domingo, 6 de dezembro de 2020

Dilermando

                                                         Dois toques/Orlindo Lopes

                    Tanajura e Dilermando no time do Independente de Ipiaú.

Ipiaú vivia um dos seus melhores momentos no futebol. A economia local e regional girava em torno do cacau forte, de alto valor de mercado, além de uma pecuária altamente rentável. Obviamente que os diretores dos principais times ipiauenses, em sua maioria produtores e pecuaristas, por consequência enriquecidos, não poupavam esforços para fortalecer seus respectivos elencos com o que havia de melhor no futebol amador em todo Estado da Bahia.

A partir daí começaram a chegar jogadores de todos os cantos, e o Independente, naturalmente por possuir então uma condição um pouco mais elevada, foi o time que mais primou pela qualidade, formando um grupo acima do que seus torcedores esperavam.

Depois de Maíca, Betinho, Gajé, Caribé, Gino, Bidinho, entre outros, que eram realmente excepcionais, e que caíram de imediato nos braços da sua exigente torcida, o rubro negro ipiauense trouxe Dilermando, um meia que chegou aqui por indicação de quem comprovadamente conhecia de futebol, e adicionou uma enorme dose de qualidade ao excelente time de Jaime Cobrinha.


Time do Independente de Ipiaú.

Era difícil naqueles tempos se conseguir listar num mesmo time tantos e tão importantes jogadores, principalmente quando oriundos de lugares onde o futebol amador se apresentava igualmente forte, por consequência gastava-se muito, e nesse aspecto podemos citar o excelente futebol de Jequié, onde o grande Dilermando teve uma passagem brilhante, atuando no fantástico Flamengo, ao lado de verdadeiros monstros sagrados do futebol do interior da Bahia, muitos dos quais vindo se juntar a ele após sua chegada ao preto e vermelho de Ipiaú.

Posso seguramente afirmar, por tê-los conhecido de perto, que Dilermando era craque não apenas dentro dos campos, fora deles, tratável, gentil, educado e generoso, conseguiu rapidamente nos períodos em que aqui esteve conquistar a amizade de todos com os quais mantinha contato.

                                Time do Independente de Ipiaú.

Apenas para relembrar, o Independente trazia para seus jogos aqui no Campeonato Municipal, uma quantidade enorme de ótimos jogadores amadores dentre os melhores do interior, e bancava a permanência de todos eles aqui, graças não somente ao seu poderio econômico, massa principalmente à excelente parceria formada entre a Liga Desportiva Rio novense e o Poder Executivo à época, Dilermando era um deles, gostava de Ipiaú, e não seguiu os exemplos de Bidinho, Gino, Bueiro, Mundinho, Gagé, que acabaram fixando suas residências aqui, porque tinham planos definidos para o seu futuro, formou-se em medicina, e hoje é médico renomado na belíssima Feira de Santana.

Lembro-me de um fato realmente, que ele talvez tenha se esquecido, até porque já faz muito tempo que aconteceu.

Era comum o Independente premiar seus jogadores após cada partida, oficial ou não, em que obtivesse uma vitória ou até mesmo um empate. Havíamos acabado de empatar um jogo contra o Ipiaú, e momentos depois, já na sede da Avenida Lauro de Freitas, quando foi distribuído o chamado “bicho”, ele se quer tocou no que lhe cabia por direito, e determinou que fosse entregue ao nosso hoje saudoso “Antônio Regina”, como forma de ajudar o bondoso velhinho, antigo funcionário do Clube, que cuidava das chuteiras dele e de todos os demais jogadores, num gesto de bondade ilimitada.

                               Time do Independente de Ipiaú.

Dilermando talvez nem se recorde mais desses fatos, afinal tantos anos já se passaram! Na verdade, para ser preciso, o jogo que menciono acima aconteceu no dia 12 de abril de 1967, e foi o primeiro de dois empates consecutivos contra o grande Ipiaú, e infelizmente na terceira e decisiva partida perdemos por um a zero, gol do lendário Caçote, e eles foram campeões com todos os méritos. Tinham igualmente um time fantástico e vinham de uma campanha intocável!

Ainda muito jovens, jogamos algumas vezes no Independente. Ele era realmente um jogador diferenciado! Mas posso assegurar que o ataque em que Dilermando formou com Caribé, Tanajura, Bueiro e Marquinhos, foi dos melhores que conheci no futebol amador em todos os tempos.

Axé Dr. Dilermando! “Que o “senhor” tenha conseguido ser tão hábil no bisturi, e tenho informações concretas que sim, quando foi genial no contato com a bola”!

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