Por Charles
Meira
Ás 19h, o Jeep que Osmar e seu motorista viajavam quebrou uma das
transmissões, próximo de Eunápolis, cidade da região sul da Bahia, local onde
visitaria clientes da empresa de tecidos que representava. Devido o avançado horário
e a dificuldade de deslocamento até o município vizinho, tiveram que procurar
por perto um local para dormir e no dia seguinte providenciaria o conserto do
carro. Depois de saírem da estrada principal e andarem um pouco, avistaram uma claridade,
que ao aproximarem, certificaram ser a única casa existente no local. Um senhor
de aproximadamente sessenta anos de idade, estava sentado num banco na frente
do casebre e dentro sua esposa, demonstrando ser um pouco mais nova. Depois de
cumprimentar o casal e saber que ele era baiano e sua esposa mineira, Osmar
contou o que havia ocorrido e pediu para eles dormida e comida. O homem concordou em dar o apoio solicitado,
pedindo somente o entendimento deles para a falta de conforto e de alimento na
dispensa da sua casa. Um sorriso largo demonstrou o contentamento parcial
de Osmar, pois além da dormida queria também comida para saciar sua fome. Por
causa da insistência de Osmar, o senhor mandou a sua nega matar uma galinha e os
dois ficaram sentados na cozinha conversando, próximo do fogão a lenha, bebendo
uma cachaça feita de vários sabores, especialidade do hospedeiro, aguardado a
janta ficar pronta.
O bate-papo foi interrompido, no momento que chegou um homem, vindo de
dentro do mato, aparentando ter mais de cinqüenta anos de idade. O desconhecido
carregava uma espingarda na mão, na cintura um revolver, um facão, dizendo ser
um comprador de madeira e pedindo também dormida e comida. O dono da casa disse que a morada era pequena,
entretanto daria para todos dormirem e de acordo avaliação de Osmar a comida
também daria para saciar a fome deles. Enquanto conversavam, a nega serviu a
galinha e seu esposo mais uma dose da cachaça. Após o jantar, a conversa
continuou no terreiro, local iluminado por uma linda lua cheia. O desconhecido,
a última pessoa a chegar ao local, começou a conversa, queixando do seu cansaço
e das dificuldades de trabalho encontradas no sul da Bahia. Falou que tudo na
Bahia dava errado e estava se sentindo arrependido e culpado de ter vindo para aquela
localidade. Em seguida, com ironia passou também a falar mal dos baianos, repetindo
várias vezes que na Bahia ninguém prestava. Osmar, um baiano de Porto Alegre
distrito de Maracás, se sentiu ofendido e perguntou de que estado o homem
estava vindo. Respondeu que procedia de Sergipe. Osmar não aceitou a
desmoralização feita aos nossos habitantes, citando o recente exemplo recebido
do dono da casa e sugeriu que o homem fosse comprar madeira no seu estado. O
Sergipano quis consertar o seu erro, entretanto o hospedeiro concordou com as
palavras verdadeiras do seu conterrâneo. A conversa terminou com a afirmação de
Osmar, que depois do ocorrido, não confiava no desconhecido e da mineira
avisando que as camas estavam arrumadas.
O motorista ficou na sala e no quarto com um fifó numa mesa no meio das
camas, Osmar e o comprador de madeira. Quando o baiano do distrito de Porto
Alegre apagou o fifó, um pedido do dono da casa, Osmar deitou com a cabeça para
o lado onde estavam os pés do homem, colocou o seu revolver em baixo do
travesseiro e durante a noite toda, o que um fazia o outro repetia. Ás 5h, o
desconhecido levantou, pegou os seus pertences, mandou lembrança para o baiano
e foi embora, seguido por Osmar até a porta. No mesmo dia, o motorista foi na
cidade vizinha e trouxe um profissional para concertar o Jeep. Depois de pagar a janta ao conterrâneo, Osmar
foi para Eunápolis visitar os clientes da empresa que representava. No retorno,
passou na casa do baiano, agradeceu novamente os seus préstimos e recebeu dele
um pedido para comprar uma sanfona de oito baixos em Feira de Santana, um sonho
ansiado há muito tempo. Em outra ocasião, Osmar presenteou o amigo com o instrumento
musical solicitado e sempre que viajava para aquela região, parava para visitá-lo.
* Texto editado na Revista Cotoxó de maio 2016.

* Texto editado na Revista Cotoxó de maio 2016.
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