quinta-feira, 27 de julho de 2017

Paulo Sales, um Jequieense Vencedor.

                                           Charles Meira

* Texto publicado na Revista Cotoxó - Julho 2017.
Paulo Cesar Silva Sales
            Depois de várias matérias feitas com técnico e jogadores que fizeram a história da Associação Desportiva Jequié entrevistei Paulo Sales, atual técnico da equipe, uma das peças de fundamental importância na bela campanha que realiza o Jequié no Campeonato Baiano da Série B de 2017, visando o acesso a primeira divisão.
            Da união de Damião Sales, natural de Jequié com Maria José Silva Sales de Jitaúna – BA nasceram os filhos: Paulo Cesar Silva Sales, Rita de Cássia Silva Sales e Damião Sales Filho.            
            Paulo Cesar Silva Sales que nasceu em 16/05/1963 na cidade de Jequié - BA, quando pequeno foi morar em Caravela no sul da Bahia, onde passou toda sua infância. Na verdade, como a maioria das crianças o menino gostava de jogar bola, porém nunca pensou em ser um jogador profissional. Sales estudava no Colégio Polivalente, onde em 1968 tinha um professor que o incentivava bastante a praticar não só o futebol como também o basquete, mesmo não tendo uma boa estatura, vôlei e handebol. Como naquele tempo poucos moradores da cidade tinham televisão, o futebol era a maior diversão da garotada. Sales jogava de lateral direito no time do colégio, formados por garotos de 14 e 15 anos que disputavam no estádio o campeonato amador, mesmo jogando com os adultos. Sales viveu em Caravelas até os 16 anos de idade e depois voltou para Jequié. Em Jequié começou a jogar futebol no time do União da AABB, pois trabalhava no Banco do Brasil na função de Office-Boy, usando aquela fardinha azul. Sales disputava o campeonato de campo grande, considerado um dos mais fortes da cidade, onde jogava vários bons jogadores como: Maíca, Nelito, Paulo Boschetti, Valdeck, Getúlio, Zé de Bara, dentre outros. Paulo Boschetti, conhecedor de futebol, vendo a desenvoltura de Sales com apenas 16 anos jogando com jogadores mais velhos e experientes como Maica, um dos grandes jogadores profissionais do time do Jequié, encaminhou o garoto para o time da Associação Desportiva Jequié, na época treinada por Vanderli Andrade (Vandé).

Paulo Sales e Charles Meira.
                 No Jequié Sales disputou o Campeonato Baiano Juvenil de 78 ou 79 não lembra a data correta e foram campeões. Na ocasião os times do Bahia e do Vitória não disputaram. Participaram as seguintes equipes: Atlético de Alagoinhas, Itabuna, Redenção, Botafogo e outros. Segundo Sales, se não está enganado é o único título do Jequié nessa categoria. Posteriormente em 1979 foi convocado para a Seleção Baiana Juvenil, para um período de teste, juntamente com os atletas Cristovão e Idalmir, que depois foram cortados e Sales permaneceu. Neste mesmo ano o Jequié disputou o Campeonato Brasileiro de Junior e fez uma belíssima campanha, levando o time do Bahia e do Vitória, interessar pelo jogador Sales. Sales jogou também algumas partidas no profissional do Jequié como amador, tinha contrato de amador, pois tinha que fazer uma inscrição na agremiação que pertencia, contrato assinado pelo seu pai com o Jequié. Jogou em 1978 e 79 na primeira divisão, época que veio para o Jequié um treinador de fora e a maioria dos jogadores também. O time em 1980 não realizou uma boa campanha.  Neste ano foi vendido para o Bahia, não lembra valores e disse que não recebeu nada, mas o Jequié usufruiu nesta transação.

Paulo Sales no Esporte Clube Bahia.
            No Bahia chegou como Junior, entretanto com certa mordomia, pois tinha sido comprado e treinava no time profissional. Sales jogava mais no time Junior, profissional em algumas vezes no banco. Sales morava na Barra, tudo pago pelo Bahia, junto com os atletas profissionais e tinha certa regalia. Sales continuou sendo convocado para a Seleção Baiana de Junior. Em 1982 começou a jogar no profissional, época que atuava Dario e outros jogadores experientes. Foi campeão pelo Bahia em 1982, 83, 84, 86, 87, 88 e também Campeão Brasileiro, porém o titular era Paulo Rodrigues.
            Sales casou-se em Salvador no ano de 1986 e deste matrimonio nasceram: Paulo Cesar Sales e Victória Santos Sales e após separação casou-se com Adriana Lima Prado e desta união nasceu Enzo Gabriel Prado Sales.

Paulo Sales campeão no Bahia.
               Sales depois seguiu a sua carreira, jogando em vários clubes no Brasil. Em 1986 saiu do Bahia e foi disputar o Campeonato Paulista pelo time do 15 de Jaú, pois não estava tendo oportunidade na equipe. Depois foi indicado pelo técnico Evaristo Macedo para o Santa Cruz, onde jogou em 1989 e 90. No ano de 1990 foi comprado pelo Bangu. Em seguida foi para o Paissandu, onde disputou o Campeonato Brasileiro. Jogou também no Londrina e foi campeão paranaense. No Figueirense ficou um ano e meio e foi para o São Caetano de São Paulo. Maringá, Ponta Grossa na Segunda Divisão, Comercial do Mato Grosso do Sul, campeão mato-grossense, Paraná Clube e São José foram 13 clubes contando com o Jequié, sempre com êxito, onde na maioria deles foi capitão.

Paulo Sales no Santa Cruz.
           Paulo Sales jogou com e contra grandes jogadores. Falou que na época não ganhava dinheiro, não tinha essa pompa de atletas com grandes salários, porém deu para guardar, pois é econômico. Sales é formado e pós-graduado em Educação Física na Faculdade do IESTE. Diplomado como treinador na Faculdade SUPERCOM – Rio de Janeiro, Faculdade Castelo Branco – Rio de Janeiro e na Federação Baiana de Futebol.
            Depois de jogar nestes clubes, Sales atuou no Jequié em alguns jogos no ano de 1994, 95 e anda fez um gol no jogo realizado em Jequié contra a equipe do Colo-Colo, porém perdemos a partida. Depois jogou uma partida contra o Jacuipense e perdeu de 3 X 1. Após este jogo falou que não desejava mais jogar. Atuou depois pouco tempo no futebol amador e saiu definitivamente do mundo do futebol.
            Paulo Sales deixou o futebol e veio morar em Jequié, cidade que é o seu porto seguro. Leciona em duas escolas particulares, proprietário de um mercadinho e também coordena a Escolinha de futebol do Sales, que funciona no Society Clube com uma média de 86 garotos.

Paulo Sales no Society Clube na companhia de vários garotos da "Escolinha do Sales" e colaboradores do projeto.
             A idéia de ser treinador de futebol foi despertada em 2008, quando Sales estava na escolinha e recebeu uma ligação de Netão da cidade de Ipiaú – BA, na época treinador do Poções. Recebeu dele um convite para substituí-lo na equipe, pois estava desmotivado para trabalhar, devido à péssima colocação e preste a ser rebaixado no Campeonato Baiano de Futebol daquele ano. Sales não aceitou a proposta. No outro dia, o técnico ligou novamente e Sales aceitou ir a Porções assistir o treinamento da equipe. Aceitou a proposta e conseguiu livrar o time do rebaixamento. Logo após o término do campeonato apareceu um convite para treinar a equipe de Madre de Deus no Campeonato Baiano da Segunda Divisão em 2008. Sales aceitou e foi campeão invicto, ganhando na final o time do Guanambi. Como treinador passou em poucos times, porém em todos com êxito. De 2008 até hoje disputou oito campeonatos, dos quais chegou a seis finais, conseguindo o acesso de quatro equipes. Uma das equipes que não conseguiu o acesso foi o Jequié em 2013, quando não aceitou ficar no Juazeirense e veio dirigir o Jequié, porque tinha dado a sua palavra a seu presidente Jorge Amado, decisão que Sales tem arrependimento de ter tomado, pois infelizmente naquela época a equipe não tinha ajuda e segundo Sales tudo era feito por ele, atitude que jamais tomará novamente. Disse que logística é papel da direção do clube e logo que surgiu uma grande oportunidade de aprendizagem e melhor financeiramente, optou em sair do Jequié. Dirigiu a equipe do Bahia sub-17 durante um ano e meio, saindo devido atraso de salário e uma proposta financeira muito boa de uma equipe do futebol baiano. Paulo Sales foi também treinador do Feirense, Juazeirense, Jacobina e Poções, equipes que na época atuavam na primeira divisão do Campeonato Baiano.


Sales, treinador do Sub-17 do Bahia.
Paulo Sales foi capitão em quase todas equipes que jogou.
           Este ano Sales estava dirigindo a equipe da Juazeirense na Copa do Nordeste e no Campeonato Baiano da Primeira Divisão, porém o time teve alguns tropeços e foi substituído. Mesmo antes de sair da Juazeirense, Sales estava mantendo contato com o Pastor Marcio e o Deputado Leur Lomanto, que tentavam trazê-lo para treinar o Jequié, entretanto resistia, porque havia recebido um convite do Central de Caruaru para disputar o Campeonato Brasileiro da Série D. Depois de muita conversa, Sales aceitou a proposta do Jequié e adiou o seu projeto desejado para este ano.


Paulo Sales, treinador do Jequié.
                   Hoje Sales está satisfeito no Jequié, pois devido à boa estrutura e a eficiente logística atual tem possibilitado a equipe realizar com êxito uma bela campanha no Campeonato Baiano da Série B. Segundo Sales o Jequié não é o melhor, porém tem hoje uma equipe unida, muito coesa e focada unicamente no objetivo de ser campeã. Tem também uma equipe homogenia que entende dentro de campo aquilo que é proposto por ele como estratégia de jogo, levando a equipe a conseguir resultados positivos e consequentemente um aumento do nível de confiança e mais rendimento.
            Quanto ao seu futuro, Sales disse que entrega nas mãos do supremo Deus. O seu pensamento é de continuar como treinador, não tem dúvida. Não sabe se continuará no Jequié, conversas somente depois do término do campeonato. Espera que venha o convite, porém não concretizando a sua permanência analisará convites recebidos de duas outras equipes.


Paulo Sales, treinando o time do Jequié.
             A meu pedido antes do término da matéria, Sales contou dois fatos engraçados ocorridos na sua época de jogador de futebol. O primeiro aconteceu na época que Evaristo de Macedo treinava o Bahia. Estavam numa sala da concentração, ocasião que o técnico contava que sua filha era formada em direito e tinha um apartamento que na oportunidade era por ele reformado. Sales estava construindo em Jequié e disse que somente o banheiro do apartamento era do tamanho da sua casa. Evaristo falou com o seu sotaque carioca assim: “você quer o que, quer fazer casa grande em Jequié”. Sales aproveitou o momento e disse que estava na hora dele ajudá-lo. Evaristo sorridente respondeu: “já estou ajudando, mantendo você aqui no Bahia, merda”. Sales deu uma risada e explicou que Evaristo quis dizer que ele era uma merda e estava sendo mantido na equipe do Bahia. O segundo fato ocorreu em São Paulo, quando quebrou a mão atuando no time do 15 de Jaú em 1986. Foi levado para o hospital para tirar um raio-X, que depois de analisado pelo médico ficou constatado que tinha uma fissura. Na época o time iria jogar no domingo contra o São Paulo de Cilinho, que tinha Careca, Miller, Silas e Sales estava doido para jogar. Era uma quarta-feira e o time estava numa péssima colocação no campeonato, então os dirigentes levaram um macumbeiro no vestiário e falaram que o capitão estava com uma fissura na mão. De imediato o macumbeiro arrancou a tala e pegou e apertou a mão de Sales, que começou a suar, sentir muitas dores, porém ficou calado, indiferente ao que acontecia, parecendo que estava hipnotizado. Em seguida o cara começou a falar com uma voz diferente: “mostre que você não sente nada, você vai para o jogo”. No outro dia a mão de Sales estava enorme, muito inchada e foi levado novamente para o hospital, onde recebeu uma recriminação do médico. Final da história, Sales ficou fora do jogo.
                  No final da entrevista, Paulo Sales falou que não joga mais bola, devido um desgaste no fêmur o que impede dele continuar batendo umas peladas. Atualmente esteve em Salvador, quando das comemorações do título de campeão brasileiro do Bahia em 1988, entrou em campo, mas não jogou. Na oportunidade todos os jogadores campeões receberam um cartão de sócio torcedor, dando direito a um camarote no estádio da Fonte Nova para assistirem gratuitamente os jogos do Bahia.

* Texto publicado na Revista Cotoxó - Julho 2017.

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