terça-feira, 15 de abril de 2014

Encontro com a história Romance possibilita aparecimento dos descendentes dos cangaceiros Cauaçus e inspira videodocumentário



Por: Valdeck Almeida de Jesus

            O romance Anésia Cauaçu, de Domingos Ailton, que tem ganhado leitores em diversas partes da Bahia, do Brasil e do mundo e já foi adquirido para importantes acervos como a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, está possibilitando o aparecimento e o contato de descendentes do famoso grupo de cangaceiros os Cauaçus, além de servir de base para o videodocumentário sobre essa família que antecedeu o bando de Lampião no cangaço.
            Mecias Cauaçu, que vive em Imperatriz no Maranhão, procura desde a adolescência informações sobre a família Cauaçu. Pesquisando no Google da internet chegou até o contato com o escritor Domingos Ailton por conta do romance Anésia Cauaçu. O romancista tem sido o elo de Mecias Cauaçu com outros membros da família que não se conhecem e estãoespalhados por diversas partes do Brasil.
            Quando lançou o romance Anésia Cauaçu em 2012 na Biblioteca Pública dos Barris em Salvador, Domingos Ailton conheceu Gileno Rosa, que é neto de Laurentino Cauaçu, irmão de Anésia Cauaçu. O pai de Gileno foi deixado ainda criança pelo seu avô para ser criado por uma família da zona rural de Itabuna no período da perseguição aos Cauaçus.
            Recentemente Domingos Ailton recebeu um email de Nei Gomes, do Rio de Janeiro, procurando informações sobre os Cauçaus. Nei afirma que é descendente de Olímpio Cauaçu, que era também irmão de Anésia. Domingos Ailton passou os contatos tanto de Gileno Rosa quanto de Nei Gomes para Mecias Cauaçu que, por sua vez, tem encaminhado contatos para o escritor, de parentes seus, que guardam a memória da família como suas tias Maria, que mora em São Paulo, e Edith, que reside em Curitiba, no Paraná.
            No último dia 22 de março Mecias Cauaçu voltou exclusivamente à sua região, na Bahia, para conceder entrevista ao escritor e jornalista Domingos Ailton, que desta feita está produzindo um documentário sobre a família Cauaçu. Roterista de filmes como Rio das Contas: potencialidade e poluição, O Candomblé na Cidade de Jequié e Memória e Ambiente Natural de Contendas do Sincorá, que têm sido utilizados como suporte didáticodo ensino fundamental ao superior, Domingos Ailton pretende, com este novo documentário, mostrar a trajetória dos Cauaçus, que estão presentes na história da Bahia desde o período dos Bandeirantes. Os Cauaçus entraram no cangaço por conta do assassinato de Augusto, um dos membros da família, e antecederam Virgulino Ferreira da Silva no cangaço, chegando a contar com mais de 100 cangaceiros no bando, contingente maior que o grupo de Lampião. Os Cauçaus ganharam até registro no consagrado Dicionário Aurélio e praticaramatos pioneiros. Anésia foi a primeira mulher a ingressar no cangaço, antecedendo mulheres como Maria Bonita, Dadá e Lídia e pioneira também em usar calças compridas no sertão de Jequié, em uma época em que as mulheres só usavam saias e vestidos, e a praticar montaria de frente, no período em que o sexo feminino montava de lado em sela denominada silhão
            Domingos Ailton entrevistou em Poções, sudoeste baiano, Jeronita, neta de Alcina,que era irmã de Anésia Cauaçu e casada com irmão do marido da cangaceira, Afonso. Jeronita contou que sua tia-avó Anésia atirava tão bem que tirava um cigarro da boca de uma pessoa sem atingir o fumante.
Caminho dos Cauaçus
            Com registro de imagensdo cinegrafista Carlos Guimarães e acompanhados de Mecias e Homero Cauaçu, Domingos Ailton foi atéFazenda Fedegoso, que fica entre os municípios de Manoel Vitorino e Mirante, local onde moraram os Cauaçus. No percurso o documentarista encontrou preciosidades da história, como um casarão que ficana Fazenda Paraíso eguarda camas de couro da época colonial da civilização do couro; uma roda de fiar linha de algodão e uma senzala, que fica embaixo da casa grande (uma espécie de porão) onde dormiamacorrentados os escravos. Domingos Ailton entrevistou os Cauaçus Mecias e Homero em um banco histórico que restou do incêndio provocado pelas forças policiais. No banco de madeira sentou o alferes Pisa Macio enquanto observavaqueimando as casas dos Cauaçus. Um tição voou da casa e caiu sobre o banco. Pisa Macio saiu correndo e o assento ainda guarda uma parte queimada do tição. O fato ocorreu em 1916, há 98 anos.
            Diante de tantos objetos e cenários históricos representativos, Domingos Ailton pretende que o videodocumentário possa contribuir para originar outro projeto que ele denomina Caminho dos Cauaçus. Os locais onde os Cauaçus percorreram passariam a ser destinos do turismo rural e do turismo de base comunitária. Turistas poderão percorrer a pé ouem cavalgadas, como faziam o bando dos Cauaçus ou, se preferir,irão passar pelos locais históricodecarro ou bicicleta. A comunidade local seria treinada a receber e prestar informações aos turistas, podendo gerar emprego e renda com a culinária e a condução dos visitantes. Para a concretização do projeto, o escritor Domingos Ailton espera contar com a parceria de instituições como a Uesb, o Sebrae, a Secretaria Estadual de Turismo e o Ministério do Turismo.

            O videodocumentário é uma antiga ideia de Domngos Ailton, uma vez que entre 1995 e 1997, quando ele era ainda estudante da Universidade Estadual do Sudoeste da Baha - UESB teve oportunidade de registrar importantes relatos sobre os Cauaçus através do Projeto Memória Popular de Jequié. As antigas entrevistas serão agrupadas aos novos depoimentos, que contam informações e cenários preciosos dos descendentes dos Cauçaus.

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