No ultimo dia 19 de maio, o ex- jogador Gajé que
brilhou no futebol baiano, comemorou 79 anos de vida. Ele foi batizado com o
nome Antonio Everaldino Venâncio dos Passos, mas pescando um pequeno caranguejo
de água doce ganhou o apelido com o qual ficou definitivamente conhecido. O
caranguejo gajé (richodactylus) é uma espécie ameaçada de extinção, assim como
o ponta direita nato que teve entre seus representantes históricos o craque
homônimo e o fenomenal Mané Garrincha.
Ambos tinham um jeito tímido, descendência
indígena, dribles desconcertantes e uma incrível capacidade da fazer gols. Gajé também atuou em outras posições, inclusive a de centro-avante.
“Se
bem me lembro eu fiz mais de 300 gols durante o tempo em que joguei bola.
Somente em uma partida, no Estádio Pedro Caetano , em Ipiaú, marquei 11,
deixando o goleiro de um “catado” de Ubatã, cansado de tanto buscar a bola no
fundo da rede", recorda o craque.
No Bahia ele fez 24 gols em duas temporadas, e mais
quatro pelo time do Leônico , Campeão Baiano de 1966.
"Jogando
nas equipes de Itabuna e Ipiaú, fiz muitos, perdi a conta... Eu nasci pra fazer
gols”, conclui o voluntarioso atacante.
A
historia oficial do atleta Gajé foi iniciada no time dos Alfaiates em Ibicarai,
onde também jogou pelo Flamengo de Boca Rica. O desportista Zequinha do Carmo
ficou admirado com sua habilidade e não hesitou em levar-lhe , com apenas 15
anos, para o futebol de Itabuna , de onde foi projetado para o cenário
estadual.
DE ITABUNA A IPIAÚ
A poderosa Seleção de Itabuna foi hexa-campeã do Intermunicipal, nos
anos 50/60. Gajé se destacou na conquista do penta. Naquele fabuloso time
jogavam Chicão, Fernando Riela, Leto, Lua, Carlos Riela, Santinho, Zé Reis,
Itajaí, Abiezer, Caxinguelê,Tombinho, Ronaldo, Déri e os goleiros Luis Carlos e
Betinho. O
craque estava em Itororó quando Jaime Cobrinha, o mais astuto dos cartolas
ipiaúenses, lhe chamou para jogar no Independente Esporte e Cultura, um time
ultra afinado que chegou a ser comparado a uma orquestra e que também contava
em seu harmonioso elenco o incrível Betinho, um goleraço que chegou a atuar no
lendário time do Santos de Pelé e esteve com Gajé na Seleção de Itabuna. Ídolo
da torcida do Independente, Gajé ampliou sua coleção com dois títulos consecutivos
(1965/66) e muitos gols. Além disso, criou uma relação de amor por Ipiaú.
![]() |
No
Independente, Gajé teve oportunidade de atuar com Bueirinho, Zé Plínio,
Tanajura, Dilermando, Gino, Davi Cara de Jegue, Jorge Campos e outros atletas
extraordinários. Na campanha do bicampeonato , em 1966, o Independente contou
com Betinho, Dí, Everaldo Barbosa, Gaso da Serraria, Jasson, João Grilo,
Américo Pintor (o Massagista) e o dirigente Jaime Cobrinha(em pé). Caribé,
Denancí, Gagé, Daniel Macêdo, Gino, Orlindo Lopes e Lourival Paneli
(agachados).
TITULO INÉDITO DO LEÔNICO
Gajé pretendia ficar em Ipiaú, onde montou uma alfaiataria e fez muitos
amigos, porém foi seduzido pelos cartolas do Leônico que reforçaram a equipe
para disputar o segundo turno do Campeonato Baiano . Fez bonito na Fonte Nova e
ganhou seu primeiro titulo no futebol profissional. De
tanto aprontar com os adversários , o Leônico foi apelidado de “Moleque
Travesso”. Nesse time, campeão baiano de 1966, Gajé reencontrou seu amigo Zé
Reis. Os dois atuaram juntos na Seleção de Itabuna e repetiram alegres façanhas
em Salvador. O
Leônico campeão esteve assim constituído: Gomes, Nelson Cazumbá, Bell, Biguá,
Petronio; Bolinha, Careca; Gajé, Zé Reis, Geraldo e Armandinho.
NO BAHIA
Osório Villas-Boas, o todo poderoso presidente do Bahia, quis Cajé no
seu time e assim foi feito. No clube mais querido do estado o veloz atacante
ficou até o final dos anos 60. Participou de competições nacionais e até
internacionais. Titular
absoluto na temporada de 1968, ele teve uma boa atuação na Taça Brasil e até
fez um gol olímpico no Beira Rio , em Porto Alegre, contra o Internacional. Na
ocasião o elenco do Bahia era formado por Jurandir, Dário, Ailton, Jaime, Souza
, Luiz Ditão, Caetano, Adaurí, Gajé, Amorim e Canhoteiro.
Gajé
também vestiu a camisa do Fluminense de Feira e do Itabuna Esporte Clube,
entretanto desistiu do futebol profissional, retornou a Ipiaú e continuou
jogando no Independente.
NOVAMENTE
NO INTERMUNIPAL
Esteve
diversas vezes na Seleção de Ipiaú , conquistou mais um titulo pelo Campeonato
Intermunicipal. Foi no ano de 1977 numa decisão contra a Seleção de São Felix
com um gol de Jorge Pato. Nessa
decisão Ipiaú sagrou-se bicampeão do Intermunicipal . Roberto, Litinho,
Pedrito, Sapatão, Boca de Pia, João Velho, Carlinhos, Dadá, Jorge Pato, Cesar
Véi e Gajé, foram os atletas da campanha vitoriosa.
Não
saiu mais de Ipiaú. Instalou uma granja e a cada frango que vendia lembrava dos
goleiros que não conseguiram segurar seus fortes chutes. Ao
final do expediente ia bater baba no areião do Arara, às margens do rio das
Contas, e continuava, driblando, correndo muito e fazendo gols.
Na
ocasião do seu aniversário foi visitado por um grupo de amigos, em sua
residência na Vilma Palma, Bairro Dois de Dezembro, e não conteve as lágrimas
da emoção ao relembrar as grandes jogadas, os momentos felizes, desde criança
junto aos seus pais José Guilherme e Petrina Venâncio, os mergulhos no Rio
Salgado e as vitórias nos gramados baianos. Ficou feliz ao saber que o vereador Jô da AABB vai
propor à Câmara Municipal de Ipiaú que lhe conceda a Medalha do Mérito
Esportivo e tornou a repetir a frase: Eu nasci pra fazer gols”. (José Américo
Castro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário