domingo, 7 de março de 2021

Tempestade.

                                                                     J. B. Pessoa.


Lá fora a chuva pungente!

Aqui dentro, gélidos ventos da insensatez.

O teu corpo, quente e macio,

Aquece o meu em volúpias mil!

Tu me amas como uma criança,

Que sorve guloseimas!

Eu te tenho como um lobo,

Que devora a sua presa!

Sou para ti alguém que se fica,

E nem fica, o que modifica!...

Tu és para mim, um sonho adorado.

Lá fora a chuva continua...

Penso em tudo e em ti também!

Que me importa os que sofrem,

Se tu és o prazer que me faz penar?!

Partirás pela manhã,

Fria, como a chuva da noite!

O teu ardor é forma aparente

Da tua alma fútil e vazia!

Tu não amas, só te relacionas.

O amor é para ti coisas do passado!

De fantasias antiquadas e piegas

Exaltas a pós-modernidade,

E eu vivo na obscuridade,

Do eterno glamour das coisas passadas.

2006.

 

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