Recebí a notícia de que uma filha da minha prima, mais uma, estava se despedindo do Rio de Janeiro, já que se mudará na próxima semana para a Austrália. Estão indo o casal e uma filhinha. São pessoas qualificadas, competentes e criativas que desiste da luta em solo brasileiro e abandonam a praia do Leblon, o convívio com sua gente querida para tentarem sobreviver num país decente. E acho que eles nem viram a postagem de uma máquina de registro de arrecadação que demonstra minuto a minuto o recolhimento dos tributos da nação brasileira. É claro que não existem mecanismos para apontar a corrupção e os principais operadores estão presos. Senão a gente iria comparar a entrada e saída das divisas nacionais.
Existe em página na rede social Facebook, de um tal  MCC – Movimento Contra a Corrupção, demonstrando, em plena atividade, um impostômetro que circula diariamente na internet. A geringonça funciona ao vivo registrando que o Brasil arrecadou mais de 400 bilhões de reais nos últimos sessenta dias. E a máquina continua rodando…
Efetivamente é um volume de dinheiro considerável para o Estado brasileiro que se diz em dificuldade financeira para o Bem Estar Social, para investimentos em Infraestrutura, Educação em todos os níveis, inclusive os programas de pós graduação no exterior. A saúde, nem se fala. Somos um povo que convive com constantes epidemias, remédios caros e quando acessíveis, com princípios ativos insuficientes para combater as doenças; atendimento precário nos ambulatórios e postos de saúde; a maioria dos idosos masculinos sofrendo com câncer de próstata para daqui a pouco morrer à míngua, já que a rede hospitalar alternativa não atende pelo SUS e os hospitais públicos não dão conta da demanda… Enfim, a qualidade de vida em nosso país, de ponta a ponta, piora a cada dia.
Ninguém tem dúvida que diante desse quadro, ficamos cada vez mais vulneráveis e suscetíveis aos achaques da chamada esquerda progressista, ou socialismo, ou comunismo, cujo discurso atinge em cheio àqueles que mais precisam da ação do Estado. Ou então, ficamos submetidos aos militantes políticos da direita, ou à extrema direita, onde Bolsonaro seria o salvador da pátria da vez. Lamentável que seja assim. Mas, nem só estes são os mais expostos: os que trabalham regularmente, com carteira assinada, os que têm renda, ainda que mínima, conta corrente em banco, alguma forma de produção familiar, também sofrem com a truculência do Estado, que fica com mais da metade de tudo que ganha o brasileiro médio.
É um absurdo que o trabalhador normal, aquele que monta o seu orçamento de maneira que o que ganha supostamente daria para viver com dignidade e até sobrar um pouco, não consegue adquirir um bem durável a não ser o automóvel que é financiado em até cinco anos a juros escorchantes com preços sobrecarregados de mais impostos que o Estado abocanha. É impossível viver modestamente em nosso país sem comprometer o pouco conforto usufruído décadas atrás, e até a dignidade tão cultivada pelo nosso povo no passado. O respeito, a cortesia, a gentileza, eram práticas habituais mesmo nas grandes aglomerações. 
Muitos articulistas têm opinado sobre a origem desse debacle e ausência de soluções a curto prazo. Uns baseados na análise econômica, outros nos fenômenos antropológicos e sociológicos, aí enquadrado a era do crack, flagelo das famílias brasileiras. Arrisco a apontar o nosso modelo político-eleitoral como responsáveis pelo cáos, nosso sistema educacional pela inércia e ignorância sistêmica, no que se refere à reflexão crítica, mal gosto musical etc, e o modelo de arrecadação comum ao mundo, que, embora capitalista, adota e aplaude tais métodos, que, afinal, sufocam a iniciativa privada.
Hoje é quase impossível encontrar alguém que ficou rico, ou apenas independente, com o fruto do seu trabalho. Alguma coisa aconteceu: ou vendeu uma propriedade havida por herança, ou acertou na loteria, ou intermediou algum negócio lucrativo, ou arranjou uma boquinha… Nunca pelo trabalho. Os mais experientes e bem humorados afirmam, jocosamente, que “quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro”.
Se o Estado nos deixasse ganhar o nosso dinheiro, e ficar com ele, haveria menor possibilidade de corrupção, menor disponibilidade de circulação de propina – que nasce nos cofres públicos – teríamos abundância e condições de bancar a saúde dos membros de nossa família, teríamos bem estar social, lazer, entretenimento, internamento, cirurgias… Tudo isso sem precisar do Estado. É só mitigar essa fome insana de arrecadação, a custa da sobrevivência do povo brasileiro.
A grande sacada é a reforma política, a reforma eleitoral… Mas quem a fará? Os parlamentares? Pois sim… Ainda que alguns queiram isso, o sentido de corpo, o senso de grupo, são barreiras intransponíveis. Infelizmente parece que estamos, segundo dizem, caminhando para uma intervenção militar. Quem diria, o brasileiro volta a falar em militares. Parece que esqueceram o que representa uma ditadura. E, vale lembrar, os militares não são muito chegados a diálogo, democracia, voto… Precisamos de muito juízo e muita calma nesta hora, pois, o que é ruim, pode ficar muito pior!!! (Revista Bahia em Foco)