quinta-feira, 14 de julho de 2016

Grupo Arpão."Nem o Tempo Conseguiu Apagar".

Tomaz, Charles, Artiludo, Luiz e Rafael.

Depois do “festival dos Brotos” no Cine Jequié, dos festivais de música no IERP - Instituto de Educação Régis Pacheco e no Cine Auditórium e também do Grupo CLARPT, formado por Charles, Artiludo, Luiz, Rafael, Pedro e Tomaz que acabou em 1974, os músicos Rafael, Luiz e Tomaz começaram a compor e cantar músicas totalmente originais, compostas por eles mesmos. Este trio, sem nome a princípio, cantava em serestas, sempre com a participação de amigos como um artista plástico da Tropicália chamado Edinísio (criador de belas capas de discos como “India” de Gal Costa e “Expresso 2222” de Gilberto Gil), que cantarolava as composições deles, inclusive uma música saudosa da cidade de Jequié que Tomaz escreveu e Luiz fez a melodia em 1974, chamada “Horizonte Perdido”. Os rapazes também cantavam em estúdios e em casas de amigos. Por este tempo, já estavam integrados ao grupo os poetas Val Rodrigues e Pedro Nogueira como letristas e Agenor Oliveira Filho, o Zinho, como artista plástico.
            Em 1975, Tomaz foi morar em Salvador para fazer um cursinho pré-vestibular, como também, Rafael Júnior. Eles estudaram bastante e ao final daquele ano estavam aprovados (Tomaz em Jornalismo e Rafael em Geologia).  Porém, o sonho de comunicar as canções que então faziam os levou a convidar Luiz Meira para ir a Salvador, onde ensaiariam e mostrariam as músicas ao público da Capital. Isto os levou a conhecer no ICBA – Instituto Cultural Brasil Alemanha (naquele tempo, local de encontro dos intelectuais de Salvador), o jornalista e escritor Eduardo Logulo amigo do também jornalista Carlos Borges, Produtor do Programa “Hoje” e “Som Quatro” da TV Aratu (afiliada da rede globo na época). Além disso, Borges era editor de variedades da “Tribuna da Bahia”, um influente jornal de Salvador. Numa Mostra de Som (eventos promovidos por universitários, na época), e noite de lançamento do Jornal Invasão, aberta a quem quisesse tocar, Luiz cantou a música “Não” composição dele e de Pedro Nogueira. Impressionados com a performance e com a música, Logulo e Borges convidaram Luiz para tocar e cantar na TV. Pedro pulou e bebeu, comemorando com muita alegria porque a letra da música cantada por Luiz era de sua autoria.  Luiz aceitou o convite, porem  levou os seus dois amigos Tomaz e Rafael. No encontro com os jornalistas, mostraram as composições vocalizadas pelo trio, surgindo daí a oportunidade dos três cantarem no programa “Som Quatro” da TV Aratu, o que mais tarde foi realizado. O Arpão também se apresentou por duas vezes no programa “Hoje” na mesma empresa.
Numa dessas apresentações na TV Aratu, encontraram o cantor João Só que na época fazia muito sucesso com a música “Menina da Ladeira”. Na oportunidade ele ouviu a música “Campo Grande”, composição de Rafael e falou que era muito bonita, que até poderia ser o tema do programa “Sitio do Pica-pau Amarelo” apresentado pela TV Globo.
Depois destas apresentações na Televisão, muitas foram as matérias publicadas sobre o Grupo Arpão em jornais de Salvador. Porém, escolhi transcrever esta, publicada no Jornal Tribuna da Bahia, para mostrar a importância deles no cenário musical daquela época.
“Os frutos de Jequié estão chegando. Como se não bastasse Waly, Jorge Salomão, Dircinho, Edinízio e outros mais, surge agora um grupo de músicos e compositores de Jequié, que tem, realmente, muita coisa para mostrar nesse panorama musical baiano tão carente, atualmente, de novas opções. Rafael, Luiz e Tomaz, cantam, compõem, vivem juntos há muitos tempo. Agora acreditam ter chegado a hora de mostrar o trabalho desenvolvido em mais de 200 músicas. Os primeiros passos: uma apresentação no programa “Hoje” da TV Aratu – gravam na segunda-feira – e um show de estréia no Teatro do ICBA, em fase de produção. Além dos três, mais dois letristas se incorporam ao grupo: Val Rodrigues e Pedro Nogueira. De música os meninos sabem muita coisa. Um som meio parecido com o Bendegó, mais com personalidade definida. O melhor de tudo fica por conta dos vocais (coisa rara por agora) que o grupo considera sua missão mais importante. Vamos ver. Eu, particularmente, acredito neles. (Carlos Borges)”
Em seguida, começaram a ensaiar um show do grupo e, motivados pelo nome de uma música de Rafael e Tomaz, intitulada Arpão, e que era apresentada apenas em vocais e percussão, desenvolveu-se a idéia de que o grupo deveria ter o mesmo nome da música. A idéia da composição Arpão era misturar numa mesma canção, melodia e poesia-concreta, destacando as palavras “ar” e “pão”, tão vitais à vida da espécie humana, além do instrumento de pesca “Arpão”, tão preciso em sua utilização pelos pescadores de grandes peixes. Num desses ensaios realizados numa sala do Teatro Castro Alves, enquanto aguardavam a liberação do espaço, Rafael e Luiz ensaiavam com violão a música “Guerra Fria” composição de Tomaz e Rafael e cujos versos iniciais falavam de “um olhar com malícia...”, eles foram surpreendidos com a presença do cantor Gilberto Gil que saía do ensaio do seu show (Refazenda). O músico parou e ficou ouvindo atentamente eles cantarem e depois disse que era um som novo, diferente e bonito, despediu-se e saiu rapidamente.
            O show foi realizado no Teatro do ICBA em 30 de junho, primeiro e dois de julho de 1977, com casa cheia nas três noites. O grupo cantou neste show algumas de suas composições (samba, bossa nova, blues e rock) e foram acompanhados por uma banda latina de nome Corpo e Alma, formada pelos músicos Ruy Lima, Júlio Oliveira, Carlos Kess e Oscar Dourado. As músicas cantadas neste show possuíam títulos muito interessantes que demonstravam a sensibilidade artística do grupo: Dia Desse, Quebra-Pau, Não, Todo da é dia D, Fico Calmo, Guerra Fria, Segredos, Sempre Bossa, Arpão, Até Além, Era uma Vez, Picolé de Morango, Tales, Se prá Viver, Você não Serve prá Mim e Cine da Esquina.
            Após este show Rafael, Luiz e Tomaz  estiveram em Jequié e encontraram com Luiz Melodia no Itajubá Hotel e na oportunidade mostraram as composições do grupo, que foram bastante elogiadas pelo cantor e ao mesmo tempo, ouviram, em primeira mão, as músicas do novo álbum do artista, intitulado “Mico de Circo”, que só seria lançado meses depois. Foram momentos de muita descontração e interação, onde os meninos cantaram junto com Luiz Melodia e compartilharam ideias musicais. Em seguida, o Arpão cumpriu agenda em Feira de Santana, no Feira Tênis Clube (onde não houve público), em Jequié, no cine Auditórium (que foi um sucesso, com mais de oitocentas pagantes e muitos elogios após a apresentação do grupo). Este show foi produzido por Charles. Em Itabuna, em Ilhéus, em Porto Seguro, em Salvador, no Campo Grande, um Rock na Praça (todos estes com grande público); tudo isto no transcorrer do ano de 1977 – aí já com uma tendência de rock brasileiro, pois o Arpão tinha uma batida própria na guitarra e violão criada por Luís Meira. Foi por este tempo que Caetano Veloso foi apresentado a Tomaz numa festa em Salvador, onde ele disse uma frase: “o Arpão é rock”. Também o Poeta Waly Salomão usou uma expressão interessante para definir o grupo: “Jequieticongs”. Os meninos gostaram tanto que criaram uma canção com esse tema.
            Em 1977, Roberto Menescal, Produtor da Phonogram, uma das Gravadoras mais conceituadas da época, esteve visitando a casa de Tomaz, no bairro do Tororó em Salvador e, ouvindo todas as músicas do Arpão, levou uma fita gravada do Grupo para o sul do País – tal foi o interesse dele. Texto publicado no Jornal Tribuna da Bahia confirma o depoimento de Tomaz: “Quem estava em Salvador terça e quarta foi Roberto Menescal, que além de famoso integrante – como compositor – da fase áurea da bossa nova, é produtor artístico da Phonogram. Menescal esteve com novos valores da música da Bahia, concedeu entrevista exclusiva para TV Aratu e levou daqui duas boas promessas: Zizi Possi e o grupo de Jequié Rafael, Luiz e Tomaz”.
            Em 1978, motivados pelas dificuldades de Luís Meira se deslocar de Jequié para Salvador e os estudos de Rafael Júnior, o Arpão começou a se desfazer, ficando Tomaz tentando carreira solo. Tomaz ainda se apresentou no Programa “Hoje” da TV Aratu, um Rock no Farol da Barra em Salvador e em Jequié realizou o seu último show no auditório do Rotary Clube no centro da cidade.
            Tomaz e Luiz conheceram o Livro “O Grande Conflito” de Ellen G. White e abandonaram os vícios de bebidas, cigarro e maconha e converteram-se a Jesus. Hoje Tomaz é Pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Vitória da Conquista, continua cantando e compondo e, recentemente, gravou um CD chamado “O Maior Abraço”. Luiz mora em Jequié e é Policial Rodoviário Federal e continua servindo a Cristo. Pedro, o letrista é falecido. Agenor, o artista plástico, também. Rafael atua na área de Publicidade e literatura em São Paulo e Val Rodrigues é escritor e diretor da Revista Extra.
            As idéias do ARPÃO de fazer música e arte bonitas continuam vivas na vida destes homens que buscam fazer coisas novas para ajudar o mundo a viver melhor e, nisto, teem a ajuda especial do Deus Criador e Salvador.         

Comentários sobre a matéria do Grupo CLARPT editado na Revista Cotoxó.

"Olá Charles,
Acabo de ler a matéria sobre o grupo CLARPT.  Seria muito interessante a publicação desta matéria. Repassei o e-mail para minhas irmãs. Como Zinho era  muito reservado em casa, só fiquei sabendo da encenação de uma peça infantil  com a participação de Tomáz fazendo o papel de um macaco, que Robertinho com mais ou menos 02 anos de idade, ficou apavorado com a caracterização.  Provavelmente, esse trabalho tenha sido fruto do grupo CLARPT.
Foi muito gratificante para mim, saber dessa história! Muito obrigada!!!
Um grande abraço extensivo a Tomáz,"
Marilusa (Esposa de Robinson e irmã de Agenor)

"Olá Charles,
Finalmente, fiquei conhecendo toda a história do CLARPT. Acho que minhas atividades intensas com o teatro, o Clube de Cinema e a Rádio Bahiana de Jequié impediram que eu tivesse observado melhor o grupo. Apenas fiz um registro com minha câmara Super-8, do Show de inauguração do auditório do IERP, material que consta do meu filme "Jequié - Viajando no Tempo".
Muito obrigado e parabéns pela preocupação com a preservação da memória artística-cultural da Cidade."
Abraços,
Robinson Roberto

Nenhum comentário:

Postar um comentário