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Francisco de Souza Rebouças (Chico Rebouças) |
Charles Meira
Quando da entrega do exemplar da Revista Cotoxó do mês de novembro de 2013 a minha amiga Dalva Rebouças, entrei na sua residência para pegar o pagamento de uma nova assinatura feita por ela naquela semana. Na sala, ainda em pé, avistei na parede dois quadros pendurados em molduras redondas contendo retratos antigos de um homem e de uma mulher. Imediatamente perguntei quem eram aquelas pessoas. Respondeu sorridente que eram os seus pais. Por instantes deixei de lado o assunto a ser tratado, e comecei a fazer perguntas relacionadas com a vida de seus genitores. Depois de ouvir da amiga um resumo da história do casal, destacando principalmente a figura do seu pai Chico Rebouças, tema enriquecedor para a história de Jequié, concordamos então em desenvolver uma matéria sobre a vida dele para a revista Cotoxó.
Quando da entrega do exemplar da Revista Cotoxó do mês de novembro de 2013 a minha amiga Dalva Rebouças, entrei na sua residência para pegar o pagamento de uma nova assinatura feita por ela naquela semana. Na sala, ainda em pé, avistei na parede dois quadros pendurados em molduras redondas contendo retratos antigos de um homem e de uma mulher. Imediatamente perguntei quem eram aquelas pessoas. Respondeu sorridente que eram os seus pais. Por instantes deixei de lado o assunto a ser tratado, e comecei a fazer perguntas relacionadas com a vida de seus genitores. Depois de ouvir da amiga um resumo da história do casal, destacando principalmente a figura do seu pai Chico Rebouças, tema enriquecedor para a história de Jequié, concordamos então em desenvolver uma matéria sobre a vida dele para a revista Cotoxó.
Francisco de Souza Rebouças (Chico Rebouças), filho
de Auto Edézio Rebouças e Maria Olívia Rebouças, nasceu em Areia – BA, hoje
Ubaíra – BA, em 13/07/1905, de onde, ainda criança, depois
da morte de seus pais, mudou para Itiruçu – BA, na fazenda de
seus tios Elpídio Silva e Hilda Rebouças, a qual é situada na região
do Peixe. Na adolescência, além dos estudos, ajudava seu tio, grande
pecuarista da região, no trato dos animais. Naquela época os pais
costumavam criar os filhos e parentes de maneira muito rígida, chegando ao
extremo de maltratá-los, prática que aconteceu com o jovem Chico Rebouças, o
que contribuiu na sua decisão de fugir da fazenda dos seus tios aos doze anos
de idade. Foi morar na cidade de Itiruçu – BA, em busca de sua
independência, onde trabalhou no comércio. Depois de uma experiência ali,
Rebouças montou o seu próprio negócio, inclusive com vendas na cidade de
Maracás - BA e região. Com vinte e seis anos de idade casou-se com Ana Angélica
de Souza Rebouças (Donana) em 05/12/1931, com quem teve cinco filhos.
O negócio prosperou e Chico Rebouças expandiu o seu comércio para a região de
Jequié - BA, comandando tropeiros que transportavam diversas mercadorias no
lombo de animais, para negociar na Praça da feira, hoje Praça da Bandeira. Na
década de trinta, mudou-se para Jequié, para oferecer um estudo melhor aos
cinco filhos e posteriormente mais dois que nasceram em Jequié - BA e
fixar definitivamente os negócios, uma realidade no comércio da cidade.
Chico Rebouças, um homem trabalhador,
íntegro, direito, temperamental, amigo, comunicativo, formador de opiniões e
envolvia-se em política e fazia campanha para candidatos, como fez para
Juracy Magalhães, quando candidato ao governo do estado da Bahia, o
que foi confirmado por todas as pessoas que dele tive oportunidade de
indagar.
Na
década de quarenta, contrariando a vontade de seus familiares, Chico Rebouças
adquiriu um imóvel na Rua do Maracujá e lá estabeleceu um bar que funcionava
dia e noite. O Bar e Boate Maracujá era o maior comércio do local. Na frente
ficava o bar e um espaço para dança. Nos fundos estavam os vinte quartos, que
eram alugados por um valor fixo mensal a mulheres que na maioria moravam no
local, abandonadas que eram pelos familiares, e ali se prostituíam
para sobreviver. Entre elas estava Isabel Pires Araújo, por quem Chico Rebouças
se apaixonou, tomou-a como amante e tiveram três filhos. O casal convivia no
estabelecimento de modo conturbado pelo ciúme de ambos, fato que, anos
depois, causou a separação e a mudança de Isabel para outro logradouro. Chico
Rebouças, mesmo convivendo com a amante, nunca abandonou sua esposa e
filhos, sempre dando a família atenção moral e financeira.
Na
boate havia uma radiola que funcionava dando corda com uma maçaneta e usava LP
78 rotações para reproduzir o som. Em algumas oportunidades havia shows
ao vivo, com apresentações de cantores, violonistas, saxofonistas, bandolinistas, acordeonistas,
flautistas como o próprio Chico, artistas de Jequié, da região e até de outras
cidades. O Bar do Maracujá era frequentado pela alta sociedade de Jequié e
região.
Chico
Rebouças era de altura mediana, moreno claro, cabelos lisos, fisicamente
forte. Fino dançarino, tocava flauta, cantava, era um amante da música. As
músicas prediletas dele eram: Fascinação, e O Ébrio, de Vicente Celestino.
Gostava de futebol e jogava, o que o induziu a
batizar o primogênito com a amante Isabel com o nome de Ademir, em homenagem a
Ademir da Guia, jogador do Palmeiras, time de que era torcedor.
Do
comércio da Rua do Maracujá, Chico Rebouças economizou uma quantia razoável, da
qual retirou aproximadamente cento e cinquenta contos de réis para
investir em ouro e brilhantes, que seriam comprados pelo seu amigo Erotides
Soares em Minas Gerais, o qual infelizmente faleceu antes da
efetivação do negócio. Não possuindo documento que comprovasse o adiantamento,
Chico Rebouças perdoou da família do amigo a dívida, ficando no prejuízo,
episodio que contribuiu para fragilizar as suas finanças. Na década de
cinquenta resolveu acabar o negócio, devido ao crescimento da violência
na localidade, onde inclusive, em certa ocasião, sofreu um
atentado devido a uma confusão no bar, mas foi salvo pelo então
gerente do bar o Sr. Aurélio, que, heroicamente, se pôs à sua
frente e foi alvejado, entretanto não morreu. Esse fato levou Chico Rebouças a
andar sempre armado com uma pistola Ludger alemã.
Dando
uma pausa no assunto principal da matéria, cito alguns fatos interessantes
relacionados à Rua do Maracujá e mencionados pelo seu filho Ademir
Pires de Souza Rebouças, que nasceu no Brega pelas mãos de parteiras. O
carnaval da Rua do Maracujá concorria com o da alta sociedade de Jequié. Na rua
funcionavam várias casas de tolerância e por isso não
trafegavam por ali, crianças, jovens e senhoras da sociedade, mesmo porque
as raparigas sentavam nas soleiras para se refrescarem do calor
escaldante. Dos homens que frequentavam essas casas, muitos eram da alta
sociedade e de famílias tradicionais da cidade, como o Roberto Biondi
(Bolinha). Os maiores frequentadores do maracujá eram o Branquinho, um
verdadeiro gangster, assassinado na localidade e Pedro Sabú, amante de Zu
Preta, um negociante de drogas. Próximo da Rua do Maracujá tinha
o Beco da Erva-Doce, onde tinha um bar que tinha o mesmo nome, do qual era dono
o Sr. Ananias, junto uma casa de mulheres.
Outro
detalhe importante que tive oportunidade de contemplar foi à existência de uma
casa que foi construída na época da antiga Rua do Maracujá. Segundo
o seu atual proprietário o Sr. Enoch Eduardo Souza, o imóvel ainda conserva a
mesma fachada, paredes e o telhado, salientou, também, que, segundo
informações de pessoas que conhecem a história do local, já se passaram mais ou
menos cento e dez anos da sua edificação.
Prossigo com o tema central da matéria,
relatando que, depois de acabar com o negócio na Rua do Maracujá,
Chico Rebouças comprou um caminhão para transportar mercadorias e gado em
Jequié e região. Cansado de viajar, voltou a comercializar na Praça da Bandeira
num imóvel onde funcionou a loja Cinara Calçados, porém, devido
à perseguição de uma prostituta do Maracujá que tinha caso com um juiz da
cidade, Chico se viu obrigado a fechar a mercearia. Depois de avisado da ordem
de despejo, tratou de retirar toda a mercadoria na calada da noite,
quebrou todas as prateleiras e sujou o recinto com urina e merda, cenário que o
oficial encontrou quando do momento da realização do despejo. Depois disso
Rebouças foi morar em Salvador – BA, onde trabalhou como encarregado de
obras no Ed. Themis na Praça da Sé e na construção do estádio da antiga Fonte
Nova.
Em fevereiro de 1959, Dalva Rebouças, com seis
anos, foi de avião para Salvador, a convite de seu primo Milton, funcionário
da VARIG no Rio de Janeiro - RJ, que ia visitar seu tio Chico. Esse foi o
período em que Dalva Rebouças mais se relacionou com o pai, que a
levou para passear de bonde, conhecer os pontos turísticos, a Praia de
Amaralina e o carnaval da Rua Chile, ela toda enfeitada por ele, de
havaiana e óculos de plástico.
Chico
Rebouças morreu e foi enterrado na cidade de Salvador – BA em 15/05/1959.
* Texto publicado na Revista Cotoxó de março de 2014.
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