Moga Neto
É um quarto forrado de madeira envernizada, uma cama duas
janelas, uma com cortina, uma cama de solteiro.
Num quarto havia uma caixa de madeira vermelha também
envernizada. A caixa estava aberta e ao seu lado um menino sentado e absorto
com o conteúdo, ele perdia a noção de tudo.
Os objetos de sua admiração era uma vaca e barro preto e
branco, um cavalo pampa, um cachorro preto e peludo, uma galinha de angola
“cocá” preta com manchas brancas em formas de moeda.
Continha também um relógio de bolso prateado e um cachimbo de
barro bem usado.
A sua atividade consistia em manusear cada peça, levantando-a
até o alto e depois trocava de lugar.
Fitava cada peça demoradamente como se cada uma delas se
transportasse à algum lugar, à uma ligação pessoal com alguma pessoa.
Como um quarto simples e silencioso poderia povoar o mundo
daquela criança com lembranças inesquecíveis e tão raras?
Fazia esses jogos todos os dias quando podia seus olhos
marejados de lágrimas e em cada lágrima uma doce lembrança e uma doce saudade.
Terminava, fechava a casa dos seus sonhos e se levantava.
Ao virar-se um espelho refletia a sua imagem, um homem quase
grisalho, que se mirava. Ao se afastar do ambiente era como se guardasse o seu
mundo de sonhos infantis e retornasse ao mundo real dos adultos, deixando para
trás a sua felicidade infantil.
Moysés de Almeida Neto (Moga Neto)
Poeta e Escritor Baiano
25/07/2018
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