Charles Meira
Certa ocasião, próximo da Fazenda Laços, que pertencia ao chefe
dos “Rabudos”, José Marques da Silva, mais conhecido por Zezinho dos laços,
localizada no município de Ituaçu – BA, na região das Lavras Diamantinas,
passavam pela estrada principal um vendedor, o ajudante e mais um animal, que
levava suas bagagens.
Quando passavam perto de uma fazenda, depararam-se com um cachorro
vira-lata, que começou a latir insistentemente, estranhando os viajantes.
No mesmo local estava sentado à porta da fazenda o fazendeiro que
era dono do cachorro. Naquele instante, o viajante ficou irritado com o latido
do cão, sacou sua arma e atirou, matando-o.
O dono da fazenda, ao ouvir os tiros e o animal caído próximo ao
cavalo do viajante, aproximou-se calmamente dele e perguntou por que tinha
matado o seu animal de estimação. Com um sorriso “amarelo”, disse ao senhor que
tinha sido pelo fato de o cachorro estar querendo morder o seu cavalo.
Sem demonstrar irritação, o fazendeiro falou com o viajante para
não ficar preocupado, pois já havia acontecido este fato outras vezes, e com
certeza um dia alguém acabaria matando seu cachorro. Para demonstrar que não
estava zangado, convidou o viajante para conhecer a fazenda e desconversar um
pouco. O homem respondeu que estava com pressa, pois ainda iria visitar muitos
clientes naquela região e que no retorno da viagem aceitaria o convite.
Alegremente o fazendeiro aproveitou a oportunidade e convidou o viajante e seu
ajudante para o almoço do dia seguinte. Mesmo com o fato ocorrido, eles
iniciaram uma amizade que parecia ser de longas datas.
No outro dia, perto do horário do almoço, o viajante chegou à
fazenda, onde foi recebido alegremente pelo dono e seus empregados. Depois de
conhecer a sede da fazenda, descansar e bater um papo amigável, o fazendeiro
pediu a sua esposa para colocar o almoço.
Sentaram-se à mesa o viajante e o fazendeiro, enquanto o ajudante
e os camaradas do fazendeiro ficaram aguardando para comer depois. Além de um
saboroso ensopado, foi servido também feijão, arroz, carne assada e uma bela
salada. O viajante comeu bastante e elogiou o almoço e disse que estava
satisfeito, entretanto o fazendeiro pediu ao viajante para comer toda a comida
servida, revelando naquele momento que o prato especial do dia era o cachorro
que ele havia matado. O viajante arregalou os olhos e tentou recusar o restante
da comida, porém o fazendeiro chamou os seus camaradas e ele foi obrigado a
comer todo o prato especial de ensopado de cachorro.
O viajante tentava comer, mas não aguentava e vomitava, enquanto o
fazendeiro, agora muito nervoso, gritava: “Coma tudo ou mando meus capangas
fazer o mesmo que você fez com meu cachorro”.
O ajudante do viajante que estava na frente da fazenda ficou calado
e não reagiu, com medo de o fazendeiro fazer o mesmo com ele.
Depois que o viajante comeu toda a comida, foi alertado pelo
fazendeiro a não fazer o mesmo em outra oportunidade.
O viajante e seu ajudante deixaram o local sem brigas e muito
rápido com receio de serem executados pelos camaradas do fazendeiro, que era um
grande amigo de Zezinho dos Laços. Alguns minutos depois que o viajante partiu,
chegou à porta da frente da fazenda, onde a dona, seu esposo e os camaradas
estavam conversando, o filho caçula, falando que o viajante tinha se esquecido
de tomar o chá de boldo que estava na mesa, feito para curar o enjoou causado
pelo ensopado de cachorro. Os moradores não conseguiram conter os sorrisos e as
gargalhadas.
Texto
publicado na Revista Cotoxó de abril 2014.
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