quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Faleceu o folclórico “Baianão”.

"Baianão" dublando o cantor Genival Lacerda, São João na Praça Rui Barbosa -  Jequié - BA, administração do prefeito Landulfo Caribé.


Faleceu às 02:20 desta quinta feira o Jequiense José Celestino, interinado a mais de 90 dias na UTI do Hospital Santa Helena, em Jequié. O velório será na Pax NAcional e o sepultamento está previsto para as 10 horas desta sexta feira.

Em 2017 realizei uma entrevista com o amigo "Baianão", matéria editada na Revista Cotoxó. Uma recordação para os Jequieenses.


O Folclórico “Baianão”.

                                                     Charles Meira
José Celestino "Baianão"
"Baianão" Arte de Raimundo Sampaio.

"Baianão" e Wilson Glarcas, carnaval na A.C.J -  Joaquim Romão Jequié - BA.
Conversando com o comentarista de futebol Waldemir Vidal citei nomes de pessoas que poderiam possuir fotos antigas de Jequié. O comentarista na oportunidade me falou que “Baianão” tinha um grande acervo de fotografias e sabia muito da história do futebol amador de Jequié. Acatei a sua preciosa informação e decidimos visitá-lo na sua residência.  

Edísio Santana, "Baianão", Waldemir Vidal e Marli Silva.

             No domingo dia 26/02, Waldemir Vidal, Charles Meira, Edísio Santana e Marli Silva, visitaram “Baianão”. Foram recebidos cordialmente e trataram de diversos assuntos, porém devido o horário avançado a entrevista sobre o tema desejado foi realizada na manhã do dia 02/03, somente por Charles Meira.

Charles Meira e "Baianão”.
Depois de colocar o seu inseparável chapéu na cabeça, o remédio no nariz, sentar em uma cadeira na sala de sua residência “Baianão” contou que nasceu em Jequié em 23/09/1932 e casou-se em  01/07/1961 com Maria Dalva Lopes Celestino. Após a confirmação dos dados pela sua esposa tirou a curiosidade de todos relacionada ao seu apelido. Disse que o seu primeiro apelido foi “Zé de Peté”, depois ”Zé Bedeu” e finalmente com 14 anos de idade, quando jogava bola num campo próximo ao matadouro, onde hoje é a FIAT no Jequiezinho, um amigo de infância chamado Aurino, o apelidou de “Baianão” por admirá-lo pela sua disposição de menino forte nas suas atitudes, um baiano grande, um verdadeiro “Baianão”. No início não gostou do apelido, porém foi acostumando e pegou. Hoje ninguém o conhece por José Celestino e sim “Baianão”.


Anésia Barreto Palma
Pedro Celestino
Depois desta curiosidade prosseguiu contando que toda sua família é de Jequié, sendo que uma parte ficou radicada no bairro do Jequiezinho, outra no bairro do Curral Novo e alguns foram morar em Rio Novo, hoje o município de Ipiaú-Ba. Que seu pai Pedro Celestino era matador de boi, dono de açougue e trabalhou muito com Newton e Jorge Cerqueira. Que na ocasião quando tinha meses de idade, sua mãe Anésia Barreto Palma separou do seu pai e fugiu da Fazenda Provisão para ficar no bairro do Jequiezinho com sua avó. Que sua mãe continuou a vida, lavando roupa para João Borges, Dona Estela de Calom Moreira. Que seu pai ficou morando aqui em Jequié, entretanto o fato dele ter melhorado de vida e nem todo homem pode ter dinheiro e ver mulher bonita, arrasaram a sua vida num momento, motivos que levaram a sua mãe fazer também o papel de pai. Emocionado “Baianão” com muito orgulho citou alguns bons ensinamentos pronunciados pela sua mãe: “onde viu lá você deixa”, “nem tudo que você vê pode conversar”, “o seu é seu o do outro é do outro”, “quem não tem irmão brinca sozinho”. Em seguida mencionou uma conversa com sua mãe: “hoje nós estamos bonito, pois não temos nada para comer, porém vamos arranjar. Você vai pescar e eu vou buscar língua de vaca para a gente fazer”. “Baianão” prosseguiu a conversa mostrando seriedade, firmeza e deu um brilhante depoimento: “é bonito a gente sofrer, ter alguma coisa com sofrimento, para depois ver a diferença. Deus é tão bom que me deu na velhice, não me deu na infância. Deu-me coragem e disposição para ser um pouco de tudo, um coringa: matava boi, porco, fui ajudante e na roça fiz de tudo”

Waldomiro Borges e "Baianão.
Com sei jeito peculiar de falar, gesticulado como se estivesse discursando num palanque político contou que aos 19 anos de idade, época considerada para “Baianão” a mais importante da sua vida, ocasião que conheceu um homem que mais tarde tornaria o seu melhor amigo, irmão, um pai, pessoa que não pode esquecer hora nenhuma, momento nenhum, o senhor Waldomiro, criatura que não sai da sua mente. O encontro ocorreu no ano de 1951, época que aconteceu uma seca terrível em Jequié, período que Waldomiro era diretor de água da prefeitura. No bairro do Jequiezinho, local onde a prefeitura construiu um chafariz, Waldomiro cercado de muita gente, estava com a chave na mão e disse: “Quem quer ficar abrindo a água por uns 20 dias, até conseguirmos uma pessoa, pois funcionários são poucos e não posso deslocar um para fazer esse trabalho”. Sempre disposto Baianão falou que se Waldomiro confiasse faria o serviço, que o seu interesse era servir o povo. Na época não tinha amizade com o diretor, conhecia de nome, através do seu irmão Dorival Borges. Neste mesmo ano, “Baianão” entrou na Prefeitura Municipal de Jequié no cargo de Serviços Gerais na administração de Lomanto Junior.


Cesar Borges, "Baianão", Leur Lomanto e Lomanto Junior.


















Em seguida continuou falando da sua amizade com Waldomiro, Dona Juju, Borginho e Cezar. Falou desta longa amizade familiar e contou que fazia as compras e não pegava as notas, pois ás vezes que trazia ele rasgava. Disse que Deus livre - guarde, botasse veneno num copo com água e desse para Waldomiro ele bebia, não olhava duas vezes. Waldomiro dizia: “não pode dar, não promete”. Era um homem de palavra e muito direito, calmo e conselheiro. Dando uma gostosa gargalhada, “Baianão” disse também que Lomanto Junior tinha ciúme dele com Waldomiro.  
Com a mesma alegria, risadas e descontração, uma tônica de toda a entrevista, “Baianão” passou a falar de futebol, usando uma camisa do Botafogo, seu time no Rio de Janeiro - RJ. Inicialmente contou que o primeiro campo de futebol de Jequié ficava no Semeado, local onde era plantado muito Alecrim e ficava próximo da Rua Magalhães Caitité, da Avenida Presidente Vargas, perto ao bar de Mário Ruim. Confidenciou também que jogando bola, apenas sapecava e como a maioria dos brasileiros era apaixonado pelo futebol.

Time amador do Jequiezinho - Em Pé: "Baianão", Virgilho Tourinho, Pequeno, Lando, Valdir, Cicilho, Valdir, Zé Souza e Aníbal.  Agachados: Curinga, Jaime, Vando, Papada, Maneca e Pichica.

Que em Jequié era torcedor do time amador do Jequiezinho, do qual foi presidente, equipe que em certa ocasião ficou 32 partidas sem perder.  Que na época quando acontecia o jogo entre os times do Jequiezinho e do Botafogo, torcia para acontecer um empate. Que no período quando Waldomiro Borges foi prefeito de Jequié, administrou o estádio Aníbal Brito. Que o estádio na ocasião ficava sempre cheio e tinha três posições no campo: arquibancada, sombra e geral. Que no sol era mais barato e quem podia ia para a arquibancada que era feita de madeira.

Maneca Sampaio, Waldomiro Borges, Lomanto Junior e Clóvis Barreto no estádio Aníbal Brito - Jequié - BA.
Fotógrafo Aroldo no estádio Aníbal Brito - Jogo Jequié 1 X 0 Cachoeira em 1969 – Jequié - BA.


“Baianão” citou também alguns times amadores de Jequié como: o Vasco da Gama do presidente Moises Amaral, o Flamengo de Marçal, Carlos Lopes, Maneca Sampaio, o Bahia de Dr. Zenildo Tourinho do grande jogador Valter e do excelente goleiro chamado Tide que era mudo, o Estudante do presidente Bria e dos jogadores Hugo Vitamina e Benito Leto, o Mandacaru do presidente Hercules Meira, o América de Izidorio, o Humaitá que Clóvis Barreto era o goleiro.



Time amador do Estudante - Em Pé: Nequinha, Maduro, Teola, Lídio, Zé Guarda, Lafaiete e Ozório. Agachados: Nilo, Nicinho, Benito Leto e Lídio no estádio Aníbal Brito – Jequié BA

Times amadores do Botafogo e do Ipiranga no estádio Aníbal Brito -  Jequié - BA



Time amador do Cruzeiro no estádio Aníbal Brito - Jequié BA.






        Encerrou o assunto relacionado ao futebol dizendo que no momento que resolveram mudar o estádio de local, sugeriu ao então prefeito Waldomiro Borges, para fazer o campo próximo do Derba, sendo assim o estádio não sairia do Jequiezinho, pois matava e morria pelo seu bairro. Waldomiro resolveu fazer no bairro do Mandacaru, pois o local necessitava de um benefício.
"Baianão" com o Rifle/Winchester, que fez parte da luta de Silvino do Curral Novo.
Novamente “Baianão” mudou de assunto, mostrando e falando de um Rifle/Winchester/Repetição/Calibre44/16Tiros/Fabricação/USA, que possuía e segundo ele a arma fez parte da defesa feita por Silvino do Curral a Jequié. Que na época quando Jequié tinha o trem de ferro ele ia à estação, onde hoje abriga o Corpo de Bombeiros para carregar malas, as barraqueiras vendiam o cuscuz, os tocadores de viola cantavam, enquanto as mulheres chegavam da Rua do Maracujá.

Trem de Ferro na estação em Jequié – BA.
Finalizamos a entrevista, “Baianão” falou que se aposentou como Fiscal de Tributos na Prefeitura Municipal de Jequié no ano de 1993, mostrando uma foto de Lomanto Junior prestando uma homenagem a Silvino em uma inauguração no bairro do Curral Novo e escondido de Dona Dalva sua esposa, outra tirada na fazenda de Waldomiro que o casal estava na fotografia.
Lomanto Junior, prestando homenagem a Silvino do Curral Novo - Jequié – BA.

Em Pé: Dona Juju, Waldomiro Borges, Edmar Mendes e família. Sentados: Dalva Lopes Celestino e "Baianão".

* Texto editado na Revista Cotoxó em dezembro de 2017.

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