Tomaz, Charles, Artiludo, Luiz e Rafael. |
Depois do “festival dos Brotos” no Cine Jequié, dos festivais de música
no IERP - Instituto de Educação Régis Pacheco e no Cine Auditórium e também do
Grupo CLARPT, formado por Charles, Artiludo, Luiz, Rafael, Pedro e Tomaz que
acabou em 1974, os músicos Rafael, Luiz e Tomaz começaram a compor e cantar
músicas totalmente originais, compostas por eles mesmos. Este trio, sem nome a
princípio, cantava em serestas, sempre com a participação de amigos como um
artista plástico da Tropicália chamado Edinísio (criador de belas capas de
discos como “India” de Gal Costa e “Expresso 2222” de Gilberto Gil), que
cantarolava as composições deles, inclusive uma música saudosa da cidade de
Jequié que Tomaz escreveu e Luiz fez a melodia em 1974, chamada “Horizonte
Perdido”. Os rapazes também cantavam em estúdios e em casas de amigos. Por este
tempo, já estavam integrados ao grupo os poetas Val Rodrigues e Pedro Nogueira
como letristas e Agenor Oliveira Filho, o Zinho, como artista plástico.
Em 1975, Tomaz foi morar em Salvador para fazer um
cursinho pré-vestibular, como também, Rafael Júnior. Eles estudaram bastante e
ao final daquele ano estavam aprovados (Tomaz em Jornalismo e Rafael em
Geologia). Porém, o sonho de comunicar
as canções que então faziam os levou a convidar Luiz Meira para ir a Salvador, onde
ensaiariam e mostrariam as músicas ao público da Capital. Isto os levou a conhecer
no ICBA – Instituto Cultural Brasil Alemanha (naquele tempo, local de encontro
dos intelectuais de Salvador), o jornalista e escritor Eduardo Logulo amigo do
também jornalista Carlos Borges, Produtor do Programa “Hoje” e “Som Quatro” da TV Aratu (afiliada da rede
globo na época). Além disso, Borges era editor de variedades da “Tribuna da
Bahia”, um influente jornal de Salvador. Numa Mostra de
Som (eventos promovidos por universitários, na época), e noite de lançamento do
Jornal Invasão, aberta a quem quisesse tocar, Luiz cantou a música “Não”
composição dele e de Pedro Nogueira. Impressionados com a performance e com a
música, Logulo e Borges convidaram Luiz para tocar e cantar na TV. Pedro pulou e
bebeu, comemorando com muita alegria porque a letra da música cantada por Luiz era
de sua autoria. Luiz aceitou o convite,
porem levou os seus dois amigos Tomaz e
Rafael. No encontro com os jornalistas, mostraram as composições vocalizadas
pelo trio, surgindo daí a oportunidade dos três cantarem no programa “Som Quatro”
da TV Aratu, o que mais tarde foi realizado. O Arpão também se apresentou por
duas vezes no programa “Hoje” na mesma empresa.
Numa dessas apresentações na TV Aratu, encontraram o cantor João Só que
na época fazia muito sucesso com a música “Menina da Ladeira”. Na oportunidade
ele ouviu a música “Campo Grande”, composição de Rafael e falou que era muito
bonita, que até poderia ser o tema do programa “Sitio do Pica-pau Amarelo”
apresentado pela TV Globo.
Depois destas apresentações na Televisão, muitas foram as matérias
publicadas sobre o Grupo Arpão em jornais de Salvador. Porém, escolhi
transcrever esta, publicada no Jornal Tribuna da Bahia, para mostrar a
importância deles no cenário musical daquela época.
“Os frutos de Jequié estão chegando. Como se não bastasse Waly, Jorge
Salomão, Dircinho, Edinízio e outros mais, surge agora um grupo de músicos e
compositores de Jequié, que tem, realmente, muita coisa para mostrar nesse
panorama musical baiano tão carente, atualmente, de novas opções. Rafael, Luiz e
Tomaz, cantam, compõem, vivem juntos há muitos tempo. Agora acreditam ter
chegado a hora de mostrar o trabalho desenvolvido em mais de 200 músicas. Os
primeiros passos: uma apresentação no programa “Hoje” da TV Aratu – gravam na
segunda-feira – e um show de estréia no Teatro do ICBA, em fase de produção.
Além dos três, mais dois letristas se incorporam ao grupo: Val Rodrigues e
Pedro Nogueira. De música os meninos sabem muita coisa. Um som meio parecido
com o Bendegó, mais com personalidade definida. O melhor de tudo fica por conta
dos vocais (coisa rara por agora) que o grupo considera sua missão mais
importante. Vamos ver. Eu, particularmente, acredito neles. (Carlos Borges)”
Em seguida, começaram a ensaiar um show do grupo e, motivados pelo nome
de uma música de Rafael e Tomaz, intitulada Arpão, e que era apresentada apenas
em vocais e percussão, desenvolveu-se a idéia de que o grupo deveria ter o
mesmo nome da música. A idéia da composição Arpão era misturar numa mesma canção,
melodia e poesia-concreta, destacando as palavras “ar” e “pão”, tão vitais à
vida da espécie humana, além do instrumento de pesca “Arpão”, tão preciso em
sua utilização pelos pescadores de grandes peixes. Num desses ensaios
realizados numa sala do Teatro Castro Alves, enquanto aguardavam a liberação do
espaço, Rafael e Luiz ensaiavam com violão a música “Guerra Fria” composição de
Tomaz e Rafael e cujos versos iniciais falavam de “um olhar com malícia...”, eles
foram surpreendidos com a presença do cantor Gilberto Gil que saía do ensaio do
seu show (Refazenda). O músico parou e ficou ouvindo atentamente eles cantarem
e depois disse que era um som novo, diferente e bonito, despediu-se e saiu
rapidamente.
O show foi realizado no Teatro do ICBA em 30 de junho,
primeiro e dois de julho de 1977, com casa cheia nas três noites. O grupo
cantou neste show algumas de suas composições (samba, bossa nova, blues e rock)
e foram acompanhados por uma banda latina de nome Corpo e Alma, formada pelos
músicos Ruy Lima, Júlio Oliveira, Carlos Kess e Oscar Dourado. As músicas
cantadas neste show possuíam títulos muito interessantes que demonstravam a
sensibilidade artística do grupo: Dia Desse, Quebra-Pau, Não, Todo da é dia D,
Fico Calmo, Guerra Fria, Segredos, Sempre Bossa, Arpão, Até Além, Era uma Vez,
Picolé de Morango, Tales, Se prá Viver, Você não Serve prá Mim e Cine da
Esquina.
Após este show Rafael, Luiz e Tomaz estiveram em Jequié e encontraram com Luiz
Melodia no Itajubá Hotel e na oportunidade mostraram as composições do grupo,
que foram bastante elogiadas pelo cantor e ao mesmo tempo, ouviram, em primeira
mão, as músicas do novo álbum do artista, intitulado “Mico de Circo”, que só
seria lançado meses depois. Foram momentos de muita descontração e interação,
onde os meninos cantaram junto com Luiz Melodia e compartilharam ideias
musicais. Em seguida, o Arpão cumpriu agenda em Feira de Santana, no Feira Tênis
Clube (onde não houve público), em Jequié, no cine Auditórium (que foi um
sucesso, com mais de oitocentas pagantes e muitos elogios após a apresentação
do grupo). Este show foi produzido por Charles. Em Itabuna, em Ilhéus, em Porto
Seguro, em Salvador, no Campo Grande, um Rock na Praça (todos estes com grande
público); tudo isto no transcorrer do ano de 1977 – aí já com uma tendência de
rock brasileiro, pois o Arpão tinha uma batida própria na guitarra e violão
criada por Luís Meira. Foi por este tempo que Caetano Veloso foi apresentado a
Tomaz numa festa em Salvador, onde ele disse uma frase: “o Arpão é rock”. Também
o Poeta Waly Salomão usou uma expressão interessante para definir o grupo:
“Jequieticongs”. Os meninos gostaram tanto que criaram uma canção com esse
tema.
Em 1977, Roberto Menescal, Produtor da Phonogram, uma das
Gravadoras mais conceituadas da época, esteve visitando a casa de Tomaz, no bairro
do Tororó em Salvador e, ouvindo todas as músicas do Arpão, levou uma fita
gravada do Grupo para o sul do País – tal foi o interesse dele. Texto
publicado no Jornal Tribuna da Bahia confirma o depoimento de Tomaz: “Quem
estava em Salvador terça e quarta foi Roberto Menescal, que além de famoso
integrante – como compositor – da fase áurea da bossa nova, é produtor
artístico da Phonogram. Menescal esteve com novos valores da música da Bahia,
concedeu entrevista exclusiva para TV Aratu e levou daqui duas boas promessas:
Zizi Possi e o grupo de Jequié Rafael, Luiz e Tomaz”.
Em 1978, motivados pelas dificuldades de Luís Meira se
deslocar de Jequié para Salvador e os estudos de Rafael Júnior, o Arpão começou
a se desfazer, ficando Tomaz tentando carreira solo. Tomaz ainda se apresentou
no Programa “Hoje” da TV Aratu, um Rock no Farol da Barra em Salvador e em
Jequié realizou o seu último show no auditório do Rotary Clube no centro da
cidade.
Tomaz e Luiz conheceram o Livro “O Grande Conflito” de
Ellen G. White e abandonaram os vícios de bebidas, cigarro e maconha e
converteram-se a Jesus. Hoje Tomaz é Pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia
em Vitória da Conquista, continua cantando e compondo e, recentemente, gravou
um CD chamado “O Maior Abraço”. Luiz mora em Jequié e é Policial Rodoviário Federal
e continua servindo a Cristo. Pedro, o letrista é falecido. Agenor, o artista
plástico, também. Rafael atua na área de Publicidade e literatura em São Paulo
e Val Rodrigues é escritor e diretor da Revista Extra.
As idéias do ARPÃO de fazer música e arte bonitas
continuam vivas na vida destes homens que buscam fazer coisas novas para ajudar
o mundo a viver melhor e, nisto, teem a ajuda especial do Deus Criador e
Salvador.
Comentários sobre a matéria do Grupo CLARPT editado na Revista Cotoxó.
"Olá Charles,
Acabo de ler a matéria sobre o grupo CLARPT. Seria muito interessante a publicação desta matéria. Repassei o e-mail para minhas irmãs. Como Zinho era muito reservado em casa, só fiquei sabendo da encenação de uma peça infantil com a participação de Tomáz fazendo o papel de um macaco, que Robertinho com mais ou menos 02 anos de idade, ficou apavorado com a caracterização. Provavelmente, esse trabalho tenha sido fruto do grupo CLARPT.
Foi muito gratificante para mim, saber dessa história! Muito obrigada!!!
Um grande abraço extensivo a Tomáz,"
Marilusa (Esposa de Robinson e irmã de Agenor)
"Olá Charles,
Finalmente, fiquei conhecendo toda a história do CLARPT. Acho que minhas atividades intensas com o teatro, o Clube de Cinema e a Rádio Bahiana de Jequié impediram que eu tivesse observado melhor o grupo. Apenas fiz um registro com minha câmara Super-8, do Show de inauguração do auditório do IERP, material que consta do meu filme "Jequié - Viajando no Tempo".
Muito obrigado e parabéns pela preocupação com a preservação da memória artística-cultural da Cidade."
Abraços,
Robinson Roberto
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