Charles Meira e Zezito Souza |
Por Charles Meira
No
dia 27 de Junho de 2011, estive na cidade de Maracás em companhia do meu tio
Osmar Marques, visitando o nosso amigo Zezito Souza, pessoa a quem temos muito apreço e admiração. Esta viagem
estava há meses programada com sua filha Rita e seu esposo Carlos, que moram
também na nossa cidade. Infelizmente, devido a afazeres comerciais, não foi
possível a presença do casal em Maracás. Para não ir sozinho, convidei meu tio
que veio de Feira de Santana visitar suas irmãs. Como havia mais de dez anos
que não visitava a cidade em que morou na sua infância e desejava também rever
Zezito e outros amigos, prontamente aceitou o meu convite.
Saímos de Jequié às 06h30 e chegamos
à residência dele às 9hs e fomos recebidos com muita alegria. Depois de um café
reforçado, batemos um longo papo, bastante descontraído, sentados no sofá da
sala com Zezito, onde dialogamos sobre assuntos que tínhamos curiosidade de
saber, na maioria relacionados com sua convivência com seu pai Tranquilíno
Antônio de Souza. Inicialmente nos informou que é carinhosamente tratado de
Zezito, mas o seu nome de registro é José Antônio de Souza Sobrinho e nasceu
em 30/10/1920 em Maracás - BA. É viúvo,
e sua esposa chamava-se Emília Almeida de Souza, nascida em 07/10/1926 em
Maracás – BA e morreu em 13/02/2004 em Salvador – BA. Constituíram uma família
de 16 Filhos, 27 netos e 16 bisnetos. O
seu pai chamava-se Tranquilíno Antônio de Souza, nascido em 04/06/1883 em
Maracás - BA e morreu em 21/03/1933 em Jequié - BA. Casou-se primeiro com Laura
Marques Souza que morreu durante o parto do primeiro filho. O segundo casamento
foi com Maria Anália Nogueira Souza e tiveram 04 filhos. Seu avô chamava-se
Marcionílio Antônio de Souza, nascido em 30/04/1858 em Condeúba – BA e morreu
em 09/06/1943 em Maracás – BA e a sua avó foi Francisca Joaquina Alves Meira, e
tiveram 10 filhos. Depois de citar os familiares, entrou no assunto que
desejávamos. Contou que saiu pequeno de Maracás e foi morar em Jequié. Prosseguindo
o bate-papo, fala com segurança e um pouco de emoção do seu relacionamento com
o pai na infância, vivido a maior parte na Fazenda Gruta Baiana, localizada em
Distampina – BA, hoje Itagibá – BA. Falou que seu pai o chamava carinhosamente
de cabloquinho, era amoroso e nunca encostou a mão nos filhos, igual tratamento
também era dispensado à sua esposa. Perguntou se queríamos parar um pouco e
tomar um cafezinho, decidimos prosseguir a conversa que estava por demais
agradável. Ele deu um sorriso e começou a falar algumas coisas que aconteceram
na Gruta Baiana durante tiroteios com Jagunços e soldados. Apesar da pouca
idade na época, disse lembrar com clareza, que uma das salas da casa estava
repleta de caixas com munição e diversos tipos de armamentos pesados, um
verdadeiro arsenal de guerra. Nessas investidas dos inimigos, Tranquilíno, que
era muito valente e excelente atirador, estava sempre à frente, comandado os trinta
jagunços que tinha na fazenda. Relatou Zezito que, mesmo quando não estava nesses
confrontos, seu pai permanecia o dia todo com a arma na cintura. Era um homem
que não tinha medo de nada. Quando avisado por amigos sobre tocaias, sempre ia
com seus jagunços conferir de perto a veracidade dos fatos. Ao contrário do que
pesávamos, Zezito disse tudo que sabia do que aconteceu naquela época com seu
pai. Em continuação aos relatos, ele falou que numa determinada manhã, chegou à
fazenda um negro chamado de Laurindo, montado em um cavalo e entregou um
bilhete enviado pelo senhor Juca Costa, fazendeiro em Distampina, hoje Itagibá,
avisando a Tranquilíno que os camaradas de Silvino tinham passado em sua
propriedade, tomado leite e estavam indo com destino a Gruta Baiana.
Imediatamente, Tranquilíno escolheu dez dos seus melhores homens e mandou atrás
deles, com ordem de acabar com a raça dos jagunços de Silvino. O celular de tio
Osmar tocou, pediu licença e saiu da
sala para atender a ligação. Era seu filho informando que um carro tinha
derrubado o muro da sua casa em Feira de Santana. Tio Osmar foi à praça para
fazer uma ligação para seu filho e saber detalhes do ocorrido, pois os seus
créditos tinham acabado. Mesmo com a ausência dele, Zezito voltou a contar as
histórias do seu pai. Com aparência de tristeza, passou a relatar fatos ocorridos
na época da prisão e morte de Tranquilíno.
Falou que seu pai se entregou a pedido do seu avô Marcionílio Antônio de Souza,
através de um bilhete enviado para ele na Gruta Baiana. Disse que na data da
prisão ele tinha 10 anos de idade e sua mãe estava grávida. Quando a criança
nasceu, registrou com o nome de Paulo. Relatou que antes de seu pai morrer,
dividiu a Fazenda Gruta Baiana com os quatros filhos e a parte de Tranquilíno
foi vendida para Juca Rebouças, para
quem Zezito tempos depois vendeu as terras que o coube na partilha. Contou que
Tranquilíno perto de falecer, recebeu a visita do senhor Teófilo Saraiva e que
o amigo, percebendo que Tranquilíno estava morrendo, pediu uma vela para
colocar na mão dele. Mesmo fraco e batido, falou arrastado e baixinho: “homem
não precisa de vela para morrer”. Horas depois Tranquilíno faleceu. Quando ele
morreu, Zezito tinha 13 anos de idade e foi morar com seu tio Olindino Nogueira
que ficou com a responsabilidade pela criação de Zezito. Ele estudou somente
até os 13 anos de idade. Zezito contou também um fato que aconteceu na sua
adolescência, quando tinha aproximadamente 20 anos de idade e morava em
Distampina, hoje Itagibá. Depois de desavenças com Mariano Coxo, devido ao
término do namoro dele com a filha do “Rabudo”, deixou estremecido a amizade
dos familiares, o que motivou aos quatro filhos de Mariano irem até a fazenda
de sua irmã Helenita Souza Ferreira, mais conhecida como (Sinhá Moraes) para
matá-lo. Quando chegaram à localidade, encontraram Zezito armado, pronto para
revidar a investida dos agora inimigos dele. Felizmente, ele foi contido pelo
seu cunhado Antônio Morais. Em seguida, mandou os filhos de Mariano entrarem e
conversaram, tentando resolver o problema. Entretanto, os ânimos continuaram
acirrados, devido a Zezito e os quatro encontrarem-se no mesmo local com a arma
na cintura, pronto para a qualquer momento sacarem e atirarem. Porém, depois de
muita conversa, Antônio Morais conseguiu controlar a situação e convencer os
homens a irem embora. Para o bem de todos, eles foram e não mais voltaram.
Próximo do final do bate-papo, tio Osmar voltou da praça e depois que sentou no
sofá, Zezito falou também da sua vida profissional. Disse ter trabalhado durante
quatro anos como cobrador na Empresa Brasil em Jequié, de propriedade do Sr.
Waldomiro Borges. Falou do seu retorno a Maracás no ano de 1942, onde morou
durante o período de um ano com seu tio Marcionílio Filho, mais conhecido como
“Su”, na Fazenda São Pedro, no Município de Maracás. Concluiu a conversa,
dizendo que trabalhou trinta anos como Oficial de Justiça em Maracás, onde se
aposentou. Depois de agradecer a Zezito a paciência e a boa vontade de nos
contar um pouco da história da sua vida, perguntei a ele como foi a sua relação
com seu avô Marcionílio. Revelou que teve pouco contato com o coronel, devido ao
mesmo ser muito fechado e malcriado, opinião que ele também tinha da minha
pessoa.
Depois de um passeio na cidade, onde
tiramos muitas fotos e respiramos o ar puro da manhã da cidade de Maracás, revendo
locais de rara beleza como: a Igreja Matriz de Nossa Senhora das Graças que foi
construída pelos alemães Helmut e Herbert, o belo e bem cuidado jardim e a estatua
do índio escultura feita por João Burge que ficam na Praça Rui Barbosa. Depois
visitamos o casal amigo Alicio e Lícia, pais do prefeito de Maracás Nelson
Portela. Almoçamos com Zezito e ás 14hs nos despedimos dele, agradecendo a Deus
por nos ter proporcionado momentos de muita alegria durante a visita que
fizemos ao nosso amigo. Retornamos à casa de Lícia para comermos doce de
marmelo, banana e de leite. Em seguida, Alicio me levou para visitar o escritor
Antônio Eloy Spínola e a tio Osmar para conhecer a casa de parentes. Ás 16h30
saíamos de Maracás com destino à Jequié.
Zezito o único filho vivo dos
integrantes de destaque que fizeram parte do grupo dos “Rabudos”, em outubro
completa 91 anos de idade, gozando de boa saúde e se sentindo muito feliz. Mora
sozinho na Rua Afrânio Peixoto, Maracás – BA a terra das flores, uma opção
dele, pois não quer morar com os filhos que residem em Maracás, Jequié,
Itiruçu, Salvador, Maringá e na Inglaterra.
* Texto publicado na Revista Cotoxó em 2011.
OBS: José Antônio de Souza Sobrinho (Zezito Souza), faleceu na cidade de Jequié na Casa de Saúde Santa Helena em 22/11/2015 e no dia 23 foi enterrado na cidade de Maracás.
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