Charles Meira
Ilustração de C. Eden.
Desde pequeno, Almeida gostava de ajudar a sua mãe. Ia fazer a feira,
levar recados nas casas vizinhas e também carregar as compras feitas na
mercearia do seu Júlio, que funcionava na parte de fora do mercado municipal,
na Praça da Bandeira. O trajeto era feito sempre junto com a sua mãe, pois o
local no dia de sábado era muito movimentado, não só de veículos como de
feirantes que se aglomeravam ao longo daquela praça. De vez em quando
aconteciam algumas brigas e pequenos roubos realizados por meninos de rua. Dona
Josefa tinha muito cuidado com o filho, não se largava um minuto dele.
Em um determinado sábado, a empregada da casa ficou
enferma e não pode trabalhar. Com isso, foi necessário que Dalva fosse fazer a
feira e Josefa assumiu o papel de cozinheira. Almeida, como acontecia nos
sábados, foi com Dalva à mercearia para ajudar trazer as compras. Saíram juntos
por recomendação da sua mãe. Na ida tudo aconteceu normalmente. Seu Júlio
atendeu a freguesa com muita paciência e cordialidade como era de praxe.
Na volta para casa, seguiram o caminho de sempre, mas
chegando próximo ao magazine de dona Laura o tumulto era grande em consequência
de uma briga entre feirantes que vendiam carne de sol. Dalva adiantou um pouco
para evitar a multidão, enquanto Almeida por ser pequeno e estar carregando as
compras ficou um pouco atrás, não conseguiu acompanhar os passos da sua tia. Almeida
descuidou-se e bateu de frente com um menino que vinha correndo na sua direção
fugindo de uma senhora de que ele tinha roubado certa quantia em dinheiro. Admoestou
o menino pela sua atitude de quase derrubá-lo e às compras que levava. Pediu a
ele que tivesse mais cuidado. Tudo isso aconteceu muito rápido já que o menino
corria bastante, perseguido pela dona do dinheiro. O moleque não gostou da
reclamação e começou a xingar Almeida usando vários palavrões. Em vez de não
ligar para o que era dito, resolveu revidar os insultos. A primeira reação foi
colocar os pacotes na calçada para poder bater no menino. Aproveitando o
momento em que abaixou para colocar os objetos no chão, o menino deu um potente
murro no rosto de Almeida, que, coitado, caiu desmaiado entre a multidão. Logo
se formou uma roda de curiosos em volta dele, uns para socorrer, outros para se
informar do ocorrido. Dalva, que estava na frente, correu para o local em que
Almeida havia caído. Sacudiram seu rosto até que ele acordou, todo atordoado e
querendo saber o que ocorrera. Começou a chorar e a chamar prela sua mãe num berreiro
só. Os amigos conseguiram um rapaz para carregar a feira e eles foram para
casa.
Sei que, com a confusão, quem se deu bem foi o menino, que conseguiu
fugir com o dinheiro da feirante. A partir daquele dia, Almeida só ia à feira
acompanhada por dona Josefa, que dava uma marcação mais de perto ao seu filho.
Não dava para esquecer a história do murro certeiro que Almeida levou num dia de sábado, infelizmente.
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