Moga Neto
Tão unidos qual argamassa delicada
tão íntimos qual lençol e fronha
tão puro qual a gota da chuva cristalina
tão ansiosa a espera do vento em calmaria
Como se fere uma flor?
como se arranca uma folha,
sem se derramar o orvalho da manhã?
como se separar o azul do verde do mar?
Como ferir o sândalo sem se perfumar?
impossível contar os grãos de areia da praia,
impossível precisar as estrelas do céu,
impossível não distinguir no sussurro do vento
o alegre canto da natureza
impossível não notar no outono
que as árvores choram,
que elas se entristecem,
ao caírem as folhas ressequidas
impossível não notar no meu olhar
o que temo te dizer,
impossível que não vejas em cada frase minha
uma palavra de afeto comprometedor...
impossível afinal, que não saibas que te quero.
*Publicado no Jornal A TARDE - Sábado, 19 de Julho de 1970.
Nenhum comentário:
Postar um comentário