J. B. Pessoa
“A fogueira está queimando, em
homenagem a São João...” Com essa cantiga se iniciava o baile típico das noites
de São João, nos saudosos anos dourados. Aos ritmos dos xotes, baiões e
xaxados, a moçada sacudia as “cadeiras” nos animados forrós, também conhecidos
como “arrasta pés”, que tanto sucesso faziam naquela época. Enquanto a meninada
soltava fogos e balões em volta das fogueiras, os mais velhos bebericavam
licores e quentões, se empanturrando com as guloseimas característica da festa.
As festas juninas começavam com
as novenas rezadas na igreja matriz em homenagem a Santo Antonio. Nas treze
primeiras noites do mês de junho, as quermesses patrocinadas pela paróquia,
eram frequentadas pela maioria da população, principalmente pela juventude, que
aproveitava o evento para flertar, esperando que o santo casamenteiro
agraciasse os solteiros com um noivado promissor no dia dos namorados. Na noite
desse dia, felizes com seus parceiros, os namorados dançavam no baile
tradicional que o Jequié Tênis Clube dava todo o ano, na noite de 12 de junho.
Esse baile terminava com a saraivada de foguetes às cinco horas da manhã,
anunciando o alvorecer do dia do santo padroeiro de Jequié.
Pela manhã do dia 13 de junho,
missas solenes eram rezadas e a tarde uma gloriosa procissão percorria as
principais ruas do centro da cidade acompanhada pela população, principalmente
pelos jovens namorados.
O último dia das quermesses era
o mais animado, no chamado parque de Santo Antonio. Barracas com várias
diversões entusiasmavam a juventude. Desde o famoso bingo, passando pelo jogo
dos preás aos cassinos improvisados e pelo leilão para angariar fundos para a
igreja. A partir da meia noite, as famílias iam se retirando e a festa
terminava com os últimos notívagos sonhando com a noite das fogueiras.
A festa de São João era a mais
esperada do mês. Logo pela manhã, as senhoras preparavam os quitutes juninos,
para servir ao povaréu, que iam penetrar nas suas residências, pois esta era
uma festa sem convites. As “donas de casas” faziam questão de receber parentes,
amigos e até pessoas desconhecidas para ouvir os elogios às suas mesas. Vários
tipos de bolos, doces e licores eram servidos, juntos às pamonhas, canjicas e
outras iguarias feitas de milho. Durante o dia, moças enfeitavam as suas ruas com
muitas bandeirolas e pequenos balões, enquanto os rapazes armavam as fogueiras
em frente das suas casas e, perto delas, cavavam o chão e assentava um grande
ramo de árvore, simbolizando a planta de São João, na qual era colocadas frutas
todas as espécies que pudessem conseguir. Certa vez um cidadão colocou no ramo
de sua fogueira, além as frutas naturais, algumas garrafas de aguardente. Um
bêbado, ao passar pelo local, exclamou maravilhado: “Esta sim, que é uma planta
abençoada, pois até pinga ela da!”
As fogueiras eram acesas a
partir das dezoito horas, seguidas do pipocar das bombas e dos clarões de
diversos fogos de artifícios. Foguetes mil rasgavam os céus, estourando suas
bombas no alto e, se era noite de estio, podia se ver milhares de balões, que se
confundiam com as estrelas. Os “arrasta-pés” eram inúmeros, com muitos foliões
indo de casa em casa para dançar, comer e beber em louvor a São João. No
alvorecer do dia 24, os festeiros iam tomar banho no Rio de Contas, na crença
de serem suas águas abençoadas e purificadas pelo santo.
A última festa junina era a de
São Pedro, comemorada somente pelos viúvos e viúvas e pelos que tinham sidos
batizados com o nome do santo. Era uma repetição mais modesta da festa
anterior, devido ao pouco número de residências que festejava o santo porteiro
do Céu. Porém a festa era atraente pela quantidade de pessoas que iam às ruas
ávidas de farras, e pelo fato dos forrós serem poucos, tendo muita gente
querendo dançar.
As festas juninas de outrora
foram desaparecendo com as novidades em moda. O avanço tecnológico do mundo
industrial tornou inviável o costume de soltar balões, Os novos ritmos
liquidarem os saudosos “arrasta pés” e o custo de vida não permitem mais, que
as “donas de casa” patrocinem banquetes como antigamente.
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