A “Furiosa”, como era apelidada a banda “Amantes da Lira” nos anos 50, ficava na porta da igreja, aguardando o final da missa festiva de Santo Antonio, com seus músicos de fardas lavadas e bem passadas a ferro, no capricho, à altura da ocasião. Nós meninos, admiradores da bandinha, ficávamos rondando os músicos, olhando os instrumentos metálicos, brilhantes, ansiosos para que a missa terminasse logo, para ver a “Furiosa” entrar em formação e sair marchando, descendo a Praça da Matriz, “atacando” algum dobrado.
Curiosos, perguntávamos coisas
aos músicos a respeito de cada instrumento, resultando num barulho de vozes
infantis a perturbar o solene evento, chamando a atenção do Balbino, assíduo
freqüentador de missas, na sua indefectível farda de “general” com o quepe, o
casaco verde-oliva cheio de medalhas feitas de latão, fitas coloridas e outros
enfeites, que algumas senhoras caridosas da cidade confeccionavam, conhecedoras
da mania de militar do “Compasso”, (apelido que o Balbino detestava), inclusive
a farda, cujas calças nem sempre combinavam com o casaco, sendo às vezes
vermelhas ou de qualquer outra cor, com um friso lateral de pano de cor
diferente, que descia ao longo das pernas.
Na igreja, ele era uma espécie
de vigia voluntário, repreendendo a garotada quando alguém falava alto ou fazia
alguma traquinagem. Nessas horas, começava a tremer, balançando a cabeça
nervosamente, fazendo sinal de silêncio com o dedo nos lábios. Nas mãos, tinha
um anel em cada dedo. Eram anéis de brinquedo ou velhos anéis sem valor que
ganhava de alguém. Quando a missa terminava, lá íamos nós alegres, marchando
atrás da banda, tendo à nossa frente Balbino, todo sério, solene, batendo os
pés no chão com força. A molecada da rua ao vê-lo marchando, gritava:
“Compasso”! Nesses momentos Balbino perdia a postura, e, lançando mão de um
pequeno porrete que levava sempre debaixo do braço, largava a marcha e saía
correndo atrás dos abusados. Tal “desempenho”, Balbino mantinha também nos
desfiles do Sete de Setembro, marchando atrás do TG, ou nos espaços entre as
turmas de um colégio e outro, com seu “casaco de general, suas calças vermelhas
e os dedos cheios de anéis”. Isto nos lembra alguma coisa?
Coincidência ou não, a
indumentária de Balbino assemelhava-se bastante a uma figura descrita em “Vapor
Barato”, do poeta jequieense Waly Salomão, o que leva algumas pessoas a
acreditarem que tal imagem registrada no consciente ou no inconsciente, tenha
servido como uma fonte de inspiração para o poeta. Se assim não foi nota-se,
entretanto, que o lado “folclórico” da coisa parece agradar a muitos
jequieenses, que acham interessante imaginar a figura de Balbino, mesmo de uma
maneira implícita, aparecendo numa famosa obra de Waly. (Carlos Eden Meira)
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