domingo, 23 de agosto de 2020

A festa de São João na escola.

J. B. Pessoa

Capítulo - 45 do livro " Guris e Gibis".

A tarde estava magnífica com um tempo agradável, apesar da fina e fria chuva que caiu pela manhã, dando a impressão de mais um dia nebuloso. Contudo, a partir das nove horas, o sol apareceu belo e radiante, mostrando que o frio tenebroso das últimas semanas tendia a desaparecer. Desde o último domingo, uma temperatura regular permanecia inalterada, dando alívio a uma população desacostumada a friagens excessivas. As férias juninas estavam começando e prometiam para a garotada uma temporada alegre, com as festas de São João e São Pedro e, principalmente, pela copa do mundo, que havia começado naquela quarta feira.

Logo após as primeiras horas vespertinas, aquela agitação natural de uma meninada, entrando na adolescência, era constante entre os alunos do Grupo Escolar Castro Alves. Os últimos ajustes na decoração haviam terminado pelas meninas, as quais esperavam pacientemente o início do evento, o qual só iria acontecer após o final da partida entre o Brasil e México. A seleção brasileira estreava naquela tarde maravilhosa, tendo a atenção dos ouvintes, nas ondas sonoras do rádio, no mundo inteiro.

Johnny chegou à escola, acompanhado pelos amigos Pé de Pata, Nêgo e Géo, encontrando Luis Augusto, Eduardo e Orlando sentados na escadaria central do prédio, juntos a outros garotos. A expectativa era grande entre os meninos. Eles iriam acompanhar o jogo pelos altos falantes da Voz da Cidade, que iriam transmitir a partida em conexão com a Rádio Globo do Rio de Janeiro. A espera estava deixando a garotada ansiosa, a qual queria desforra pela humilhação sofrida com o Uruguai, quatro anos antes, em pleno Maracanã. Géo era o mais pretensioso de todos, o qual bradava aos gritos:

- Eu quero sangue! Vamos dar uma surra nesses mexicanos de uma figa.

Orlando olhou para Géo e, fingindo espanto, disse com ar surpreso:

- Ué!... Eu pensei que você gostasse deles, pois vive assistindo filmes mexicanos, que nem uns e outros por aí.

Eduardo percebeu a indireta, pois desde que assistiu ao filme “O Direito de Nascer” sofria as chacotas de seus amigos. Géo ciente da intenção de Orlando em provocá-lo, salientou:

- Eu não gosto dos filmes de amor! Gosto apenas das músicas e das comédias mexicanas; principalmente as de Cantínflas e as de Tin Tan. Porém, quando se trata de futebol: pau neles!

Eduardo não querendo deixar barato as provocações de Orlando, acrescentou:

- Eu concordo com Géo, embora não compartilhe de seu entusiasmo pela seleção brasileira, nessa copa!

- É porque você não é um patriota que nem a gente. – Disse Orlando e, olhando com raiva para Eduardo, acrescentou:

- Você não passa de um pé frio, metido a sabichão!

Eduardo olhou para todos os presentes naquele momento e explicou o seu ponto de vista:

- Eu rezo todas as noites antes de dormir, para o Brasil ganhar essa copa. Porém, o que mais me aborrece são as comemorações antecipadas, feitas por pessoas que não entendem nada de futebol.

Enfurecido com as observações do rival, Orlando tirou do seu bolso um maço de notas e, desafiando o garoto, disse com petulância:

- Eu aposto com você um conto de réis, como o Brasil será o campeão do mundo, nessa copa!

A meninada presente no local ficou sem dizer nada, admirada com a súbita bravata do rapaz. Eduardo resolveu acatar aquele desafio, pois tinha certeza que o dinheiro exibido por Orlando não era dele. Crendo que o garoto não fosse até o fim na sua pretensão, respondeu:

- Aceito a aposta, se ficar casada nas mãos de Johnny ou Luís Augusto.

- Mostre o dinheiro pra gente seu besta! – Gritou Orlando, jogando seu maço de dinheiros ao chão.

Eduardo, sabendo que Orlando estava blefando, encarou o rapaz com arrogância e, usando uma artimanha para desorientar o seu oponente, disse sorrindo:

- No momento não disponho de uma quantia suficiente para cobrir a aposta; mas se você aceitar, eu posso assinar uma promissória!

Orlando não esperava uma saída original como aquela. Desafiou Eduardo, sabendo que ele não teria os mil cruzeiros para a aposta. Querendo reverter a sua situação, disse sorrindo:

- Só se ela for avalizada por Luís.

Luís Augusto sabia que era impossível um garoto pobre, dispor de uma quantia daquele porte. Percebeu que naquele maço de notas, não havia a quantia afirmada. Estava informado das atividades do rapaz, o qual recebia todas as semanas, o dinheiro das vendas de doces e salgados fornecidos pela sua mãe aos bares da cidade. Tendo um pai que era gerente de um banco, Luís estava familiarizado com o mundo dos negócios e sabia, também, que notas promissórias só têm valor legal, quando são assinadas por adultos; mesmo assim, registradas em cartórios. Compreendendo que os dois garotos não iam desistir daquela contenda, fez a seguinte sugestão:

- Os dois assinam suas notas promissórias no valor de mil cruzeiros e deixam na minha mão, que entregarei ao vencedor no final da copa.

- É uma excelente ideia! – Disse Johnny, que até então observava calado, sorrindo das bravatas dos dois amigos.

Nêgo assistia o desenrolar das cenas com certo desdém. Ouvindo a proposta de Luís, levantou-se do degrau onde estava sentado, perguntando a todos, com indignação:

- Como é que um brasileiro pode apostar contra o Brasil?

- Pergunte ao traidor aí! – Respondeu Orlando, querendo voltar a ser o senhor da situação.

Eduardo olhou para a garotada e disse tranquilamente:

- Não fui eu quem fez o desafio. Como não sou de correr do pau, topo qualquer parada!

- Nesse momento chega Mipai, na companhia de Tõe Porcino e seu primo Mamãe eu Quero. Informado daquela disputa, não perdeu a oportunidade de chacotear os dois amigos, dizendo, numa desconsideração total:

- Como é que dois mequetrefes querem apostar um conto de réis?!

- Eu tenho meios de arcar com os meus compromissos! – Disse Orlando muito sério.

Não tem porra nenhuma! Só muita garganta e poucos tostões! – Disse Mipai, ridicularizando o amigo.

Vê se respeita seu sujeito, que eu tenho o meu dinheiro e não preciso tomar emprestado. Se eu perder, serão apenas míseros cruzeiros, pois a dor de ver a derrota do Brasil será maior!

- Míseros cruzeiros?!... Você acha que um conto de réis é míseros cruzeiros? – Perguntou Géo, indignado com a afirmação de Orlando.

Pé de Pata olhou para o rapaz e, admirado com a sua petulância, disse caçoando:

- Orlando pode estar pensando que tem um rei na barriga!

- É por isso que ele tem uma barriga tão grande! – Disse Mamãe eu Quero, entrando no clima da gozação.

Orlando olhou para a meninada e, estufando ainda mais a sua pança, disse sorrindo:

- Só tem barriga grande quem tem dinheiro!

- Dinheiro se guarda nos bancos e não na barriga, seu besta! – Afirmou Pé de Pata numa sonora gargalhada, sendo acompanhado por toda meninada naquele momento. Tõe Porcino levantou-se de onde estava sentado e perguntou aos interessados:

- Como é que é? Vai ter apostas ou não?!

- Pergunte ao sujeito aí que me desafiou! – Respondeu Eduardo com prontidão, sabendo que as equipes europeias tinham mais condições de vencer a copa do mundo. Por sua vez, Orlando sorria da ingenuidade do colega, por acreditar que ele pagaria alguma coisa, se acaso perdesse. Virou para Tõe Porcino e disse com bazofia:

- Traga-me as promissórias que eu assino agora mesmo!

Luís Augusto foi até a Livraria Sudoeste e pediu ao seu proprietário, o senhor Osvaldo dos Anjos Silva, que datilografasse o valor apostado nas folhas, dizendo que se tratava de uma brincadeira. Logo depois, voltou para os amigos com os papeis na mão, dizendo:

- Está tudo pronto. Só falta vocês assinarem.

Os dois garotos assinaram as promissórias, diante de uma meninada que estava acreditando na veracidade do ato. Além de Johnny e Luís, somente Mipai e Porcino sabiam que tudo aquilo era uma farsa. Johnny e Luís pelos motivos legais e os outros dois por saberem que aqueles presunçosos apostadores jamais pagariam se acaso perdesse. Mamãe eu Quero, admirado com tudo aquilo, comentou ao primo:

- Eu só queria saber onde o perdedor vai arranjar dinheiro para pagar a aposta.

- Não vai arranjar. Os otários estão jogando com uma coisa mais valiosa do que o dinheiro!

- Ah, é?! Qual é a coisa mais valiosa do que o dinheiro?

O gibi olhou para o primo e disse muito sério:

- A palavra dada e a própria honra! Quem ganhar ficará com a assinatura do outro para esnobar o seu nome a vida inteira.

Depois de assinadas às promissórias, Orlando se despediu dos amigos, alegando que tinha compromissos a tratar, que voltaria para a escola na hora da festa. A garotada permaneceu nas dependências do prédio, conversando com os amigos, até ouvir o Hino Nacional, vindo de um alto falante, situado na Praça Ruy Barbosa. Os garotos seguiram juntos para ouvir a transmissão do jogo, ficando na escola apenas Eduardo à espera da festa, pois tinha marcado um encontro com a sua namorada.

Aquele final de tarde foi muito especial. Era uma quarta feira e todas as casas comerciais estavam abertas, as quais encerravam suas atividades depois das dezoito horas. Entretanto, após o começo do jogo, alguns estabelecimentos liberaram seus funcionários, os quais fizeram ponto no Bar Joly. Os garotos encontraram Orlando, que ainda estava coletando os últimos dividendos de sua mãe e, juntos, se acomodaram em um banco, próximo ao alto falante da praça, onde uma multidão o rodeava atentos ao desenrolar da partida. A inquietação era constante entre os torcedores ali presentes, que ansiosos escutavam a narração do jogo. De repente, a palavra mágica foi ouvida. Aos vinte e três minutos do primeiro tempo, Baltazar fez o primeiro gol, inaugurando o placar e trazendo exultação a uma torcida, que queria mais. Nesse momento todo o comércio fechou as suas portas e uma saraivada de bombas e foguetes comemoravam com alegria aquele acontecimento. A seguir, aos trinta minutos, Didi ampliou o placar, deixando em delírio os torcedores jequieenses. Não se tinha ainda terminado a comemoração do segundo gol, quando quatro minutos depois foi à vez de Pinga, fazendo o terceiro, para nove minutos depois completar o quarto. Nesse mesmo instante, Orlando virou para seus camaradas, gritando com euforia:

- Cadê o besta do Eduardo? O sacana está começando a me dever um conto de reis!

O primeiro tempo terminou com toda a Praça Ruy Barbosa em festas. No segundo tempo, a equipe brasileira perdeu um pouco do seu rendimento;

contudo, mesmo assim, aos vinte e quatro minutos, Julinho Botelho fez o último gol, encerrando aquela histórica goleada.

De repente, às comemorações da praça, foram chegando a rapaziada da cidade, fazendo alarido com as buzinas dos seus carros, se concentrando nas imediações da Confeitaria Cristal. Os bares da cidade fervilhavam de pessoas de todas as classes sociais, comemorando a estreia vencedora da seleção brasileira e, em toda a praça, um carnaval fora de época parecia acontecer.

Aquela estupenda vitória animou os garotos, que andavam esmorecidos com as opiniões de Eduardo, o qual passou a ser vilipendiado por Orlando, com o apoio de Nêgo. Logo após o final da partida, Mipai, Tõe Porcino e Mamãe eu Quero ficaram pela praça, observando o desenrolar das comemorações. Os outros seguiram juntos a Johnny e Luís para a festa escolar, numa alacridade contagiante, típica de garotos entrando na adolescência. A meninada seguiu para a parte de trás do prédio, que dava para a praça da matriz, onde já havia muitas crianças e adolescentes, esperando o começo da festa escolar de São João. O pátio estava lindamente decorado com bandeirolas de cores vivas. Uma bela fogueira, a qual não seria acesa, estava posicionada em um local, onde separavam as duas alas do prédio. A fogueira era ladeada por dois ramos, que simbolizavam árvores, cheias de laranjas, pamonhas e milhos cozidos, como se fossem frutas delas. O portão, ao lado do Cine Bonfim, estava aberto, dando acesso às dependências do prédio e para uma única sala aberta, atentamente vigiada por Dona Amália, onde estavam guardadas as iguarias, que seriam servidas a todos, no desenrolar da festança.

Havia muitas garotas bonitas na festa, despertando os interesses de Géo e Pé de Pata, os quais começaram a ensaiar seus malsucedidos flertes, sob os olhares achincalhados de Nêgo e Orlando. Johnny e Luís avistaram Edgar e Neide na companhia de Eduardo e Luísa e foram ao encontro deles, saudando-os alegremente. Apertando a mão de Edgar num demorado cumprimento, Luís perguntou:

-Então rapaz, você acompanhou o jogo?

- Sim! Que goleada hem?!... Quando a loja liberou a gente, eu corri para casa de Neide, para escutar o jogo com o pai dela, no rádio novo que ele comprou!

Johnny, ao ouvir as novas, pilheriou:

- Ih, rapaz! Você já está nessa liberdade toda?

Neide, toda radiante, respondeu:

- Vocês precisavam ver. Pareciam velhos amigos!

- Isso vai dar em casamento! – Comentou Eduardo com satisfação, pois a ideia do matrimonio lhe era agradabilíssima, fazendo parte dos seus devaneios. Nesse momento, Chega Orlando na companhia de Nêgo, Géo e Pé de Pata e, ainda no clima de celebração pela vitória brasileira, saúdam a todos com alegria. Orlando se dirige para Eduardo, perguntando com cinismo:

- Então meu camarada! Você ainda acha que o Brasil não será campão, depois de vencer o México, nessa magnífica goleada?

- Claro que acho?... Venceu, mas não convenceu!

- Por quê?!

- Porque a seleção mexicana é fraca e está muito aquém das seleções europeias!

- Orlando abriu os braços e, balançando a cabeça negativamente, virou para todos, dizendo:

- Olha pra aí, turma! Tenho ou não tenho razão?!... O sujeito fala uma besteira dessas e ainda diz que entende de futebol.

- O que ele entende mesmo é de filmes de amor! – Disse Nêgo mangando do garoto, arrancando risadas da gurizada presentes no local. Até mesmo Luís estava achando o amigo um tanto irredutível em suas análises; mesmo sabendo que ele era instruído por seu tio, um famoso árbitro de futebol.

Luísa abraçou seu namorado e beijou o seu rosto, dizendo:

- De amor ele realmente entende!

Eduardo sorriu jubiloso e desdenhando de Orlando, pronunciou uma frase, conhecida de todos:

- “Ri melhor quem ri por último!”

Orlando, enciumado com a cena que presenciou, bradou com raiva:

- Ri da derrota brasileira?!... Do Brasil não ser campeão?

- Não otário! Dos mil cruzeiros que vou ganhar de você!

- Ah é?!... Senta e espera! – Disse Orlando.

- Veremos! – Completou Eduardo.

Preocupado com uma possível briga no ambiente escolar, Johnny tratou de apaziguar os ânimos, dizendo:

- Eu acho melhor a gente não discutir mais sobre isso. Afinal todo mundo tem a sua opinião, o que é de direito de todos. Tenho certeza que Eduardo é um patriota e suas convicções são baseadas em informações que ele dispõe. Ele apostou porque foi desafiado e você, mais do que ninguém, deveria respeitar isso!

- Concordo com o Johnny! – Disse Luís, corroborando com a sensatez do primo.

Não se dando por satisfeito, Orlando articulou:

- Opinião de traidor, isso sim!

Aborrecido com os desmandos de Orlando, Edgar pronunciou mansamente, com leve tom de ameaça:

- Ô esse menino!... Você não acha que já falou demais sobre futebol? Desliga esse rádio, que o programa está chato demais!

- Orlando olhou para o garoto e baixou o tom da voz. Temeroso com a zanga daquele guri de treze anos, que tinha porte de rapaz e era muito mais forte do que ele, disse com um sorriso amarelo:

- Edgar tem razão. Afinal, hoje é um dia de festa escolar e daqui a pouco vou cantar na peça.

O relógio da matriz anunciou às dezenove horas e trinta minutos, quando as professoras Alíria Argolo, Emília Ferreira e Mary Rabello deram andamento

às festividades juninas da escola, que finalizavam o primeiro semestre do ano letivo. A festa foi iniciada com o concurso das quadrilhas, uma das quais compostas por crianças de sete a nove anos, que cursavam o primeiro e segundo ano primário. A seguir, outras com os alunos do terceiro, quatro e quinto ano; todas acompanhadas ao som do acordeom da brilhante Celina Lopes, a qual foi convidada pela professora Beth Azevedo, dando uma mostra de talento e criatividade, naquela festança escolar. Os componentes das quadrilhas estavam caprichosamente caracterizados de caipiras. Os garotos com calças e camisas falsamente remendadas, usando um lenço vermelho ao pescoço e chapéus de palhas à cabeça; as meninas com belos vestidos rodados, confeccionados com chita estampadas de flores coloridas e, cabelos penteados à “Maria Chiquinha”. O grupo mais aplaudido foi o das crianças do turno vespertino, que bailou com primor e elegância. A garotada ficou encantada com uma lourinha de oito anos, chamada Ângela Rizzerio de Moura, que estava graciosamente maquiada de carmim e batom, em seu lindo rosto infantil. Ela dançava com um garoto de sua idade, chamado Élcio Barbosa Cerqueira, que sorria a todo o momento, enlevado com tamanha formosura.

Após o final das danças quadrilheiras, as professoras resolveram que seria mais emocionante, os próprios alunos escolherem o grupo vencedor. A escolha seria feita por aclamação. A professora Mary se posicionou junto à fogueira e pediu para todos baterem palmas, quando fossem apresentados os grupos participantes. A intensidade dos aplausos foi regular, na medida em que iam sendo anunciados. Contudo, quando a professora apresentou a turminha do turno vespertino, a ovação foi tão intensa, que não deixou nenhuma dúvida entre os presentes. O grupinho da tarde, intitulado “Tabaréus da Roça”, foi o vencedor do concurso de quadrilhas, ficando com o prêmio maior daquele ano.

Ao serem anunciados os resultados das provas parciais, a alegria tomou conta de uma garotada, que sempre levou a sério os seus estudos. Em sua classe, Johnny foi classificado em primeiro lugar. O segundo e terceiro lugares foram para Luís e Eduardo, ficando ambos satisfeitos com a colocação. A surpresa da noite ficou com Orlando, que ganhou o honroso oitavo lugar, numa sala de quarenta e cinco alunos. Eduardo, comentando o inusitado fato, esclareceu aos amigos:

- Eu acho natural que ele tenha sido bem classificado. Afinal, o sujeito está repetindo o quinto ano pela terceira vez!

- Orlando apareceu com o boletim na mão exibindo para todos os colegas a sua façanha. Aproveitando aquela novidade, Nêgo lhe perguntou com zombarias:

- Ih malandro! Você entrou para o time dos CDF?

- Neca de tibiribas! Você está sonhando?!... Senta e espera! - Respondeu Orlando, olhando atravessado para o companheiro, com uma desconsideração total pela ideia.

A comemoração seguia animada com muitos garotos se congratulando pelos sucessos nos estudos. Nesse momento, Berenice chega à festa, na

companhia de Bill Elliott e Eva Marli, cumprimentando a todos com alegria. Luís Augusto quando vê a menina, sorri de contentamento e vai ao encontro dela, saudando os garotos efusivamente. Como eles tinham prometido aparecer na festa, o garoto pergunta delicadamente:

- Onde vocês estavam? A nossa festa começou há um bom tempo!

- A gente ficou alguns minutos na Confeitaria Cristal, acompanhando uns amigos na comemoração da grande goleada. – Respondeu Bill Elliott que, como todos, ele estava feliz com a vitória brasileira.

Eva Marli franziu o nariz, demonstrando pouco apreço pelo esporte. Sem nenhuma paciência por comemorações agitadas, disse aborrecida:

- A gente tava vindo para cá, quando Bill encontrou alguns colegas do Ginásio do Padre e tivemos que ficar com um bando de bêbados até agora. – A seguir, acrescentou com raiva:

- Detesto bêbados!

Tolerante com os rapazes naquela situação, Berenice tentou suavizar o mau humor da amiga, dizendo a sorrir:

- Ora, eram apenas alguns estudantes exageradamente alegres!

- Tudo bem! Já não está aqui quem falou. Só espero que uns e outros não entrem nessa moda!

Bill Elliott, sentindo aquela indireta, refutou:

- Não se preocupe minha querida. Até o cheiro de bebida me enjoa.

Berenice avistou Johnny na companhia de Edgar e Eduardo com suas namoradas e foi ao encontro deles, sendo acompanhada por Eva, Bill e Luís. A garota felicitou a todos pelos seus desempenhos nas provas parciais, principalmente a Orlando, que todo prosa alardeava:

- Vou melhorar ainda mais nas provas finais.

- Boa noticia! A maior riqueza de um homem não é uma farta conta bancária e sim, sapiência acumulada. – afirmou Bill Elliott para Orlando.

Lá isso é verdade! – completou Luís, que ouvia sempre essa frase pronunciada pelo seu pai. Em seguida, Berenice chegou-se a Eduardo e Luísa, perguntando:

- A comédia que vocês irão apresentar, já foi encenada:

- Ainda não!...Vai começar daqui a pouco. – Respondeu Eduardo.

Notando Johnny distanciado dos demais, Berenice se aproxima do garoto e, beijando o seu rosto, segredou-lhe ao ouvido:

- Eu estava sentindo a sua falta, querido!

O garoto retribuindo ao beijo, disse sussurrando:

- Eu também baby!

Nesse momento apareceu Dona Deocrecia oferecendo a todos um quentíssimo mingau de milho verde. Ela era uma auxiliar muito querida dos estudantes daquele estabelecimento escolar. Ao contrário da ríspida Dona Amália, aquela doce senhora tinha muita paciência com todos os alunos, principalmente com as crianças mais delicadas. A seguir a professora Mary Rabello deu início à comédia ensaiada pelos seus intérpretes, nas últimas duas

semanas, apresentando um por um os seus componentes. A pequena peça teatral arrancou muitas risadas da gurizada presente naquela festividade. A encenação foi finalizada com Orlando cantando a música tema, sendo bastante aplaudida, com todos os atores cantando e dançando ao som do acordeom da divina Celina Lopes. A garotada ficou ainda, um bom tempo, se divertindo e se deliciando com as guloseimas juninas servidas na festa. Quando ecoaram as dez badaladas do relógio da matriz, a diretora Alíria Argolo finalizou aquela festança, diante do alegre protestar daquela meninada feliz.

Após a finalização do festejo escolar, a garotada foi se despedindo de todos os amigos, indo para suas casas. Eva Marli aproveitou a oportunidade para comunicar que o ponto de encontro e a comemoração da noite de São João seriam em sua casa, na Rua das Pedrinhas. Avisou que fazia questão das presenças de todos os amigos. Johnny abraçou Berenice e, despedindo-se da garota com um beijo no rosto, sussurrou ao seu ouvido:

- Eu gostaria de acompanhar vocês, mas Orlando está de marcação. Depois Bill e Eva marcam um encontro com a gente, Certo?

- Sim meu querido, eu compreendo! - Afirmou a menina carinhosamente.

Luis Augusto e Bill Elliott acompanharam as meninas até a casa de Berenice, passando pela Praça Ruy Barbosa, que naquele momento já se encontrava vazia, somente com poucas pessoas e os notívagos de sempre em seus bares. Eduardo e Edgar escoltaram suas namoradas até às suas residências, enquanto Johnny seguiu para a Rua Siqueira Campos, na companhia de Pé de Pata, Nêgo e Géo.

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