segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Marceliano Barros Meira ou simplesmente Cely Meira

Marceliano Barros Meira (Celi Meira)


Certa ocasião fui questionado pelo mano Tomaz Edson Barros Meira o porquê somente escrevia sobre a história da família da minha mãe Maria Letícia. Estou resgatando, neste texto, a memória da família do meu pai José Barros Meira através do patriarca Marceliano Barros Meira, mais conhecido por Cely Meira, o pioneiro no ramo de serraria na cidade de Jequié.

E m Pé: José Joaquim, Antônio do Carmo Meira, Maria de Lourdes Alves Meira, Cely Meira, José Barros Meira. Sentados: João Batista Alves Meira, Francisca Alves Meira e Hércules Alves Meira na fazenda em Jitaúna - BA

Cely Meira nasceu em 09/03/1901 no distrito de Catingal- Manoel Vitorino- BA, na época Volta dos Meiras que pertencia ao município de Boa Nova-BA.A sua infância foi muito difícil ao lado dos pais José Barros Meira e Maria de Jesus Alves Meira. Na adolescência, aprendeu a tocar bandolim. Em companhia do amigo e violonista José Joaquim tocava em festas nas casas dos parentes e amigos de Catingal e região.
Filho único, Cely começou a trabalhar muito jovem de ajudante de marceneiro e carpinteiro para ajudar seus pais. Depois de fazer algumas economias, conseguiu comprar alguns animais e ingressar na profissão de tropeiro, comprando e vendendo mercadorias. Foi numa destas viagens que ele conheceu Francisca Alves Pereira, nascida em 09/03/1900 no distrito de Curralinho - Livramento de Nossa Senhora- BA, filha de Antônio Alves Pereira e Adélia Alves Oliveira, donos de terras naquela localidade. Em Curralinho casaram, e ficaram ali morando durante aproximadamente seis anos, onde tiveram quatro filhos: José Barros Meira, Antônio do Carmo Meira, João Batista Alves Meira e Maria de Lourdes Alves Meira. Atendendo um convite do Major Augusto Meira Castro mais conhecido por Major Nozinho, retornaram para Catingal para fazer e montar o telhado da igreja da localidade. Durante o tempo em que permaneceram no distrito foram amparados financeiramente pelo Major. Quando completou 23 anos de idade, Cely e família foram morar na localidade de Bate-Barriga depois de Jitaúna – BA, na fazenda que seu sogro tinha comprado próximo de familiares que já possuíam terras no local. A fazenda era grande, existia plantação de cacau, café e muito gado.
Na fazenda, Cely montou uma marcenaria e continuou a exercer a função de marceneiro e carpinteiro. Fazia cancelas, currais, portas, coberturas de casas e janelas para a toda região. Por não ter energia elétrica na fazenda, tudo na marcenaria era fabricado manualmente. Depois do nascimento de Hércules Alves Meira e Marialvo Alves Meira e de sete anos morando na fazenda, Cely mudou-se com a família para a cidade de Jitaúna - BA, após ter comprado uma casa e alugado um local em frente para montar a marcenaria. Na época da mudança, o pai de Francisca Alves Meira já havia falecido.
Quando da construção da estrada de Jequié para Ipiaú, o engenheiro civil Haroldo Cerqueira Lima convidou Cely Meira para ocupar o cargo de mestre de obras, depois de obter informações do grande potencial do marceneiro e carpinteiro. A estrada construída na ocasião passava beirando o rio de Cantas. Iniciava depois da Provisão e seguia por Tamarindo, Volta do Rio, Itajurú, Barra Avenida e chegava a Jitaúna. De Jitaúna para Ipiaú, o traçado da estrada foi aproveitado (o mesmo existente hoje). Na estrada Cely Meira ajudou na terraplanagem, que era feita com galeotas, corte de encostas, construiu pontes, mata-burros e fez e instalou cancelas com ajuda de empregados de sua confiança. O pagamento dos funcionários da obra era feito por Cely Meira, após receber o dinheiro que era enviado pelo Instituto do Cacau da Bahia. Em 1940, Cely e família chegaram a Jequié. Inicialmente moraram de aluguel na Rua Félix Gaspar, próximo da Cadeia Pública do Município. Posteriormente, compraram uma casa e alugaram outra na Rua Santos Dumont próximo da casa da família de Geraldo Teixeira, onde montaram a Carpintaria Santo Antônio com o dinheiro da herança que coube a Francisca Alves Meira, quando da venda da fazenda dos pais dela em Jitaúna. José Barros Meira e Antônio do Carmo Meira ficaram com responsabilidade de conduzirem o empreendimento, supervisionado por Cely Meira. Com o crescimento dos negócios, foi necessário adquirir, no ano de 1946, uma grande área no centro do bairro do Mandacaru, local onde passava a rodovia Rio - Bahia, ainda sem asfalto.

CelyMeira trabalhando numa pequena cerra-fita na Serraria Santo Antônio – Jequié - BA

José Barros Meira montando uma plaina na Serraria Santo Antônio – Jequié - BA
Frente e interior da Serraria Santo Antônio – Jequié - BA

Depois de construídos os galpões foram instalados os maquinários existentes e comprados outros novos, tornado completa a até então Carpintaria Santo Antônio.
Considerados por todos um profissional de grande capacidade intelectual, José Barros Meira orientou o seu pai que fosse a Ponta Grossa - PR, comprar uma cerra-fita grande para cortar toros de madeira. A viagem foi feita e a máquina comprada, porém a energia fornecida pela Prefeitura Municipal de Jequié não era suficiente para funcionar o motor de 70HP.

Cerra-fita (Engenho) comprada em Ponta Grossa - PRem funcionamento na Serraria Santo Antônio – Jequié – BA

Novamente José tem outra brilhante idéia. Orientou seu pai para comprar um locomóvel (Uma locomotiva fixa) para gerar energia suficiente para toda serraria. A Locomóvel foi adquirida na região de Feira de Santana - BA em uma indústria desativada. Quando chegou, José desarmou totalmente a locomotiva e depois de dar uma manutenção geral armou e colocou a máquina em funcionamento.



José Barros Meira, Adonias proprietário do caminhão e Cely Meira, na Serraria Santo Antônio – Jequié – BA, quando o locomóvel chegou da região de Feira de Santana - BA


       Na Serraria Santo Antônio fazia: portas, janelas, vigas de coberturas, carrocerias de caminhão, tacos para piso de casas, cancelas, mesas, cadeiras, armários, etc. Tinha também um torno mecânico que Cely Meira torneava madeira, fazia peças de artes para aniversários e para móveis em geral. Inclusive, até hoje, vários familiares possuem peças que foram feitas por ele. Na administração do empreendimento José Barros Meira era responsável pela indústria e Antonio do Carmo Meira na parte comercial (vendas), sempre gerenciado pelo “velho” Cely Meira.
Um dado histórico importante é de que todo madeiramento e montagem do telhado do antigo Mercado Municipal, do JTC e diversos prédios e residências antigas de Jequié foram fornecidos pela primeira serraria do nosso município. O empreendimento funcionou na sua totalidade até a morte de José Barros Meira no ano 1957.
Em 16 de novembro de 1961, a Câmara Municipal de Jequié prestou uma homenagem à família Cely Meira, através dos vereadores Milton Rabello, Carlos de M. Gouveia e Expedito Nunes Fernandes, dando nome de José Barros Meira à via pública paralela a Avenida Lomanto Júnior no bairro do Mandacaru. A Justificativa publicada no Jornal Jequié de 03/12/1961 foi a seguinte:“Ao homenagearmos a memória de José Barros Meira, pretendemos sem dúvida, prestar à família “Cely”, o preito da nossa admiração que deve existir igualmente por parte de todos habitantes desta terra. Quem por acaso não conhece essa família, comandada pelo “velho Cely”, figura impressionante de trabalhador intimorato?
Realmente todos os habitantes de Jequié já se acostumaram através de longos anos admirarem a tenacidade, o vigor e a coragem desse grupo, que a bem dizer foi o primeiro da indústria mecanizada em nosso meio. Instalando uma serraria e uma oficina mecânica na atual Rua Santos Dumont, mais tarde se transferiria para o bairro do Mandacaru, com a edificação de sua primeira casa. Portanto, esse grupo, constituído de pai e filhos como fundador do bairro do Mandacaru, concorreu decisivamente para o progresso de Jequié.
José Barros Meira era um dos ramos mais vigorosos da frondosa árvore genealógica da família. Trabalhador incansável reunia as preferências de toda a família, razão por que recaiam sobre os seus ombros as maiores responsabilidade da Empresa. Por isso se esforçou ao máximo, não pensando inclusive nas consequências negativas para sua integridade física, dado que o seu trabalho exigia muitas vezes o limite da capacidade humana. Tombou na faina e na luta. Esta, continua todavia, pois o grupo não se desfez. Continua unidos e fortes, como a homenagear sua memória”.

Família de Cely Meira na Serraria Santo Antônio

      O filho Antônio do Carmo Meira ainda tentou levar em frente por alguns anos como carpintaria, porém também faleceu. Nesta ocasião Cely Meira fazia os contatos de vendas do que era fabricado pela carpintaria. 
         Com a morte dos filhos José e Antônio, Cely Meira foi ajudar ao seu filho Hércules Alves Meira na contabilidade dos postos de gasolina, comprados em Manoel Vitorino - BA e no KM- 58. Além da contabilidade dos postos de gasolina, ele ainda aprendeu a consertar as muitas panelas, caldeirões que danificavam com o tempo de uso nos restaurantes dos postos.
Em todas as atividades exercidas ao longo da sua vida, Cely Meira não gostava de ser questionado a mudar de opinião mesmo não estando correto. Devido esta particularidade, até hoje os membros da família falam que ele era muito teimoso, e quando alguns desses agem da mesma maneira, escutam a famosa frase: “Esse menino puxou a Cely Meira na teimosia”. “Esse menino é teimoso igual à Cely Meira”.
Esta matéria foi realizada graças às informações de João Batista Alves Meira, Ismênia Alves Meira, Hércules Alves Meira, Dinalva de Macêdo Meira, Maria de Lourdes Alves Meira e dos netos do “velho” Cely Meira.
Marceliano Barros Meira e Francisca Alves Meira tiveram 11 filhos, 23 netos e 15 bisnetos.
Cely Meira morreu em 19/10/1987 e foi enterrado no Cemitério São João Batista na cidade de Jequié.

Um comentário:

  1. Boa Noite!
    Essa história de Cely Meira leio com emoção pois foi um grande amigo do meu pai, Manoel Meira Santos que hoje está com 95 anos de idade. Meu pai fala da sua amizade com ele com muito respeito e saudades. E o interessante é que esse sobrenome Santos do meu pai, foi herança de José Joaquim dos Santos, que está na primeira foto com um violino. Passei uma vida desejando ver uma foto do meu avô, saber algo de sua família, apesar de ser muito triste as histórias contadas do meu sobre essa dificuldade de convívio com ele, mas por se meu avô gostaria muito de saber mais alguma coisa, quem eram seus pais, se por acaso casou novamente e se construiu família. Muito boa a pessoa do Cely Meira mesmo, mesmo depois de tanto tempo, está trazendo momentos emocionantes para nós e já mostramos as fotos para meu pai. Gostaria muito que meu pai conhecesse os descendentes do seu amigo Cely.
    abraços e meu muito obrigada ao dono do blog por esse momento especial

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