domingo, 24 de janeiro de 2021

O “LOBISOMEM”

                                                     Por Carlos Eden Meira

O primo de um vizinho, da tia emprestada do irmão de um amigo nosso, contava que numa localidade da Zona da Mata, chamada Boquinha do Mato Fundo, morava um cidadão conhecido como Zeca Rançoso, sujeito magro, cabeludo e amarelo, viciado em virar lobisomem toda Sexta-Feira da Paixão.

Tal transformação, conforme afirmavam os velhos moradores do local, acontecia numa metamorfose que consiste no seguinte: o “candidato” a lobisomem (lubisomi, lubisoni, lubisõe ou ainda labisoni), tem de ser um sujeito cuja mãe lhe tenha “rogado uma praga”, pois, segundo dizem, praga de mãe quando pega, só Deus tira. Tem também, de sair à meia-noite da Sexta-Feira da Paixão, procurar um local onde um cavalo, burro, ou jumento tenha se espojado, isto é, tenha rolado na terra e ali fazer o mesmo, usando as roupas vestidas pelo avesso e rezando um Pai Nosso ao contrário. Aí, não tem mais jeito, vira lobisomem na hora! Depois, sai batendo as orelhas para assombrar as pessoas, atacar as criações de animais, e, não se sabe bem pra quê, lamber o chão das casas de farinha, nas fazendas. Gente metida a besta acha isso “um péssimo mau-gosto, de lobisomem subdesenvolvido”, ui!

- Não adianta vir pra cá com aquele negócio de cinema, de atirar com bala de prata, que não resolve. Por aqui, só o que fere lubisoni é arma branca ou ferro frio, (faca ou facão) – afirmava um morador local.

Descobriu-se muito mais tarde, que o Zeca Rançoso era um pobre doente mental, que tomava uns “gorós”, dava uns berros assustadores no meio da noite, e depois ia dormir numa casa de farinha de uma fazenda ali por perto. Tal “performance” foi o que lhe valeu a fama de virar lobisomem. Quem acabou pagando o pato, foi um tal de Chiquinho Coice de Mula, sujeito arruaceiro, picareta e desonrador de donzelas, que em certa noite de lua-cheia, foi visto fazendo “visagens”, pendurado em janela de moça de família.

- Pega o lubisomi! – gritou alguém, acordando a vizinhança que à luz do luar, imediatamente “identificou” o lobisomem, na pele do safado do Chiquinho Coice de Mula, que naquela noite “apanhou mais do que mala velha”, como ele próprio definiu a sova que levou, por conta do lobisomem. Só não morreu de apanhar, porque o próprio Zeca Rançoso nas suas andanças noturnas, apareceu para ver que zorra era aquela, tendo sido reconhecido pelos confusos moradores, que chegaram à conclusão de que cometeram um erro e desfizeram um engano: surraram o homem errado, e, descobriram naquela noite, que o Zeca Rançoso também não seria um lobisomem, pois, estava bem ali no meio deles, em figura de gente. Mas, também esqueceram que nem era noite de Sexta-Feira da Paixão, oxente!

Nota: os nomes de localidades e pessoas no texto acima são frutos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes de locais e de pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.

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