Capa disco "Atmosfera Divina"
As músicas que foram feitas em parceria com os componentes do grupo
C.L.A.R.P.T, Moga Neto, Edelcir Cade e outros, despertaram em mim um desejo de
tornar o trabalho conhecido com uma amplitude maior, partindo para fazer uma
gravação de um disco. Mesmo sendo incentivado pelos amigos com o
comprometimento de ajudar financeiramente, nada idealizado deu certo, ficou
somente a vontade.
No ano de 1986, totalmente integrado na Igreja Batista de Jequiezinho,
cantava com mais assiduidade nos trabalhos ali realizados.
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Pastor Júlio de Santana |
A parceria com Edelício era cada vez mais sólida, proporcionando um
grande entrosamento e gerando vários frutos em forma de composições.
As amizades foram surgindo dentro da igreja, principalmente com aquelas
pessoas ligadas a área musical. Conheci os irmãos Heleno, comerciante no ramo
de madeira e Edvando Pereira, cantor evangélico. O primeiro foi o principal
incentivador do seu mano na gravação do seu primeiro disco. Em conversa com os
mesmos, sempre mostrava o meu desejo de também gravar um vinil. Notadamente um
conhecedor e de grande tino musical, o irmão Heleno atestou o meu talento como
cantor e se colocou à minha disposição para ajudar no que estivesse relacionado
com a gravação. Vontade e talento foram comprovados que eu tinha, as dez
composições de minha autoria e Edelício estavam escolhidas, alguém disposto
para coordenar também. Faltava agora conseguir os recursos financeiros.
Materialmente falando, era a parte mais difícil. Mas Deus providenciarias os
meios para solucionar esta etapa.
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Gersonete Sampaio |
Passados alguns dias as idéias as começaram a
surgir. Eu havia comprado um terreno para futuramente construir minha casa,
pois morava de aluguel, e um fusquinha para melhorar o nosso lazer. Falei para
minha esposa que iria vender os bens para fazer a gravação do disco. Ela não
concordou com a ideia. Tive que gastar todos os argumentos explicando o lado
positivo de desfazer de um bem material e colocar na obra do Senhor. Mas como
as providencias com certeza eram divinas terminou acatando a minha decisão.
Como num passo de mágica o terreno e o carro foram vendidos. Comuniquei para
Heleno que tinha conseguido o dinheiro e que ele poderia manter os contatos,
fazendo sua parte de coordenador. No mesmo dia ele telefonou para a gravadora
SOMAX, em Recife, acertando todos os detalhes da gravação. Ficou confirmada a
data de 25 a 30 de julho de 1986.
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Igreja Batista de Jequiezinho |
Próximo da viagem, pedimos ao pastor Júlio
para contactar com o diretor do Seminário Batista de Recife, vendo a
possibilidade de conseguir nossa hospedagem durante os dias da gravação. O
pedido foi feito e o diretor respondeu positivamente. Convidei Edelício para
ser companheiro de viagem, mas não foi possível porque estava trabalhando. No
seu lugar foi comigo tio Antônio, que estava disponível. Saímos dois dias antes
da data marcada. Chegando em Recife, fomos para o seminários, nossa morada
naquela semana. No mesmo dia localizamos a SOMAX, onde ficamos conhecendo o diretor
da mesma, o qual nos atendeu muito educadamente. Depois de um cafezinho, nos
mostrou o estúdio, toda a aparelhagem de som com capacidade para gravação em 8
canais e outras dependências onde seriam realizados os trabalhos. Ficou
confirmado o início da gravação para o dia seguinte.
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Edelício e Charles Meira |
Na volta para o seminário
contemplamos as belezas da grande Recife. Nossa morada provisória ficava num
local muito bonito, cheio de árvores bem altas, quadra para futebol de salão e
vários prédios. No outro dia acordamos cedo, tomamos café e seguimos para a
gravadora. No horário marcado chegamos. Os músicos, como sempre chegaram atrasados. Fomos a eles apresentados e aos empregados da SOMAX. O Maestro era
jovem, tinha cabelos compridos, uma pessoa simpática. Os outros eram alegres e
brincalhões. Somente o baterista era evangélico. Às 10 horas começou a
gravação. Logo percebi que todos eram profissionais de qualidade. O maestro,
com quem mais conversava, era um músico com grande sensibilidade harmônica e
incrível habilidade para tocar e arranjar as músicas. Todas as etapas da
gravação foram para mim marcadas de muita emoção. Quando da mixagem da música
“Deus Presente”, chorei emocionado pela suavidade e beleza.
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Charles Meira |
Na sexta-feira
terminou a gravação. As passagens já estavam compradas para Salvador, pois não
encontramos direto para Jequié. À noite deixamos Recife. Durante a viagem não
tirava o olho da mala, onde tinha colocado o tape da gravação, preocupado que
alguém pudesse roubá-la. Tio Antônio comentou que tinha gostado do passeio,
somente não agradou da comida pernambucana. No sábado á tarde chegamos em
Jequié. Mal entramos em casa, todos queriam informações da gravação. De noite
reunimos com a família, parentes e amigos para ouvirmos a fita. As opiniões
foram diversas, mas sempre elogiando o meu primeiro trabalho como cantor
evangélico.
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Igreja Batista de Jequiezinho |
A parte de estúdio estava pronta, agora começava uma nova batalha,
que era a fabricação dos discos. Novamente o coordenador Heleno entra em cena
para fazer contatos com fábricas em São Paulo especializadas neste ramo. Várias
empresas consultadas e as respostas eram sempre negativas. Estavam com pedidos
encerrados, as cotas de fabricação estavam esgotadas, não aceitando compras até
o final do ano. Heleno tomou várias informações sem sucesso com pessoas do meio
fonográfico. Foi quando manteve contato com uma empresa de nome Polidisc, uma
distribuidora de discos, instalada na cidade de Recife, que acenou positivo e
se propôs entregar os discos no prazo de 60 dias. A fabricação seria feita por
Gravações Elétricas em São Paulo, onde a firma tinha contrato de cotas para
mandar fabricar os LP’s.
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Grupo musical da Igreja Batista de Jequiezinho |
Sem outra alternativa fechamos o negócio com o senhor
Edilson, responsável da empresa nesta área. Enviamos o tape, o material para
capa e contra-capa contendo foto tirada por Nildo Cine Foto na Frisuba, na
região de Jequié, uma bonita apresentação escrita por Moga Neto, nome das
composições e ficha técnica. E também depositamos na conta corrente da Polidisc
50% do dinheiro da prensagem como sinal, ficando o restante para ser pago no
momento que os discos estivessem prontos. O dinheiro investido foi conseguido
através de uma campanha realizada junto com parentes, amigos e o comércio da
nossa cidade.
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Charles Meira |
Na data marcada para a entrega da mercadoria, o Sr. Edilson
telefonou dizendo qual a fabricação dos discos tinham sido adiada por mais 30
dias. Começou naquele dia uma longa luta com a Polidisc. O não comprimento dos
prazos deixou todos nós apreensivos e duvidosos da lisura do negócio feito com
a distribuidora. Depois de inúmeros telefonemas cobrando satisfações da mesma e
clamores a Deus feitos pelo irmãos da igreja, os discos foram entregues. A
espera durou mais de 6 meses. Depois da boa notícia, passamos a organizar o
lançamento, que foi marcado para o dia 9 de maio de 1987. Foram enviados
convites para as igrejas, anuncio nos jornais e o carro volante percorreu toda
a cidade comunicando o evento. A expectativa era grande, principalmente dos
evangélicos que esperavam ansiosos por esse dia.
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Edelício e Charles Meira |
A comunidade compareceu em
massa, lotando as dependências da Igreja Batista de Jequiezinho. O pastor
iniciou o culto orando e dedicando a Deus todos os louvores daquela noite. Em
seguida Júlio de Santana, usando da palavra, comentou sobre minha vida e anunciou
o lançamento. Cantei as dez músicas num clima de alegria e emoção. No término
do culto todos vieram me cumprimentar, parabenizando pela belas composições
apresentadas. A aceitação foi ótima para um cantor que era desconhecido pelos
evangélicos. Os convites eram tantos que durante o primeiro ano cantei em todos
finais de semana nas igrejas de Jequié e outras cidades o estado da Bahia. Em
três meses foram vendidos os 1.000 discos pedidos. O LP Atmosfera Divina vendeu
até esta data mais de 4.000 cópias. Para uma produção independente evangélica é
uma vendagem considerada muito boa.
O que melhor aconteceu e continua acontecendo até hoje, são as decisões
de pessoas aceitando Jesus como Salvador, através das composições deste disco.
*Texto do Livro “Cantar, Cantar, Cantar”, escrito e lançado por Charles
Meira no inverno de 1998 em Jequié – BA.
Parabéns Charles...li sua linda história...de fato uma.atmosfera divina te tocou na década de 1980
ResponderExcluir... não sei como ozeis de Paula nao grcaou essa musica...e a cara dele...Deus te abencoou