sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Esse Artista é Mário Alves Filho, Marinho.


    
                                                                         Charles Meira

Depois de vários contatos através de telefone, facebook, pessoal e um passeio dominical para localizar sua residência, foi realizada na manhã do dia 25 e na tarde de 26/09/16 esta entrevista muito solicitada.
Após conhecer detalhes dos seus automóveis, um Gurgel XEF ano 1985 cor azul, um Tupy-Buggy ano 1970 cor vermelha e um Ford KA ano 2000 cor dourado estacionados na garagem, fui para o local onde o entrevistado passa o maior tempo do dia. Antes de iniciar o bate-papo, o presenteei com um dos meus CD”s, que gentilmente recebeu, agradeceu e de imediato deu a sua empregada, uma amante da música evangélica, porém fiquei na obrigação de levar outro CD para ele na próxima visita. De olho no bolo recheado que estava na minha frente, iniciei a entrevista.
Mário Alves Filho, conhecido carinhosamente por Marinho, é músico, cantor, compositor, escritor e advogado. Nasceu em Itagibá – BA em 01/08/1947, filho de Mário J. Alves e Mariaelita Souza Alves, casado com Francisneide Souto Alves, pai de Marine Souto Alves e Jade Alves Pazzos e avô de Jasmim Alves Pinheiro e Jade Alves Pazzos.
Como a música predominou na trajetória da sua vida, demos maior ênfase sobre este tema na entrevista. Um fato interessante marcou o começo desta caminhada. Quando criança com aproximadamente sete anos de idade, passeava com seu pai no centro comercial da cidade de Itagibá-BA, quando viu exposto em uma loja chamada “Casa Marrocos” uma gaita pequena. Imediatamente pediu para ele o instrumento de presente. Seu pai ponderou, pois o filho não sabia tocar, entretanto propôs um desafio ao menino. Daria o presente se ele tocasse uma música. Mário aceitou a provocação e mesmo imperfeitamente tocou a música “Asa Branca” de Luiz Gonzaga, sem nunca ter um ensinamento musical. Impressionado com o talento do garoto, o dono da loja chamado Clovis de Marrocos foi quem deu a gaita para Marinho.
No início de 1954, Mário mudou-se para Ipiaú-BA e começou a tocar a gaita. Por causa do seu talento executando o instrumento, encantava a todos na escola onde estudava.  Motivado pelo sucesso alcançado na instituição de ensino, o menino foi convidado na época para participar em um show do cantor e sanfoneiro Luiz Gonzaga, realizado na praça principal do município. Na oportunidade, Marinho tomou parte como cantor, interpretando a música “Não Meta a Mão no Buraco do Tatu”. Para tirar minha curiosidade, o músico cantou a musica executada na época, demonstrando estar com ótima memória.
Em agosto do mesmo ano, quando faleceu o presidente do Brasil Getúlio Vargas, a família Alves morava em Jequié-BA na Avenida Rio Branco. Logo se tornaram membros da Primeira Igreja Batista, ocasião que o Sr. J. Alves usou o seu talento para pintar o batistério do templo. Não demorou em Marinho se destacar cantando e tocando na igreja a gaita pequena que havia ganhado do Sr. Clovis Marrocos em Itagibá e uma grande presente do seu pai. Além de tocar gaita, Mário cantava no coral infantil e participava de apresentações nas classes da Escola Bíblica Dominical, fazendo teatro e artes em geral.
Antes de ir para Salvador no início da década de 60, o talentoso jovem não contentando com as aptidões que tinha, resolve também aprender a tocar violão. Mário pediu o instrumento para seu pai, que de pronto não concordou com a idéia, pois achava que o filho iria ser um boêmio e o alertou dizendo que se ele aparecesse com um violão quebraria na sua cabeça, uma ameaça feita somente da boca pra fora.  O velho também não concordou com o pedido e o repreendeu, porque gostava de freqüentar e cantar na Estação da Estrada de Ferro, local onde o violonista Geminiano Saback, Saturnino e os cantores de seresta, Umberto Biondi, Vavá Lomanto, Geraldo Teixeira cantando a música “Marina”, Enzo Limonji, dentre outros que frequentavam a “Barraca de Dona Filipa.   Naquela ocasião, Marinho não contrariou a opinião do seu pai, entretanto quando começou a trabalhar de Office-boy em Salvador-BA, ganhando meio salário mínimo, comprou à prestação o seu primeiro violão, que com a ajuda de um método iniciou o processo de aprendizagem.  
Na mesma década, retornou para Jequié e levou o violão para a casa de amigo de infância chamado Nilton Muniz, que mais tarde foi contrabaixista do “Conjunto Bossa 6”, receoso de o seu pai cumprir a promessa de quebrá-lo na sua cabeça, caso aparecesse em casa com o instrumento e também porque era um local adequado para sempre frequentar e aperfeiçoar o trato com o violão. Passados alguns meses, Mário levou o violão para sua casa e mentiu para o senhor J. Alves, dizendo que um amigo tinha lhe emprestado. Por muito insistir, conseguiu mostrá-lo o que tinha aprendido na casa dele e comprovar para o velho o seu aprendizado. Paulatinamente, Mário conquistou também a confiança do pai, o que facilitou contá-lo o mais rapidamente à verdade e também pedir para o instrumento permanecer na sua casa. O relacionamento musical entre eles foi ficando tão harmonioso, que em certos momentos quando estava tocando o senhor J. Alves sentava e ficava escutando. Em uma desta ocasião, a pedido dele cantou uma música acompanhado por Mário e a partir daquela data, o velho começou a aprender sozinho a tocar violão.
O envolvimento teatral na Primeira Igreja Batista quando chegou a Jequié serviu de aprendizado e despertamento para em conjunto com a música envolver-se também nesta área.  Na mesma época que aprendeu a tocar violão, foi integrante de um grupo teatral dirigido por Robinson Roberto. Os ensaios aconteciam nas casas paroquiais da Igreja Matriz de Santo Antônio e da Igreja do Perpetuo Socorro no bairro do Jequiezinho. A peça teatral encenada pelo grupo que obteve maior sucesso foi “O Bumba Meu Boi” de Capinan e Tom Zé, que foi apresentada em Jequié, Vitória da Conquista, Itabuna e Itapetinga com o elenco formado pelos seguintes componentes: Mariluza, Robinson Roberto, Mário, Derval Barros, Rivando, Conceição e outros que no momento não conseguiu lembrar.
Por volta do ano de 1963, apresentou-se em Jequié uma orquestra que tinha uma dançarina de rumba chamada “Bola Sete”. Na época com 16 anos de idade, Marinho foi convidado para abrir o show com o violão. O evento era apresentado pelo radialista Geraldo Teixeira. Na oportunidade, Mário cantou a música “Rock do Sacy”, composição gravada na época pelo famoso cantor da Jovem Guarda Demétrius. Quando Geraldo disse; “com vocês, ele, Mário Alves Filho, Marinho”. Foi recebido com uma grande vaia, entretanto Mário não desistiu, cantou a música e no final foi aplaudido pelo público que lotava o Cine Auditório.
Provavelmente no início do ano de 1965, ocasião que conheceu os músicos Jaime Luna (de saudosa memória), um exímio acordeonista e compositor, Milton, filho do gerente do Banco do Brasil, um excelente solista de violão elétrico, Nilton Muniz, que gostava de contrabaixo, Ronaldo Ganso, baterista, Benedito Sena, percussionista, Edson Almeida (de saudosa memória), que tocava uma guitarra havaiana feita por ele, surge o “Conjunto Musical Atalaia”, que Mário participou no violão ou acompanhamento.  Meses depois Milton deixou o grupo, porque o banco transferiu seu pai para outra cidade, assumindo no seu lugar o jovem violonista solo Judimar, mais conhecido como Boneco. O “Atalaia” tocava em casa de amigos, aniversários e chás dançantes no Jequié Tênis Clube. Com esse nome, o conjunto durou em torno de seis meses.  Posteriormente com o nome de “Bossa 6”, em homenagem a Bossa Nova que na época estava no auge. Mantendo os mesmos componentes o conjunto foi profissionalizado e devido à excelente aceitação começou a ser contratado para tocar com frequência em Jequié e nos municípios da região. Mesmo na época recebendo um cachê fixo nas apresentações, os recursos financeiros eram insuficientes para adquirir os violões elétricos e o conjunto teve que substituí-los por guitarras fabricadas numa carpintaria localizada na Avenida Lomanto Junior. Posteriormente com o equilíbrio das finanças e mais estruturado o grupo comprou instrumentos de melhor qualidade. “O Bossa 6” também adquiriu uma Kombi e nela foi pintada a face de cada componente, feito pelo artista Lula Martins, trabalho que chamava a atenção de todos onde o veículo passava.
Durante a existência do grupo, aconteceram outras mudanças na formação do grupo. Saiu Ronaldo Ganso, baterista, assumindo Bené Sena, que era percursionista. Saiu também Edson Almeida da guitarra havaiana e o acordeonista Jaime Luna passa a tocar escaleta e entra os saxofonistas Heron e Ivan Dias. O sucesso e o reconhecimento do “Conjunto Bossa 6” na Bahia, foi culminado com a apresentação na TV Itapuã no programa intitulado “Sabatina da Alegria”, onde disputou com os conjuntos “Os Lordes” de Itabuna, “Oliveira e seu Conjunto” de Castro Alves, “Os Dedos de Ouro” de Juazeiro, “Raulzito e seus Panteras” de Salvador, dentre outros e ficou colocado em primeiro lugar, sendo considerado o melhor conjunto musical da Bahia. Na ocasião da realização deste evento, as pessoas de Jequié reuniram-se em casas de visinho para assistir a apresentação do programa, pois poucos lares da cidade tinham televisores. Reconhecendo a importante vitória do grupo no evento, quando do retorno para Jequié, foram recebidos por muitos conterrâneos na localidade da Suíça e também homenageados com a realização de uma festa no Jequié Tênis Clube, principal organização da cidade. Depois deste evento, o conjunto continuou sua carreira musical normalmente, inclusive tocando nas manhãs de domingo no programa “Os Brotos Comandam”, apresentado por Umberto Roosevelt e posteriormente pelo próprio Marinho.
Por decisão da maioria dos componentes, em meados do ano de 1967 o nome do “Conjunto Bossa 6” mudou para “América Hippies” e foi para o Rio de Janeiro aventurar uma carreira mais alta. A decisão não foi aceita por Marinho que deixou o grupo.
Na época já existia na cidade alguns conjuntos musicais a exemplo de: “Os Ímpares”, “Capítulo 5º”, “The Byrds” e outros. Com a saída de José Pinheiro, contrabaixista do conjunto “Os Ímpares”, Marinho foi convidado para substituí-lo e prontamente aceitou. Os membros do conjunto eram: Reinaldo Pinheiro, guitarra base, Binho Vieira, guitarra solo, Marinho, contrabaixo e Reinaldo Falcão (de saudosa memória), bateria. “Os Impares” tocou na Bahia e também em cidades de Minas Gerais. Com a saída do solista Binho Vieira, entrou o seu primo Gilberto Vieira (Gazo).   O conjunto terminou no início dos anos 70, ocasião que a maioria dos seus componentes foram estudar em Salvador-BA.
Com o término do “Conjunto Os Ímpares”, Mário adquire a boate “Jequequé”, localizada na Avenida Alves Pereira, que devido à perseguição de um morador chamado Idefonso Guedes foi fechada, levando o proprietário à falência. Na mesma década, sem saber por onde recomeçar sua vida recebe um convite de Betulino e Milton Pithon para tocar no “Conjunto Kynta Dimensão”, grupo composto por: Betulino guitarra base, Gilberto Vieira guitarra solo, Tonhe Gatinha bateria, Milton Pihton contrabaixo, Marinho teclados e Valfrêdo Dórea cantor
Durante a sua trajetória musical, Marinho também tocou nos conjuntos “Os Fonda” e no “Embalo 4”. Participou de Festivais de Música no IERP, tocando no “Conjunto Kynta Dimensão” e como jurado no “Festival dos Brotos”. Como compositor, participou de um festival no ginásio de esportes Aníbal Brito intitulado “FestWalter”, época que Walter Sampaio era prefeito de Jequié. Neste festival, Mário cantou a música de sua autoria intitulada “A Rua da Saudade”, que ficou coloca em primeiro lugar e também foi eleito o melhor interprete. Na oportunidade, estava representando o prefeito o jornalista Kleber Barreto (de saudosa memória), que prometeu no outro dia entregar o premio no gabinete do prefeito. No dia seguinte, Mário foi à prefeitura e foi recebido pelo secretário da fazenda Miguel Caricchio, que não pagou o prêmio porque ele era adversário do prefeito. Mário conseguiu falar com o prefeito e exigiu dele explicações, entretanto Walter respondeu que o problema era com o secretário. Este fato na ocasião deixou Mário muito decepcionado com os dois, entretanto perdoou as pessoas citadas.
Deixando o “Kynta Dimensão”, Mário comprou o restaurante “Ulabalú” no Parque de Exposições Luiz Braga. Devido à localização do comércio e o perigo de assalto ao deixar o local tarde da noite com o dinheiro arrecadado, resolveu atender ao pedido de sua mãe e vendeu o estabelecimento no final de 1975.
No seu projeto de vida incluiu a política, na qual foi eleito vereador por duas vezes e perdeu quando concorreu para o cargo de prefeito. No governo de Luiz Amaral, exerceu os cargos de Secretário de Comunicação, Procurador Geral do Município e de primeiro presidente do Instituto de Previdência dos Servidores da Prefeitura Municipal de Jequié (IPREJ.)
No ano de 1977, juntamente com o cantor e compositor João Mendes adquiriram o “Barguilha”, localizado na Avenida Rio Branco, próximo da Praça do Viveiro, onde funcionava bar, Restaurante e tinha um espaço reservado para apresentações musicais.  
No final de 1978, Mário é aprovado no vestibular para Direito na UESC em Itabuna – BA e depois de formado passa a exercer a profissão, entretanto não abandona a música, tanto que continuou tocando com os amigos Geminiano Saback e Osmar do violino em vários eventos familiares e participando do grupo “Medida Provisória” com João Mendes, Tiete e Jairo dos Teclados. Gravou também em maio de 2005 o CD “Comida dez Fome Zero” no AEC Studio em Jaguaquara – BA, que teve a participação especial de: Célia Maris, João Mendes, Marine Alves e José Roberto Lobo.
Também exercendo a Advocacia, Mário foi cronista do programa jornalístico na Rádio Bahiana de Jequié no programa de João Mendes, durante 112 dias. Ao escrever uma crônica denominada “Vende-se a prainha, quem quer comprar?”, desagradou a direção da empresa e foi dispensado. Além das crônicas na rádio, Marinho escreveu dois livros intitulados: “Gozando com a Língua” e “Gozando com a Língua, Revisão da Primeira Gozada”, ambos com a participação do cartunista Carlos Éden Meira. No forno, encontra-se escrito um livro em parceria com escritor Émerson Pinto de Araújo e Robinson Roberto sobre a História de Jequié, que tem o apoio da Academia de Letras de Jequié. Mário também ficou conhecido pela publicação do escrito denominado de “Jacuzada”, feito com uma boa dose de humor logo após a apuração das eleições.

Hoje, Mário continua curtindo a música em sua casa tocando o seu teclado, especialmente quando aparecem amigos para visitá-lo e apaixonadamente também o vovô acompanha sua netinha Jasmim Alves que adora cantar. Depois de encerrada a entrevista, a pedido de Mário, sua esposa Francisneide, serviu para Charles Meira uma fatia do bolo que estava na sua frente e dele não tirava o olho.

* Texto editado na "Revista Cotoxó" de Outubro de 2016.

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