Por Carlos Éden Meira
Tia Vinda, minha tia-avó, era irmã de Tia Ida,
as quais moravam numa localidade daqui da região, conhecida como “A Volta”.
Pode até parecer piada, mas, não é. Tia Ida e Tia Vinda moravam na “Volta”, e
essa coincidência era assunto muito comentado pelos parentes e amigos que se
divertiam com o fato.
Pois bem, Tia Vinda deixou a “Volta” e
veio morar sozinha em Jequié, numa casa pertinho da nossa. De vez em quando,
alguns sobrinhos e sobrinhas passavam algum tempo com ela, mas, boa parte do
tempo ela morou sozinha, pois, permaneceu solteira a vida toda. Era pessoa muito amada por todos da família,
pela sua personalidade franca, sincera e de caráter forte. Católica praticante,
não perdia uma missa e simpatizava com os movimentos progressistas da igreja,
apesar de não gostar de certos “modernismos”.
Numa bela manhã de domingo, ela ligou
o liquidificador para fazer o seu suco de laranja. Silêncio total! Nada do
ruído característico do motor do aparelho em funcionamento. – Sem energia! –
Deduziu, ligando o interruptor de luz da cozinha, cuja lâmpada permaneceu
apagada, comprovando a falta de eletricidade. Fez o suco num espremedor manual,
bebeu e foi descansar.
Era quase meio-dia quando Tia Vinda
apareceu lá em casa, visivelmente aborrecida com alguma coisa. Questionada a
respeito, passou ela a explicar que iria passar o resto do dia lá em casa,
porque já não suportava mais o barulho ensurdecedor de uma furadeira elétrica
ou coisa parecida que funcionava ininterruptamente na casa vizinha à sua, a
manhã todinha, e, até àquela hora, ainda não tinha parado. Compreendendo seu
aborrecimento, dissemos a ela para ficar conosco o tempo que quisesse, até
mesmo porque o tal vizinho, talvez não terminasse o ruidoso serviço tão cedo.
Que absurdo era aquele? Em pleno domingo, dia de descansar e deixar os outros sossegados,
alguém liga um aparelho barulhento daquele, durante uma manhã inteira! Pobre
Tia Vinda!
À tardinha ela resolveu que já era
hora de voltar para casa, porque àquela altura o tal barulho já deveria ter
cessado. Ledo engano! O ruído continuava incessante, do mesmo jeito. Já estava
decidida a ir à casa do vizinho reclamar daquele incômodo, quando bateram na
porta da rua. Era um dos seus sobrinhos que chegara para passar uns dias com
ela. Logo ao chegar, o rapaz percebeu o ruído, e perguntou:
-
Tia,
que barulho danado é esse?
-
É
o vizinho aí do lado – disse ela – acho que tá furando a parede. Já tô pra
endoidar com esse barulho o dia todo sem parar. Acho que vou lá reclamar!
-
Peraí,
tia – interrompeu o rapaz – esse barulho tá vindo lá da cozinha!
-
Ué!
Da cozinha? Né não!
- É, tia! Vamos lá ver. – Na cozinha, o pobre coitado do
liquidificador agora quente e fumegante, e que Tia Vinda havia ligado de manhã
para fazer suco percebendo que não havia energia, ficara ligado. Quando a
energia retornou mais tarde, disparou a funcionar por um bom tempo, cumprindo o
seu dever de liquidificador. Tia Vinda era também, muito distraída.
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