O Sol entrou hoje em minha casa sem pedir licença! Para deixá-lo mais à
vontade, abri portas, janelas e disse pra ele: vamos conversar às claras,
concorda, amigo? De pronto, ele respondeu: “claro! Afinal de contas, somos
amigos íntimos desde que você nasceu, assim que a sua mãe deu à luz, no dia de
Reis!” Sorri de contentamento diante do Astro e feliz pelo conhecimento que ele
demonstrou ter de mim, sem eu saber! Não fosse a timidez, perguntaria: fala
sério? Mas, enveredamos por outros assuntos. Falei-lhe da minha família, dos
amigos, enfim, da importância que as pessoas têm pra mim! O Sol me ouviu
atentamente e falou: “verdade! Nós sozinhos não somos nada! Aí de mim se não
fossem as estrelas!” Depois, meio sem jeito, baixou o tom da voz e me segredou:
“e se não fosse a lua, (ah! Lua!)que seria de mim, vagando nesse espaço
infinito, sem perspectiva de amar?” Achei ótimo estar sendo amigo
confidente de tanta luz! Procurei alegrar o ambiente, perguntando pelos seus
gostos: você gosta de música? Qual o tipo? Ele pensou um pouco, refletindo, e
respondeu: “gosto muito de música! De preferência a música clássica tocada
pelas ondas dos mares e dos ventos. Acredite: fecho os olhos pra ouvir
profundamente!” Insisti na pergunta, e de música popular? O que acha? Foi rápido:
“adoro o canto dos pássaros, sobretudo, quando estão voando e em liberdade!”
Não podia perder a oportunidade, e a música dos homens? “Gosto também! Sou meio
seletivo, sabe! Aprecio desde a música clássica à popular: jazz, samba,
sertanejas...sendo boa, ouço tranquilamente.” Compenetrado, disse, temos
afinidades no gosto musical! Ele fez um ar de riso e eu me senti iluminado!
Encorajado, diante das circunstâncias tão propícias, perguntei: e de
literatura? Poesia? Ele olhou pra o relógio, pegou em meu ombro e falou: “vai
dar meio-dia! A Europa me aguarda, não gosto de atrasos, sou bom de horário!”
Apertou minha mão e se despediu dizendo: “pra você não ficar sem resposta,
costumo ler Fernando Pessoa e Drummond antes de dormir! A propósito, dei à Lua
as obras completas de Cecília Meireles. Será que ela está gostando? Sei lá!
Mulher, você sabe: mulher é fogo! Tenho medo de me queimar! Até meu Rei! O papo
continua!” Até, amigo! O Sol se foi deixando um rastro de luz! (Jequié Notícias)
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