eu lhe aconselho a estudar para não dizer bobagens! – Advertiu Chico,
sentindo-se senhor da situação.
A
turma deixou os dois discutindo e partiu em direção à Praça Ruy Barbosa,
morrendo de rir com a estupidez dos dois.
(Do
livro não publicado: “Velhos Tempos Jequieenses”)
(Publicado
no jornal Livre Arbítrio)
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