domingo, 31 de março de 2019

ALÍCIO NO PAÍS DA UTOPIA

                          Carlos Eden Meira

Alício levantou-se da cama naquela manhã, sentindo-se diferente. Notou que seu organismo funcionava bem, não sentia ansiedade nem as mazelas do corpo de sempre. Surpreso, notou que seu quarto era novo, com as paredes bem pintadas, móveis simples, mas, todos limpos e novos. Achou estranho demais e pensou: “Estou ficando maluco”. No banheiro, agora bem arrumadinho, limpo e sem vazamentos, viu que a torneira da pia não pingava e a descarga do vaso sanitário funcionava direitinho. A casa toda estava novinha. Confuso, dirigiu-se à cozinha onde a esposa bem disposta, cantarolava manipulando os utensílios domésticos de uma cozinha moderna, com armários, fogão, pia e geladeira simples, porém novos em folha. As crianças que acabavam de acordar sorridentes, usando as fardas de uma escola pública, pareciam felizes aguardando o moderno e confortável ônibus escolar da Prefeitura, que passaria dali a alguns instantes para levá-las.
Ainda atordoado, sem nada entender, tomou seu café da manhã agora reforçado com saudáveis e fartos componentes alimentícios. Sem saber por quê, não conseguia fazer nenhum comentário. Despediu-se da esposa e das crianças, apanhando sua pasta, saindo para trabalhar. Ao sair, ficou admirado ao perceber a limpeza das ruas bem pavimentadas, a organização do trânsito, a pontualidade dos ônibus, a cordialidade das pessoas, principalmente dos funcionários públicos. Os jovens, cordialmente, ajudavam idosos a atravessar as ruas. Os motoqueiros pilotavam educadamente suas motos, obedecendo às normas do trânsito, ninguém jogava lixo no chão nem dirigia falando ao celular. Numa banca de revistas, perplexo, viu a manchete de um jornal que dizia: “PREFEITO E VEREADORES SERÃO HOMENAGEADOS PELA POPULAÇÃO, PELAS SUAS BRILHANTES ATUAÇÕES”. Comprou o jornal, percebendo surpreso, que em sua carteira havia mais cédulas do que costumava ter. Concluiu que devia estar ganhando um salário digno. Ao abrir o jornal, tomou conhecimento das diversas e sérias medidas governamentais para gerar empregos, aumento considerável do salário mínimo, atendimento médico completo e de bom nível para o povo nos hospitais públicos, educação pública também de bom nível, do ensino básico até o universitário.
Em outra manchete, leu: “CONGRESSO NACIONAL CONSIDERADO PELO POVO, O ÓRGÃO DE MAIOR CREDIBILIDADE NO PAÍS”. Ficou sabendo que os representantes do Legislativo não eram mais remunerados, dispondo de uma verba para uso oficial, quando estivessem a serviço da entidade que representassem. Os órgãos fiscalizadores realmente fiscalizavam, colocando a população a par de toda movimentação das verbas públicas. No Judiciário, as leis eram bastante agilizadas e aplicadas rigorosamente, com igualdade de direitos. Todos os cidadãos eram realmente iguais perante a lei. Nas ruas, as pessoas educadamente discutiam política e cidadania, com conhecimento de causa, conscientes de seus direitos e deveres de cidadãos. Na periferia da cidade, as ruas eram bem pavimentadas, com saneamento básico, modernos postos de saúde funcionando, modernas escolas publicas com professores bem remunerados, e segurança pública constante. De repente, Alício viu passar por ali, um coelhinho branco levando um relógio e gritando: “É tarde, é muito tarde...” e entrou num buraco escuro. Alício é claro, ficou curioso com aquilo, e, lembrando uma historinha que leu na sua infância, correu atrás do coelho, entrou também no tal buraco escuro e caiu lá dentro. Então, acordou...

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