sexta-feira, 3 de abril de 2020

Uma tarde agradável.

J. B. Pessoa

Capítulo - 28 do livro "Guris e Gibis"


O teatro paroquial estava repleto de pessoas, querendo assistir a encenação de uma obra inédita e original da cidade, que ia se tornando famosa em cada apresentação. O ambiente permanecia festivo, com muitas crianças fazendo algazarras no recinto, dando um trabalho especial aos promotores do evento. O contentamento era visível em toda a plateia, esperando, uma tarde agradável naquele domingo. Compareceu a sala de espetáculos, muitas alunas das principais escolas femininas do centro, deixando animados, os poucos garotos que apareceram ao espetáculo, pois tinham certeza que iriam se divertir com uma deliciosa comédia e ainda flertarem com as garotas mais bonitas da cidade.
Johnny e Luís, acompanhados de Eduardo e Edgar entraram no auditório, à procura de poltronas para se acomodarem, verificando que quase todas estavam ocupadas. Nesse momento, Edgar avistou Neide, que acenou para ele, indicando que, de onde ela estava, havia lugares vazios, especialmente guardados para eles. Ela estava perto do palco, na companhia de algumas colegas, que ficaram contentes com a presença deles. Os garotos se aproximaram das meninas e depois das saudações, se acomodaram na companhia delas. Luis Augusto estava contente com tudo aquilo. Finalmente ele iria rever Berenice. Desta vez como atriz, atuando na tão comentada comédia, que arrancava muitas gargalhadas dos expectadores.
Orlando, que havia se dirigido com a turma para a Praça Ruy Barbosa, aparece antes do começo da apresentação. Ele cumprimenta as garotas com cortesia, e disse para os meninos que havia desistido dos patins, porque se lembrou de que Berenice fazia questão de sua presença naquela tarde. Eduardo sabia que ele estava mentindo, mas ficou satisfeito com a sua presença. Depois que notou a afeição de Berenice por Johnny, ficou muito preocupado com o fato, e esperava que o despeitado Orlando, pudesse intervir num possível namoro entre eles. Por sua vez, Johnny sabia que Berenice gostava dele e isso o deixava muito feliz. Apesar disso, Luis Augusto se dizia apaixonado pela menina e Johnny, de maneira alguma, queria interromper essa ilusão. Estava ciente da pretensão de Eduardo e Luis em namorar Berenice e não se incomodava com isso, pois sabia que não haveria conseqüências alguma, essa rivalidade entre eles. Contudo, os dois não sabiam que Johnny gostava da menina.
Naquele momento, Eva Marli estava nos bastidores, ajudando a amiga a compor sua personagem. Ao olhar entre as cortinas, divisou a meninada, sentada perto do palco e avisou a Berenice que Johnny havia chegado. A garota ficou muito contente com a notícia. Porém, ao notar o garoto na companhia de Luis e Eduardo, ponderou a situação. Estava informada da intenção dos dois por Orlando e tinha conhecimento da fiel amizade de Johnny pelo primo. Não desejando que os meninos se confrontassem por ela, pediu a Eva Marli para conversar com Johnny e avisar que o namoro entre eles, deveria ser mantido em segredo.
Eva Marli foi ao encontro da meninada, saudando a todos em uma festividade peculiar à sua pessoa. Ficou por uns instantes conversando com as meninas e logo após, chamando Johnny a parte, segredou-lhe ao ouvido:
- Vamos lá fora, que preciso conversar consigo!
Eles pediram licença ao pessoal e seguiram para o pátio, que no momento estava cheio de jovens púberes, ensaiando seus primeiros flertes.
Eduardo entendeu que poderia haver um namoro entre Eva e Johnny, e ficou contente ao perceber certa cumplicidade entre eles. A garota explicou a Johnny a decisão de Berenice que, surpreso com o aviso, perguntou:
- Que dizer que estamos namorando?!
- Claro que sim, seu bobo! Só que no momento você não pode dizer a ninguém, que Berenice é sua namorada!
- Minha namorada!... A garota mais bonita do mundo é minha namorada! – Exclamou feliz, o venturoso garoto, surpreso e contente com a novidade.
Ela também está muito feliz! Está caidinha por você, desde a primeira vez que o viu na porta do Tênis, na tarde de segunda feira do carnaval, quando a gente lhe conheceu.
- Com assim?!... Eu não vi vocês no carnaval! – Exclamou o garoto, surpreso com a revelação.
- É que estávamos mascaradas e vestidas com o dominó! Nós conversamos com você e o colocamos dentro do Tênis.
- Nossa!... Foram vocês?!
- Sim, e ela passou a tarde inteira observando o seu jeitinho tímido de menino bonito! Ficou quietinho num canto e não brincou com ninguém! – Respondeu a menina, acariciando os cabelos do garoto.
- Agora eu estou me lembrando, que no dia em que nossa turma fez amizade com vocês, ela me disse que já tinha me visto antes!
- Pois é!... As meninas jogavam confetes em você, que permanecia solitário!
É que eu não estou acostumado com o carnaval! – Disse Johnny, relembrando aquela tarde maravilhosa, que passou no Jequié Tênis Clube.
Nesse momento abrem-se as cortinhas, iniciando a peça teatral. Johnny e Eva Marli vão se sentar junto à turma em lugares guardados para eles. Eduardo sorri satisfeito, julgando que o garoto estava namorando aquela bela morena.
A comédia começa com as trapalhadas dos palhaços comandados por Jeca Tatu, que tomavam conta de um palácio importante. O enredo é simples: uma fada dá uma incumbência à boneca Emília, de guardar a Caixa da Felicidade, que são roubados pelos vilões, conhecidos como Alerquin e Polichinelo. Chefiados pelo Caipora, eles pretendiam traficar a felicidade, vendendo aos nobres e burgueses daquele reino, que pagariam um bom preço para adquiri-la. A boneca Emilia pede ajuda a Colombina e Pierrô, que juntos com Jeca Tatu e os palhaços, partem para a recuperação da caixa. A peça arrebata risos e gargalhadas, tendo, porém, uma parte comovente. A Colombina dança com o apaixonado Pierrô, para encantarem os vilões, enquanto Jeca Tatu e os palhaços partem para resgatar o precioso tesouro.
Berenice estava divina no papel da Colombina. Naquele momento, atuando ao lado da colega Yolanda, que fazia o Pierrô, sensibiliza a platéia com a sua beleza e a graciosidade de sua arte, deixando os poucos garotos que assistiam àquela peça, completamente fascinados.
Johnny estava maravilhado. Sentia vontade de dizer para todos, bem alto: “Ela é minha namorada!... Só minha e de mais ninguém!”, mas ficou quieto em seu canto, enquanto Luis Augusto e Eduardo aplaudiam o ato juntamente com a platéia.
A peça prossegue em seu roteiro original, o qual foi concebido na intenção de deixar os jovens atores atuarem livremente, utilizando o improviso, conforme a percepção de cada um. A intenção do autor, além de divertir, era demonstrar que a felicidade não se compra. É uma dádiva divina para os merecedores dela e não adiantava ninguém ir atrás de falsas ilusões com subterfúgios antinaturais, que a natureza dava o troco.
A peça chegou ao seu final, no momento em que o relógio da matriz anunciava às seis horas e quinze minutos. Quando os expectadores saiam da sala, o Padre Climério
fez um pronunciamento, convidando a meninada para ajudar a paróquia no preparo da comemoração da Semana Santa.
Eva Marli foi até o camarim para ajudar à amiga, que se despia das vestes de sua personagem. Enquanto isso, a turma permanecia no auditório, em animadas conversas, aguardando a estrela da peça. Logo depois, Berenice aparece radiante, distribuindo encanto e carinhos para todos. Luis Augusto foi o primeiro a cumprimentá-la, tecendo-lhe sinceros elogios:
- Parabéns garota, você esteve maravilhosa!
- Você tem muito talento! Já pensou em seguir a carreira artística? – Perguntou Eduardo, se preocupando em ser cordial e não exagerar em suas adulações. Alguém o aconselhou a ser prudente, pois a garota detestava lisonjas.
Berenice ficou em silêncio por alguns segundos e analisando uma pergunta que ela havia feita a si mesma, respondeu:
- Claro que sim! Embora a idéia não me agrade, como antes!
- Por quê? – Pergunta Luis, surpreso com a afirmação de Berenice, pois a maioria das garotas sonha com o glamour das celebridades.
A garota olhou no vazio e numa melancolia restritiva à sua pessoa, avaliou:
- Tenho lido algumas biografias de certos artistas famosos e verifiquei que nenhum era feliz! Pelo contrário: muitos eram infelizes!
- Eu também já constatei isso! – Afirmou Luis, corroborando com a opinião da menina.
- É grande o número de escândalos entre os astros e estrelas do cinema. Há casos graves de alcoolismo e usos de narcóticos. Alguns chegam ao suicídio! – Acrescentou Eduardo, fazendo questão demonstrar seus conhecimentos do glamoroso mundo da Sétima Arte.
Eva Marli, que não estava gostando do rumo da conversa, interrompeu:
- Ainda não é hora pra se pensar nessas coisas, pois somos jovens e temos muito tempo pela frente. Além disso, existem muitos artistas que são felizes e vivem bem. Mas parece que a biografia deles não interessa a ninguém!
Berenice sorriu com complacência, pois sabia que a amiga detestava assuntos pessimistas, principalmente se fossem referentes ao futuro. Depois disse com carinho:
- Concordo com você. Entretanto é sabido que o futuro depende do que se constrói no presente. Podemos ser responsáveis e ter sonhos ao mesmo tempo. Só que eu não alimento a ilusão de ser uma artista famosa. Os meus sonhos são completamente diferentes.
- E que sonhos são esses, se é que a gente pode saber? – Perguntou Luis, querendo estreitar sua amizade com laços mais íntimos.
A menina olhou para o garoto e disse sorrindo com humor:
- Com certeza não é ser uma freira!
Todos riram a seguir. Eduardo, querendo ser mais ousado, ariscou um galanteio que teria visto em um filme romântico.
- Os seus enamorados ficariam inconsoláveis, se isso acontecesse!
- Não se preocupem com isso, que ela quer casar e ter muitos filhos! – Disse Eva Marli em tom de zombaria.
Neide, de mãos dadas a Edgar, disse com convicção:
- O meu sonho é simples: quero me formar em professora e depois me casar e ter alguns filhos!
- E eu quero ser um advogado, casar e ter também muitos filhos! – Disse Eduardo e, com um olhar insinuante para Berenice, acrescenta:
- Mas antes eu preciso namorar certa garota, noivar, para depois casar!
Orlando esteve calado todo o tempo em que a garotada confidenciava os seus sonhos juvenis. Porém, percebendo a indireta de Eduardo e resolveu jogar um pouco de cizânia entre os pretendentes da garota, perguntando:
- E você Luis?... Tem os mesmos sonhos de Eduardo?
Antes que Luis pudesse dizer alguma coisa, Johnny intervém na conversa, dizendo:
- Acredito que nós todos temos sonhos semelhantes! Um que ser advogado, outro médico ou cantor, como é o seu caso; ou campeão de box, como é o desejo de Edgar. O importante é ter planos para o futuro e lutar por isso.
Também percebendo, que a intenção de Orlando era criar uma intriga entre os amigos, e sabendo que o rapaz não suportava a idéia de Berenice namorar qualquer garoto, principalmente alguém da periferia, Edgar pergunta de supetão, em tom de ameaça:
- E você sujeito, o que quer da vida? Namorar, casar ou morrer?
- Morrer?! Por que morrer? –Pergunta Berenice, admirada com o emprego da palavra.
Edgar lembrou-se no momento de que, Berenice não gostava que alguém destratasse o seu irmão de leite. Por isso corrigiu o seu deslize, dizendo:
- É que li na revista O Cruzeiro, que as mulheres vivem mais do que os homens!
- Ah sim, eu também li! A reportagem mostra várias senhoras de luto, rezando nas igrejas! – Acrescentou Johnny.
- Puxa!... Já vem vocês novamente com esse papo chato. Vamos dar um tiro no assunto! – disse Eva Marli, entediada com o tema da conversa. Os garotos ficam alguns segundos em silêncio e logo após Eva pergunta:
- Que tal a gente ir tomar um sorvete na Confeitaria Cristal?
- Excelente idéia, pois nesse momento deve estar cheinha de brotos jequieenses! – Alardeou Norma, uma das amigas de Neide, que morava na Ladeira Vinte e Sete de Janeiro, próxima do Alto da Bela Vista.
- Com certeza, mas sossega os ânimos que, as comadres de plantão fazem dali o seu ponto preferido! – Alertou Eva Marli.
E daí?!... Estamos na companhia dos meninos, que são jovens de respeito! – Respondeu a garota.
Norma Araújo da Silva era uma morena mais atraente do que bonita. Tinha quatorze anos e era bastante moderna para sua época. Gostava de usar maquiagem, principalmente carmim para os lábios. Adorava flertar com a rapaziada do Colégio Estadual, onde cursava a quarta serie ginasial, ganhando com isso a fama de namoradeira. Porém, era uma boa moça, bem madura para a sua idade, que tinha idéias liberais e estava familiarizada com a onda feminista, que começava a ganhar espaços na imprensa brasileira. Berenice e Eva Marli gostavam da garota. Elas conheceram Norma, quando esta declamou uns poemas modernistas, no Teatro da Casa Paroquial, coisa inédita nas tertúlias, onde predominavam o condoreiro e a poesia parnasiana. Norma gostava muito de teatro. Embora não tivesse tido, ainda, a oportunidade de assistir uma montagem profissional dos grandes centros, tinha lido algumas peças clássicas com “Romeu e Julieta” e “Otelo, o Mouro de Veneza” de William Shakespeare e as atualíssimas “Um bonde chamado desejo” de Tennessee Willians e “As Mãos de Eurídice” de Pedro Bloch. Naquela tarde, ela estava vendo a peça do professor Jason Wilson pela segunda vez e incentiva os jovens atores, principalmente Berenice, a quem ela considerava uma atriz completa.
Não querendo perder a oportunidade de se promover, Orlando faz mesuras à menina e diz sem nenhum pejo:
- Agradeço a parte que me toca!
- Qual é o problema em tomar um simples sorvete? – Pergunta Johnny, intrigado com a preocupação de Eva Marli em relação ao lugar mais charmoso da cidade.
Eduardo analisa o temor da menina e explica a situação ao garoto:
- Apesar se ser o local mais chique da cidade, onde as senhoras elegantes se encontram, algumas fofoqueiras estão ali de olho em tudo, com a intenção de deturpar ou multiplicar as possíveis ocorrências.
Pois é! Uma situação típica de cidade provinciana! – Justificou Norma, que acrescentou:
- É por isso que muita moça detesta morar no interior! Para o ano, se Deus quiser, irei para a capital, cursar o Clássico no Colégio Central da Bahia.
- Então tomarás um chá de civilização! – Apregoou Luiz com orgulho, fazendo apologias à sua cidade.
A garotada rumou para a Praça Ruy Barbosa sem a presença de Edgar que acompanhou Neide e as duas amigas da Rua Santa Luzia, pois as meninas tinham que estar em suas casas, logo após o entardecer. No trajeto, Johnny e Berenice trocavam olhares de ternura, enquanto a menina era cortejada por Eduardo e Luis. O garoto seguia com Norma e Eva Marli, que enumeravam os melhores filmes românticos preferidos das duas. Eva adorava o cinema americano e Norma dava preferência ao cinema europeu, principalmente o francês, embora tivesse visto pouco desses filmes, pois a maioria era imprópria para menores.
A turma ficou um bom tempo proseando, sentados nas cadeiras de uma mesa, próxima a uma das entradas da confeitaria. Saboreavam os seus sorvetes, enquanto Berenice relembrava os erros dos seus colegas em cena, morrendo de rir das mancadas deles, que acabavam se tornando parte do roteiro, por força das circunstâncias, forçando o improviso e, justamente por isso, a peça estava fazendo um grande sucesso.
A confeitaria estava apinhada de gente de todas as idades. Naquele momento a maioria se divertia, esperando o começo do chá dançante das dezenove horas, que seria realizado no Jequié Tênis Clube. Norma e Eva Marli sentiam inveja das garotas mais velhas, pois aquela recreação era proibida aos menores de quinze anos. Norma teria que esperar até a festa de debutantes em outubro, a qual seria sua estréia na sociedade jequieense, quando ela já teria completado seus quinze anos de idade. Johnny observava a praça com seu esplendoroso jardim e notou que depois de algum tempo, ela ficou bastante movimentada, devido à conclusão da missa vespertina das seis horas, na igreja matriz. Enquanto conversava com Berenice, Norma percebeu as intenções de Eduardo e Luis e, naquele instante, compreendeu que o amuamento estampado no rosto de Orlando, era o despeito que ele sentia pelos dois garotos. Intrigada com aquela ocorrência chamou Eva à parte e perguntou-lhe à surdina.
- O que está acontecendo com esse pessoal?
- Ih menina, nem lhe conto! Esses dois estão querendo namorar Berenice, que está apaixonada por outro.
- Por quem? – Perguntou a garota, muito curiosa com a situação.
Não querendo revelar o segredo da amiga, a garota resolveu omitir a verdade:
- Isso eu não posso dizer, pois ela me pediu segredo! Mas eu queria achar um meio, de desencorajar esses dois.
- Deixa comigo, que eu vou caçoar deles! – Disse a garota com um irônico sorriso.
- O que vocês duas estão cochichando aí? – Perguntou Berenice, desconfiada de que as amigas iriam aprontar alguma coisa.
Norma sorriu e piscando um olho para Eva, respondeu:
- Estávamos comentando sobre seus pretendentes! Eu soube que há muitos deles lhe cortejando. Quando é que você irá nos apresentar alguém como seu namorado?
- Por enquanto eu não estou interessada em ninguém! Ademais meus pais não querem que eu namore antes dos quinze anos!
Orlando percebendo a surpresa de Eduardo e o olhar decepcionado de Luiz, perguntou satisfeito:
- E se algum marmanjo insistir?
- Eu o mando plantar batatas! - Respondeu a menina com um simpático sorrindo.
As garotas riram a valer com a resposta da menina, enquanto Johnny, quieto em seu canto, observava Berenice, que lhe emitia um doce olhar.
Orlando estava contente com a afirmação de Berenice. Não por Luis, pois ele simpatizava com o garoto. Quanto ao Johnny, ele foi convencido pela menina, que se tratava de uma amizade fraterna e o próprio garoto não lhe era antipático. Porém ele detestava Eduardo, a quem considerava um tolo arrogante. “Afinal, aquele mequetrefe metido a galã teria que cantar de galo noutro terreiro”. Pensava ele, observando os garotos, que no momento emitiam um olhar reflexivo, depois da repentina declaração de Berenice.
O relógio da matriz anunciou às dezenove horas e quinze minutos em seu sonoro sino eletrônico, alertando a meninada que estava na hora de irem embora. Naquele momento a confeitaria se encontrava um tanto vazia, devido à ida da juventude para o Tênis Clube na intenção dançar ao som romântico de uma vitrola, até as vinte e uma horas, para depois pegarem a segunda sessão nos cinemas da cidade.
Berenice a pediu a Orlando que fosse até a sua casa e pedisse ao motorista que viesse ao seu encontro. Logo após a chegada do velho Xavier, a menina levou um por um dos seus amigos, até as suas residências, despachando Eduardo e Orlando em primeiro lugar, depois Luis e as meninas, deixando Johnny por último.
Sozinha com o garoto, ela reiterou a sua intenção, pedindo-lhe que a encontrasse na próxima reunião da paróquia, onde os dois poderiam conversar com um pouco de privacidade.
A menina despediu-se do garoto com um forte abraço e, beijando-lhe o rosto, sussurrou-lhe aos ouvidos:
- Sonhe comigo meu querido, que irei sonhar contigo a noite inteira!
Johnny desceu do carro e o automóvel deu a partida, enquanto ele o seguia com o olhar pela longa Siqueira Campos, até desaparecer no alto do Maringá.
O garoto entrou em sua casa num completo deleite. Maria de Fátima, notando o seu feliz semblante, caçoou:
- Ué, viste passarinho verde?!
- Não minha querida, apenas um anjo dourado! – Respondeu o afortunado garoto.

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