terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Ensopado de Cachorro.

                                                          Charles Meira

Certa ocasião, próximo da Fazenda Laços, que pertencia ao chefe dos “Rabudos”, José Marques da Silva, mais conhecido por Zezinho dos laços, localizada no município de Ituaçu – BA, na região das Lavras Diamantinas, passavam pela estrada principal um vendedor, o ajudante e mais um animal, que levava suas bagagens.
Quando passavam perto de uma fazenda, depararam-se com um cachorro vira-lata, que começou a latir insistentemente, estranhando os viajantes.
No mesmo local estava sentado à porta da fazenda o fazendeiro que era dono do cachorro. Naquele instante, o viajante ficou irritado com o latido do cão, sacou sua arma e atirou, matando-o.
O dono da fazenda, ao ouvir os tiros e o animal caído próximo ao cavalo do viajante, aproximou-se calmamente dele e perguntou por que tinha matado o seu animal de estimação. Com um sorriso “amarelo”, disse ao senhor que tinha sido pelo fato de o cachorro estar querendo morder o seu cavalo.
Sem demonstrar irritação, o fazendeiro falou com o viajante para não ficar preocupado, pois já havia acontecido este fato outras vezes, e com certeza um dia alguém acabaria matando seu cachorro. Para demonstrar que não estava zangado, convidou o viajante para conhecer a fazenda e desconversar um pouco. O homem respondeu que estava com pressa, pois ainda iria visitar muitos clientes naquela região e que no retorno da viagem aceitaria o convite. Alegremente o fazendeiro aproveitou a oportunidade e convidou o viajante e seu ajudante para o almoço do dia seguinte. Mesmo com o fato ocorrido, eles iniciaram uma amizade que parecia ser de longas datas.
No outro dia, perto do horário do almoço, o viajante chegou à fazenda, onde foi recebido alegremente pelo dono e seus empregados. Depois de conhecer a sede da fazenda, descansar e bater um papo amigável, o fazendeiro pediu a sua esposa para colocar o almoço.
Sentaram-se à mesa o viajante e o fazendeiro, enquanto o ajudante e os camaradas do fazendeiro ficaram aguardando para comer depois. Além de um saboroso ensopado, foi servido também feijão, arroz, carne assada e uma bela salada. O viajante comeu bastante e elogiou o almoço e disse que estava satisfeito, entretanto o fazendeiro pediu ao viajante para comer toda a comida servida, revelando naquele momento que o prato especial do dia era o cachorro que ele havia matado. O viajante arregalou os olhos e tentou recusar o restante da comida, porém o fazendeiro chamou os seus camaradas e ele foi obrigado a comer todo o prato especial de ensopado de cachorro.
O viajante tentava comer, mas não aguentava e vomitava, enquanto o fazendeiro, agora muito nervoso, gritava: “Coma tudo ou mando meus capangas fazer o mesmo que você fez com meu cachorro”.
O ajudante do viajante que estava na frente da fazenda ficou calado e não reagiu, com medo de o fazendeiro fazer o mesmo com ele.
Depois que o viajante comeu toda a comida, foi alertado pelo fazendeiro a não fazer o mesmo em outra oportunidade.
O viajante e seu ajudante deixaram o local sem brigas e muito rápido com receio de serem executados pelos camaradas do fazendeiro, que era um grande amigo de Zezinho dos Laços. Alguns minutos depois que o viajante partiu, chegou à porta da frente da fazenda, onde a dona, seu esposo e os camaradas estavam conversando, o filho caçula, falando que o viajante tinha se esquecido de tomar o chá de boldo que estava na mesa, feito para curar o enjoou causado pelo ensopado de cachorro. Os moradores não conseguiram conter os sorrisos e as gargalhadas.
Texto publicado na Revista Cotoxó de abril 2014.

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