| Abelardo e Averaldo / Amenades e Valdenor. |
| Elio Meira, Averaldo, Charles Meira, Amenades e Valdenor. |
| Averaldo, Bené do requeijão, Amenades, Abelardo Valdenor. |
Por Charles Meira
Sempre que encontro o meu amigo Artur, produtor de eventos artísticos e
culturais em Jequié e região, cobro dele com veemência a vinda em nossa cidade
do violeiro Almir Sater e do músico Renato Teixeira, dois dos melhores artistas
da música brasileira. São muitas as desculpas e dificuldades apresentadas pelo
amigo produtor, tentando me convencer, entretanto, não consigo aceitá-las e
continuo no firme pensamento de que é possível a concretização deste meu desejo.
Influenciado pelo tema ora vivenciado,iniciei no ano passado uma pesquisa para
falar dos violeiros enraizados nos rincões de Jequié. Inicialmente, mantive
contato com Humberto Meira para saber se ele conhecia algum violeiro em Jequié,
já que o meu primo é fã do poeta/cantor Elomar, e esporadicamente anda
arranhando os dedos numa viola.Dias depois,ele me deu o telefone de dois
violeiros, porém por motivo de doença,tive que interromper a pesquisa até o mês
de setembro deste ano, data quando voltei a procurá-lo para reaver os contatos perdidos.
Próximo da casa de minha mãe mora um contemporâneo dela e também meu
amigo Hermenegídio José de Souza,que priorizei na pesquisa, respeitando os seus
noventa anos de idade. Com muita delicadeza e bastante sorridente, Hermenegídio recebeu-me
na sua casa e, depois de me mostrar uma foto que estava pendurada na parede, me
contou que começou a tocar viola com quinze anos de idade, no ano de 1930,
executando músicas de Reis na localidade das Pombas, município de Manoel
Vitorino – BA.Na sua adolescência e juventude, acompanhado pelos irmãos Torquate
e Vitalino de Souza e os amigos Máximo, Diolino, Emídio, Paulino e Cândido
Marques, visitavam os povoados de malhada de Areia, Passagem Santana, Porto
Alegre e o Espinho, que pertencem a Manoel Vitorino – BA, da época do Natal até
o dia seis de janeiro,data do encerramento das festividades na residência do seu
pai José Gregório de Souza, nas Pombas, onde rezavam ladainha, matavam bode,
leitoa, bebiam muito, porém sem briga,em paz,tocando viola e cantando músicas de
Reis com o grupo formado por Nadinho, Juvenal, Ademário, Joaquim, Lino e Tôe de
Marica.Tempos depois em Jequié fizeram uma apresentação em cima de um trio na
Praça do Viveiro com o grupo formado por Hermenegídio, Antônio, Torquate e
Vitalino.O fazendeiro Zito Gomes foi quem mandou buscar o grupo em Porto Alegre,
distrito de Manoel Vitorino – BA, e doou um boi de 14 arrobas para o churrasco
em comemoração à vitória de Walter Sampaio para prefeito. Em outra ocasião, com
a formação Elio Meira, Hermenegídio, Nôzinho, Maneilton, Naná e Tiago se apresentaram
também em Jequié - BA no CAIC e no Colégio Firmo Nunes de Moraes, na
administração do prefeito Roberto Britto.
Hermenegídio morou também nas localidades de Anta Gorda –
Manoel Vitorino – BA, Porto Alegre – Maracás – BA e, em Jequié,mora desde 1984.
Outro violeiro da região da caatinga é mais um componente
da família Meira que enveredou pelo mundo da música. Elio Silva Meira nasceu no
povoado das Pedras – Manoel Vitorino – BA e em 1967 com quinze anos de idade
aprendeu a tocar viola com seu pai Agnelo Silva.Na região das Pedras, Salinas,
Olhos D’agua, Tabua e Isidoro, também pertencentes ao município de Manoel
Vitorino, fizeram as primeiras apresentações cantando músicas de Reis com
amigos e parentes nas festividades dos moradores ali existentes.Posteriormente
aprendeu a tocar pandeiro, triângulo, violão, bumba, sanfona e coco e começou a
cantar também música sertaneja.
Elio Meira atualmente também é compositor e mora em Jequié, local onde
comemos doce de leite feito na região das Pedras e ele deu uma palhinha tocando
viola e cantando uma composição de sua autoria que fala da história da família
Meira. O meu primo carnal trabalha na Prefeitura Municipal de Manoel Vitorino –
BA e já se apresentou em Jequié – BA no CAIC e no Colégio Firmo Nunes de Moraes, acompanhado
de Hermenegídio Nôzinho, Maneilton, Naná e Tiago. Na Igreja Matriz de Santo
Antônio de Pádua com o grupo da igreja, no Abrigo dos Velhos e no Parque de
Exposição Luiz Braga, nas feiras de animais, com Nôzinho. E cantando nas festas
de Reis nas casas de parentes e amigos com Naná, Joaquim, Nôzinho e os Salta Moitas
(pessoas que acompanham os reiseiros) e frequentemente aos domingos tem roda de
viola nascasas de Fernando Sanfoneiro e Gilberto Meira.
Averaldo de Oliveira e Silva foi um dos violeiros que
Humberto Meira tinha passado o contato quando fiquei doente. Em outubro
consegui recuperar o seu endereço e estive na Fiat Veículos procurando-o,
entretanto fui gentilmente informado pelo funcionário de que Averaldo não
trabalha mais na firma, mas me deu o número do seu telefone celular. No mesmo
dia, liguei e marquei uma visita à noite na residência do violeiro. Tudo ficou
mais fácil quando fiquei sabendo que ele morava na Rua Afrânio Peixoto no
bairro do Mandacaru e que era vizinho de Zequinha, ex-colega da Coelba.
Pontualmente às 7h, cheguei com Zequinha na casa de Averaldo. Enquanto nos
cumprimentávamos, Abelardo, seu parceiro atual, também chegou. A conversa logo
passou para a história musical da dupla. Inicialmente fiquei sabendo que
Averaldo e Abelardo nasceram na cidade de Jitaúna – BA e que Averaldo começou a
cantar com seu irmão Osmário Oliveira e Silva na cidade de Itariri – SP, num
circo chamado “Furtado” e que seu mano continua em São Paulo cantando até hoje
com amigos. Papo vai papo vem, fui informado também que o primeiro parceiro de
Averaldo foi Cori e a dupla formada em 1968 chamava-se “Peito Roxo e Seresteiro”.
Nesta época eles cantaram em circos, na Rádio Baiana de Jequié no programa
“Alvorada Sertaneja”, apresentado por Roque Oliveira e Gélia Ferreira, em
bares, casamentos, aniversários e até no meretrício. Para minha surpresa,
Averaldo foi também locutor na Rádio Baiana de Jequié, durante o período de um
ano, levado por Ari Moura no final da década de 80, onde apresentou o programa
“Assim Canta o sertão”, que ia ao ar de segunda à sexta, das 5 às 06h30 e nos
sábado das 5 às 7h, tendo na sonoplastia Edísio Santana, inclusive foi também divulgado
através da revista Moda e Viola, periódico que falava das duplas sertanejas de sucesso
em todo país. Em 1980, Averaldoformou a dupla com Abelardo, a qualse chama “Zé
Garoto e Seresteiro”. Nesta formação cantou em praças, circos, exposições, cavalgadas,
na Rádio Povo e na Radio Cidade Sol FM 94.9 no programa “Paradão Sertanejo”,
apresentado por Almir Araújo (Velho Marujo). Quando convidada, a dupla canta em
cidades da região e é gratificada espontaneamente pelos contratantes. No dia
29/10/2015, convidado pelo cantor evangélico Charles Meira, a dupla cantou no
lançamento do livro de Domingos Ailton “Antônio Burokô”. A entrevista terminou
com Averaldoe Abelardo (Zé Garoto e Seresteiro), fazendo questão de que mencionássemos a
matéria os nomes de João Mendes e Benedito Timóteo (Bené do Requeijão), como
sendo os maiores incentivadores da dupla durante a caminhada musical.
Sannei Morbeck Jandiroba
Ribeiro foi o outro violeiro que Humberto tinha me dado o contato. Quando fui
informado do número do telefone de Averaldo, resgatei o endereço do trabalho dele.
O violeiro trabalha na Soldisbel, onde
consegui marcar uma entrevista com o artista. No dia acertado, fuià sua
residência e passei a conhecer mais um violeiro da nossa terra. Sannei Violeiro,
como gosta de ser chamado, nasceu em Jequié e começou a tocar viola no ano de
2011, inspirado pelos artistas que tocam no programa da TV câmara, que vai ao
ar aos domingos das 10 às 11h. Sannei aprendeu a tocar pela internet, através do
método “Corvo Campelo” e com apenas três meses de curso já tocava algumas
músicas. O violeiro entre outras duplas
admira Tião Carreiro/Pardinho, Zé Mulato/Cassiano, Lio/Leo e Cacique/Pajé. As
apresentações dele acontecem em cavalgadas particulares e em casa de parentes e
amigos.
Amenades Silva Freire músico que faz parte do
pequeno rol de violeiro de Jequié e que nos foi apresentado por Abelardo e
Averaldo. Desde dez anos de idade Freire cantava com violão na fazenda Santa
Rita na localidade do mesmo nome de propriedade de seu pai Valdenor Freire,
influenciado pelo mesmo que tocava e cantava repente e música de Reis. No ano de
1972, quando esteve em Valentim – BA conheceu uma viola Del Vecchio que
pertencia ao seu compadre Dio. Por ter ficado admirado pelo belo instrumento
musical, Freire foi no ano de 1977 até a cidade de Itaquara – BA na fazenda que
seu compadre Dio, que estava agora trabalhando, determinado em trazer a cobiçada
viola. Chegando à fazenda, Amenades, verificando o estado deprimente dela, que
tinha apenas uma corda, pediu ao compadre para deixá-lo levar a viola para
Jequié, assumindo o compromisso com ele de arrumá-la.O compadre prontamente
aceitou o acordo. Amenades no mesmo ano aprendeu a tocar viola e formou com
Ugolino a dupla J. Freire/Ponteado, nome escolhido por Averaldo. A dupla cantou
em circos, na igreja Católica Nossa Senhora da Conceição e na Rádio Baiana nos
programas de João Mendes e de Averaldo, sempre acompanhado pelo sanfoneiro
Luiz, que atualmente mora em São Paulo – SP.
No ano de 2005 Amenades começou a cantar com
seu irmão Valdenor José Freire filho, formando a dupla Valdenor / Amenades, que
continua cantando até hoje.
Como se diz
popularmente que os últimos serão os primeiro, deixei para falar por último de Benedito
Timóteo, carinhosamente chamado pelos amigos de Bené do Requeijão, considerado
por muitos como o maior incentivador dos violeiros de Jequié. Bené iniciou
cantado violão na cidade de Santa Cruz do Rio Preto – SP, influenciado pelo seu
pai Alberto Timóteo que tocava viola. Em 1962,chegando a Jequié, Bené conheceu
Cori e formou dupla sertaneja chamada Bem-te-vi/Peito Roxo. Cantaram na Rádio
Baiana nos programas de Roque Oliveira “Alvorada Sertaneja” e no de Averaldo
“Assim Canta o Sertão”, na Rádio Clube de Vitória da Conquista – BA,em Itajurú
– Distrito de Jequié – BA, na Rádio Povo no programa”Bom Dia Sertão”,
apresentado por Marcos Pedro e na Cidade Sol 94.9 FM no programa “Paradão
Sertanejo”, apresentado por Almir Araújo (Velho Marujo).No ano de 1999 com a morte de Cori, formaram a dupla Bené/Galeno (Benedito
e Nivaldo) e cantaram nos programas da Rádio Povo e da Cidade Sol 94.9 FM. A
dupla terminou no ano de 2014.
* Texto Publicado na Revista Cotoxó de dezembro de 2015.
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