Carlos Libório
O Jequié, até o dia 3, tinha ganho do Botafogo por 5 a 0, do Leônico por
2 a 1, do Monte Líbano por 4 a 2, do Ideal por 3 a 1, do Bahia por 2 a 1, do
Feira de Santana por 3 a 0 e do Redenção por 2 a 0. Como é possível um time
formado há apenas seis meses, com jogadores amadores e inexperientes, ganhar
tanto assim e ameaçar tirar a glória do Bahia, o velho rei do futebol baiano? A
explicação pode estar na raça e na juventude do seu time.
O Jequié quase não tem história porque sua vida é de apenas seis meses:
quase não tem fama porque sua luta principal ainda é mostrar que existe: apenas
de tudo isso, a Associação Desportiva Jequié talvez seja a única coisa boa do
futebol baiano deste ano, capaz de salvá-lo do perigoso caminho da indiferença,
feito por uma série de crises.
A última nasceu no fechamento do Estádio da Fonte Nova, para ampliação e
conclusão, que obrigou à realização do todos os jogos da capital no Campo da
Graça, pequeno sem conforto, sem segurança. As consequências foram a queda das
rendas, a pobreza dos clubes e um futebol - sem alegria no Campo da Graça é impossível
jogar um bom futebol. O gramado é muito ruim.
O campeonato Baiano só brilha quando o Jequié está em campo. Até o dia 3,
ele tinha feito treze jogos: ganhou sete, empatou cinco, perdeu apenas um (Conquista,
1 x 0.) Fez 25 gols, levou dez. No balanço e na soma, o Jequié fez muito mais
que todos esperavam.
Ele entrou no Campeonato quando seu estádio para 20 000 pessoas foi aprovado pela Federação Baiana, que também
consentiu que um time da cidade participasse do torneio. Mas o problema era que
não existia nenhum time profissional em Jequié. Só existia a seleção amadora
que venceu o Torneio Intermunicipal de 69, tirando o título que o Cachoeira
tinha há dois anos. Então os diretores da seleção amadora passaram a ser
diretores de um time profissional, e os jogadores passaram a receber salário e
a vestir um uniforme amarelo e azul. Pronto, nascia o Jequié: Edmilson, Caculé,
Carlinhos, Zé Augusto e Esquerdinha. Chinezinho e Maíca. Flori, Dilemando,
Tanajura e Marcos. Apenas o armador Chinezinho veio de fora, emprestado pelo
Fluminense de Feira de Santana. Em média o salário fixo de cada um é de 200
cruzeiros por conta do clube. Mas, por fora, cada titular recebe 100 ou 200
cruzeiros, dependendo do dinheiro conseguido entre diretores e torcida. E, nas
grandes vitórias, como os 2 X 1 contra o Bahia, o bicho pode ser até de 200
cruzeiros.
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O técnico é Geraldo Pereira, pernambucano, e antigo quarto-zagueiro do
Fluminense de Feira, onde continua como auxiliar. Geraldo foi emprestado, seu
salário é de 1 000 cruzeiros novos e o Jequié é o seu orgulho:
- O Jequié foi a minha grande chance no futebol, há muito tempo eu
esperava por isso. Além do mais, a turma é boa, são jogadores novos que não dão
trabalho fora do campo.
As rendas em Jequié dão em média 5 000 novos. Mas a diretoria sempre
consegue vender ingressos por preços superiores ao da tabela. A diferença fica
para o clube. Nas outras cidades a renda aumenta, graças à boa campanha.
Tudo ia bem para o Jequié. Mas agora com sua boa posição no Campeonato,
começaram a aparecer problemas que sua diretoria nem havia imaginado. Um deles
é o artilheiro Tanajura, que ameaça sair para trabalhar em Alagoas, como chefe
do departamento de pessoal de uma empresa de petróleo, ganhando 800 novos por
mês. O Jequié, como não quer perdê-lo, ofereceu 600. Pode ser que Tanajura
fique.
Tanajura, rapaz de 22 anos, chute forte e muita valentia (principalmente
dentro da área), divide o título de melhor jogador do Jequié com o goleiro
Edmilson, o zagueiro Carlinhos e os atacantes Dilermando e Marcos, todos com
menos de 23 anos. Dilermando é estudante de medicina, está no terceiro ano de
faculdade em Salvador e só vai a Jequié um dia ou dois antes de cada jogo. Ele
sai de Salvador pele Rio - Bahia, e depois de 350 quilômetros chega a uma
cidade de 70 000 habitantes, conhecida como “Terra do Sol”, orgulhosa por seu
time ter constado de rodada experimental da Loteria Esportiva: Jequié.
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