Por:
Valdeck Almeida de Jesus
O romance Anésia Cauaçu, de Domingos
Ailton, que tem ganhado leitores em diversas partes da Bahia, do Brasil e do
mundo e já foi adquirido para importantes acervos como a Biblioteca do
Congresso dos Estados Unidos, está possibilitando o aparecimento e o contato de
descendentes do famoso grupo de cangaceiros os Cauaçus, além de servir de base
para o videodocumentário sobre essa família que antecedeu o bando de Lampião no
cangaço.
Mecias Cauaçu, que vive em Imperatriz no Maranhão,
procura desde a adolescência informações sobre a família Cauaçu. Pesquisando no
Google da internet chegou até o contato com o escritor Domingos Ailton por
conta do romance Anésia Cauaçu. O romancista tem sido o elo de Mecias Cauaçu
com outros membros da família que não se conhecem e estãoespalhados por
diversas partes do Brasil.
Quando lançou o romance Anésia Cauaçu em 2012 na
Biblioteca Pública dos Barris em Salvador, Domingos Ailton conheceu Gileno
Rosa, que é neto de Laurentino Cauaçu, irmão de Anésia Cauaçu. O pai de Gileno
foi deixado ainda criança pelo seu avô para ser criado por uma família da zona
rural de Itabuna no período da perseguição aos Cauaçus.
Recentemente Domingos Ailton recebeu um email de Nei
Gomes, do Rio de Janeiro, procurando informações sobre os Cauçaus. Nei afirma
que é descendente de Olímpio Cauaçu, que era também irmão de Anésia. Domingos
Ailton passou os contatos tanto de Gileno Rosa quanto de Nei Gomes para Mecias Cauaçu
que, por sua vez, tem encaminhado contatos para o escritor, de parentes seus,
que guardam a memória da família como suas tias Maria, que mora em São Paulo, e
Edith, que reside em Curitiba, no Paraná.
No último dia 22 de março Mecias Cauaçu voltou exclusivamente à sua região, na
Bahia, para conceder entrevista ao escritor e jornalista Domingos Ailton, que
desta feita está produzindo um documentário sobre a família Cauaçu. Roterista
de filmes como Rio das Contas:
potencialidade e poluição, O
Candomblé na Cidade de Jequié e Memória
e Ambiente Natural de Contendas do Sincorá, que têm sido utilizados como
suporte didáticodo ensino fundamental ao superior, Domingos Ailton pretende,
com este novo documentário, mostrar a trajetória dos Cauaçus, que estão
presentes na história da Bahia desde o período dos Bandeirantes. Os Cauaçus
entraram no cangaço por conta do assassinato de Augusto, um dos membros da
família, e antecederam Virgulino Ferreira da Silva no cangaço, chegando a
contar com mais de 100 cangaceiros no bando, contingente maior que o grupo de
Lampião. Os Cauçaus ganharam até registro no consagrado Dicionário Aurélio e praticaramatos pioneiros. Anésia foi a
primeira mulher a ingressar no cangaço, antecedendo mulheres como Maria Bonita,
Dadá e Lídia e pioneira também em usar calças compridas no sertão de Jequié, em
uma época em que as mulheres só usavam saias e vestidos, e a praticar montaria
de frente, no período em que o sexo feminino montava de lado em sela denominada
silhão
Domingos Ailton entrevistou em Poções, sudoeste baiano, Jeronita,
neta de Alcina,que era irmã de Anésia Cauaçu e casada com irmão do marido da
cangaceira, Afonso. Jeronita contou que sua tia-avó Anésia atirava tão bem que
tirava um cigarro da boca de uma pessoa sem atingir o fumante.
Caminho dos Cauaçus
Com registro de imagensdo cinegrafista Carlos Guimarães e
acompanhados de Mecias e Homero Cauaçu, Domingos Ailton foi atéFazenda
Fedegoso, que fica entre os municípios de Manoel Vitorino e Mirante, local onde
moraram os Cauaçus. No percurso o documentarista encontrou preciosidades da
história, como um casarão que ficana Fazenda Paraíso eguarda camas de couro da
época colonial da civilização do couro; uma roda de fiar linha de algodão e uma
senzala, que fica embaixo da casa grande (uma espécie de porão) onde dormiamacorrentados
os escravos. Domingos Ailton entrevistou os Cauaçus Mecias e Homero em um banco
histórico que restou do incêndio provocado pelas forças policiais. No banco de
madeira sentou o alferes Pisa Macio enquanto observavaqueimando as casas dos
Cauaçus. Um tição voou da casa e caiu sobre o banco. Pisa Macio saiu correndo e
o assento ainda guarda uma parte queimada do tição. O fato ocorreu em 1916, há
98 anos.
Diante de tantos objetos e cenários
históricos representativos, Domingos Ailton pretende que o videodocumentário
possa contribuir para originar outro projeto que ele denomina Caminho dos Cauaçus. Os locais onde os Cauaçus
percorreram passariam a ser destinos do turismo rural e do turismo de base
comunitária. Turistas poderão percorrer a pé ouem cavalgadas, como faziam o
bando dos Cauaçus ou, se preferir,irão passar pelos locais históricodecarro ou
bicicleta. A comunidade local seria treinada a receber e prestar informações
aos turistas, podendo gerar emprego e renda com a culinária e a condução dos
visitantes. Para a concretização do projeto, o escritor Domingos Ailton espera
contar com a parceria de instituições como a Uesb, o Sebrae, a Secretaria
Estadual de Turismo e o Ministério do Turismo.
O videodocumentário é uma antiga ideia de Domngos
Ailton, uma vez que entre 1995 e 1997, quando ele era ainda estudante da Universidade
Estadual do Sudoeste da Baha - UESB teve oportunidade de registrar importantes
relatos sobre os Cauaçus através do Projeto Memória Popular de Jequié. As
antigas entrevistas serão agrupadas aos novos depoimentos, que contam
informações e cenários preciosos dos descendentes dos Cauçaus.
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