"Baianão" dublando o cantor Genival Lacerda, São João na Praça Rui Barbosa - Jequié - BA, administração do prefeito Landulfo Caribé. |
Faleceu às 02:20 desta quinta feira o Jequiense José Celestino, interinado a mais de 90 dias na UTI do Hospital Santa Helena, em Jequié. O velório será na Pax NAcional e o sepultamento está previsto para as 10 horas desta sexta feira.
Em 2017 realizei uma entrevista com o amigo "Baianão", matéria editada na Revista Cotoxó. Uma recordação para os Jequieenses.
O Folclórico “Baianão”.
Charles Meira
José Celestino "Baianão" |
"Baianão" Arte de Raimundo Sampaio. |
Conversando com o comentarista de futebol Waldemir Vidal citei nomes de pessoas que poderiam possuir fotos antigas de Jequié. O comentarista na oportunidade me falou que “Baianão” tinha um grande acervo de fotografias e sabia muito da história do futebol amador de Jequié. Acatei a sua preciosa informação e decidimos visitá-lo na sua residência.
No domingo dia 26/02, Waldemir Vidal, Charles Meira, Edísio Santana e Marli Silva, visitaram “Baianão”. Foram recebidos cordialmente e trataram de diversos assuntos, porém devido o horário avançado a entrevista sobre o tema desejado foi realizada na manhã do dia 02/03, somente por Charles Meira.
Charles Meira e "Baianão”. |
Depois de colocar o seu inseparável chapéu na cabeça, o remédio no nariz, sentar em uma cadeira na sala de sua residência “Baianão” contou que nasceu em Jequié em 23/09/1932 e casou-se em 01/07/1961 com Maria Dalva Lopes Celestino. Após a confirmação dos dados pela sua esposa tirou a curiosidade de todos relacionada ao seu apelido. Disse que o seu primeiro apelido foi “Zé de Peté”, depois ”Zé Bedeu” e finalmente com 14 anos de idade, quando jogava bola num campo próximo ao matadouro, onde hoje é a FIAT no Jequiezinho, um amigo de infância chamado Aurino, o apelidou de “Baianão” por admirá-lo pela sua disposição de menino forte nas suas atitudes, um baiano grande, um verdadeiro “Baianão”. No início não gostou do apelido, porém foi acostumando e pegou. Hoje ninguém o conhece por José Celestino e sim “Baianão”.
Anésia Barreto Palma |
Pedro Celestino |
Depois desta curiosidade prosseguiu contando que toda sua família é de Jequié, sendo que uma parte ficou radicada no bairro do Jequiezinho, outra no bairro do Curral Novo e alguns foram morar em Rio Novo, hoje o município de Ipiaú-Ba. Que seu pai Pedro Celestino era matador de boi, dono de açougue e trabalhou muito com Newton e Jorge Cerqueira. Que na ocasião quando tinha meses de idade, sua mãe Anésia Barreto Palma separou do seu pai e fugiu da Fazenda Provisão para ficar no bairro do Jequiezinho com sua avó. Que sua mãe continuou a vida, lavando roupa para João Borges, Dona Estela de Calom Moreira. Que seu pai ficou morando aqui em Jequié, entretanto o fato dele ter melhorado de vida e nem todo homem pode ter dinheiro e ver mulher bonita, arrasaram a sua vida num momento, motivos que levaram a sua mãe fazer também o papel de pai. Emocionado “Baianão” com muito orgulho citou alguns bons ensinamentos pronunciados pela sua mãe: “onde viu lá você deixa”, “nem tudo que você vê pode conversar”, “o seu é seu o do outro é do outro”, “quem não tem irmão brinca sozinho”. Em seguida mencionou uma conversa com sua mãe: “hoje nós estamos bonito, pois não temos nada para comer, porém vamos arranjar. Você vai pescar e eu vou buscar língua de vaca para a gente fazer”. “Baianão” prosseguiu a conversa mostrando seriedade, firmeza e deu um brilhante depoimento: “é bonito a gente sofrer, ter alguma coisa com sofrimento, para depois ver a diferença. Deus é tão bom que me deu na velhice, não me deu na infância. Deu-me coragem e disposição para ser um pouco de tudo, um coringa: matava boi, porco, fui ajudante e na roça fiz de tudo”
Com sei jeito peculiar de falar, gesticulado como se estivesse discursando num palanque político contou que aos 19 anos de idade, época considerada para “Baianão” a mais importante da sua vida, ocasião que conheceu um homem que mais tarde tornaria o seu melhor amigo, irmão, um pai, pessoa que não pode esquecer hora nenhuma, momento nenhum, o senhor Waldomiro, criatura que não sai da sua mente. O encontro ocorreu no ano de 1951, época que aconteceu uma seca terrível em Jequié, período que Waldomiro era diretor de água da prefeitura. No bairro do Jequiezinho, local onde a prefeitura construiu um chafariz, Waldomiro cercado de muita gente, estava com a chave na mão e disse: “Quem quer ficar abrindo a água por uns 20 dias, até conseguirmos uma pessoa, pois funcionários são poucos e não posso deslocar um para fazer esse trabalho”. Sempre disposto Baianão falou que se Waldomiro confiasse faria o serviço, que o seu interesse era servir o povo. Na época não tinha amizade com o diretor, conhecia de nome, através do seu irmão Dorival Borges. Neste mesmo ano, “Baianão” entrou na Prefeitura Municipal de Jequié no cargo de Serviços Gerais na administração de Lomanto Junior.
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Em seguida continuou falando da sua amizade com Waldomiro, Dona Juju, Borginho e Cezar. Falou desta longa amizade familiar e contou que fazia as compras e não pegava as notas, pois ás vezes que trazia ele rasgava. Disse que Deus livre - guarde, botasse veneno num copo com água e desse para Waldomiro ele bebia, não olhava duas vezes. Waldomiro dizia: “não pode dar, não promete”. Era um homem de palavra e muito direito, calmo e conselheiro. Dando uma gostosa gargalhada, “Baianão” disse também que Lomanto Junior tinha ciúme dele com Waldomiro.
Com a mesma alegria, risadas e descontração, uma tônica de toda a entrevista, “Baianão” passou a falar de futebol, usando uma camisa do Botafogo, seu time no Rio de Janeiro - RJ. Inicialmente contou que o primeiro campo de futebol de Jequié ficava no Semeado, local onde era plantado muito Alecrim e ficava próximo da Rua Magalhães Caitité, da Avenida Presidente Vargas, perto ao bar de Mário Ruim. Confidenciou também que jogando bola, apenas sapecava e como a maioria dos brasileiros era apaixonado pelo futebol.
Time amador do Jequiezinho - Em Pé: "Baianão", Virgilho Tourinho, Pequeno, Lando, Valdir, Cicilho, Valdir, Zé Souza e Aníbal. Agachados: Curinga, Jaime, Vando, Papada, Maneca e Pichica. |
Que em Jequié era torcedor do time amador do Jequiezinho, do qual foi presidente, equipe que em certa ocasião ficou 32 partidas sem perder. Que na época quando acontecia o jogo entre os times do Jequiezinho e do Botafogo, torcia para acontecer um empate. Que no período quando Waldomiro Borges foi prefeito de Jequié, administrou o estádio Aníbal Brito. Que o estádio na ocasião ficava sempre cheio e tinha três posições no campo: arquibancada, sombra e geral. Que no sol era mais barato e quem podia ia para a arquibancada que era feita de madeira.
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“Baianão” citou também alguns times amadores de Jequié como: o Vasco da Gama do presidente Moises Amaral, o Flamengo de Marçal, Carlos Lopes, Maneca Sampaio, o Bahia de Dr. Zenildo Tourinho do grande jogador Valter e do excelente goleiro chamado Tide que era mudo, o Estudante do presidente Bria e dos jogadores Hugo Vitamina e Benito Leto, o Mandacaru do presidente Hercules Meira, o América de Izidorio, o Humaitá que Clóvis Barreto era o goleiro.
Encerrou o assunto relacionado ao futebol dizendo que no momento que resolveram mudar o estádio de local, sugeriu ao então prefeito Waldomiro Borges, para fazer o campo próximo do Derba, sendo assim o estádio não sairia do Jequiezinho, pois matava e morria pelo seu bairro. Waldomiro resolveu fazer no bairro do Mandacaru, pois o local necessitava de um benefício.
"Baianão" com o Rifle/Winchester, que fez parte da luta de Silvino do Curral Novo. |
Novamente “Baianão” mudou de assunto, mostrando e falando de um Rifle/Winchester/Repetição/Calibre44/16Tiros/Fabricação/USA, que possuía e segundo ele a arma fez parte da defesa feita por Silvino do Curral a Jequié. Que na época quando Jequié tinha o trem de ferro ele ia à estação, onde hoje abriga o Corpo de Bombeiros para carregar malas, as barraqueiras vendiam o cuscuz, os tocadores de viola cantavam, enquanto as mulheres chegavam da Rua do Maracujá.
Trem de Ferro na estação em Jequié – BA. |
Finalizamos a entrevista, “Baianão” falou que se aposentou como Fiscal de Tributos na Prefeitura Municipal de Jequié no ano de 1993, mostrando uma foto de Lomanto Junior prestando uma homenagem a Silvino em uma inauguração no bairro do Curral Novo e escondido de Dona Dalva sua esposa, outra tirada na fazenda de Waldomiro que o casal estava na fotografia.
Em Pé: Dona Juju, Waldomiro Borges, Edmar Mendes e família. Sentados: Dalva Lopes Celestino e "Baianão". * Texto editado na Revista Cotoxó em dezembro de 2017. |
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