sábado, 29 de agosto de 2020

Um sábado especial.

J. B. Pessoa

Capítulo - 46 do livro " Guris e Gibis".

Eram quase nove horas quando Dona Nonnita despertou o seu filho, naquele primeiro sábado de férias juninas, avisando que seus amigos o esperavam no famoso clubinho juvenil. Receosa com a onda de constipações que assolava a criançada jequieense, sua mãe lhe preparou uma grande bacia com água morna para o seu banho matinal, proibindo o filho de usar o banheiro da grossa torneira de água fria, que ficava no quintal. Apesar de o dia despontar com um belo sol, a friagem ainda permanecia na cidade. Após o desjejum, o garoto saiu apressado e foi encontrar seus companheiros, na sede do campinho de futebol por eles construído.

Os garotos estavam reunidos, esperando por Johnny para uma assembléia, na qual os sócios iriam escolher o presidente do clube e solucionar um problema que apareceu, simultaneamente, com a idéia de fundação daquela agremiação. Estavam todos sentados em uns tamboretes, que cada um havia trazido de suas casas, em volta de uma velha mesa de madeira, doada aos garotos pelo Sr. Gracindo Alves de Oliveira, pai de Alípio e vizinho da garotada. Johnny ficou muito contente com a presença de Bill Elliott. Ele era o mais velho do time e o mais adiantado no grau escolar, pois terminaria o curso ginasial, antes de completar seus dezesseis anos de idade. Com exceção de Edgar, que naquele momento estava em seu emprego de caixeiro nas Casas Pernambucanas, todos os sócios compareceram. A presidência do clube foi oferecida a Johnny, com a aprovação de todos os componentes. O garoto agradeceu e fez um pequeno discurso, indicando Nêgo em seu lugar, convencendo a garotada da dedicação e do dinamismo do companheiro na fundação daquela corporação. Nêgo não esperava nenhum apoio dos meninos, principalmente vindo de um garoto, o qual, por diversas vezes, ele havia menosprezado. Posto em votação Nêgo foi eleito com unanimidade; ficando Pé de Pata como secretário e Géo o Tesoureiro do Clube. Emocionado com a aprovação dos amigos, Nêgo fez um belo pronunciamento, imitando os políticos profissionais, arrancando aplausos acalorados de seus companheiros. Em seguida, já presidindo aquela sessão, Nêgo abordou a questão, conscientizando os colegas da falta de verbas, que era o problema que afligia a todos. Por sua vez Géo, na qualidade de tesoureiro questionou:

- Como posso ser tesoureiro de um clube que não tem um só tostão?

- É justamente por isso que estamos reunidos nessa sessão para corrigir essa falha. – Respondeu Nêgo, sorrindo com ironia, para depois acrescentar:

- Precisamos das opiniões de todos!

A pequena sala ficou em silêncio por algum tempo, com todos os garotos pensando em uma maneira original de arrecadar fundos para o tesouro de um cofre vazio. Depois de algum tempo cogitando uma idéia, que sempre lhe vinha na cabeça, Johnny avaliou:

- Que tal a gente promover um bolão ou vários bolões com o jogo de hoje entre o Brasil e a Iugoslávia?

- Claro que sim, pois a gente não investe nada e fica com uma boa percentagem do montante! – afiançou Bill Elliott, concordando com a sugestão do amigo.

- É devera!... Tem muita gente que gosta de jogar em bolões! – disse Géo animado com a possibilidade de arrecadar um bom dinheiro para o tesouro de um clube, que tinha a sua direção.

Os garotos trataram logo de por a idéia em ação. Para isso tentaram entrar em contacto com os sócios honorários do clube, como Luís Augusto, Eduardo, Tõe Porcino, Mipai e Mamãe eu Quero, para ajudá-los naquela empreitada. Todos acataram a idéia com prontidão e seguiram para o centro da cidade na esperança de encontrarem os meninos. Johnny ficou encarregado de procurar Eduardo e Luís, encontrando os dois garotos na Livraria de Dona Lélia Gouveia, os quais estavam averiguando a veracidade de um boato, sobre um álbum de figurinhas, a ser lançado ainda no mês de junho. Bill Elliott foi até a loja onde Edgar trabalhava, comunicando a decisão da turma, enquanto Nêgo e Géo foram até a feira para encontrarem Tõe Porcino e Mamãe eu Quero. Pé de Pata Viageira seguiu para a casa de Mipai, para deixar o garoto ciente da decisão dos companheiros, em dar andamento àquela determinação. Mipai quando ouviu a proposta, assoviou admirado, dizendo:

- Macacos me mordam!... É uma excelente idéia. Como foi que não pensei nisso antes? Logo eu que estou precisando de grana!

Pé de Pata foi categórico na sua colocação:

- O plano é nosso. Deixe para ganhar o seu dinheiro em outra ocasião.

- Tudo bem. Podem contar comigo. – Assegurou o garoto, com sinceridade.

Depois que todos os meninos entraram em contato uns com os outros, eles foram para casa almoçar, marcando um encontro nas escadarias do Prédio Castro Alves logo após o almoço.

As badaladas do relógio da matriz não tinham ainda anunciado as primeiras horas vespertinas, quando Johnny e seus amigos chegaram ao prédio escolar, encontrando Eduardo e Luís com várias folhas de papel pautado em suas mãos. As folhas Já estavam datilografadas, prontas para serem assinadas pelos apostadores, com seus prognósticos do placar final da famosa partida de futebol. Logo depois chegaram os outros garotos e, cada um pegou o seu papel, indo todos à procura dos possíveis apostadores. A garotada visitou todas as Lojas, farmácias e bares da cidade, conseguindo um bom número de apostadores. Entusiasmados com a goleada do primeiro jogo, a maioria dos apostadores exagerava em seus prognósticos. O gerente do City Hotel colocou o placar de oito a zero, enquanto um notório boêmio, conhecido como Zé das Moças, arriscou simplesmente em um a zero. O único apostador que admitiu a seleção brasileira ser vazada com algum gol foi o jovem José Figueiredo Sampaio, secretário do Ginásio de Jequié, conhecido com Zito, o qual colocou

dois gols para o Brasil e um para a Iugoslávia. Johnny sabia que a maioria dos apostadores estava entre os jovens aprendizes de certas profissões; por isso, visitou algumas alfaiatarias, oficinas mecânicas e tendas de sapateiros. Ele ficou encantado com uma tenda, cujas paredes estavam decoradas com “O Amigo da Onça”, cartuns de Péricles, um grande desenhista da revista O Cruzeiro. Luís conseguiu um grande número de apostadores entre os funcionários do Banco da Lavoura, enquanto Edgar entre seus colegas das Casas Pernambucanas. Os garotos trabalharam com tanta obstinação que, quando os alto falantes da Voz da Cidade e da Voz do Sudoeste entoaram o Hino Nacional, eles já tinham angariado uma boa quantia de cruzeiros.

Logo após o início da partida entre o Brasil e a Iugoslávia, Bill Elliott chamou Johnny à parte, comunicando-lhe que Berenice e Eva Marli esperavam os dois na venda da Tia Zulmira. O garoto ficou contente com a notícia e os dois se despediram dos amigos, alegando que iam visitar um excelente artesão, que fabricavam ótimos piões. Bill piscou o olho para Johnny e, sorrindo, virou para Luís perguntando:

- Então meu camarada, você não quer ir com a gente?

- Fica para outra ocasião. – Respondeu Luís, interessado em acompanhar o jogo com a garotada.

Nesse momento chega Orlando e, fazendo festas com todo mundo, proclama com alegria:

- Hoje eu vou ter mais uma certeza de ganhar um conto de reis!

Eduardo quando viu o impertinente colega, resolveu sair dali naquele momento, para não se aborrecer. O garoto olhou para Bill e Johnny, perguntando:

- Posso ir com vocês? Eu também estou precisando de um bom pião!

Johnny olhou para Bill e, como não havia outro jeito, respondeu:

- Claro que sim! Só não sabemos direito onde mora o cidadão.

Eduardo acompanhou Johnny e Bill pela Praça da Feira até o começo da Rua Barbosa de Souza. Depois de se despedir dos garotos, disse sorrindo:

- Agora vocês seguem sozinhos, que eu vou buscar Luísa e nós nos encontramos na venda de Tia Zulmira!

Johnny ficou surpreso, olhando para Eduardo, sem entender o que estava acontecendo. Eduardo percebendo o embaraço do garoto, disse sorrindo:

- Você pensa que eu sou bobo?!... Eu sempre notei a maneira especial com que Berenice lhe tratava! Conversando com Luísa, eu lhe expus a minha dúvida. Hoje cedo ela me disse, que Berenice havia admitido o namoro entre vocês e nos convidou para esse encontro na venda de Tia Zulmira.

Bill Elliott abraçou Johnny de lado, dizendo:

- Tem certas coisas que são impossíveis de continuar em segredo. Principalmente entre as meninas. Neide também percebeu e Berenice abriu o jogo. Edgar também está sabendo. Luis sabe que Berenice gosta de você, mas não sabe do namoro entre vocês, alimentando, assim, a sua ilusão. Só Orlando

não sabe de nada, pois acha que nenhum de nós tem as qualidades necessárias para conquistar uma garota como Berenice.

Eduardo balançou a cabeça negativamente e disse com desdém:

- Esse aí é o maior otário que conheço! Só lamento a desilusão de Luís quando souber a verdade.

Johnny baixou a cabeça e confessou:

- Esse é o meu grande dilema! Eu me sinto como se estivesse traindo o meu primo.

Não se preocupe com isso, pois eu sou testemunha de que a menina se interessou por você, enquanto só eu e ele a cortejava. – Assegurou Eduardo com convicção.

O garoto suspirou aliviado e comunicou aos amigos:

Eva Marli ficou de conversar com Luís, quando Berenice viajar de férias com os pais.

- Não vamos pensar nisso agora e deixar que o tempo resolva essa questão. As meninas estão esperando por nós. – Disse Bill Elliott apressando os garotos.

Eduardo entrou na Rua Barbosa de Souza com destino à Praça da Estação, enquanto Johnny e Bill subiam a ladeira que dava no Beco do Erva Doce, entre essa rua e a Rua do Maracujá. O Beco era assim conhecido, pois tinha um boteco, próximo à venda da Tia Zulmira, que era muito famoso entre a boemia, por servir uma destilada temperada com erva doce verde. A venda da Tia Zulmira era uma espécie muito modesta de confeitaria e lanchonete, onde se tomava um bom caldo de cana e refrescos de frutas típicas da região, os quais eram acompanhados a vários petiscos regionais, entre eles, os saborosos chimangos e avoadores, saídos quentinhos do forno na hora. Apesar de estar próximo à rua dos bordeis, a venda era freqüentada pelas famílias que moravam na redondeza, como também era a maioria das pessoas que tomava seus aperitivos no famoso botequim.

Os garotos entraram na venda que, àquela hora, se encontrava somente com as meninas, as quais conversavam animadas com a risonha solteirona. As garotas receberam seus namorados com alegria, trocando apenas os costumeiros beijos no rosto; não se atrevendo a caricias mais afetuosas, devido o rigor do comportamento exigido pela proprietária, a qual era uma das principais beatas da igreja matriz da cidade. Os jovens sentaram nos modestos tamboretes, em volta de uma pequena mesa de madeira. Eva Marli foi logo avisando:

- Hoje a comemoração vai ser por nossa conta!

- Estamos comemorando o que? – perguntou Johnny, curioso com a declaração da alegre garota.

Berenice apertou a mão de Johnny e olhando em seus olhos, disse com ternura:

- O amor que sinto por você, querido!

Eva Marli pôs as mãos na cintura e protestou marotamente:

- Deixe de ser egoísta garota! Onde fico eu e meu belo namorado?!

Bill arregalou os olhos e disse fingindo preocupação:

- Belo namorado?!... Eu pensei que seu namorado fosse eu!

Aproveitando que a solteirona foi até outro cômodo do estabelecimento em seus afazeres, Eva Marli beijou apaixonadamente os lábios do rapaz, dizendo com doçura:

O meu belo namorado é você, “amore mio”!

Bill Elliott ficou impressionado com o ato da garota. Como não tinha, ainda, beijado a sua namorada na boca, ficou um tanto decepcionado consigo mesmo, pois sabia que a iniciativa deveria partir dele. Contudo se perdoou. Estava feliz demais para alimentar conceitos conservadores.

Os dois casais conversavam animadamente, quando apareceram Luísa e Eduardo, saudando os demais com muita alegria. Por um bom tempo, os jovens se perderam em animadas conversas, não sentindo o tempo passar. Quando a Tia Zulmira apareceu com os chimangos, que naquele instante haviam saído do forno, os estrondos dos fogos foram ouvidos em toda a cidade, aumentando ainda mais a felicidade daqueles jovens no alvorecer de suas vidas. Bill Elliott emocionado disse contente:

- O Brasil acaba de fazer mais um gol!

Eduardo comentou no momento:

- Puxa turma!... Ficamos tão entretidos em nossa conversa, que nos esquecemos do jogo do Brasil e a Iugoslávia.

Johnny que era um garoto observador e ficava sempre atento a todos os acontecimentos em sua volta, estava estranhando não ter ouvido nenhuma comemoração em relação àquela partida de futebol. Depois de um curto raciocínio, declarou:

- O Brasil está ganhando de um à zero ou está empatado no um a um. Deus queira que não esteja perdendo essa partida.

- É verdade!... Até agora só ouvi essa comemoração! - Disse Bill Elliott, que conferindo o seu relógio, declarou:

- Pelas horas que são o jogo deve ter terminado.

Dando pouca importância ao jogo, Johnny disse aos meninos:

- Vamos mudar de assunto, pois as meninas não se interessam por futebol!

- Isso é verdade! Eu não conheço uma só garota que não fique zangada, quando o namorado lhe deixa sozinha, para ir assistir a uma partida de futebol! – Disse Luísa, que ouvia sempre as queixas de sua irmã mais velha, em relação ao noivo.

- Prá mim não fede e nem cheira! – Disse Eva Marli, para depois acrescentar:

- Tudo depende do momento em questão. Se Bill quiser ir ao estádio em um domingo a tarde, eu vou sozinha prá matinê.

- Nada disso!... Você acha que eu lhe deixaria sozinha numa matinê, com tanto gavião por perto? – Perguntou Bill, fingindo ciúme:

- Tenho certeza que não meu bem! – Respondeu a garota sorrindo

Eduardo declarou muito sério:

- Eu gosto de futebol; mas prefiro assistir um bom filme ou ir a um circo.

Bill Elliott perguntou a Berenice:

- E você menina?... Gosta de futebol?

- Um pouco. Mas concordo com Eduardo. Prefiro um bom filme, teatro ou um circo! – Respondeu a menina e virando-se para o namorado, perguntou:

- Johnny, o que é que você mais gosta de fazer?

- De ficar pertinho de você, baby!

- Ah querido, disso eu sei!... Agora fala sério: de que é que você mais gosta como entretenimento?

- Eu também concordo com Eduardo. Prefiro circo, uma boa peça teatral, um bom programa de rádio, ler um bom livro e, sobretudo, ver um bom filme!

- Vejo que nós todos temos muita coisa em comum! – Observou Bill Elliott com satisfação.

- Avaliando aquela conclusão, Johnny proferiu em tom filosófico:

- Pois é!... É assim que nascem as grandes amizades

Nesse momento Eva Marli bradou com alegria:

- Mais uma rodada de caldo de cana, para a gente comemorar a nossa amizade!

Os jovens ficaram discorrendo sobre arte, política e literatura numa postura tão adulta que deixou Bill Elliott impressionado. Ele já tinha notado anteriormente, aquela maturidade em seus amigos e verificou que tamanho e idade não era, realmente, documento, como dizia o provérbio popular. A garotada brincava, fazia piadas e articulava as questões do dia a dia, principalmente por ser um ano eleitoral, em que seriam escolhidos os vereadores, prefeitos, deputados, governadores e senadores em todo o país. A conversa seguiu animada e o tempo foi passando até o relógio da matriz anunciar à hora do ângelus. Berenice chamou à atenção das meninas, para o entardecer e que seria a hora de se despedirem e ir irem para suas casas. Eva Marli renovou a seu convite para a festa da noite de São João, que seria em sua casa. Eduardo acompanhou a namorada até a sua residência, enquanto Berenice seguiu com Eva para a sua casa, na Rua das Pedrinhas.

Depois de se despedirem das meninas, Bill e Johnny foram encontrar com a meninada na Praça Ruy Barbosa, para saber o resultado do jogo, e os possíveis lucros com os bolões arrecadados pelos garotos.

Ao chegarem à Praça, Johnny e Bill encontraram os garotos sentados em um dos bancos do jardim, completamente decepcionados com a atuação da equipe brasileira. O jogo terminou no empate de um a um. Terminando o tempo regular da partida no zero a zero, as equipes foram para a prorrogação e, nos quatro minutos do primeiro tempo, o atacante Zebec fez o gol iugoslavo, deixando apreensiva a torcida brasileira. Daí em diante o nervosismo tomou conta dos torcedores e, somente nos momentos finais do segundo tempo, o grande Didi fez o gol do empate, salvando a seleção brasileira de um grande fracasso. Para muitos torcedores nada estava perdido, pois a equipe brasileira

poderia recuperar o seu desempenho se analisar, corretamente, os possíveis erros cometidos e ter uma atuação melhor no jogo Brasil e Hungria, no dia 27 de junho, logo após os festejos de São João.

Johnny notou que, apesar de ser um sábado, os bares estavam com poucos frequentadores e algumas casas comerciais permaneciam, ainda, abertas. Em nada parecia igual àquela alegria da quarta feira passada, quando todos saudavam a seleção pela magnífica goleada. Entre a meninada surgia uma resenha despropositada, com opiniões extravagantes de garotos, que traçavam estratégias, as quais o técnico Zezé Moreira negligenciara. Géo era o mais afoito em suas deduções, pois achava que a seleção brasileira carecia de melhor preparação. Notando Orlando taciturno em seu canto, resolveu provocar o rapazola:

- Eduardo estava coberto de razão, quando disse que as seleções européias estavam mais bem preparadas!

Embora estivesse sentado, enquanto Géo permanecia em pé, Orlando encarou o garoto com um olhar de cima para baixo. Virando para a garotada, disse com menosprezo:

- Olha pra aí turma! Mais um traidor na área!

- Traidor uma ova! O que queremos são responsabilidades! Não adianta um otário como você, querer tapar o sol com uma peneira!

Luís, percebendo que aquela discussão poderia terminar em briga, apaziguou a celeuma, dizendo:

_ - Vamos com calma, que aqui não há traidores e nem irresponsáveis! Estamos apenas chateados pelo empate, o que não é, de maneira alguma, uma derrota.

Todos os garotos concordaram com a opinião de Luís. Johnny querendo mudar o rumo da conversa, perguntou de supetão:

- E os nossos bolões?!... Quantos apostadores ganharam?

Um precioso silêncio reinou entre os garotos, durando alguns segundos. Mipai, que se encontrava chateado e não havia dado nenhuma opinião, proferiu subitamente:

-Puta que pariu!... Ninguém!

- É devera! Todo mundo apostou numa goleada. – Disse Géo sorrindo.

Johnny alertou os sócios do clubinho, dizendo:

- Se ninguém ganhou, todo o montão do dinheiro pertence ao clube!

- Claro que sim! – Assegurou Luís e, virando para os garotos, disse animado:

- Vamos contar a quantia apostada e ver quanto arrecadamos!

Nêgo, Géo e Pé de Pata convocaram, ali mesmo, uma reunião com todos sócios, inclusive os honorários, faltando apenas Edgar e Eduardo. Depois de contar o dinheiro, Géo declarou contente:

- No tesouro do nosso clube está sendo depositada a quantia de duzentos e vinte e oito cruzeiros!

- Ou de duzentos e vinte e oito mil réis! – Disse Luís, caçoando dos garotos que usam essa nomeação.

- Que será usado em beneficio do nosso time! – Assegurou Géo, solenemente.

- Todos os sócios estão convidados para uma comemoração, no próximo domingo, pela manhã. - Disse Nêgo com alegria.

Orlando admirado com tudo aquilo, perguntou:

- Quem são os sócios e de que clube vocês estão falando?

- Do clube do time da Siqueira Campos e os sócios somos nós. A única exceção é você meu camarada – Disse Tõe Porcino ao amigo.

Orlando não disse nada. Mas no seu íntimo um misto de tristeza e raiva, que andava latente, começou a aflorar naquele instante.

O relógio da matriz proclamava às oito horas, com as suas nobres badaladas, quanto os garotos foram embora, num contentamento próprio às suas juventudes.

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