Charles
Meira
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Mônica (filha), Carlos Eden, Carlos Elias (filho) e Maria de Lourdes (esposa). |
Estava saindo de Edísio Sports, loja localizada na Rua Félix
Gaspar, quando encontrei meu parente e amigo Carlos Eden Meira. Em pouco tempo
atualizamos as notícias familiares e aproveitei, além disso, a oportunidade
para marcar uma entrevista com o polivalente artista Jequieense, visando
concretizar um antigo desejo de fazer esta matéria para a Revista Cotoxó.
Na manhã de segunda feira nove de abril, depois de visitar a minha
mãe Maria Letícia fui à residência de Eden e realizei a entrevista.
Carlos Eden Meira nasceu em Jequié – BA, casado com Maria de Lourdes Pereira Magalhães e tem 02
filhos e 05 netas. Filho do Jornalista Henrique Meira Magalhães,
natural de Boa Nova – BA e Iracema Dantas Moreira Magalhães, nascida em de
Vitória da Conquista – BA, família composta de 08 filhos.
A infância
dele foi normal. Na rua onde morava brincava com a turminha de empinar pipa,
jogava gude, entretanto ele era ruim nelas todas, principalmente jogando bola.
Mais tarde, um Oftalmologista descobriu que Eden tinha Estrabismo, doença
péssima para quem pratica esporte e também encontrou Hipermetropia e
Astigmatismo, enfermidades que o prejudicou nos estudos, sobretudo em
matemática, por não enxergar bem os exercícios no quadro - negro, e tinha
vergonha de falar.
Os estudos
foram iniciados em 1957 no Grupo Escolar Castro Alves fazendo o curso infantil
e o primário até o terceiro ano. O quarto ano estudou em 1960 com a professora
Maria Angélica Ribeiro Oliveira, irmã de Leonel Ribeiro, numa escolinha na Rua
Laudelino Barreto. Em 1961 retornou para o Castro Alves, onde fez o quinto ano
primário e em seguida foi estudar no IERP (Instituto de Educação Régis Pacheco)
em 1962, local onde fez o curso ginasial e o científico. Devido a problemas
financeiros, vontade própria, incentivo e um empurrão da família, Eden não foi
para Salvador fazer o vestibular.
A música entrou na vida dele porque
tinha um bom ouvido. Na década de 50 quando criança foi ao Circo Nerino, viu e
ouviu um homem tocando um instrumento parecido com uma marimba feito com
garrafas. De acordo a quantidade de água contida nas garrafas o som ficava mais
ou menos agudo e grave, formando a escala musical completa. O menino que tinha
na época, aproximadamente 08 anos de idade não sabia música, porém chegando à
sua casa escutou e decorou a música que sua irmã, Maria Auxiliadora sabia
solfejar chamada “O Cravo Brigou com a Rosa”, canção que ela aprendeu no curso
de canto orfeônico que estava fazendo no antigo Ginásio de Jequié (do Padre
Spínola), e como Eden tinha visto o homem tocar a tal marimba no circo, ele
colocou garrafas de acordo o som da música solfejada, conseguindo tocar a
melodia. Entretanto, somente com os tons naturais da escala musical. Henrique
Meira achou tão interessante o talento musical e o instrumento feito pelo seu
filho Carlos Eden, que contou para o seu amigo e jornalista Dr. Jovino Astrê. O
jornalista tinha um acordeon Hering de 4 baixos, a famosa “pé de bode” e
presenteou o instrumento ao filho do seu amigo. Eden gostou muito do presente e
do jeito que fazia nas garrafas, tocava agora no “pé de bode”. No
ano de 1961, quando tinha 13 anos de idade ganhou do seu pai um acordeon Hering
de 24 baixos. Como não sabia música, teve muitas dificuldades e “na raça”,
aprendeu a “tocar de ouvido” o novo e bem melhor instrumento musical, lembrando
de Luiz Gonzaga falar em uma de suas músicas: “pra que tanto baixo? Arreparando
bem, ele só toca mesmo em dois”.
Mais tarde, com o surgimento dos
Beatles, da Jovem Guarda a turma tentava tirar da cabeça de Carlos Eden de
continuar tocando acordeon dizendo: “acordeon é coisa de velho, qual é, nada, o
negócio é violão”. Eden protestava falando que não sabia pra onde ia tocar
violão, e a turma insistia: “nada a gente aprende”. Resultado, a turma terminou
vencendo e Eden vendeu a acordeon, para comprar um violão. Na época, o dinheiro
da venda deu para comprar um violão Giannini e outras coisas mais.
Em 1964 com 16 anos de idade, ainda não tocava em conjunto, conhecia a turma
que tocava, porém não tinha amizade. Conhecia Delson Macedo e Odelival Santana,
que ouviam o pessoal do “Atalaia” ensaiar, conjunto que tinha músicos como
Marinho, Bené e Jaime Luna. Um colega de sala no IERP, Corbulon
Rocha tocava músicas de Dilermando Reis, entretanto, a turma dizia que ele
também, deveria era aprender a tocar Rock e as músicas da “Jovem Guarda”, e
passavam para o amigo dele as harmonias básicas do violão, que Eden também foi
aprendendo.
Nesta época, Carlos Eden trabalhou pela primeira
vez durante o período de um ano como funcionário da Rádio Bahiana de Jequié,
fazendo experimentalmente sem carteira assinada, locução no “Vitrine Musical”,
programa que ia ao ar todos os dias das 16 às 17h. No curto tempo que passou na
empresa, o locutor teve o prazer de conhecer o colega Humberto Roosevelt,
locutor que segundo Carlos Eden é pouco lembrado pelos companheiros que atuam
nas rádios de Jequié. Humberto foi o criador do famoso “Ritmos da Juventude”,
programa musical apresentado todos os dias das 17 às 18h de 1964 até 1967 e
também apresentador do programa de auditório “Os Brotos Comandam” realizado nas
manhãs de domingo no Cine Jequié de 1965 até 1967, o primeiro no estilo “música
jovem”, com conjuntos modernos para a época. O “Bossa Seis” foi um dos
conjuntos que tocaram e acompanharam os calouros no programa. Carlos Eden
chegou a cantar e tocar Escaleta, depois de ser apresentado pelos amigos Delson
e Corbulon para a turma que tocava no conjunto criado por influencia de
Humberto Roosevelt, chamado “Os Morcegos”, composto também pelos músicos José
Pinheiro, Reinaldo Falcão, Corbulon e Binho, e que fazia apresentações no
programa.
Depois, a banda passou a tocar em festas nos clubes
da cidade e devido a um desentendimento do proprietário Rubens Almeida e o
empresário Humberto Roosevelt, foram substituídos o baterista por Getúlio Jucá
e o baixista por César Almeida, entrou Paulo Krupa na guitarra base, Ivan Dias
no saxofone e Carlos Eden na guitarra solo, mudando o nome do grupo para “The
Byrds, talvez porque o nome era um pouco parecido com Beatles. Esta banda tocou
em festas na região e acompanhou o cantor Wanderley Cardoso numa turnê em
Itapetinga, Conquista e Jequié. O grupo terminou em dezembro de 1967, tendo
Carlos Eden parado de tocar, voltando a estudar em 1968 no IERP, para concluir
o ginasial e o curso científico. Em seguida o conjunto “Bossa Seis”, que estava
acabando, se juntou com alguns componentes do “Byrds” e, inspirados pelo tropicalismo,
formaram o “American Hippies”, conjunto que existiu por pouco tempo. Um
pouco mais tarde, Eden se juntou a esses mesmos músicos para formar a “Banda do
Leste”, que juntamente com o criativo grupo “Arpão” (Tomaz Meira, Luiz Meira e
Rafael Vieira) fizeram uma apresentação no palco do Cine Auditorium. A “Banda
do Leste”, também, não durou muito tempo.
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Jornalistas de Jequié. Em cima: Adauto Cidreira, Wilson Novais e Henrique Meira. Embaixo: Luiz Cotrim, Eusínio Soares e Eunísio Bomfim. Cartun de C. Eden. |
O cartun, outra arte, mais um presente de Deus dado
e usado com perfeição por Carlos Eden. Na mesma fase infantil que a música adentrou
na sua vida, o nosso artista, além disso, andava rabiscando no caderno e no
quadro - negro na sala de aula, onde era repreendido pelo professor, porquanto
sujava os objetos utilizados na educação dele e dos colegas. Em 1964, outro
aprendizado determinante nesta arte ocorreu na exposição realizada durante a
festa de Santo Antônio pelo seu irmão Anatólio Meira Magalhães, ótimo pintor e caricaturista, oportunidade que o
menino curioso observava e copiava as caricaturas expostas na barraca. Nesta
fase inicial de aprendizagem, Eden copiou desenhos contidos nas capas de
revistas em quadrinhos, principalmente os personagens cômicos da Revista “O
Cruzeiro”.
Começou realmente a fazer Cartun, influenciado por
Ziraldo, Henfil e Jaguar no início da década de 70 no IERP (Instituto de
Educação Régis Pacheco), onde estava fazendo o curso científico, época em que
desenhou junto com Severio Giudice para os jornaizinhos “O Antena” e o “O
Radar”.
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Extremamente alegre Carlos Eden contou que de 1969
até aproximadamente 1973, realizou na companhia do artista plástico João
Batista Pessoa, pintando e Anatólio Meira fazendo as caricaturas, várias
ornamentações carnavalescas na ACJ (Associação Cultural Jequieense), utilizando
Cartuns e Charges. Os artistas Jequieenses eram pagos pelos trabalhos,
remuneração que alguns gastavam com bebidas nas próprias festividades. A
primeira ornamentação, para Eden foi a mais interessante, pois estava no auge
do tropicalismo e nela usaram figuras caricaturais de pessoas famosas como os
Beatles, e outros personagens conhecidos. Fizeram uma mistura com personagens
de Jequié, como Balbino comandando uma parada com um tanque de guerra soltando
bananas e Caetano Veloso com um cacho das frutas na mão, dizendo: “yes, nós
temos banana”. Balbino vestido de
general ia gritando: “fogo, fogo!”.
Depois deste período, Carlos Eden trabalhou no ano
de 1975 com carteira assinada na Prefeitura Municipal de Jequié na
administração de Landulfo Caribé e posteriormente foi trabalhar em 1977 na CDL,
a convite do irmão, Raymundo Meira.
Após insistir no tema exposição, Eden lembrou que na
década de 80 participou de uma mostra com seus trabalhos na Câmara Municipal de
Jequié. Val Rodrigues e Omar Dias
realizaram o evento e trouxeram Nildão, cartunista famoso de Salvador e Eden
foi convidado igualmente para expor os seus Cartuns.
O jornal A Tarde, ainda naquele período publicou
durante uns 10 anos como colaboração, os Cartuns de Carlos Eden na seção criada
por Herbert Magalhães, professor de Artes da UFBA chamada Cartunarte, dedicada
ao humorismo artístico. Além disso, através do professor os seus trabalhos
foram apresentados em sala de aula, tiveram ótima aceitação dos alunos e foram
colocados no mural da universidade.
O jornal Jequié começou a ser impresso em offset,
novidade implantada pelo Jornalista Wilson Novaes Junior nos anos 80. Para
fazer semanalmente as charges políticas, Novaes convidou e remunerou Carlos
Eden durante o tempo que contribuiu para o jornal.
Vários outro meios de comunicação publicaram
charges, cartuns e textos do nosso conceituado artista como Jornais, revistas e
blogs.
Foram feitas ainda por Carlos Eden, ilustrações para
diversos livros de escritores Jequiéenses e de outras localidades.
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Carlos Eden voltou a participar em outra exposição
na década de 90, apresentando seus desenhos a convite de Júlio Lucas na
programação cultural realizada na Casa da Cultura Pacífico Ribeiro. No SESC
Jequié, a convite da direção expôs suas Charges e Cartuns de 04 a 10 de março
de 2012. No Centro de Cultura ACM de Jequié, convidado pelo diretor Alysson
Andrade participou da “Semana Multiartística”, expondo suas Charges e Cartuns
de 18 a 22 de agosto de 2013.
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Carlos Eden também é artista plástico, e suas poucas
pinturas em tela foram expostas em algumas exposições coletivas
realizadas.
Na publicidade trabalhou fazendo cartazes para
Prefeitura Municipal de Jequié, CDL, EMATER-BA, entidades; e logomarcas para
empresas diversas. Desenhos para outdoor, desenhos para rótulos diversos,
trabalhos que foram pagos pelos contratantes.
A entrevista foi interrompida para
Charles Meira abraçar outra neta de Carlos Eden que havia chegado para fazer os
deveres da escola. Prosseguindo o nosso bate papo, a música voltou a ser
mencionada. Meira contou que anos mais tarde, surgiu em Jequié o conjunto Kinta
Dimensão, no qual era vocalista. Nessa época houve um festival no IERP e o
grupo foi convidado para acompanhar alguns participantes. Lembra que o
auditório estava lotado e o grupo usou uma bata de tecido preto, quentíssima no
período de pleno verão de Jequié. Neste grupo Eden ficou pouco tempo, entrando
Paulo Krupa em seu lugar. Posteriormente, sob a liderança de Marinho o conjunto
passou a se chamar "Os Ímpares". Em 1973, Paulo Krupa deixou o
conjunto, Eden retornou a convite de Marinho e permaneceu no grupo tocando em
boates e clubes de Jequié e região durante dois anos. Em seguida com a dissolução do grupo, Carlos
Eden parou de tocar e os demais componentes foram tocar em outros conjuntos.
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Grupo "Coroas de Jequié": Heros Ferreira, Givaldo Barros, Carlos Eden, Zezinho Magalhães. Charge de C Eden. |
Comprovando que a música realmente sempre fez parte da vida de Carlos Eden, em 1980 o músico participou e ganhou o Festival do Trabalhador no Cine Audutírium com a composição de sua autoria chamada “Voz do Sertão”, interpretada pelo “Hora Certa”, grupo formado por Jorge Beck, Billy Lula, Welf, Niene e outros. O evento era realizado por Astro Brainer e Telma Linhares. No mesmo ano e local, a convite da mesma coordenação participou como jurado, junto com Bené Sena, em outro Festival do Trabalhador. Na ocasião a pedido da direção do evento os ex-componestes do conjunto “Bossa Seis” formado por: Nilton Muniz, Bené Sena, Judimar, Eden como convidado, e a participação especial de César Almeida e Helinho, fizeram uma apresentação.
Anos mais tarde, participou do Festival de Música
Regional, realizado ao ar livre pela 93FM novamente com “Voz do Sertão”,
composição interpretada na ocasião pelo acordeonista Claudinho do acordeon e
classificada em segundo lugar no evento.
Carlos Eden,
Aroldo Vieira, Bené Sena, Marcos Sanches e George Lima tocaram juntos num
“arguidá”, o que significava “banda sem nome, composta de músicos saídos de
outras bandas”. Aroldo nesse período
desistiu de tocar e foi trabalhar em rádio FM. Quando Bené Sena realmente criou
o grupo “Arguidá”, a formação era a seguinte: Bené Sena, Maurílio, Alan Borges
e Ronaldo. Eden afirmou que em 2007, participou por algum tempo, cantando e
tocando um pouco, como convidado nas apresentações do “Arguidá”. Paralelamente
surgiu o grupo “ Coroas de Jequié”, formado pelo seu proprietário Heros,
Zezinho Magalhães, Eden, Givaldo Barros e Jorge Beck. O conjunto foi formado
para tocar no São João de Jequié de preferência o repertório de Luiz Gonzaga,
entretanto, a pedidos, tocou também um repertório variado em festas da
Maçonaria, Boate Chão de Estrelas, Armazém Mineiro e outros locais.
Depois desta fase, Carlos Eden Meira parou
completamente. Hoje o nosso artista está aposentado e ocupa o seu tempo lendo,
escrevendo, fazendo cartun, charge, pintando e cuidando das netas.
No final da entrevista, depois de Carlos Eden cantar
uma música dos Beatles e Charles Meira uma composição própria, confidenciou que
o seu atual e principal intento é editar um livro que está praticamente pronto,
obra que contará com textos selecionados misturados com cartuns e poesias.
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