terça-feira, 1 de outubro de 2013

PRÓSTATA: LEIA COM ATENÇÃO


Recentemente a Sociedade Americana de Urologia (AUA) divulgou novas recomendações quanto ao rastreamento do câncer da próstata nos Estados Unidos. Sugerem que o exame da próstata seja feito apenas em homens entre 55 e 69 anos de idade que aceitem fazer. Argumentam que após mais de 20 anos de rastreamento, o exame da próstata não está mais diminuindo a mortalidade por essa doença naquele pais. A Sociedade Brasileira de Urologia preocupada com a repercussão na mídia que ocorrerá aqui no Brasil vem trazer esclarecimento e seu posicionamento. 
Alguns pontos precisam ser explicados. No Brasil, com raras exceções, nunca se fez o rastreamento ativo populacional do câncer da próstata como ocorre com o câncer de mama e de colo do útero. O que se faz são exames ocasionais naqueles homens que procuram espontaneamente os serviços médicos. Em 2011 o SUS pagou cerca de 17 milhões de consultas ginecológicas e apenas 2,6 milhões de consultas urológicas. A população masculina entre 45 e 75 anos, apta a fazer o rastreamento, é de cerca de 21 milhões de homens e, em 2011, o SUS pagou cerca de 3,9 milhões de PSA (exame de sangue do câncer da próstata), menos de 20% dos homens fizeram o exame. Portanto, não podemos dizer que existe rastreamento no Brasil.
O câncer da próstata costuma ser mais agressivo e ocorrer em idade mais baixa em negros que, de modo diferente da população norte-americana, são maioria aqui no Brasil (IBGE 2010: 97 milhões). Felizmente vivemos num país miscigenado onde, segundo Darcy Ribeiro ocorre um “patrimônio genético multirracial comum” e fica praticamente impossível a separação racional. 
A incidência de câncer da próstata nos EUA é alta (83,2 a 173,7 casos/100.000), assim como no Brasil (45,3 a 83,1 casos/100.000) mas a mortalidade lá é baixa (7,5 a 11,5 casos/100.000) diferentemente da mortalidade aqui no Brasil (15,3 a 22 casos/100.000). Eles reduziram a mortalidade após 20 anos de diagnósticos precoces e altas taxas de cura decorrentes de companhas de rastreamento populacional. 
Na Suécia e Dinamarca, que apresentam as mesmas taxas brasileiras, o rastreamento mostrou diminuição na mortalidade. Cerca de 80 a 85% dos homens que descobrem o câncer da próstata nos exames de rotina após os 45 anos ficam curados e não precisam de tratamentos adicionais que tanto oneram o SUS.
Uma comparação da efetividade do PSA e toque retal com a mamografia em termos de detecção de câncer, revela que homens com mais de 50 anos com PSA anormal tem duas vezes mais chance de ter câncer que uma mulher com mais de 50 anos com uma mamografia anormal. Detalhe: o PSA é muito mais barato e fácil de realizar. O risco que um homem ocidental tem de desenvolver câncer da próstata na vida é muito alto (40%). Se esperarmos por sintomas, que ocorrem apenas em 10% ou na doença avançada, teremos de gastar uma fortuna em recurso públicos com medicamentos, quimioterápicos, radioterapia, internações decorrentes das complicações de um câncer avançado. Em 2012 somente com medicação hormonal para controlar casos avançados de câncer da próstata o SUS gastou algo em torno de 127 milhões. Isso sem contar que o tratamento do câncer avançado é feito somente nos centros de alta complexidade, exigindo por vezes longas viagens dos pacientes até esses centros nas grandes cidades, por sua própria conta e custo.
Além disso, é preciso levar em consideração que não temos no Brasil nenhuma política eficaz de saúde do homem e doenças frequentes como diabete, hipertensão e cardiopatia acabam não sendo diagnosticadas. Agora, uma vez preocupado com o câncer da próstata ele vai à consulta médica e acaba fazendo uma avaliação global da sua saúde, evitando as complicações dessas outras doenças.
Portanto, vivemos uma realidade diferente da norte-americana. Estamos atrasados em relação a taxa de detecção, tratamento precoce e redução da mortalidade e a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que se mantenha as mesmas recomendações para o exame da próstata, ou seja a partir dos 50 anos, com exceção dos casos com história familiar e em negros, que devem iniciar entre 40 e 45 anos. E se compromete a estar atenta para uma constante reavaliação baseada nos dados e características da população masculina brasileira
(Wilson Busato Jr- Presidente da Comissão de Ensino e Treinamento da SBU) (Elias Davila).

Nenhum comentário:

Postar um comentário