sexta-feira, 11 de junho de 2021

O Espírito de Eisner

                            Resenha por: Carlos Eden Meira

   As histórias em quadrinhos norte-americanas dos anos 40, até princípios dos anos 50 eram quase todas, voltadas para os fatos ocorridos na Segunda Guerra Mundial, mormente as que eram consumidas pelo público juvenil. Daí surgiram heróis como o Capitão América, Capitão Marvel, e uma infinidade de super-heróis, que naquele período, foram “convocados” pelos quadrinistas para combater os nazistas e seus aliados.

   No entanto, havia quem tentasse fugir desse padrão voltado para um estilo de HQs, recheado de heróis fantásticos, invencíveis, invulneráveis e pouco inseridos nos assuntos do dia-a-dia dos cidadãos comuns das grandes cidades. Um desses inovadores foi Will Eisner, criador do "The Spirit", identidade secreta do investigador de polícia Denny Colt, personagem que na trama criada por Eisner foi dado como morto por bandidos durante uma batida policial na cidade de "Central City", nome com o qual Eisner "batizou" New York. Denny Colt e seu chefe o comissário Dolan, para enganar os gângsteres e todo o mundo do crime na cidade, levam adiante a ideia de que Colt havia morrido e teria sido sepultado num cemitério local, com a lápide colocada sobre um esconderijo subterrâneo, onde vivia o "Spirit" e seu amigo e companheiro de aventuras, o negrinho Ébano.

   Eisner fez do "Spirit" um personagem sui generis, o qual muitas vezes aparecia na historinha como mero coadjuvante nos dramáticos temas, onde pessoas pobres, indivíduos desajustados e marginalizados sofriam injustiças impostas pelo sistema, assunto nada comum nas padronizadas HQs da época. Esses personagens à margem da sociedade eram observados pelo "Spirit" que, direta ou indiretamente, os ajudava a enfrentar seus problemas, muitas vezes questionando o próprio comissário Dolan, por agir sem buscar compreender os motivos de um ou outro cidadão considerado marginal. Esse tipo de questionamento só começou a ser usado nos quadrinhos a partir dos anos sessenta, com os movimentos da contracultura, durante a guerra do Vietnam, e as lutas antirracistas nos EUA.

   O comissário Dolan, que era também o pai da loira Ellen, a linda namorada do "Spirit", acabava aceitando os argumentos do detetive. Na minha infância e adolescência, não conhecia esse original personagem. Somente nos anos setenta, no período chamado de "nostalgia" pelas editoras de HQs, é que fui conhecer os maravilhosos trabalhos de Will Eisner, criador também do termo "arte sequencial" para se referir aos quadrinhos, além das magistrais "graphic novels", onde Eisner apresentou belíssimas histórias de cunho autobiográfico, além de adaptar para os quadrinhos, grandes clássicos da literatura.

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