terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A grande batalha.

             J. B. Pessoa

Capítulo - 59 do livro " Guris e Gibis".

O sol brilhava com intensidade, naquela manhã de domingo, prometendo à garotada, uma recreação maravilhosa, nas plácidas águas do Rio das Contas. Sentados debaixo da grande mangueira, os garotos comentavam, alegremente, as novidades da semana e dos filmes que estavam em cartaz nas matinês dos dois cinemas. Como era final de setembro, o assunto da conversa descambou para as festividades do fim do ano e a animação dos meninos ficou mais intensa com a proximidade das férias escolares.

Os garotos decidiram ir ao rio, para tomar banho e quando estavam todos se preparando para a longa caminhada, apareceu Eduardo, na companhia de dois garotos de seu time, que moravam nas proximidades do Morro de Cruzeiro. Eram Tião Pente Fino e Zeca Maracanã, antigos colegas de Edgar nas Escolas Reunidas João Cordeiro. Eles estavam preocupados com um acontecimento especial e vieram pedir ajuda para os garotos da Siqueira Campos. Falavam os três ao mesmo tempo, numa grande aflição, que não dava para se entender nada. Johnny pediu para os meninos se acalmarem, e perguntou para Eduardo:

- Afinal de contas, o que foi que aconteceu?

Pente Fino respondeu antes de Eduardo:

- Os biribanos atacaram a gente e tomaram nosso clube!

- Ué!... O clube de vocês não tem homem? – Perguntou Edgar, indignado com a ousadia dos garotos de rua.

Eduardo estava morrendo de raiva, pelo o fato de um bando de moleques de rua terem afrontado a sua turma; e envergonhado em ter sido tripudiado por aqueles maloqueiros, procurou se desculpar de sua falta de ação, esclarecendo para os garotos:

- A turma do nosso time foi tomar banho na Provisão! Só ficaram comigo Tião e Zeca.

- Eles estão sendo comandados por Alcides Zoião e Bentivi. – Finalizou Zeca Maracanã.

Pé de Pata comentou no momento:

- Bem que eu estava admirado com essa novidade, pois os biribanos sozinhos, não teriam coragem para isso.

- Você está por fora! Os biribanos estão cada vez mais ousados. – Afirmou Nêgo, remoendo a sua raiva, pois foi surrado por eles, enquanto se banhava no poço Panela do Rio Jequié. Géo, que acompanhava o amigo naquela ocasião e foi, também, agredido por eles, bradou com indignação:

- O sacana do Alcides está pensando o quê?!... Só porque ele tem um pai rico, pensa que pode sacanear com todo mundo?

Pente Fino respondeu para Géo:

- Alcides não passa de um filho da puta!

- Claro, ele e Bentivi! – Concluiu Nêgo.

Edgar, que detestava os dois garotos completou:

- São dois sacanas irresponsáveis, que não respeitam nada!

- Então turma, vocês vão nos ajudar?

- Claro que sim! Vamos dar uma lição neles! - Respondeu Edgar, que acrescentou:

- Eles vão “ver com quantos paus se faz uma canoa”!

Johnny ficou analisando a situação e chegou à conclusão, que aqueles meninos de rua tinham muita segurança no que estavam fazendo. Eles eram espertos e sabiam que a turma do Cruzeiro eram amigos dos garotos do Joaquim Romão. Na certa previam uma reação e, com certeza, tinham esquematizado uma estratégia de defesa. Johnny tinha conhecimento que esses pequenos marginais eram brigões e suas próprias condições de vida os tornavam fortes e destemidos. Chamou Edgar a parte e expôs a sua cisma. O garoto meditou por alguns segundos e começou a traçar seu plano de ataque. Chamou Eduardo e perguntou:

- Você sabe quantos biribanos estão com Alcides?

- Não sei não!... Acho que são mais de dez!

- Nesse caso, vamos chamar Mipai e Tõe Porcino.

Os garotos desceram pelo Largo do Cururu e subiram a colina, que dava ao alto da Lagoa Dourada. No caminho encontraram o negrinho e seu primo Mamãe eu Quero. Explicaram a situação aos amigos, que se prontificaram em ajudá-los. Em seguida, toda a turma foi até a Rua Santa Luzia a procura de Mipai. Johnny ficou surpreso ao ver o amigo na companhia de Juvenal Peito de Aço, seu mais famoso rival, o qual pertencia turma da Caixa D’ Água e era amigo de Alcides e Bentivi. Mipai já tinha conhecimento da invasão por Juvenal, o qual se apressou em explicar o sucedido, aos garotos que estavam chegando:

- Foi Alcides Zoião com os caras do Bar Caixa D’Água quem atacou o clube!

Mipai alisou o seu queixo e ficou pensativo por alguns instantes. Depois virou para Juvenal e disse com seu sorriso cínico:

- A turma de vocês está cada vez mais ousada!

- E precisando tomar umas boas porradas! – Completou Toe Porcino.

Juvenal ficou assustado e, com medo da reação dos meninos, disse se defendendo de qualquer acusação:

- Eu não tenho nada a ver com isso, pois não me associo a ladrões! Foram Alcides, Bentivi e Balbino, que contrataram os biribanos para atacar o clube!

Edgar perguntou ao rapaz:

Quem são os caras que estão com eles?

- Tõe Pacote, João Bicho Feio, Cachorro Doido, Mané Gostoso e Galinha Choca. Ninguém da turma da gente! O resto eu não conheço.

Edgar virou-se para os garotos, perguntando:

- Então turma?...Vamos botar aqueles sacanas pra correr?

- Vamos! – Gritaram os meninos em conjunto.

Vendo todo aquele rebuliço, Juvenal ficou animado e perguntou a Edgar:

- Posso ir junto?

-Ué, você não era amigo deles? – Perguntou Nêgo, que detestava o rapazola.

- Era!... Mas agora ele está com a gente! – Corrigiu Edgar ao ver sinceridade no garoto.

Juvenal Peito de Aço estava um tanto sem jeito na companhia daqueles garotos, os quais eram hostilizados pela sua confraria. Era grande amigo de Alcides Zoião. Mas, quando ele percebeu o envolvimento de Alcides e Bentivi com os garotos de rua e sua participação em alguns roubos, resolveu se afastar deles, comunicando o fato a outros garotos de seu time. Desde o dia em que Zé Biribano e Chico Sarará foram presos e receberam surras de palmatórias da polícia, o garoto ficou com medo e se refugiou em sua casa, aparecendo pouco na praça. Johnny achava estranho aquele garoto na companhia dele. Eram grandes rivais nas peladas no areão do rio e, várias vezes, chegaram se atracar em lutas violentas. Porém, fora disso, eles nunca tiveram o menor desentendimento. Mipai, ao perceber certo constrangimento entre ele e os garotos, declarou:

- De hoje em diante Juvenal é nosso camarada. Ele veio nos avisar da pretensão dos biribanos e nos ofereceu ajuda.

- Assino em baixo das palavras de Mipai – Disse Edgar muito sério.

- Eu também! – Concordou Porcino, sabendo que os verdadeiros inimigos de todos os seus amigos, eram os meninos de rua, com os quais, ele e seu primo, tinham tido muitas encrencas.

Os garotos seguiram pela Rua Rio de Contas, que era uma ladeira que acabava no alto do Maringá. Eduardo alertou os amigos, dizendo que o inimigo deveria estar esperando por eles no final da rua, onde ele morava, a qual dava visão para frente do clube. Para não serem vistos, os garotos resolveram atacar pela retaguarda, indo pela rodovia e caminhar alguns metros até a base do morro e contorná-lo, seguindo por uma trilha, que terminava no fundo de uma cabana, que era o clube do time de Eduardo.

O famoso Morro do Cruzeiro ficava próximo ao centro e em sua base foi edificada a igreja matriz. Era a colina mais alta da cidade. Ganhou esse nome após a grande enchente de 1914, a qual destruiu a primeira igreja de Jequié. Ela tinha sido construída, com grandes sacrifícios e durante anos foi a única paróquia da cidade. A igreja ficava situada na Praça Luis Viana que, naquela época, era o principal centro comercial da cidade. Em frente dessa igreja ficava uma grande cruz de madeira, símbolo da fé cristã que, em épocas de grandes secas, os crentes saiam em procissão, cantando hinos católicos, para buscar água no rio e molhar o pé da cruz, num ritual de sacrifício, à espera do milagre das chuvas. Tempos depois de construída a atual igreja, matriz da cidade, os jequieenses, em um solene ato religioso, transferiram a grande cruz de madeira, para o local mais alto da cidade, na esperança de serem abençoados, sem mais nenhuma tragédia.

Chegando ao cimo da colina, os garotos ficaram escondidos no mato, que circundava o campo de futebol do time de Eduardo, observando todos os

movimentos da turma inimiga. Alcides sabia que os meninos não deixariam aquela afronta de graça. Por isso construiu um pequeno muro de pedras soltas em volta do clube, numa espécie de forte, para melhor se protegerem de um possível ataque. Em cima de uma pequena plataforma, construída pelos garotos, estava Balbino portando um longo bastão de madeira, usando como se fosse uma lança e uma espécie de escudo, feito com uma tampa de vaso de sanitário. Usava em sua cabeça um capacete romano, o qual tinha sido uma peça de fantasia carnavalesca e, nos ombros, amarrado ao pescoço, uma toalha de banho, imitando uma capa. O garoto se portava como se fosse a sentinela do forte e estava atento a todos os movimentos. Alcides era o general comandante e, assim era tratado pelos companheiros. Bentivi era o seu tenente e Balbino o seu sargento. Johnny achou ridículo toda àquela encenação, principalmente por haver entre os meninos de rua, garotos com mais de quinze anos. Percebia que tudo aquilo não passava de uma aventura fantasiosa. Ficou um pouco apreensivo com as conseqüências daquela falta de senso e infantilidade do ato. Contudo, ele não poderia deixar de participar, pois os seus amigos precisavam de sua ajuda e foram eles que sofreram a agressão, por parte de delinqüentes juvenis.

O clube do Cruzeiro era bem maior do que o da Siqueira Campos, que foi queimado. Era um pequeno depósito de cereais, que o pai de Eduardo emprestou aos meninos. Construído de adobão e coberto por telhas, foi consertado e pintado pelos garotos do Cruzeiro, os quais tinham orgulho do seu time. A maioria dos sócios era composta por crianças, vizinhos de Eduardo, que não tinham, ainda, compleições físicas para competir com garotos mais velhos. Razão pela qual, encorajou os moleques de rua a atacar o clube.

Chegando ao morro Edgar dividiu a turma em duas brigadas. A primeira comandada por Mipai, na qual faziam parte Johnny, Eduardo, Pente fino, Zeca Maracanã e Juvenal. A segunda comandada por Tõe Porcino, que tinha Mamãe eu Quero, Pé de Pata Viajeira, Géo e Nêgo em suas fileiras. Edgar preparou o ataque e deu ordens a Porcino ir à frente para dar um ultimato à turma invasora. Os garotos foram juntos e a certa distância do inimigo, Porcino gritou:

- Vocês têm apenas cinco minutos para dar o fora do nosso clube!

Nesse momento a turma ouviu a voz de Alcides, em tom de comando:

- Soldados preparar!... Fogo!

De repente uma saraivada de balas de estilingue surpreendeu os garotos, os quais, instintivamente, se jogaram ao chão, evitando ser atingidos pelos duríssimos projéteis. Nêgo foi atingido nas costas e Géo ganhou um balaço na parte esquerda da testa, sofrendo, com isso, um pequeno corte, o qual sangrou bastante. Pé de Pata correu em socorro do amigo, arrastando-o para dentro do mato, evitando aquelas bordoadas de balas de argila, cozida ao fogo. Os outros garotos fizeram o mesmo. Tõe Porcino examinou Géo para verificar a gravidade do ferimento e encontrou o garoto gemendo, com um grande calombo na testa. Géo dramatizou o momento e, fingindo grande sofrimento, disse ao amigo:

- Fui ferido em combate, companheiro!

Nesse mesmo instante, a garotada que estava atrás do muro de pedras, começou a escarnecer dos garotos, com insultos e vaias. Balbino subiu na plataforma e gritou bem alto:

- Cambada de otários!... Agora vocês tão sabendo, o que é bom para tosse!

Subitamente, após acabar de pronunciar a sua afronta, Balbino recebeu um balaço no meio da testa, caindo fora do muro, ficando desacordado por alguns segundos, fato presenciado por todos os garotos em contenda. O autor da façanha foi Mamãe eu Quero o único da sua turma que portava um estilingue. Depois de alguns instantes de silêncio e surpresa, os garotos comandados por Alcides, socorreram Balbino, trazendo-o de volta ao muro. Balbino não estava entendendo o que havia lhe acontecido, enquanto turma de Porcino abraçou Mamãe eu Quero, felicitando o garoto pelo seu heroísmo. Nêgo sorriu para o garoto e apertando a sua mão, perguntou:

- Com o que você acertou o cara, meu irmão?

- Com um rolimã de aço, do tamanho de uma bola gude! – Respondeu o garoto, sorrindo. Nesse momento chega Eduardo, que tinha ido até a sua casa, para buscar algodão, esparadrapo e um vidro de mercúrio cromo, para medicar Géo.

Os garotos ficam indecisos diante da defesa dos invasores que, sitiados no clube, resistiam com suas baladeiras, qualquer tentativa dos garotos, em um ataque mais conciso. Edgar convocou os garotos a buscarem suas atiradeiras, para fazer pressão ao inimigo. Durante um bom tempo a troca de balas disparadas pelos estilingues dos dois lados, não definia o rumo dos acontecimentos. Alcides e sua turma, aquartelados naquele forte improvisado, dirigiam injurias a todo o momento, deixando Edgar e os meninos possessos de raiva. Apesar de achar aquela contenda perigosa, passível de acidentes, Johnny comungava a mesma indignação de seus companheiros. Observava tudo àquilo com interesse, tendo noção da maneira fantasiosa como a coisa era conduzida. Depois de algum tempo remoendo os seus pensamentos, embarcou também naquela aventura e uma brilhante idéia lhe veio à mente. Chamou Edgar, Porcino e Mipai e cobrou deles uma solução, dizendo:

- Então meus amigos, vamos ficar nesse chove e não molha!

- Esses putos não têm coragem de sair na mão grande e ficam intocados lá dentro. – Disse Mipai, chateado com aquela situação. Edgar, perdendo a paciência, bradou com raiva, gritando bem alto:

- Se vocês são homens saiam daí e venham nos encarar, bando de covardes!

Bentivi respondeu, cantando o trecho de uma machinha de carnaval.

- Daqui não saio daqui ninguém me tira! Onde é que eu vou morar?...

Alcides, morrendo de rir, disse, mangando dos meninos:

- E se vocês são tão valentes assim, venham nos tirar daqui na marra, bando de otários!

Johnny virou para os garotos e disse em seguida:

- Eu tenho um plano, mas é preciso de dinheiro!

Naquele momento, o relógio da matriz anunciava onze horas e trinta minutos. O tempo estava passando, deixando Edgar impaciente com aquela demora, pois tinha marcado um encontro com Neide na porta do Cine Bonfim. O garoto olhou para o amigo e perguntou ansioso:

- Que plano é esse?

Johnny respirou forte e explicou aos amigos:

- Para desalojarem aquela turma de onde está é preciso usar de muita ignorância!

- Sim, e daí?! – Perguntou Porcino que estava mais avexado, do que o resto dos garotos.

Johnny respondeu calmamente:

- A gente faz uma “vaquinha” entre a turma, e vamos à venda de Seu Saviano Pessoa, para comprar algumas caixas de pistolões, dos grandes, daqueles de três tiros, e soltamos em direção do forte de Alcides e seus biribanos. Aí então nós é que veremos, se eles sabem o que é bom para tosse!

- Puxa a vida!... Você é um gênio, meu camarada! – Disse Mipai sorrindo, animado com a idéia. Edgar e Porcino abraçaram Johnny, congratulando o amigo pela estratégia. Nêgo gostou do plano, porém com ressalvas. Por isso perguntou a todos?

- Tudo certo e muito direito! Mas quem tem grana para comprar os pistolões? São fogos muito caros!

- Isso é verdade! – Disse Géo, um tanto preocupado, pois detestava gastar dinheiro com extravagâncias.

- Foi isso que eu disse. Precisamos arrecadar esse dinheiro! – Assegurou Johnny para os meninos. Eduardo pensou um pouco e depois de analisar a situação, ponderou:

- Bom: o clube é do time do Cruzeiro e os sócios terão de se responsabilizar pelos gastos. Depois de a gente resolver essa questão urgente, que é a expulsão dos biribanos, eu converso com os meninos e apresento os prejuízos a eles.

Eduardo foi até a sua casa e trouxe o dinheiro necessário para a compra dos especiais fogos. Porcino e Mamãe eu Quero foram até a venda do Seu Saviano, no começo da Rua Rio de Contas e voltou com três caixas de pistolões, cada uma com dez unidades. Porcino quis distribuir os pistolões com toda a turma, e fazer logo a festa naquele momento. Johnny descartou a idéia e pediu para os meninos ficarem tranqüilos, alegando que era necessário, um plano mais elaborado. O garoto aproveitou o ensejo da luta e, entrando naquela fantasia, se sentiu um grande guerreiro. Avaliou a questão e resolveu combater o inimigo, numa tática, onde a surpresa prevalecia. Dividiu a turma em duas brigadas diferentes da primeira. Convocando todos os garotos a um conselho de guerra, articulou:

- Edgar, Mipai, Porcino e Juvenal, que são os mais fortes, vão ficar juntos e dar uma volta, se posicionando atrás do clube, a espera do meu comando. O

resto dos saldados ficam comigo. Vamos dar um novo ultimato para a turma. Se eles não aceitarem abriremos fogo e depois a brigada de Edgar ataca na mão grande e, em seguida toda a turma ataca em conjunto.

Mipai abraçou Johnny e disse contente:

- Garoto, você esta me saindo melhor do que eu esperava!

Edgar e Porcino também gostaram da idéia, aplaudindo Johnny efusivamente. Eduardo, animado com a possibilidade de ver o seu clube livre, gritou:

- Então vamos ao ataque meus guerreiros!

- Vamos! – gritou a garotada em conjunto.

Alcides e seus camaradas ouvindo a gritaria dos meninos ficaram em alerta dentro do muro. Conforme as determinações, a brigada de Edgar foi se posicionar no lugar combinado. Depois de alguns minutos, Johnny se aproximou do forte e, usando como escudo uma velha gamela, gritou para a turma adversária, o mesmo ultimato do início.

- Vocês têm cinco minutos para dar o fora!

Novamente, uma saraivada de balas foi a resposta.

Johnny se retirou do lugar e, se protegendo com a velha gamela de madeira que achou no lixo, foi se posicionar com a segunda brigada. Dentro do forte os moleques cantavam:

Somos madeiras que ninguém tira umbira!

Vocês tiram nos outros, mas na gente vocês não tiram!

Pois o miolo do pau ferro é de aço!

E os moleques que não forem bons de machado!

Nós damos de banda, damos cima, damos de lado.

E todos os velhos que tem filhas são nossos sogros,

E os irmãos nós chamamos de cunhados!...

Antes que os moleques acabassem com a cantoria, Johnny ordenou:

- Preparar, apontar, fogo!

Nesse momento, sete grossos pistolões foram disparados, jogando vinte e uma bombas, que caíram no forte e no clube, deixando em polvorosa a molecada dentro deles. Assustados com aquela novidade, os moleques receberam mais outras descargas, fazendo com que a maioria fugisse subitamente ao ataque. Os que tentaram manter a defesa foram abordados pela brigada de Edgar, que distribuíram pancadas a valer, botando aqueles valentões para correr, os quais sumiram do lugar, deixando seus chefes Alcides e Bentivi a mercê da turma vitoriosa. Vendo-se sozinhos, Alcides e Bentivi levantaram os braços e gritaram:

Nós nos rendemos!

Edgar agarrou Alcides Zoião pelo colarinho e o torceu, deixando o moleque quase sufocado pelo ato, dizendo em seguida:

- Agora você e Bentivi são nossos prisioneiros.

- E para serem libertados terão que pagar indenização de guerra. – Ameaçou Eduardo.

Alcides sorriu e disse em tom brincalhão:

- O que é isso, turma?... A gente só estava brincando com vocês!

- Brincando uma ova! Vocês estavam sacaneando a gente. Portanto o valor do resgate de vocês vai ser de trinta cruzeiros. Isto é, se as revistas dos meninos não sumiram! – Bradou o raivoso Edgar.

- Não se preocupem! Ninguém levou nada! – Assegurou Alcides, disposto a pagar a quantia exigida pelos garotos.

Bentivi, curioso com a exigência do dinheiro, perguntou:

- Por que trinta cruzeiros?

- Foi o preço que gastamos com a munição de guerra. Assegurou Eduardo, o qual não queria ficar no prejuízo.

Bentivi tentou protestar, mas foi silenciado pelo próprio Alcides, que disse:

- Tudo bem! Vamos pagar o que vocês querem!

Alcides arrecadou junto a Bentivi a quantia de dezenove cruzeiros e, para completar a quantia exata, deixou um isqueiro, um canivete e sua carteira de couro. Os garotos se deram por satisfeitos e libertaram os prisioneiros. Alcides e Bentivi foram embora, descendo uma trilha que dava no Bar Caixa D’ Água. Na metade do caminho, fora do alcance dos garotos, gritou injurias, bem alto, ameaçando a turma vitoriosa com vingança. Os garotos responderam com vaias e aproveitaram a ocasião, disparando o restante dos pistolões para o ar, como comemoração à vitória adquirida naquele campo de batalha.

Os vencedores daquele combate ficaram ainda um tempo pelo clube verificando se faltava alguma coisa. Géo, observando o muro de pedras soltas, sugeriu a Eduardo que fortificasse o seu clube, para evitar futuras invasões. Nesse momento o relógio da matriz anunciou às treze horas e a garotada foi para suas casas, comentando a grande aventura do dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário