Charles Meira
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Valter Gomes de Santana (Foca) |
Durante o tempo que tenho dedicado nos últimos meses fazendo entrevista
com presidentes, diretores, técnico e jogadores que fizeram a história do
futebol amador e profissional de Jequié, tentei por várias vezes e não consegui
fazer uma entrevista com “Foca”, massagista do time amador do Flamengo de
Jequié, da Seleção de Jequié na década de 60 e da Associação Desportiva Jequié
na década de 70. Por saber da importância de “Foca” para a história do nosso
futebol, solicitei de pessoas daquela época que ainda hoje fazem parte do seu
dia-a-dia, convencê-lo a dar a entrevista para fazer essa matéria. Neste mês de
março, estive novamente na Rua 2 de julho no centro de Jequié procurando por “Foca”
e no ateliê do Alfaiate e desportista Bria, fotografando algumas matérias e fotos
do time amador do Estudante de Jequié, ocasião quando ele foi o seu presidente.
No momento que conversava com Bria, para minha alegria e satisfação, repentinamente
“Foca” ali chegou. Depois de explicá-lo o verdadeiro motivo da procura, aceitou
conceder a entrevista.
Valter Gomes de Santana é mais conhecido como “Foca”, apelido dado
por um Oficial no ano de 1964, época que serviu o Exército Brasileiro no Forte
do Barbalho em Salvador. Valter era gordinho e quando estava nadando na
piscina, um dos Oficiais falou: “aquele Policial parece uma foca”. A partir
daquele dia, o Policial Valter passou ser conhecido como “Foca”.
O massagista “Foca” chegou a Jequié no ano de 1968, vindo de Santa
Luz – BA com o conterrâneo Tufu para jogar no time amador do Flamengo de
Jequié. Mesmo estando com um contrato quase certo com o Fluminense de Feira,
prevaleceu o incentivo de Tufu, dizendo: “vamos “Foca”, você dará bem em
Jequié”, apoio e decisão que realmente deu certo.
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Time amador do Flamengo de Jequié - Carlinho, Edmilson, Tufú, Maíca, Zé Augusto, Pascoal, Foca e Maneca Mesquita. Agachados: Bara, Tanajura, Dete Leão, Bajara, Marcos e Heráclito. |
No Flamengo “Foca” não teve dificuldades e logo fez muitos amigos.
Trabalhava muito, porém ganhava bastante dinheiro, o time era igual a uma equipe
profissional. Os jogadores de outras localidades tinham salário, que era pago
pelo presidente Maneca Sampaio, proprietário da Loja do Sul. Tinha também o
dirigente seu Carlos Lopes, irmão de Evandro Lopes, pessoa muito boa comigo. Os
jogadores do Flamengo não davam trabalho a “Foca”. O único irresponsável era
Maneca, Manequinha, muito relaxado comigo. Parou de falar e deu muita risada.
Prosseguiu, mas o resto era muito legal.
Mais risadas e Bria que estava do lado concertando uma calça e ouvindo,
pediu para “Foca” falar do jogo que aconteceu na cidade de Cachoeira. Contou
que neste dia tomou umas bordoadas, que os torcedores pegaram um sapo com a
boca cozida e meteram na cara dele. Que depois do jogo foi atirado no rio que passava
próximo do estádio e foi salvo de barco pelos moradores da cidade vizinha de
São Félix, rivais de Cachoeira e estavam no campo torcendo para Jequié. Que
também jogaram Dr. Ewerton Almeida no rio deram umas cacetadas nele e devido à
gravidade do quadro foi internado no hospital da cidade. A polícia e até o
exercito ficou contra os torcedores de Jequié. Quando “Foca” tentava levantar
para atender um jogador da seleção caído em campo, era impedido pelos soldados,
colocando os cassetetes na sua frente, ameaçando de dar nele uma cacetada. Encerrou
este fato contando que o estádio estava superlotado, a seleção deles era boa e estava
por cima.
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Seleção de Jequié - Tufu, Maíca, Jurandir, Edmilson, Zé Augusto e Raimundão. Agachados: Foca, Mauro, Dete Leão, Dilermando, Maneca e Hije. |
Aproveitou o embalo e relatou também que em outra ocasião na cidade de Itapetinga,
torcedores da seleção local não deixaram os jogadores do time de Jequié dormir na
noite que antecedeu o jogo, fizeram muita zoada, balançando um bocado de
chocalho, próximo ao hotel que a seleção estava hospedada.
Em seguida voltou a falar da Seleção de Cachoeira, desta vez de
acontecimentos ocorridos antes, durante e depois do terceiro jogo com a Seleção
de Jequié que aconteceu no campo da Graça em Salvador. Ainda em Jequié, Marquinhos
brigou com o técnico Maneca Mesquita, discussão besta por causa de uma festa que
aconteceu no JTC, ocasião que o jogador amanheceu o dia, bebendo e dançando na
companhia do seu amigo Bria. Devido este desentendimento a equipe viajou para
Salvador sem o jogador. No dia seguinte, Bria conversou e convenceu Marquinhos
a viajarem para Salvador, convicto de que o treinador perdoaria o atleta para
participar do jogo. A delegação do Jequié ficou hospedada no Hotel São Bento.
Ainda de ressaca chegaram cedinho no dia seguinte no hotel e depois de Marcos
tomar uma glicose a dupla foi dormir. Quando
a delegação estava no vestiário do campo da Graça vestindo o uniforme do jogo,
Marquinhos chegou e “Foca” aplicou outra glicose nele. No final da partida, quando
a Seleção de Jequié perdia de 2 X 0, Marcos entrou e resolveu o jogo, ganhamos
de 3 X 2. Depois foi só alegria. E quase 48 anos depois de ocorrido este fato, “Foca”
deu outra boa risada.
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Time da Associação Desportiva Jequié - Zé Augusto, Edmilson, Carlinhos, Tufu, Maíca e Esquerdinha. Agachados: Flori, Dilermando, Tanajura, Chinezinho, Marcos e Foca. |
Mantendo o clima de alegria prevalecido durante toda a entrevista, “Foca”
falou também do tempo da Associação Desportiva Jequié. Inicialmente citou os presidentes Dr. Nelson
Morais, Marialvo Meira, Dr. Gerson Pelegrini, Jonas Almeida, os Médicos Gilson,
Gileno Fonseca, Roberto Brito, pessoas que eram muito boas para o Jequié, os
jogadores Maíca, Tufu, Zé Augusto, Carlinhos, Dilermando, Tanajura, Paiva,
Edmilson um relaxado que gozava com a cara de todos, mas era uma pessoa muita
atenciosa. Segundo “Foca”, no momento da massagem o mais descarado era “Maneca”.
Risadas. Que era sem vergonha, queria tomar massagem totalmente nu, moleque o
rapaz. Gargalhadas. Gostava de fazer resenha, um vagabundo. Gargalhadas. Quando
“Foca” precisava de alguma coisa os jogadores estavam presentes, todos o
respeitavam e gostavam dele. Na sede na Mota Coelho os jogadores do Jequié na
época formavam uma família, comandada pelo primeiro técnico do Jequié Maneca
Mesquita que também morava no local.
Falou também que na época da Associação Desportiva Jequié também fatos
engraçados aconteceram. Contou que um deles aconteceu quando chegou “comendo
água” de madrugada, momento de folga do time, vindo de um casamento do finado
Tó que morava na Lomanto Junior, onde tomou muita cerveja, chegou na sede lavado.
Dilermando que nesta época estava fazendo
curso de medicina trouxe um bocado de caveiras, pendurou todas dentro de
um deposito muito grande que tinha no local. Quando “Foca” entrou na sede e viu
aquelas caveiras penduradas e balançando, cheias de velas tomou um grande susto
e falou que um dia os jogadores ainda iriam matá-lo do coração.
Contou também que em outra ocasião quando chegou à sede “cheio de mel” os
jogadores o amarraram. No outro dia quando acordou estava também todo pintado
de tinta vermelha, apavorado gritou: “ai, ai meu Deus, seu Maneca me acode
aqui, eu morri”. Risadas.
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Edmilson, Tanajura e Dilermando. |
Dilermando, jogador e grande amigo de “Foca” que participou destes fatos ocorridos
na concentração da ADJ na década de 70, contou a sua vesão através de e-mail:
““ Foca” foi colocar um linimento no tornozelo e foi para a rua, logo
depois chegou correndo e gritando que estava queimando. Entrou debaixo do
chuveiro e não queria mais sair”.
“Levei uma caveira para estudar, aproveitei e preparamos uma surpresa para
ele. Dormíamos na garagem e ele saiu, tomou uma cachaça e quando chegou
colocamos uma vela dentro da caveira e apagamos as luzes. Quando “Foca” entrou
e viu a caveira tomou um susto e ficou louco com medo”.
“Certa ocasião nós amarramos os pés de “Foca” em uma árvore. Zé
Augusto e Manequinha ajoelharam defronte dele cobertos com lençóis. “Foca” estava
dormindo no chão cheio de cana. Os meninos chegaram perto dele e falaram: “você
morreu hoje”. “Foca” deu um pulo, quis correr caiu, soltou das amarras, pegou
um pau e tentou agredir os meninos. Foi duro contê-lo”.
Relacionado aos fatos ocorridos na sede com os jogadores, “Foca” disse
que foi tudo legal. Os jogadores eram todos gentes finas.
Depois falou da ADJ no campo. Disse que dentro das quatro linhas era tudo
sério, o time jogava. Quando o jogador do time caía “Foca” dava o seu piquezinho
e a torcida gritava, levantava, levantava para “Foca”.
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Associação Desportiva Jequié - Maíca, Jairo, ---. Nilson, Mauro, ---. Edmilson, Nelson, Mario, Foca. Agachados: Nico, Junior, Garrincha, Clovis, Adenilton, Paiva, Jorge Lima e Paim. |
Em seguida fez um relato da partida que Garrincha jogou na equipe do
Jequié. Contou que Bria chegou com Garrinha no vestiário do estádio Waldomiro
Borges e disse para o melhor ponteiro da Seleção Brasileira que a ADJ tinha um
bom massagista. Quando garrincha viu “Foca” falou: “esse cara eu conheço do Rio
de Janeiro”. “Foca” contou que conheceu Garrincha na Gávea, levado por um
empresário.
Da equipe da ADJ que vai disputar a Segunda Divisão neste ano, “Foca”
falou que vai ao campo. Disse que vai receber uma homenagem da equipe e tem que
comparecer.
Terminou a entrevista dizendo que hoje vive aqui numa boa, graças a Deus
estou em Jequié com minha família. Bebi da água do Rio de Contas e não saí
mais.
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ResponderExcluirMe lembro de Foca. Antes do Ginásio de Esportes Aníbal Brito ser construído, era ali que o ADJ treinava. Foca e os jogadores seim da Sede próximo a Sucam e passava próximo a nossa residência. Diversas vezes acompanhava o time junto com os filhos de Foca para jogar com eles golzinho fechado. Quando o Ginásio foi construído: Dadau me convidou para jogar na inauguração do Ginásio no time Infanto-juvenil, Escovinha contra o Tijolinho. Não Lembro o Nome do Goleiro, mais quem jogou na linha foi: (Eu, Luciano, Lucas e Gerônimo). Depois fomos campeões do primeiro tornaino. Time do primeiro torneio (Eu, Manoel Paulinho Jequié, Neto e Nego Birigó, goleiro).
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