Oscar Vitorino Moreira Mendes
Ao longo da História, o homem desenvolveu técnicas de criação de
animais, tanto para o fornecimento de alimentos e matéria-prima (bois,
carneiros, porcos, galinhas, etc.) como para servir de transporte e companhia
doméstica (cavalos, mulas, cães, gatos, aves ornamentais...). Por sua vez, o
ambiente urbano em face o desenvolvimento humano em sociedades, acabou atraindo
outro grupo de animais e novas espécies de pragas, e tem sido invadido
permanentemente, e que embora também convivam com as pessoas, são indesejáveis
e podem acarretar sérios problemas de saúde pública, por transmitir doenças,
sujar as residências, causar acidentes e destruir alimentos. Essa condição é
criada em função de uma alta proliferação, consequência da ação do próprio
homem, que os alimenta e favorece seu potencial reprodutivo. São os chamados
animais sinantrópicos, intitulados comumente como pragas.
A Fauna sinantrópica é caracterizada pelos animais que vivem
próximos às habitações humanas, e se adaptaram a viver junto ao homem, a despeito
da vontade deste. Destacamos, dentre os animais sinantrópicos, aqueles que
podem comprometer a saúde do homem ou de outros animais, transmitir doenças,
inutilizar ou destruir alimentos, além de riscos de acidentes com picadas,
mordeduras e outros, e que estão presentes nas cidades, no ambiente de
trabalho, tais como: Abelha, Aranha, Barata, Carrapato, Escorpião, Rato,
Formiga, Morcego, Mosca, Mosquito, Pombo, Pulga, Vespa etc.).
Mas o que atrai essas espécies para o convívio humano?
Todo ser vivo necessita de três fatores para sobreviver: água,
alimento e abrigo. A água pode ser encontrada com facilidade em nosso meio, mas
o alimento e o
abrigo realmente fazem com que esses animais indesejáveis se
instalem ao nosso redor. Portanto, esses animais, considerados como pragas são
um produto do próprio homem, que adota hábitos incorretos de higiene, de
armazenagem de alimentos e de limpeza de seus locais de residência e trabalho.
Entretanto, não devemos encará-los como seres que precisam ser exterminados a
qualquer custo, mas como uma ameaça à saúde pública que pode ser evitada se
forem adotadas medidas de prevenção. Para tanto, é necessário conhecermos o que
serve de alimento e abrigo para cada espécie que se pretende controlar e
adotarmos as medidas preventivas, de forma a alcançar esse controle, mantendo
os ambientes que frequentamos mais saudáveis e evitando o uso de produtos
químicos (os quais poderão eliminar não somente espécies indesejáveis, como
também espécies benéficas, além de contaminar a água e o solo), que por si só
não evitarão novas infestações. Dessa forma, alguns animais, como o morcego,
que são grandes polinizadores naturais, podem adquirir a condição de
sinantrópico, utilizando telhados e cantos escuros das casas como abrigo,
quando seus ambientes naturais são destruídos. Com a chegada do verão as pragas
urbanas começam a se proliferar, pois é na alta temperatura que elas aparecem.
Por isso, segundo especialistas, a melhor forma é se prevenir no inverno, época
que os filhotes são gerados. Limpeza e armazenamento dos alimentos são itens
importantes para a definição. Por sua vez, para proceder à remoção de animais
sinantrópicos das áreas de risco, exige a utilização de processos restritos e
que deve ser realizado por profissionais capacitados e aparelhados. É comum que
algumas espécies naturalmente transitem de um ecossistema a outro, sem causar
danos aos ambientes em que se instalam, já que isso se dá de forma lenta e
eventual. Mas quando causadas pela ação do homem, esse trânsito pode ocasionar
distorções irreparáveis, alterando ou simplesmente eliminando o hábitat natural
de algumas espécies.
E de que forma podemos combater esses animais?
No Brasil, país eminentemente tropical, as pragas urbanas
proliferam de maneira assustadora. Como são animais que dividem conosco o mesmo
ambiente, o natural seria que os conhecimentos de normas de higiene e maneiras
corretas de
armazenar alimentos para o controle permanente às pragas urbanas
fossem disseminados por toda a sociedade por meio de campanhas educativas e
ações de conscientização. Outra medida interessante é reunir informações
básicas sobre as doenças que esses animais transmitem, de modo que se
compreenda o perigo a que estamos submetidos e a importância de adotar medidas
preventivas.
Por outro lado, algumas cidades já dispõem de Centros de Controle
de Zoonoses – CCZ, que oferecem alguns conhecimentos básicos sobre a vida
desses animais, de modo que o leitor compreenda a importância de se adotar
medidas preventivas no seu lar, no local de trabalho, ou mesmo transmitir a
outras pessoas essas informações. Infelizmente, no nosso município ainda não
dispomos desse Órgão tão importante para a Saúde Pública, apesar de constantes
reivindicações por parte da Associação de Médicos Veterinários de Jequié - AMVEJ.
Outro aspecto considerado muito importante é o desenvolvimento de projetos nas
escolas sobre animais sinantrópicos, analisando o comportamento desses seres e
as maneiras mais eficazes de prevenção. Vale ressaltar que é importante saber
que não se trata de uma proposta de extermínio de animais, mas, sim, de
Educação Ambiental com caráter preventivo. Entre seus objetivos está o
desenvolvimento de programações educativas visando o esclarecimento da
população com relação aos conteúdos necessários para a prevenção e controle de
zoonoses, bem como a atuação consciente e competente nas transformações da
realidade para a melhoria das condições e qualidade de vida. O Centro de
Controle de Zoonoses - CCZ é o órgão responsável pelo controle de agravos e
doenças transmitidas por animais (zoonoses), através do controle de populações
de animais domésticos (cães, gatos e animais de grande porte) e controle de
populações de animais sinantrópicos. A necessidade de controlar animais de
estimação sempre envolve dois atores sociais. Ao proprietário cabe exercer o
direito de possuir um animal, desde que de maneira responsável, ou seja,
zelando pela sua saúde, pelo controle reprodutivo, pela destinação de filhotes
e mantendo-o domiciliado. Ao poder público destinam-se as ações de controle dos
animais errantes (vadios, soltos nas ruas), com vistas à proteção da saúde
pública, porém, com posturas humanitárias em relação a eles. Portanto, em
Jequié, enquanto aguardamos a implantação de um Centro de Controle de Zoonoses
a população deve entrar em contato,
preferencialmente com o Corpo de Bombeiros, IBAMA ou órgão
estadual/municipal responsável pela fauna.
Oscar Vitorino Moreira Mendes
Méd. Vet. e Prof. Aposentado da UESB
<oscarvitorino@yahoo.com.br>
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