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Carlos Eden Meira* |
Lembro-me
do “trem fantasma” de um parque de diversões de jovens tempos idos. Entre
garotos e garotas, éramos uns oito “passageiros” naquele pequeno vagão aberto,
percorrendo um túnel povoado de “assombrações” diversas. Algumas garotas gritavam
realmente apavoradas com os fantasmas, lobisomens, morcegos gigantes e bruxas,
que surgiam repentinamente dos cantos escuros do túnel, enquanto nós, meninos,
estimulávamos o pânico e nos divertíamos fingindo também, ter medo. Claro que
alguns dos meninos menores também estavam assombrados, e era com alivio que
viam se aproximar a luz no fim do túnel, onde terminava aquela “viagem”.
Para
mim, aquela viagem continua. Entretanto, as “assombrações” são outras e são
reais. Muito mais assombrosas, pois, agem em plena luz do dia ou a qualquer
hora, e povoam as instituições levando o horror da ignorância, do fanatismo intolerante,
da mentira e da hipocrisia, acompanhadas de crimes violentos e corrupção, que
ferem mortalmente a dignidade humana. Diferentemente
daquelas crianças que se sentiam aliviadas ao ver a luz no fim do túnel,
sinto-me ansioso e apreensivo, pois, um novo “trem fantasma” parece estar
fazendo o caminho inverso, saindo da luz em direção a um escuro túnel.
Vivemos
uma era de incertezas, onde o egoísmo e a sede de poder superam os valores
humanitários, onde a violência urbana e as guerras que ameaçam a paz mundial
parecem totalmente fora de controle. A ciência moderna se preocupa muito mais
em criar produtos que dêem lucro, pouco importa o mal que possam causar ao ser
humano e ao meio ambiente. Pouquíssimos são os recursos investidos na luta
contra doenças e calamidades que assolam o planeta. O velho antagonismo
ideológico da chamada “guerra fria”, que só serviu aos interesses das potências
dos blocos ocidental e oriental, fomentando ditaduras de direita e de esquerda
nos pobres países sob seus controles, parece mais ativo do que nunca, usando
agora, os novos recursos tecnológicos de uma mídia de amplitude global, que
mais confunde do que esclarece.
Sinto
falta daquele velho parque de diversões e seu “trem fantasma”, onde as
“ameaças” eram apenas vampiros, lobisomens, fantasmas e bruxas. Meras
divertidas ilusões, “assombrações” que desapareciam quando surgia a luz no fim
do túnel.
*Carlos Eden Meira – aposentado
metido a jornalista e cartunista de araque.
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