quarta-feira, 30 de julho de 2014

UM TÚNEL NO FIM DA LUZ

Carlos Eden Meira*

Lembro-me do “trem fantasma” de um parque de diversões de jovens tempos idos. Entre garotos e garotas, éramos uns oito “passageiros” naquele pequeno vagão aberto, percorrendo um túnel povoado de “assombrações” diversas. Algumas garotas gritavam realmente apavoradas com os fantasmas, lobisomens, morcegos gigantes e bruxas, que surgiam repentinamente dos cantos escuros do túnel, enquanto nós, meninos, estimulávamos o pânico e nos divertíamos fingindo também, ter medo. Claro que alguns dos meninos menores também estavam assombrados, e era com alivio que viam se aproximar a luz no fim do túnel, onde terminava aquela “viagem”.
Para mim, aquela viagem continua. Entretanto, as “assombrações” são outras e são reais. Muito mais assombrosas, pois, agem em plena luz do dia ou a qualquer hora, e povoam as instituições levando o horror da ignorância, do fanatismo intolerante, da mentira e da hipocrisia, acompanhadas de crimes violentos e corrupção, que ferem mortalmente a dignidade humana.  Diferentemente daquelas crianças que se sentiam aliviadas ao ver a luz no fim do túnel, sinto-me ansioso e apreensivo, pois, um novo “trem fantasma” parece estar fazendo o caminho inverso, saindo da luz em direção a um escuro túnel.
Vivemos uma era de incertezas, onde o egoísmo e a sede de poder superam os valores humanitários, onde a violência urbana e as guerras que ameaçam a paz mundial parecem totalmente fora de controle. A ciência moderna se preocupa muito mais em criar produtos que dêem lucro, pouco importa o mal que possam causar ao ser humano e ao meio ambiente. Pouquíssimos são os recursos investidos na luta contra doenças e calamidades que assolam o planeta. O velho antagonismo ideológico da chamada “guerra fria”, que só serviu aos interesses das potências dos blocos ocidental e oriental, fomentando ditaduras de direita e de esquerda nos pobres países sob seus controles, parece mais ativo do que nunca, usando agora, os novos recursos tecnológicos de uma mídia de amplitude global, que mais confunde do que esclarece.
Sinto falta daquele velho parque de diversões e seu “trem fantasma”, onde as “ameaças” eram apenas vampiros, lobisomens, fantasmas e bruxas. Meras divertidas ilusões, “assombrações” que desapareciam quando surgia a luz no fim do túnel.

*Carlos Eden Meira – aposentado metido a jornalista e cartunista de araque.

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