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Carlos Eden Meira
Cada país tem suas leis, conforme suas culturas. Algumas, incrivelmente retrógradas, outras, plenamente avançadas. Assim, o que é legal num país pode ser ilegal em outro. Vivemos num país cujas leis buscam se adaptar ao desenvolvimento político e cultural das civilizações ocidentais, que dizem estar de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. No entanto, muitas de nossas leis não encontram bases estruturais consistentes para serem devidamente aplicadas. O abismo social que ainda existe entre nossas classes sociais faz com que a justiça funcione de forma diferenciada para pobres e para ricos. Policiais mal remunerados acabam morando nos mesmos bairros pobres onde moram os bandidos, e muitos deles podem até ter sido amigos na infância, em épocas menos violentas. As opções na escolha do modo de ganhar a vida entre eles no futuro os colocam em lados diferentes nesse “campo de batalha”.  Jovens policiais arriscam diariamente suas vidas, para proteger uma sociedade que não lhes dá o devido valor.  É claro, que alguns policiais estressados e despreparados psicologicamente tendem a cometer graves erros.
Já pensou estar diariamente numa batalha urbana, que em nada é diferente de estar numa Faixa de Gaza, Iraque ou Afeganistão, e ainda ser hostilizado pelos moradores porque numa troca de tiros atingiu alguém que seja lá por quais motivos, resolveu ser bandido na vida?  E creio que já não tem sentido o velho conceito ideológico de que existe por aí, o embrião de uma organizada luta de classes entre proletários e burgueses, já que jovens bandidos de classe média cometem bárbaros crimes durante assaltos, apenas para roubar objetos caros, satisfazendo seus desejos de ostentação e seus vícios. Estamos todos no mesmo barco: os marginais, os cidadãos de bem, ricos e pobres ou mesmo os policiais. E algo tem que ser feito já, para que este barco não afunde. Não podemos definir o bandido como se fosse apenas um marginal. Afinal, todos aqueles cidadãos que vivem à margem de uma sociedade elitista são obviamente marginalizados. Ou seja: nem todo marginal é bandido e nem todo bandido é marginal, pois, quem em sã consciência duvida da existência de crápulas de “alta classe” fazendo tráfico de influência e de “outras coisinhas mais”, vivendo uma vida glamorosa, cheia de charme, nas rodas da high society? Tudo caminha para o fim dos construtivos valores cívicos, graças aos deturpados e equivocados extremismos ideológicos polarizados.  No entanto, ainda resta a esperança de que nossos governantes, eleitos ou reeleitos, tenham a serenidade e o equilíbrio necessários para conter tais extremismos. As grandes convulsões sociais, epidemias e catástrofes estão chegando para nivelar forçosamente, todas as classes sociais do planeta Terra, sem nenhuma ideologia.
Profissionais que arriscam suas vidas e de suas famílias para dar segurança e proteger o patrimônio público ou privado, deveriam ganhar bem, ter uma vida digna, morar bem, ter acesso a bons hospitais, e não viver em áreas de risco, ganhando salários vergonhosos, sujeitando-se a subornos e propinas que os próprios maus “cidadãos” lhes impõem, e ainda hipocritamente os acusam de corruptos, como se não fossem eles os corruptores. Uma reforma política profunda, ou uma nova constituição poderiam mudar esta triste realidade. Mudar a forma de agir do Judiciário, do Legislativo e do Executivo, em todas as áreas administrativas: federal, estaduais e municipais, o que poderia conduzir o País a uma nova era, a caminho da verdadeira ordem e do progresso. Haja utopia!
*Carlos Eden Meira –  é  um jornalista jequieense, cartunista da melhor qualidade e articulista do site Bahia em Foco.