Primeiro Tiro
Por Charles
Meira
Osmar Marques da Silva
Revolver que pertenceu a Zezinho dos Laços |
Em 13 de julho de 2015, Osmar Marques da Silva completou noventa anos de
idade, lúcido e sempre contando muitas histórias. No início de janeiro, esteve
em Jequié para visitar suas irmãs, depois de um longo tempo ausente da nossa
terra, devido problemas na sua audição. Na ocasião, pedi ao meu tio para me
contar novamente dois fatos interessantes que não havia escrito e editado na “Revista
Cotoxó”. Como sempre fizemos das vezes anteriores, sentamos no sofá da sala e
passei a escrever os seus relatos. Sempre bem humorado e sem reclamar dos meus pedidos
para repetir a história, Osmar iniciou o primeiro fato. Contou-me que num
determinado dia, quando estava atravessando uma avenida na proximidade da sua
lanchonete em Feira de Santana - BA, via urbana que dava para trafegar duas
carretas, passou muito perto dele uma moto em alta velocidade com duas pessoas.
Como era bem cedo e não tinha muito barulho, ouviu nitidamente uma voz que
dizia: “sai do meio da rua porra”, Osmar parou e imediatamente respondeu:
“porra é a puta que lhe pariu, seu corno”. O motoqueiro parou a moto e a pessoa
que estava na garupa saltou e disse: “o senhor falou o que?”. Osmar respondeu
novamente: “eu acredito que você não é surdo, porém vou repetir. “Porra é a
puta que lhe pariu, seu corno”. Percebendo a aproximação dele, Osmar rapidamente
abriu a pasta que carregava, tirou o revolver que pertenceu ao seu avô Zezinho
dos Laços da capa, apontou para o homem e falou: “Dê mais uns dois passos para
frente, pois não quero perder o primeiro tiro”. Percebendo que Osmar não estava
brincando, o motoqueiro falou para o amigo: “deixa isso pra lá, vamos embora, pois
você não tem razão”. Atendendo o forte apelo do piloto, o homem montou na
garupa da moto e foram embora.
Antes de contar o segundo fato, Osmar chupou alguns umbus, fruto
preferido dele, comprado cedinho no Cento de Abastecimento Vicente Grillo.
Depois da pausa na conversa, me contou um episódio acontecido na porta do seu comércio
na cidade onde mora, conhecida como “Princesa do Sertão”. Osmar estava em pé no
local, quando parou um carro e o motorista perguntou o nome de uma rua. Respondeu
que o logradouro não era conhecido, pois morava ali a quase cinquenta anos e
não sabia da existência dele. Quando dava as últimas informações ao motorista, um
dos quatro passageiros que estavam também no carro falou: “Vai tomar no...” Fingindo
não ter ouvido a ofensa e prometendo ao homem informações do seu funcionário da
referida rua, Osmar entrou rapidamente no seu estabelecimento, pegou o seu revolver,
retornou para junto do carro, apontou para o motorista e falou: “diga para a
pessoa que falou anteriormente, que ele é corno, filho de uma puta e que mande
a mãe dele tomar nu... e se ele é homem desça do carro, pois não consegui identificá-lo
e posso matar a pessoa errada”. Sem despedir, o motorista arrancou rapidamente o
veículo.
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