Creusa Meira
Em momentos que a verve parece adormecida, um
amontoado de palavras desordenadas vão cobrindo o branco do papel, destinado a
uma poesia. Com a atenção voltada ao barulho externo de assobios e latidos de
cachorro, olho pela janela e vejo lá fora, a lua minguante tentando clarear
meus pensamentos. Nesse instante, uma porta bate fortemente e começo a ouvir o
tagarelar de meninas brincando na rua da infância. Sussurram, olhando as
estrelas, conversas que ouvem das meninas maiores, como se fosse uma declamação:
Estrela, estrelinha, a mais bela que eu já vi, se alguém gosta de mim, a porta
bate, o cachorro late e o homem assobia.
Silêncio na noite... a rua não é mais aquela, construíram jardins e derrubaram o parque. A lembrança segue o caminho do rio, quase no quintal da casa que ainda se encontra lá. O quintal deu lugar a outras casas e o rio... ah, o rio secou. Ainda dá sinais de vida quando chove. Suas águas descem barrentas, formando uma grande cascata, bonita de se ver... por poucos dias. Só me lembro de ter visto o rio seco no dia que a tapagem quebrou. A cidade inteira ouviu o estrondo. Todos correram para ver o desastre. Pegávamos com as mãos, os peixes que se debatiam nas poças d'água. Eu, criança ainda, nem me dava conta da perigosa aventura que os meus irmãos e os amigos enfrentaram, enquanto tomavam banho debaixo da tapagem. Todos escaparam, menos os peixes e as águas que, descendo rio abaixo, pareciam ter a velocidade do vento em noite de tempestade.
Primo Charles Meira, muito grata pelo carinho de publicar meus textos singelos. São lembranças que se acumulam com o passar do tempo. Grande abraço.
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