![]() | |
|
Certa ocasião fui questionado pelo mano Tomaz Edson Barros Meira o porquê
somente escrevia sobre a história da família da minha mãe Maria Letícia. Estou
resgatando, neste texto, a memória da família do meu pai José Barros Meira
através do patriarca Marceliano Barros Meira, mais conhecido por Cely Meira, o
pioneiro no ramo de serraria na cidade de Jequié.
Cely Meira nasceu em 09/03/1901 no
distrito de Catingal- Manoel Vitorino- BA, na época Volta dos Meiras que
pertencia ao município de Boa Nova-BA.A sua infância foi muito difícil ao lado
dos pais José Barros Meira e Maria de Jesus Alves Meira. Na adolescência,
aprendeu a tocar bandolim. Em companhia do amigo e violonista José Joaquim tocava
em festas nas casas dos parentes e amigos de Catingal e região.
Filho único, Cely começou a trabalhar muito jovem de ajudante de marceneiro
e carpinteiro para ajudar seus pais. Depois de fazer algumas economias,
conseguiu comprar alguns animais e ingressar na profissão de tropeiro, comprando
e vendendo mercadorias. Foi numa destas viagens que ele conheceu Francisca Alves
Pereira, nascida em 09/03/1900 no distrito de Curralinho - Livramento de Nossa
Senhora- BA, filha de Antônio Alves Pereira e Adélia Alves Oliveira, donos de
terras naquela localidade. Em Curralinho casaram, e ficaram ali morando durante
aproximadamente seis anos, onde tiveram quatro filhos: José Barros Meira,
Antônio do Carmo Meira, João Batista Alves Meira e Maria de Lourdes Alves
Meira. Atendendo um convite do Major Augusto Meira Castro mais conhecido por Major
Nozinho, retornaram para Catingal para fazer e montar o telhado da igreja da
localidade. Durante o tempo em que permaneceram no distrito foram amparados financeiramente
pelo Major. Quando completou 23 anos de idade, Cely e família foram morar na localidade
de Bate-Barriga depois de Jitaúna – BA, na fazenda que seu sogro tinha comprado
próximo de familiares que já possuíam terras no local. A fazenda era grande,
existia plantação de cacau, café e muito gado.
Na fazenda, Cely montou uma marcenaria e continuou a exercer a função de marceneiro
e carpinteiro. Fazia cancelas, currais, portas, coberturas de casas e janelas
para a toda região. Por não ter energia elétrica na fazenda, tudo na marcenaria
era fabricado manualmente. Depois do nascimento de Hércules Alves Meira e Marialvo
Alves Meira e de sete anos morando na fazenda, Cely mudou-se com a família para
a cidade de Jitaúna - BA, após ter comprado uma casa e alugado um local em
frente para montar a marcenaria. Na época da mudança, o pai de Francisca Alves
Meira já havia falecido.
Quando da construção da estrada de Jequié para Ipiaú, o engenheiro civil
Haroldo Cerqueira Lima convidou Cely Meira para ocupar o cargo de mestre de obras, depois
de obter informações do grande potencial do marceneiro e carpinteiro. A estrada
construída na ocasião passava beirando o rio de Cantas. Iniciava depois da
Provisão e seguia por Tamarindo, Volta do Rio, Itajurú, Barra Avenida e chegava
a Jitaúna. De Jitaúna para Ipiaú, o traçado da estrada foi aproveitado (o mesmo
existente hoje). Na estrada Cely Meira ajudou na terraplanagem, que era feita
com galeotas, corte de encostas, construiu pontes, mata-burros e fez e instalou
cancelas com ajuda de empregados de sua confiança. O pagamento dos funcionários
da obra era feito por Cely Meira, após receber o dinheiro que era enviado pelo
Instituto do Cacau da Bahia. Em 1940, Cely e família chegaram a Jequié. Inicialmente
moraram de aluguel na Rua Félix Gaspar, próximo da Cadeia Pública do Município.
Posteriormente, compraram uma casa e alugaram outra na Rua Santos Dumont próximo
da casa da família de Geraldo Teixeira, onde montaram a Carpintaria Santo Antônio
com o dinheiro da herança que coube a Francisca Alves Meira, quando da venda da
fazenda dos pais dela em Jitaúna. José Barros Meira e Antônio do Carmo Meira
ficaram com responsabilidade de conduzirem o empreendimento, supervisionado por
Cely Meira. Com o crescimento dos negócios, foi necessário adquirir, no ano de
1946, uma grande área no centro do bairro do Mandacaru, local onde passava a
rodovia Rio - Bahia, ainda sem asfalto.
CelyMeira trabalhando numa pequena cerra-fita
na Serraria Santo Antônio – Jequié - BA
|
José Barros Meira montando uma plaina na Serraria Santo Antônio – Jequié - BA
|
Frente e interior da Serraria Santo
Antônio – Jequié - BA
|
Depois de construídos os galpões foram instalados os maquinários
existentes e comprados outros novos, tornado completa a até então Carpintaria
Santo Antônio.
Considerados por todos um profissional de grande capacidade intelectual,
José Barros Meira orientou o seu pai que fosse a Ponta Grossa - PR, comprar uma
cerra-fita grande para cortar toros de madeira. A viagem foi feita e a máquina
comprada, porém a energia fornecida pela Prefeitura Municipal de Jequié não era
suficiente para funcionar o motor de 70HP.
Cerra-fita (Engenho) comprada em
Ponta Grossa - PRem funcionamento na Serraria Santo Antônio – Jequié – BA |
Novamente José tem outra brilhante
idéia. Orientou seu pai para comprar um locomóvel (Uma locomotiva fixa) para
gerar energia suficiente para toda serraria. A Locomóvel foi adquirida na
região de Feira de Santana - BA em uma indústria desativada. Quando chegou,
José desarmou totalmente a locomotiva e depois de dar uma manutenção geral
armou e colocou a máquina em funcionamento.
José Barros Meira, Adonias proprietário do caminhão e Cely Meira, na Serraria Santo Antônio – Jequié – BA, quando o locomóvel chegou da região de Feira de Santana - BA
Na Serraria Santo Antônio fazia: portas, janelas, vigas de coberturas, carrocerias de caminhão, tacos para piso de casas, cancelas, mesas, cadeiras, armários, etc. Tinha também um torno mecânico que Cely Meira torneava madeira, fazia peças de artes para aniversários e para móveis em geral. Inclusive, até hoje, vários familiares possuem peças que foram feitas por ele. Na administração do empreendimento José Barros Meira era responsável pela indústria e Antonio do Carmo Meira na parte comercial (vendas), sempre gerenciado pelo “velho” Cely Meira.
Um dado histórico importante é de que todo madeiramento e montagem do
telhado do antigo Mercado Municipal, do JTC e diversos
prédios e residências antigas de Jequié foram fornecidos pela primeira serraria
do nosso município. O empreendimento funcionou na sua totalidade até a morte de
José Barros Meira no ano 1957.
Em 16 de novembro de 1961, a Câmara Municipal de Jequié prestou uma
homenagem à família Cely Meira, através dos vereadores Milton Rabello, Carlos
de M. Gouveia e Expedito Nunes Fernandes, dando nome de José Barros Meira à via
pública paralela a Avenida Lomanto Júnior no bairro do Mandacaru. A
Justificativa publicada no Jornal Jequié de 03/12/1961 foi a seguinte:“Ao
homenagearmos a memória de José Barros Meira, pretendemos sem dúvida, prestar à
família “Cely”, o preito da nossa admiração que deve existir igualmente por
parte de todos habitantes desta terra. Quem por acaso não conhece essa família,
comandada pelo “velho Cely”, figura impressionante de trabalhador intimorato?
Realmente todos os habitantes de Jequié já se acostumaram através de
longos anos admirarem a tenacidade, o vigor e a coragem desse grupo, que a bem
dizer foi o primeiro da indústria mecanizada em nosso meio. Instalando uma
serraria e uma oficina mecânica na atual Rua Santos Dumont, mais tarde se transferiria
para o bairro do Mandacaru, com a edificação de sua primeira casa. Portanto,
esse grupo, constituído de pai e filhos como fundador do bairro do Mandacaru,
concorreu decisivamente para o progresso de Jequié.
José Barros Meira era um dos ramos mais vigorosos da frondosa árvore
genealógica da família. Trabalhador incansável reunia as preferências de toda a
família, razão por que recaiam sobre os seus ombros as maiores responsabilidade
da Empresa. Por isso se esforçou ao máximo, não pensando inclusive nas consequências
negativas para sua integridade física, dado que o seu trabalho exigia muitas
vezes o limite da capacidade humana. Tombou na faina e na luta. Esta, continua
todavia, pois o grupo não se desfez. Continua unidos e fortes, como a
homenagear sua memória”.
O filho Antônio do Carmo Meira ainda
tentou levar em frente por alguns anos como carpintaria, porém também faleceu.
Nesta ocasião Cely Meira fazia os contatos de vendas do que era fabricado pela carpintaria.
Com a morte dos filhos José e Antônio, Cely Meira foi ajudar ao seu filho Hércules Alves Meira na contabilidade dos postos de gasolina, comprados em Manoel Vitorino - BA e no KM- 58. Além da contabilidade dos postos de gasolina, ele ainda aprendeu a consertar as muitas panelas, caldeirões que danificavam com o tempo de uso nos restaurantes dos postos.
Com a morte dos filhos José e Antônio, Cely Meira foi ajudar ao seu filho Hércules Alves Meira na contabilidade dos postos de gasolina, comprados em Manoel Vitorino - BA e no KM- 58. Além da contabilidade dos postos de gasolina, ele ainda aprendeu a consertar as muitas panelas, caldeirões que danificavam com o tempo de uso nos restaurantes dos postos.
Em todas as atividades exercidas ao longo da sua vida, Cely Meira não gostava
de ser questionado a mudar de opinião mesmo não estando correto. Devido esta
particularidade, até hoje os membros da família falam que ele era muito
teimoso, e quando alguns desses agem da mesma maneira, escutam a famosa frase:
“Esse menino puxou a Cely Meira na teimosia”. “Esse menino é teimoso igual à Cely
Meira”.
Esta matéria foi realizada graças às informações de João Batista Alves
Meira, Ismênia Alves Meira, Hércules Alves Meira, Dinalva de Macêdo Meira,
Maria de Lourdes Alves Meira e dos netos do “velho” Cely Meira.
Marceliano Barros Meira e Francisca Alves Meira tiveram 11 filhos, 23
netos e 15 bisnetos.
Cely Meira morreu em 19/10/1987 e foi enterrado no Cemitério São João
Batista na cidade de Jequié.
Boa Noite!
ResponderExcluirEssa história de Cely Meira leio com emoção pois foi um grande amigo do meu pai, Manoel Meira Santos que hoje está com 95 anos de idade. Meu pai fala da sua amizade com ele com muito respeito e saudades. E o interessante é que esse sobrenome Santos do meu pai, foi herança de José Joaquim dos Santos, que está na primeira foto com um violino. Passei uma vida desejando ver uma foto do meu avô, saber algo de sua família, apesar de ser muito triste as histórias contadas do meu sobre essa dificuldade de convívio com ele, mas por se meu avô gostaria muito de saber mais alguma coisa, quem eram seus pais, se por acaso casou novamente e se construiu família. Muito boa a pessoa do Cely Meira mesmo, mesmo depois de tanto tempo, está trazendo momentos emocionantes para nós e já mostramos as fotos para meu pai. Gostaria muito que meu pai conhecesse os descendentes do seu amigo Cely.
abraços e meu muito obrigada ao dono do blog por esse momento especial