segunda-feira, 7 de junho de 2021

IMPORTÂNCIA DO CONTROLE POPULACIONAL DE CÃES E GATOS

Oscar Vitorino Moreira Mendes


Há milhares de anos, ao domesticar o cão e o gato, o homem tornou-se responsável pelo bem-estar desses animais, e, diga-se de passagem, conviver com um bicho de estimação é um privilégio que nos acrescenta qualidade de vida. No entanto, alguns cuidados devem ser observados para que essa relação seja bastante harmoniosa e prazerosa. Por outro lado, a superpopulação desses animais é um problema vivido pela maioria dos centros urbanos e, em muitos casos, o triste destino desses animais é o abandono nas ruas e muito sofrimento, e são vítimas de maus tratos. Estes são considerados animais errantes (seres domesticados, livres e sem dono, que habitam o meio urbano). O que acarreta sérios problemas de saúde e segurança pública, já que animais de rua podem transmitir zoonoses (doenças que são transmitidas de animais para humanos, ou de humanos para os animais), a exemplo da raiva, leptospirose, toxoplasmose, leishmaniose, entre outras, que causam grandes transtornos para a saúde pública, além de elevados custos. O problema ainda se agrava em razão da extraordinária capacidade de reprodução de cães e gatos, constituindo-se num sério problema socioambiental, onde ninhadas indesejadas frequentemente abandonadas acabam em situação não domiciliada. Nesse aspecto, embora o abandono de animais seja crime previsto pela Lei Federal nº 9605/98, esta prática é muito comum nas cidades, e não seria diferente em Jequié.

Nesse contexto, a denúncia de maus-tratos é legitimada pelo Art. 32, da Lei Federal nº. 9.605 de 1998 (Lei de Crimes Ambientais). Afinal, todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem; o animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca abandonado. Para tanto, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), guarda responsável é a condição na qual o proprietário

aceita e se compromete a prover as necessidades físicas, psicológicas e ambientais de seu animal, assim como prevenir os riscos de transmissão de doenças e agressões a terceiros. Não obstante, é fácil constatarmos hoje em dia, que o relacionamento entre homens e animais de estimação está cada vez mais próximo, ao ponto de serem considerados como membros da família (MATOS, 2012). Essa aproximação, segundo Singer (2004), é favorecida por uma condição inerente dos animais, a senciência - "capacidade de sofrer, sentir prazer ou felicidade". Dizer que um ser é senciente é reconhecer que ele é capaz de sentir sensações, de vivenciar sentimentos de forma consciente, como dor, angústia, solidão, amor, alegria, raiva, etc. Em outras palavras: é a capacidade de ter percepções conscientes do que lhe acontece e do que o rodeia.

Ainda segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as atividades isoladas de recolhimento e eliminação de cães e gatos não são efetivas para o controle da população. Deve-se atuar na causa do problema: a procriação animal sem controle e a falta de responsabilidade do ser humano quanto à sua posse, propriedade ou guarda (WHO, 1990). Por sua vez, o controle das populações de animais e o controle de zoonoses devem ser contemplados em programas ou políticas públicas. Desse modo, sabendo que cães e gatos são animais pluríparos (as fêmeas podem apresentar pelo menos dois cios ao ano), com gestação curta, proles numerosas, rápido amadurecimento sexual e alto sucesso reprodutivo, e por agir diretamente no problema de ninhadas indesejadas, a preferência para o cadastro de animais para a castração deve ser dada as fêmeas, levando-se em consideração principalmente a proteção do seu bem-estar e da disseminação de doenças transmitidas entre esses animais, ou comuns a eles e aos seres humanos. Inclusive, para a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1992), a esterilização, é o método mais eficiente e ético para o manejo desses animais. Entretanto, se o Programa oferecer as condições necessárias para a sua ampliação no atendimento, pode-se pensar, também, em realizar o mesmo procedimento nos machos, já que estes estão sempre sexualmente ativos.

Mas, para que tudo isso aconteça, é crucial, a implementação de políticas públicas por parte do município. Outro aspecto a salientar, é que, além de esforços do poder público, as organizações não governamentais (ONGs) têm papel importante no controle populacional desses animais com trabalhos de recolhimento, esterilização

através de profissionais voluntários, e destino (adoção) dos mesmos; ações estas, já desenvolvidas por algumas ONGs em nossa cidade, numa demonstração de amor e carinho para com os animais de rua. Merece aplausos! Sem dúvida, essas ações conjuntas têm demonstrado êxito em curto prazo no trabalho de diminuir o aumento da população desses animais em situação de abandono ou concebidos na rua, mas não o suficiente para acabar com o problema. Elas apenas amenizam a situação, uma vez que ainda não há políticas públicas com essa finalidade. Nesse aspecto, a literatura é bastante categórica, ao afirmar que a castração, através de mutirões para a população de baixa renda é o método mais eficiente e eficaz, podendo também, para isso, estabelecer convênios entre prefeituras e clínicas veterinárias particulares e projetos de centro cirúrgico itinerante (castramóvel), e obter resultados efetivos no controle populacional animal. Por falar nisso, a Prefeitura Municipal de Jequié adquiriu um Castramóvel e, certamente, o colocará em ação, tão logo esteja liberado para fazê-lo. Por sua vez, a implantação de um programa de controle animal, geralmente se depara com alguns problemas para a sua permanente execução, a exemplo da alocação de recursos financeiros para adquirir material tais como anestésicos, fios de sutura, antibiótico e outros insumos; do pagamento de honorários de médicos veterinários e auxiliares, dentre outros. Além disso, exige planejamento que englobe diagnóstico, ações preventivas, controle e avaliação. Mas não podemos e nem podemos perder a esperança. Vamos à luta!

Em compensação, a castração, além de constituir-se num método de controle populacional bastante eficaz, é utilizada como tratamento para doenças do trato reprodutivo, reduz a susceptibilidade a uma série de enfermidades, como por exemplo, as neoplasias de mamas e doenças reprodutivas; tende a diminuir o ímpeto do animal de circular na rua, brigas, agressividade e atropelamentos; restrição do comportamento reprodutivo indesejável; redução de doenças transmitidas sexualmente entre os animais, como por exemplo, o tumor venéreo transmissível, uma patologia comum em cães errantes não castrados.

Méd. Vet. Oscar Vitorino Moreira Mendes

Prof. Aposentado da UESB e Membro da Associação de Méd. Vet. de Jequié


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