Capítulo - 46 do livro " Guris e Gibis".
Eram
quase nove horas quando Dona Nonnita despertou o seu filho, naquele primeiro
sábado de férias juninas, avisando que seus amigos o esperavam no famoso
clubinho juvenil. Receosa com a onda de constipações que assolava a criançada
jequieense, sua mãe lhe preparou uma grande bacia com água morna para o seu
banho matinal, proibindo o filho de usar o banheiro da grossa torneira de água
fria, que ficava no quintal. Apesar de o dia despontar com um belo sol, a
friagem ainda permanecia na cidade. Após o desjejum, o garoto saiu apressado e
foi encontrar seus companheiros, na sede do campinho de futebol por eles
construído.
Os
garotos estavam reunidos, esperando por Johnny para uma assembléia, na qual os
sócios iriam escolher o presidente do clube e solucionar um problema que
apareceu, simultaneamente, com a idéia de fundação daquela agremiação. Estavam
todos sentados em uns tamboretes, que cada um havia trazido de suas casas, em
volta de uma velha mesa de madeira, doada aos garotos pelo Sr. Gracindo Alves
de Oliveira, pai de Alípio e vizinho da garotada. Johnny ficou muito contente
com a presença de Bill Elliott. Ele era o mais velho do time e o mais adiantado
no grau escolar, pois terminaria o curso ginasial, antes de completar seus
dezesseis anos de idade. Com exceção de Edgar, que naquele momento estava em
seu emprego de caixeiro nas Casas Pernambucanas, todos os sócios compareceram.
A presidência do clube foi oferecida a Johnny, com a aprovação de todos os
componentes. O garoto agradeceu e fez um pequeno discurso, indicando Nêgo em
seu lugar, convencendo a garotada da dedicação e do dinamismo do companheiro na
fundação daquela corporação. Nêgo não esperava nenhum apoio dos meninos,
principalmente vindo de um garoto, o qual, por diversas vezes, ele havia
menosprezado. Posto em votação Nêgo foi eleito com unanimidade; ficando Pé de
Pata como secretário e Géo o Tesoureiro do Clube. Emocionado com a aprovação
dos amigos, Nêgo fez um belo pronunciamento, imitando os políticos
profissionais, arrancando aplausos acalorados de seus companheiros. Em seguida,
já presidindo aquela sessão, Nêgo abordou a questão, conscientizando os colegas
da falta de verbas, que era o problema que afligia a todos. Por sua vez Géo, na
qualidade de tesoureiro questionou:
- Como
posso ser tesoureiro de um clube que não tem um só tostão?
- É
justamente por isso que estamos reunidos nessa sessão para corrigir essa falha.
– Respondeu Nêgo, sorrindo com ironia, para depois acrescentar:
-
Precisamos das opiniões de todos!
A
pequena sala ficou em silêncio por algum tempo, com todos os garotos pensando
em uma maneira original de arrecadar fundos para o tesouro de um cofre vazio.
Depois de algum tempo cogitando uma idéia, que sempre lhe vinha na cabeça,
Johnny avaliou:
- Que
tal a gente promover um bolão ou vários bolões com o jogo de hoje entre o
Brasil e a Iugoslávia?
-
Claro que sim, pois a gente não investe nada e fica com uma boa percentagem do
montante! – afiançou Bill Elliott, concordando com a sugestão do amigo.
- É
devera!... Tem muita gente que gosta de jogar em bolões! – disse Géo animado
com a possibilidade de arrecadar um bom dinheiro para o tesouro de um clube,
que tinha a sua direção.
Os
garotos trataram logo de por a idéia em ação. Para isso tentaram entrar em
contacto com os sócios honorários do clube, como Luís Augusto, Eduardo, Tõe
Porcino, Mipai e Mamãe eu Quero, para ajudá-los naquela empreitada. Todos
acataram a idéia com prontidão e seguiram para o centro da cidade na esperança
de encontrarem os meninos. Johnny ficou encarregado de procurar Eduardo e Luís,
encontrando os dois garotos na Livraria de Dona Lélia Gouveia, os quais estavam
averiguando a veracidade de um boato, sobre um álbum de figurinhas, a ser
lançado ainda no mês de junho. Bill Elliott foi até a loja onde Edgar
trabalhava, comunicando a decisão da turma, enquanto Nêgo e Géo foram até a
feira para encontrarem Tõe Porcino e Mamãe eu Quero. Pé de Pata Viageira seguiu
para a casa de Mipai, para deixar o garoto ciente da decisão dos companheiros,
em dar andamento àquela determinação. Mipai quando ouviu a proposta, assoviou
admirado, dizendo:
-
Macacos me mordam!... É uma excelente idéia. Como foi que não pensei nisso
antes? Logo eu que estou precisando de grana!
Pé de
Pata foi categórico na sua colocação:
- O
plano é nosso. Deixe para ganhar o seu dinheiro em outra ocasião.
- Tudo
bem. Podem contar comigo. – Assegurou o garoto, com sinceridade.
Depois
que todos os meninos entraram em contato uns com os outros, eles foram para
casa almoçar, marcando um encontro nas escadarias do Prédio Castro Alves logo
após o almoço.
As
badaladas do relógio da matriz não tinham ainda anunciado as primeiras horas
vespertinas, quando Johnny e seus amigos chegaram ao prédio escolar,
encontrando Eduardo e Luís com várias folhas de papel pautado em suas mãos. As
folhas Já estavam datilografadas, prontas para serem assinadas pelos
apostadores, com seus prognósticos do placar final da famosa partida de
futebol. Logo depois chegaram os outros garotos e, cada um pegou o seu papel,
indo todos à procura dos possíveis apostadores. A garotada visitou todas as
Lojas, farmácias e bares da cidade, conseguindo um bom número de apostadores.
Entusiasmados com a goleada do primeiro jogo, a maioria dos apostadores
exagerava em seus prognósticos. O gerente do City Hotel colocou o placar de
oito a zero, enquanto um notório boêmio, conhecido como Zé das Moças, arriscou
simplesmente em um a zero. O único apostador que admitiu a seleção brasileira
ser vazada com algum gol foi o jovem José Figueiredo Sampaio, secretário do
Ginásio de Jequié, conhecido com Zito, o qual colocou
dois
gols para o Brasil e um para a Iugoslávia. Johnny sabia que a maioria dos
apostadores estava entre os jovens aprendizes de certas profissões; por isso,
visitou algumas alfaiatarias, oficinas mecânicas e tendas de sapateiros. Ele
ficou encantado com uma tenda, cujas paredes estavam decoradas com “O Amigo da
Onça”, cartuns de Péricles, um grande desenhista da revista O Cruzeiro. Luís
conseguiu um grande número de apostadores entre os funcionários do Banco da
Lavoura, enquanto Edgar entre seus colegas das Casas Pernambucanas. Os garotos
trabalharam com tanta obstinação que, quando os alto falantes da Voz da Cidade
e da Voz do Sudoeste entoaram o Hino Nacional, eles já tinham angariado uma boa
quantia de cruzeiros.
Logo
após o início da partida entre o Brasil e a Iugoslávia, Bill Elliott chamou
Johnny à parte, comunicando-lhe que Berenice e Eva Marli esperavam os dois na
venda da Tia Zulmira. O garoto ficou contente com a notícia e os dois se
despediram dos amigos, alegando que iam visitar um excelente artesão, que
fabricavam ótimos piões. Bill piscou o olho para Johnny e, sorrindo, virou para
Luís perguntando:
-
Então meu camarada, você não quer ir com a gente?
- Fica
para outra ocasião. – Respondeu Luís, interessado em acompanhar o jogo com a
garotada.
Nesse
momento chega Orlando e, fazendo festas com todo mundo, proclama com alegria:
- Hoje
eu vou ter mais uma certeza de ganhar um conto de reis!
Eduardo
quando viu o impertinente colega, resolveu sair dali naquele momento, para não
se aborrecer. O garoto olhou para Bill e Johnny, perguntando:
-
Posso ir com vocês? Eu também estou precisando de um bom pião!
Johnny
olhou para Bill e, como não havia outro jeito, respondeu:
-
Claro que sim! Só não sabemos direito onde mora o cidadão.
Eduardo
acompanhou Johnny e Bill pela Praça da Feira até o começo da Rua Barbosa de
Souza. Depois de se despedir dos garotos, disse sorrindo:
-
Agora vocês seguem sozinhos, que eu vou buscar Luísa e nós nos encontramos na
venda de Tia Zulmira!
Johnny
ficou surpreso, olhando para Eduardo, sem entender o que estava acontecendo.
Eduardo percebendo o embaraço do garoto, disse sorrindo:
- Você
pensa que eu sou bobo?!... Eu sempre notei a maneira especial com que Berenice
lhe tratava! Conversando com Luísa, eu lhe expus a minha dúvida. Hoje cedo ela
me disse, que Berenice havia admitido o namoro entre vocês e nos convidou para
esse encontro na venda de Tia Zulmira.
Bill
Elliott abraçou Johnny de lado, dizendo:
- Tem
certas coisas que são impossíveis de continuar em segredo. Principalmente entre
as meninas. Neide também percebeu e Berenice abriu o jogo. Edgar também está
sabendo. Luis sabe que Berenice gosta de você, mas não sabe do namoro entre
vocês, alimentando, assim, a sua ilusão. Só Orlando
não
sabe de nada, pois acha que nenhum de nós tem as qualidades necessárias para
conquistar uma garota como Berenice.
Eduardo
balançou a cabeça negativamente e disse com desdém:
- Esse
aí é o maior otário que conheço! Só lamento a desilusão de Luís quando souber a
verdade.
Johnny
baixou a cabeça e confessou:
- Esse
é o meu grande dilema! Eu me sinto como se estivesse traindo o meu primo.
Não se
preocupe com isso, pois eu sou testemunha de que a menina se interessou por
você, enquanto só eu e ele a cortejava. – Assegurou Eduardo com convicção.
O
garoto suspirou aliviado e comunicou aos amigos:
Eva
Marli ficou de conversar com Luís, quando Berenice viajar de férias com os
pais.
- Não
vamos pensar nisso agora e deixar que o tempo resolva essa questão. As meninas
estão esperando por nós. – Disse Bill Elliott apressando os garotos.
Eduardo
entrou na Rua Barbosa de Souza com destino à Praça da Estação, enquanto Johnny
e Bill subiam a ladeira que dava no Beco do Erva Doce, entre essa rua e a Rua
do Maracujá. O Beco era assim conhecido, pois tinha um boteco, próximo à venda
da Tia Zulmira, que era muito famoso entre a boemia, por servir uma destilada
temperada com erva doce verde. A venda da Tia Zulmira era uma espécie muito
modesta de confeitaria e lanchonete, onde se tomava um bom caldo de cana e
refrescos de frutas típicas da região, os quais eram acompanhados a vários
petiscos regionais, entre eles, os saborosos chimangos e avoadores, saídos
quentinhos do forno na hora. Apesar de estar próximo à rua dos bordeis, a venda
era freqüentada pelas famílias que moravam na redondeza, como também era a
maioria das pessoas que tomava seus aperitivos no famoso botequim.
Os
garotos entraram na venda que, àquela hora, se encontrava somente com as
meninas, as quais conversavam animadas com a risonha solteirona. As garotas
receberam seus namorados com alegria, trocando apenas os costumeiros beijos no
rosto; não se atrevendo a caricias mais afetuosas, devido o rigor do
comportamento exigido pela proprietária, a qual era uma das principais beatas
da igreja matriz da cidade. Os jovens sentaram nos modestos tamboretes, em
volta de uma pequena mesa de madeira. Eva Marli foi logo avisando:
- Hoje
a comemoração vai ser por nossa conta!
-
Estamos comemorando o que? – perguntou Johnny, curioso com a declaração da
alegre garota.
Berenice
apertou a mão de Johnny e olhando em seus olhos, disse com ternura:
- O
amor que sinto por você, querido!
Eva
Marli pôs as mãos na cintura e protestou marotamente:
-
Deixe de ser egoísta garota! Onde fico eu e meu belo namorado?!
Bill
arregalou os olhos e disse fingindo preocupação:
- Belo
namorado?!... Eu pensei que seu namorado fosse eu!
Aproveitando
que a solteirona foi até outro cômodo do estabelecimento em seus afazeres, Eva
Marli beijou apaixonadamente os lábios do rapaz, dizendo com doçura:
O meu
belo namorado é você, “amore mio”!
Bill
Elliott ficou impressionado com o ato da garota. Como não tinha, ainda, beijado
a sua namorada na boca, ficou um tanto decepcionado consigo mesmo, pois sabia
que a iniciativa deveria partir dele. Contudo se perdoou. Estava feliz demais
para alimentar conceitos conservadores.
Os
dois casais conversavam animadamente, quando apareceram Luísa e Eduardo,
saudando os demais com muita alegria. Por um bom tempo, os jovens se perderam
em animadas conversas, não sentindo o tempo passar. Quando a Tia Zulmira
apareceu com os chimangos, que naquele instante haviam saído do forno, os
estrondos dos fogos foram ouvidos em toda a cidade, aumentando ainda mais a
felicidade daqueles jovens no alvorecer de suas vidas. Bill Elliott emocionado
disse contente:
- O
Brasil acaba de fazer mais um gol!
Eduardo
comentou no momento:
- Puxa
turma!... Ficamos tão entretidos em nossa conversa, que nos esquecemos do jogo
do Brasil e a Iugoslávia.
Johnny
que era um garoto observador e ficava sempre atento a todos os acontecimentos
em sua volta, estava estranhando não ter ouvido nenhuma comemoração em relação
àquela partida de futebol. Depois de um curto raciocínio, declarou:
- O
Brasil está ganhando de um à zero ou está empatado no um a um. Deus queira que
não esteja perdendo essa partida.
- É
verdade!... Até agora só ouvi essa comemoração! - Disse Bill Elliott, que
conferindo o seu relógio, declarou:
-
Pelas horas que são o jogo deve ter terminado.
Dando
pouca importância ao jogo, Johnny disse aos meninos:
-
Vamos mudar de assunto, pois as meninas não se interessam por futebol!
- Isso
é verdade! Eu não conheço uma só garota que não fique zangada, quando o
namorado lhe deixa sozinha, para ir assistir a uma partida de futebol! – Disse
Luísa, que ouvia sempre as queixas de sua irmã mais velha, em relação ao noivo.
- Prá
mim não fede e nem cheira! – Disse Eva Marli, para depois acrescentar:
- Tudo
depende do momento em questão. Se Bill quiser ir ao estádio em um domingo a
tarde, eu vou sozinha prá matinê.
- Nada
disso!... Você acha que eu lhe deixaria sozinha numa matinê, com tanto gavião
por perto? – Perguntou Bill, fingindo ciúme:
-
Tenho certeza que não meu bem! – Respondeu a garota sorrindo
Eduardo
declarou muito sério:
- Eu gosto
de futebol; mas prefiro assistir um bom filme ou ir a um circo.
Bill
Elliott perguntou a Berenice:
- E
você menina?... Gosta de futebol?
- Um
pouco. Mas concordo com Eduardo. Prefiro um bom filme, teatro ou um circo! –
Respondeu a menina e virando-se para o namorado, perguntou:
-
Johnny, o que é que você mais gosta de fazer?
- De
ficar pertinho de você, baby!
- Ah
querido, disso eu sei!... Agora fala sério: de que é que você mais gosta como
entretenimento?
- Eu
também concordo com Eduardo. Prefiro circo, uma boa peça teatral, um bom
programa de rádio, ler um bom livro e, sobretudo, ver um bom filme!
- Vejo
que nós todos temos muita coisa em comum! – Observou Bill Elliott com
satisfação.
-
Avaliando aquela conclusão, Johnny proferiu em tom filosófico:
- Pois
é!... É assim que nascem as grandes amizades
Nesse
momento Eva Marli bradou com alegria:
- Mais
uma rodada de caldo de cana, para a gente comemorar a nossa amizade!
Os
jovens ficaram discorrendo sobre arte, política e literatura numa postura tão
adulta que deixou Bill Elliott impressionado. Ele já tinha notado
anteriormente, aquela maturidade em seus amigos e verificou que tamanho e idade
não era, realmente, documento, como dizia o provérbio popular. A garotada
brincava, fazia piadas e articulava as questões do dia a dia, principalmente
por ser um ano eleitoral, em que seriam escolhidos os vereadores, prefeitos,
deputados, governadores e senadores em todo o país. A conversa seguiu animada e
o tempo foi passando até o relógio da matriz anunciar à hora do ângelus.
Berenice chamou à atenção das meninas, para o entardecer e que seria a hora de
se despedirem e ir irem para suas casas. Eva Marli renovou a seu convite para a
festa da noite de São João, que seria em sua casa. Eduardo acompanhou a
namorada até a sua residência, enquanto Berenice seguiu com Eva para a sua
casa, na Rua das Pedrinhas.
Depois
de se despedirem das meninas, Bill e Johnny foram encontrar com a meninada na
Praça Ruy Barbosa, para saber o resultado do jogo, e os possíveis lucros com os
bolões arrecadados pelos garotos.
Ao
chegarem à Praça, Johnny e Bill encontraram os garotos sentados em um dos
bancos do jardim, completamente decepcionados com a atuação da equipe
brasileira. O jogo terminou no empate de um a um. Terminando o tempo regular da
partida no zero a zero, as equipes foram para a prorrogação e, nos quatro
minutos do primeiro tempo, o atacante Zebec fez o gol iugoslavo, deixando
apreensiva a torcida brasileira. Daí em diante o nervosismo tomou conta dos
torcedores e, somente nos momentos finais do segundo tempo, o grande Didi fez o
gol do empate, salvando a seleção brasileira de um grande fracasso. Para muitos
torcedores nada estava perdido, pois a equipe brasileira
poderia
recuperar o seu desempenho se analisar, corretamente, os possíveis erros
cometidos e ter uma atuação melhor no jogo Brasil e Hungria, no dia 27 de
junho, logo após os festejos de São João.
Johnny
notou que, apesar de ser um sábado, os bares estavam com poucos frequentadores
e algumas casas comerciais permaneciam, ainda, abertas. Em nada parecia igual
àquela alegria da quarta feira passada, quando todos saudavam a seleção pela
magnífica goleada. Entre a meninada surgia uma resenha despropositada, com
opiniões extravagantes de garotos, que traçavam estratégias, as quais o técnico
Zezé Moreira negligenciara. Géo era o mais afoito em suas deduções, pois achava
que a seleção brasileira carecia de melhor preparação. Notando Orlando
taciturno em seu canto, resolveu provocar o rapazola:
-
Eduardo estava coberto de razão, quando disse que as seleções européias estavam
mais bem preparadas!
Embora
estivesse sentado, enquanto Géo permanecia em pé, Orlando encarou o garoto com
um olhar de cima para baixo. Virando para a garotada, disse com menosprezo:
- Olha
pra aí turma! Mais um traidor na área!
-
Traidor uma ova! O que queremos são responsabilidades! Não adianta um otário
como você, querer tapar o sol com uma peneira!
Luís,
percebendo que aquela discussão poderia terminar em briga, apaziguou a celeuma,
dizendo:
_ -
Vamos com calma, que aqui não há traidores e nem irresponsáveis! Estamos apenas
chateados pelo empate, o que não é, de maneira alguma, uma derrota.
Todos
os garotos concordaram com a opinião de Luís. Johnny querendo mudar o rumo da
conversa, perguntou de supetão:
- E os
nossos bolões?!... Quantos apostadores ganharam?
Um
precioso silêncio reinou entre os garotos, durando alguns segundos. Mipai, que
se encontrava chateado e não havia dado nenhuma opinião, proferiu subitamente:
-Puta
que pariu!... Ninguém!
- É
devera! Todo mundo apostou numa goleada. – Disse Géo sorrindo.
Johnny
alertou os sócios do clubinho, dizendo:
- Se
ninguém ganhou, todo o montão do dinheiro pertence ao clube!
-
Claro que sim! – Assegurou Luís e, virando para os garotos, disse animado:
-
Vamos contar a quantia apostada e ver quanto arrecadamos!
Nêgo,
Géo e Pé de Pata convocaram, ali mesmo, uma reunião com todos sócios, inclusive
os honorários, faltando apenas Edgar e Eduardo. Depois de contar o dinheiro,
Géo declarou contente:
- No
tesouro do nosso clube está sendo depositada a quantia de duzentos e vinte e
oito cruzeiros!
- Ou
de duzentos e vinte e oito mil réis! – Disse Luís, caçoando dos garotos que
usam essa nomeação.
- Que
será usado em beneficio do nosso time! – Assegurou Géo, solenemente.
- Todos
os sócios estão convidados para uma comemoração, no próximo domingo, pela
manhã. - Disse Nêgo com alegria.
Orlando
admirado com tudo aquilo, perguntou:
- Quem
são os sócios e de que clube vocês estão falando?
- Do
clube do time da Siqueira Campos e os sócios somos nós. A única exceção é você
meu camarada – Disse Tõe Porcino ao amigo.
Orlando
não disse nada. Mas no seu íntimo um misto de tristeza e raiva, que andava
latente, começou a aflorar naquele instante.
O relógio da matriz proclamava às oito horas, com as suas nobres badaladas, quanto os garotos foram embora, num contentamento próprio às suas juventudes.
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