Charles Meira
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José Celestino "Baianão" |
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"Baianão" Arte de Raimundo Sampaio. |
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Baianão" dublando o cantor Genival
Lacerda, São João na Praça Rui Barbosa - Jequié - BA, administração do prefeito Landulfo
Caribé.
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Conversando com o comentarista de futebol Waldemir Vidal citei nomes de
pessoas que poderiam possuir fotos antigas de Jequié. O comentarista na
oportunidade me falou que “Baianão” tinha um grande acervo de fotografias e
sabia muito da história do futebol amador de Jequié. Acatei a sua preciosa informação
e decidimos visitá-lo na sua residência.
No domingo dia 26/02, Waldemir Vidal,
Charles Meira, Edísio Santana e Marli Silva, visitaram “Baianão”. Foram
recebidos cordialmente e trataram de diversos assuntos, porém devido o horário avançado
a entrevista sobre o tema desejado foi realizada na manhã do dia 02/03, somente
por Charles Meira.
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Charles Meira e "Baianão”.
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Depois de colocar o seu inseparável chapéu na cabeça, o remédio no nariz,
sentar em uma cadeira na sala de sua residência “Baianão” contou que nasceu em
Jequié em 23/09/1932 e casou-se em 01/07/1961
com Maria Dalva Lopes Celestino. Após a confirmação dos dados pela sua esposa tirou
a curiosidade de todos relacionada ao seu apelido. Disse que o seu primeiro
apelido foi “Zé de Peté”, depois ”Zé Bedeu” e finalmente com 14 anos de idade,
quando jogava bola num campo próximo ao matadouro, onde hoje é a FIAT no
Jequiezinho, um amigo de infância chamado Aurino, o apelidou de “Baianão” por admirá-lo
pela sua disposição de menino forte nas suas atitudes, um baiano grande, um
verdadeiro “Baianão”. No início não gostou do apelido, porém foi acostumando e
pegou. Hoje ninguém o conhece por José Celestino e sim “Baianão”.
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Anésia Barreto Palma
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Pedro Celestino
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Depois desta curiosidade prosseguiu contando que toda sua família é de
Jequié, sendo que uma parte ficou radicada no bairro do Jequiezinho, outra no bairro
do Curral Novo e alguns foram morar em Rio Novo, hoje o município de Ipiaú-Ba. Que
seu pai Pedro Celestino era matador de boi, dono de açougue e trabalhou muito
com Newton e Jorge Cerqueira. Que na ocasião quando tinha meses de idade, sua
mãe Anésia Barreto Palma separou do seu pai e fugiu da Fazenda Provisão para
ficar no bairro do Jequiezinho com sua avó. Que sua mãe continuou a vida,
lavando roupa para João Borges, Dona Estela de Calom Moreira. Que seu pai ficou
morando aqui em Jequié, entretanto o fato dele ter melhorado de vida e nem todo
homem pode ter dinheiro e ver mulher bonita, arrasaram a sua vida num momento,
motivos que levaram a sua mãe fazer também o papel de pai. Emocionado “Baianão”
com muito orgulho citou alguns bons ensinamentos pronunciados pela sua mãe: “onde
viu lá você deixa”, “nem tudo que você vê pode conversar”, “o seu é seu o do
outro é do outro”, “quem não tem irmão brinca sozinho”. Em seguida mencionou
uma conversa com sua mãe: “hoje nós estamos bonito, pois não temos nada para
comer, porém vamos arranjar. Você vai pescar e eu vou buscar língua de vaca
para a gente fazer”. “Baianão” prosseguiu a conversa mostrando seriedade,
firmeza e deu um brilhante depoimento: “é bonito a gente sofrer, ter alguma
coisa com sofrimento, para depois ver a diferença. Deus é tão bom que me deu na
velhice, não me deu na infância. Deu-me coragem e disposição para ser um pouco
de tudo, um coringa: matava boi, porco, fui ajudante e na roça fiz de tudo”
Com sei jeito peculiar de falar, gesticulado como se estivesse
discursando num palanque político contou que aos 19 anos de idade, época
considerada para “Baianão” a mais importante da sua vida, ocasião que conheceu
um homem que mais tarde tornaria o seu melhor amigo, irmão, um pai, pessoa que
não pode esquecer hora nenhuma, momento nenhum, o senhor Waldomiro, criatura
que não sai da sua mente. O encontro ocorreu no ano de 1951, época que
aconteceu uma seca terrível em Jequié, período que Waldomiro era diretor de
água da prefeitura. No bairro do Jequiezinho, local onde a prefeitura construiu
um chafariz, Waldomiro cercado de muita gente, estava com a chave na mão e disse:
“Quem quer ficar abrindo a água por uns 20 dias, até conseguirmos uma pessoa,
pois funcionários são poucos e não posso deslocar um para fazer esse trabalho”.
Sempre disposto Baianão falou que se Waldomiro confiasse faria o serviço, que o
seu interesse era servir o povo. Na época não tinha amizade com o diretor,
conhecia de nome, através do seu irmão Dorival Borges. Neste mesmo ano, “Baianão”
entrou na Prefeitura Municipal de Jequié no cargo de Serviços Gerais na
administração de Lomanto Junior.
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Em seguida continuou falando da sua amizade com Waldomiro, Dona Juju,
Borginho e Cezar. Falou desta longa amizade familiar e contou que fazia as compras
e não pegava as notas, pois ás vezes que trazia ele rasgava. Disse que Deus livre
- guarde, botasse veneno num copo com água e desse para Waldomiro ele bebia,
não olhava duas vezes. Waldomiro dizia: “não pode dar, não promete”. Era um
homem de palavra e muito direito, calmo e conselheiro. Dando uma gostosa
gargalhada, “Baianão” disse também que Lomanto Junior tinha ciúme dele com
Waldomiro.
Com a mesma alegria, risadas e descontração, uma tônica de toda a
entrevista, “Baianão” passou a falar de futebol, usando uma camisa do Botafogo,
seu time no Rio de Janeiro - RJ. Inicialmente contou que o primeiro campo de
futebol de Jequié ficava no Semeado, local onde era plantado muito Alecrim e ficava
próximo da Rua Magalhães Caitité, da Avenida Presidente Vargas, perto ao bar de
Mário Ruim. Confidenciou também que jogando bola, apenas sapecava e como a
maioria dos brasileiros era apaixonado pelo futebol.
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Time amador do Jequiezinho - Em Pé:
"Baianão", Virgilho Tourinho, Pequeno, Lando, Valdir, Cicilho,
Valdir, Zé Souza e Aníbal. Agachados:
Curinga, Jaime, Vando, Papada, Maneca e Pichica.
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Que em Jequié era torcedor do time amador do Jequiezinho, do qual foi
presidente, equipe que em certa ocasião ficou 32 partidas sem perder. Que na época quando acontecia o jogo entre os
times do Jequiezinho e do Botafogo, torcia para acontecer um empate. Que no
período quando Waldomiro Borges foi prefeito de Jequié, administrou o estádio
Aníbal Brito. Que o estádio na ocasião ficava sempre cheio e tinha três
posições no campo: arquibancada, sombra e geral. Que no sol era mais barato e
quem podia ia para a arquibancada que era feita de madeira.
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“Baianão” citou também alguns times amadores de Jequié como: o Vasco da
Gama do presidente Moises Amaral, o Flamengo de Marçal, Carlos Lopes, Maneca
Sampaio, o Bahia de Dr. Zenildo Tourinho do grande jogador Valter e do
excelente goleiro chamado Tide que era mudo, o Estudante do presidente Bria e
dos jogadores Hugo Vitamina e Benito Leto, o Mandacaru do presidente Hercules
Meira, o América de Izidorio, o Humaitá que Clóvis Barreto era o goleiro.
Encerrou o assunto
relacionado ao futebol dizendo que no momento que resolveram mudar o estádio de
local, sugeriu ao então prefeito Waldomiro Borges, para fazer o campo próximo
do Derba, sendo assim o estádio não sairia do Jequiezinho, pois matava e morria
pelo seu bairro. Waldomiro resolveu fazer no bairro do Mandacaru, pois o local
necessitava de um benefício.
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Baianão"
com o Rifle/Winchester, que fez parte da luta de Silvino do Curral Novo. |
Novamente “Baianão”
mudou de assunto, mostrando e falando de um Rifle/Winchester/Repetição/Calibre44/16Tiros/Fabricação/USA,
que possuía e segundo ele a arma fez parte da defesa feita por Silvino do
Curral a Jequié. Que na época quando Jequié tinha o trem de ferro ele ia à
estação, onde hoje abriga o Corpo de Bombeiros para carregar malas, as barraqueiras
vendiam o cuscuz, os tocadores de viola cantavam, enquanto as mulheres chegavam
da Rua do Maracujá.
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Trem de Ferro na estação em Jequié –
BA.
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Finalizamos a entrevista, “Baianão” falou que se aposentou como Fiscal de
Tributos na Prefeitura Municipal de Jequié no ano de 1993, mostrando uma foto
de Lomanto Junior prestando uma homenagem a Silvino em uma inauguração no
bairro do Curral Novo e escondido de Dona Dalva sua esposa, outra tirada na
fazenda de Waldomiro que o casal estava na fotografia.
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Em Pé: Dona Juju, Waldomiro Borges, Edmar
Mendes e família. Sentados: Dalva Lopes Celestino e "Baianão".
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