Capítulo - 45 do livro " Guris e Gibis".
A
tarde estava magnífica com um tempo agradável, apesar da fina e fria chuva que
caiu pela manhã, dando a impressão de mais um dia nebuloso. Contudo, a partir
das nove horas, o sol apareceu belo e radiante, mostrando que o frio tenebroso
das últimas semanas tendia a desaparecer. Desde o último domingo, uma
temperatura regular permanecia inalterada, dando alívio a uma população
desacostumada a friagens excessivas. As férias juninas estavam começando e
prometiam para a garotada uma temporada alegre, com as festas de São João e São
Pedro e, principalmente, pela copa do mundo, que havia começado naquela quarta
feira.
Logo
após as primeiras horas vespertinas, aquela agitação natural de uma meninada,
entrando na adolescência, era constante entre os alunos do Grupo Escolar Castro
Alves. Os últimos ajustes na decoração haviam terminado pelas meninas, as quais
esperavam pacientemente o início do evento, o qual só iria acontecer após o
final da partida entre o Brasil e México. A seleção brasileira estreava naquela
tarde maravilhosa, tendo a atenção dos ouvintes, nas ondas sonoras do rádio, no
mundo inteiro.
Johnny
chegou à escola, acompanhado pelos amigos Pé de Pata, Nêgo e Géo, encontrando
Luis Augusto, Eduardo e Orlando sentados na escadaria central do prédio, juntos
a outros garotos. A expectativa era grande entre os meninos. Eles iriam
acompanhar o jogo pelos altos falantes da Voz da Cidade, que iriam transmitir a
partida em conexão com a Rádio Globo do Rio de Janeiro. A espera estava
deixando a garotada ansiosa, a qual queria desforra pela humilhação sofrida com
o Uruguai, quatro anos antes, em pleno Maracanã. Géo era o mais pretensioso de
todos, o qual bradava aos gritos:
- Eu
quero sangue! Vamos dar uma surra nesses mexicanos de uma figa.
Orlando
olhou para Géo e, fingindo espanto, disse com ar surpreso:
-
Ué!... Eu pensei que você gostasse deles, pois vive assistindo filmes
mexicanos, que nem uns e outros por aí.
Eduardo
percebeu a indireta, pois desde que assistiu ao filme “O Direito de Nascer”
sofria as chacotas de seus amigos. Géo ciente da intenção de Orlando em
provocá-lo, salientou:
- Eu
não gosto dos filmes de amor! Gosto apenas das músicas e das comédias
mexicanas; principalmente as de Cantínflas e as de Tin Tan. Porém, quando se
trata de futebol: pau neles!
Eduardo
não querendo deixar barato as provocações de Orlando, acrescentou:
- Eu
concordo com Géo, embora não compartilhe de seu entusiasmo pela seleção
brasileira, nessa copa!
- É
porque você não é um patriota que nem a gente. – Disse Orlando e, olhando com
raiva para Eduardo, acrescentou:
- Você
não passa de um pé frio, metido a sabichão!
Eduardo
olhou para todos os presentes naquele momento e explicou o seu ponto de vista:
- Eu
rezo todas as noites antes de dormir, para o Brasil ganhar essa copa. Porém, o
que mais me aborrece são as comemorações antecipadas, feitas por pessoas que
não entendem nada de futebol.
Enfurecido
com as observações do rival, Orlando tirou do seu bolso um maço de notas e,
desafiando o garoto, disse com petulância:
- Eu
aposto com você um conto de réis, como o Brasil será o campeão do mundo, nessa
copa!
A
meninada presente no local ficou sem dizer nada, admirada com a súbita bravata
do rapaz. Eduardo resolveu acatar aquele desafio, pois tinha certeza que o
dinheiro exibido por Orlando não era dele. Crendo que o garoto não fosse até o
fim na sua pretensão, respondeu:
-
Aceito a aposta, se ficar casada nas mãos de Johnny ou Luís Augusto.
-
Mostre o dinheiro pra gente seu besta! – Gritou Orlando, jogando seu maço de
dinheiros ao chão.
Eduardo,
sabendo que Orlando estava blefando, encarou o rapaz com arrogância e, usando
uma artimanha para desorientar o seu oponente, disse sorrindo:
- No
momento não disponho de uma quantia suficiente para cobrir a aposta; mas se
você aceitar, eu posso assinar uma promissória!
Orlando
não esperava uma saída original como aquela. Desafiou Eduardo, sabendo que ele
não teria os mil cruzeiros para a aposta. Querendo reverter a sua situação,
disse sorrindo:
- Só
se ela for avalizada por Luís.
Luís
Augusto sabia que era impossível um garoto pobre, dispor de uma quantia daquele
porte. Percebeu que naquele maço de notas, não havia a quantia afirmada. Estava
informado das atividades do rapaz, o qual recebia todas as semanas, o dinheiro
das vendas de doces e salgados fornecidos pela sua mãe aos bares da cidade.
Tendo um pai que era gerente de um banco, Luís estava familiarizado com o mundo
dos negócios e sabia, também, que notas promissórias só têm valor legal, quando
são assinadas por adultos; mesmo assim, registradas em cartórios. Compreendendo
que os dois garotos não iam desistir daquela contenda, fez a seguinte sugestão:
- Os
dois assinam suas notas promissórias no valor de mil cruzeiros e deixam na
minha mão, que entregarei ao vencedor no final da copa.
- É
uma excelente ideia! – Disse Johnny, que até então observava calado, sorrindo
das bravatas dos dois amigos.
Nêgo
assistia o desenrolar das cenas com certo desdém. Ouvindo a proposta de Luís,
levantou-se do degrau onde estava sentado, perguntando a todos, com indignação:
- Como
é que um brasileiro pode apostar contra o Brasil?
-
Pergunte ao traidor aí! – Respondeu Orlando, querendo voltar a ser o senhor da
situação.
Eduardo
olhou para a garotada e disse tranquilamente:
- Não
fui eu quem fez o desafio. Como não sou de correr do pau, topo qualquer parada!
-
Nesse momento chega Mipai, na companhia de Tõe Porcino e seu primo Mamãe eu
Quero. Informado daquela disputa, não perdeu a oportunidade de chacotear os
dois amigos, dizendo, numa desconsideração total:
- Como
é que dois mequetrefes querem apostar um conto de réis?!
- Eu
tenho meios de arcar com os meus compromissos! – Disse Orlando muito sério.
Não
tem porra nenhuma! Só muita garganta e poucos tostões! – Disse Mipai,
ridicularizando o amigo.
Vê se
respeita seu sujeito, que eu tenho o meu dinheiro e não preciso tomar
emprestado. Se eu perder, serão apenas míseros cruzeiros, pois a dor de ver a
derrota do Brasil será maior!
-
Míseros cruzeiros?!... Você acha que um conto de réis é míseros cruzeiros? –
Perguntou Géo, indignado com a afirmação de Orlando.
Pé de
Pata olhou para o rapaz e, admirado com a sua petulância, disse caçoando:
-
Orlando pode estar pensando que tem um rei na barriga!
- É
por isso que ele tem uma barriga tão grande! – Disse Mamãe eu Quero, entrando
no clima da gozação.
Orlando
olhou para a meninada e, estufando ainda mais a sua pança, disse sorrindo:
- Só
tem barriga grande quem tem dinheiro!
-
Dinheiro se guarda nos bancos e não na barriga, seu besta! – Afirmou Pé de Pata
numa sonora gargalhada, sendo acompanhado por toda meninada naquele momento.
Tõe Porcino levantou-se de onde estava sentado e perguntou aos interessados:
- Como
é que é? Vai ter apostas ou não?!
-
Pergunte ao sujeito aí que me desafiou! – Respondeu Eduardo com prontidão,
sabendo que as equipes europeias tinham mais condições de vencer a copa do
mundo. Por sua vez, Orlando sorria da ingenuidade do colega, por acreditar que
ele pagaria alguma coisa, se acaso perdesse. Virou para Tõe Porcino e disse com
bazofia:
-
Traga-me as promissórias que eu assino agora mesmo!
Luís
Augusto foi até a Livraria Sudoeste e pediu ao seu proprietário, o senhor
Osvaldo dos Anjos Silva, que datilografasse o valor apostado nas folhas,
dizendo que se tratava de uma brincadeira. Logo depois, voltou para os amigos
com os papeis na mão, dizendo:
- Está
tudo pronto. Só falta vocês assinarem.
Os
dois garotos assinaram as promissórias, diante de uma meninada que estava
acreditando na veracidade do ato. Além de Johnny e Luís, somente Mipai e
Porcino sabiam que tudo aquilo era uma farsa. Johnny e Luís pelos motivos
legais e os outros dois por saberem que aqueles presunçosos apostadores jamais
pagariam se acaso perdesse. Mamãe eu Quero, admirado com tudo aquilo, comentou
ao primo:
- Eu
só queria saber onde o perdedor vai arranjar dinheiro para pagar a aposta.
- Não
vai arranjar. Os otários estão jogando com uma coisa mais valiosa do que o
dinheiro!
- Ah,
é?! Qual é a coisa mais valiosa do que o dinheiro?
O gibi
olhou para o primo e disse muito sério:
- A
palavra dada e a própria honra! Quem ganhar ficará com a assinatura do outro
para esnobar o seu nome a vida inteira.
Depois
de assinadas às promissórias, Orlando se despediu dos amigos, alegando que
tinha compromissos a tratar, que voltaria para a escola na hora da festa. A
garotada permaneceu nas dependências do prédio, conversando com os amigos, até
ouvir o Hino Nacional, vindo de um alto falante, situado na Praça Ruy Barbosa.
Os garotos seguiram juntos para ouvir a transmissão do jogo, ficando na escola
apenas Eduardo à espera da festa, pois tinha marcado um encontro com a sua
namorada.
Aquele
final de tarde foi muito especial. Era uma quarta feira e todas as casas
comerciais estavam abertas, as quais encerravam suas atividades depois das
dezoito horas. Entretanto, após o começo do jogo, alguns estabelecimentos
liberaram seus funcionários, os quais fizeram ponto no Bar Joly. Os garotos
encontraram Orlando, que ainda estava coletando os últimos dividendos de sua
mãe e, juntos, se acomodaram em um banco, próximo ao alto falante da praça,
onde uma multidão o rodeava atentos ao desenrolar da partida. A inquietação era
constante entre os torcedores ali presentes, que ansiosos escutavam a narração
do jogo. De repente, a palavra mágica foi ouvida. Aos vinte e três minutos do
primeiro tempo, Baltazar fez o primeiro gol, inaugurando o placar e trazendo
exultação a uma torcida, que queria mais. Nesse momento todo o comércio fechou
as suas portas e uma saraivada de bombas e foguetes comemoravam com alegria
aquele acontecimento. A seguir, aos trinta minutos, Didi ampliou o placar,
deixando em delírio os torcedores jequieenses. Não se tinha ainda terminado a
comemoração do segundo gol, quando quatro minutos depois foi à vez de Pinga,
fazendo o terceiro, para nove minutos depois completar o quarto. Nesse mesmo
instante, Orlando virou para seus camaradas, gritando com euforia:
- Cadê
o besta do Eduardo? O sacana está começando a me dever um conto de reis!
O
primeiro tempo terminou com toda a Praça Ruy Barbosa em festas. No segundo
tempo, a equipe brasileira perdeu um pouco do seu rendimento;
contudo,
mesmo assim, aos vinte e quatro minutos, Julinho Botelho fez o último gol,
encerrando aquela histórica goleada.
De
repente, às comemorações da praça, foram chegando a rapaziada da cidade,
fazendo alarido com as buzinas dos seus carros, se concentrando nas imediações
da Confeitaria Cristal. Os bares da cidade fervilhavam de pessoas de todas as
classes sociais, comemorando a estreia vencedora da seleção brasileira e, em
toda a praça, um carnaval fora de época parecia acontecer.
Aquela
estupenda vitória animou os garotos, que andavam esmorecidos com as opiniões de
Eduardo, o qual passou a ser vilipendiado por Orlando, com o apoio de Nêgo.
Logo após o final da partida, Mipai, Tõe Porcino e Mamãe eu Quero ficaram pela
praça, observando o desenrolar das comemorações. Os outros seguiram juntos a
Johnny e Luís para a festa escolar, numa alacridade contagiante, típica de
garotos entrando na adolescência. A meninada seguiu para a parte de trás do
prédio, que dava para a praça da matriz, onde já havia muitas crianças e
adolescentes, esperando o começo da festa escolar de São João. O pátio estava
lindamente decorado com bandeirolas de cores vivas. Uma bela fogueira, a qual
não seria acesa, estava posicionada em um local, onde separavam as duas alas do
prédio. A fogueira era ladeada por dois ramos, que simbolizavam árvores, cheias
de laranjas, pamonhas e milhos cozidos, como se fossem frutas delas. O portão,
ao lado do Cine Bonfim, estava aberto, dando acesso às dependências do prédio e
para uma única sala aberta, atentamente vigiada por Dona Amália, onde estavam
guardadas as iguarias, que seriam servidas a todos, no desenrolar da festança.
Havia
muitas garotas bonitas na festa, despertando os interesses de Géo e Pé de Pata,
os quais começaram a ensaiar seus malsucedidos flertes, sob os olhares
achincalhados de Nêgo e Orlando. Johnny e Luís avistaram Edgar e Neide na
companhia de Eduardo e Luísa e foram ao encontro deles, saudando-os
alegremente. Apertando a mão de Edgar num demorado cumprimento, Luís perguntou:
-Então
rapaz, você acompanhou o jogo?
- Sim!
Que goleada hem?!... Quando a loja liberou a gente, eu corri para casa de
Neide, para escutar o jogo com o pai dela, no rádio novo que ele comprou!
Johnny,
ao ouvir as novas, pilheriou:
- Ih,
rapaz! Você já está nessa liberdade toda?
Neide,
toda radiante, respondeu:
-
Vocês precisavam ver. Pareciam velhos amigos!
- Isso
vai dar em casamento! – Comentou Eduardo com satisfação, pois a ideia do
matrimonio lhe era agradabilíssima, fazendo parte dos seus devaneios. Nesse
momento, Chega Orlando na companhia de Nêgo, Géo e Pé de Pata e, ainda no clima
de celebração pela vitória brasileira, saúdam a todos com alegria. Orlando se
dirige para Eduardo, perguntando com cinismo:
-
Então meu camarada! Você ainda acha que o Brasil não será campão, depois de
vencer o México, nessa magnífica goleada?
-
Claro que acho?... Venceu, mas não convenceu!
- Por
quê?!
-
Porque a seleção mexicana é fraca e está muito aquém das seleções europeias!
-
Orlando abriu os braços e, balançando a cabeça negativamente, virou para todos,
dizendo:
- Olha
pra aí, turma! Tenho ou não tenho razão?!... O sujeito fala uma besteira dessas
e ainda diz que entende de futebol.
- O
que ele entende mesmo é de filmes de amor! – Disse Nêgo mangando do garoto,
arrancando risadas da gurizada presentes no local. Até mesmo Luís estava
achando o amigo um tanto irredutível em suas análises; mesmo sabendo que ele
era instruído por seu tio, um famoso árbitro de futebol.
Luísa
abraçou seu namorado e beijou o seu rosto, dizendo:
- De
amor ele realmente entende!
Eduardo
sorriu jubiloso e desdenhando de Orlando, pronunciou uma frase, conhecida de
todos:
- “Ri
melhor quem ri por último!”
Orlando,
enciumado com a cena que presenciou, bradou com raiva:
- Ri
da derrota brasileira?!... Do Brasil não ser campeão?
- Não
otário! Dos mil cruzeiros que vou ganhar de você!
- Ah
é?!... Senta e espera! – Disse Orlando.
-
Veremos! – Completou Eduardo.
Preocupado
com uma possível briga no ambiente escolar, Johnny tratou de apaziguar os
ânimos, dizendo:
- Eu
acho melhor a gente não discutir mais sobre isso. Afinal todo mundo tem a sua
opinião, o que é de direito de todos. Tenho certeza que Eduardo é um patriota e
suas convicções são baseadas em informações que ele dispõe. Ele apostou porque
foi desafiado e você, mais do que ninguém, deveria respeitar isso!
-
Concordo com o Johnny! – Disse Luís, corroborando com a sensatez do primo.
Não se
dando por satisfeito, Orlando articulou:
-
Opinião de traidor, isso sim!
Aborrecido
com os desmandos de Orlando, Edgar pronunciou mansamente, com leve tom de ameaça:
- Ô
esse menino!... Você não acha que já falou demais sobre futebol? Desliga esse
rádio, que o programa está chato demais!
-
Orlando olhou para o garoto e baixou o tom da voz. Temeroso com a zanga daquele
guri de treze anos, que tinha porte de rapaz e era muito mais forte do que ele,
disse com um sorriso amarelo:
-
Edgar tem razão. Afinal, hoje é um dia de festa escolar e daqui a pouco vou
cantar na peça.
O
relógio da matriz anunciou às dezenove horas e trinta minutos, quando as
professoras Alíria Argolo, Emília Ferreira e Mary Rabello deram andamento
às
festividades juninas da escola, que finalizavam o primeiro semestre do ano
letivo. A festa foi iniciada com o concurso das quadrilhas, uma das quais
compostas por crianças de sete a nove anos, que cursavam o primeiro e segundo
ano primário. A seguir, outras com os alunos do terceiro, quatro e quinto ano;
todas acompanhadas ao som do acordeom da brilhante Celina Lopes, a qual foi
convidada pela professora Beth Azevedo, dando uma mostra de talento e criatividade,
naquela festança escolar. Os componentes das quadrilhas estavam caprichosamente
caracterizados de caipiras. Os garotos com calças e camisas falsamente
remendadas, usando um lenço vermelho ao pescoço e chapéus de palhas à cabeça;
as meninas com belos vestidos rodados, confeccionados com chita estampadas de
flores coloridas e, cabelos penteados à “Maria Chiquinha”. O grupo mais
aplaudido foi o das crianças do turno vespertino, que bailou com primor e
elegância. A garotada ficou encantada com uma lourinha de oito anos, chamada
Ângela Rizzerio de Moura, que estava graciosamente maquiada de carmim e batom,
em seu lindo rosto infantil. Ela dançava com um garoto de sua idade, chamado
Élcio Barbosa Cerqueira, que sorria a todo o momento, enlevado com tamanha formosura.
Após o
final das danças quadrilheiras, as professoras resolveram que seria mais
emocionante, os próprios alunos escolherem o grupo vencedor. A escolha seria
feita por aclamação. A professora Mary se posicionou junto à fogueira e pediu
para todos baterem palmas, quando fossem apresentados os grupos participantes.
A intensidade dos aplausos foi regular, na medida em que iam sendo anunciados.
Contudo, quando a professora apresentou a turminha do turno vespertino, a
ovação foi tão intensa, que não deixou nenhuma dúvida entre os presentes. O
grupinho da tarde, intitulado “Tabaréus da Roça”, foi o vencedor do concurso de
quadrilhas, ficando com o prêmio maior daquele ano.
Ao
serem anunciados os resultados das provas parciais, a alegria tomou conta de uma
garotada, que sempre levou a sério os seus estudos. Em sua classe, Johnny foi
classificado em primeiro lugar. O segundo e terceiro lugares foram para Luís e
Eduardo, ficando ambos satisfeitos com a colocação. A surpresa da noite ficou
com Orlando, que ganhou o honroso oitavo lugar, numa sala de quarenta e cinco
alunos. Eduardo, comentando o inusitado fato, esclareceu aos amigos:
- Eu
acho natural que ele tenha sido bem classificado. Afinal, o sujeito está
repetindo o quinto ano pela terceira vez!
-
Orlando apareceu com o boletim na mão exibindo para todos os colegas a sua
façanha. Aproveitando aquela novidade, Nêgo lhe perguntou com zombarias:
- Ih
malandro! Você entrou para o time dos CDF?
- Neca
de tibiribas! Você está sonhando?!... Senta e espera! - Respondeu Orlando,
olhando atravessado para o companheiro, com uma desconsideração total pela
ideia.
A
comemoração seguia animada com muitos garotos se congratulando pelos sucessos
nos estudos. Nesse momento, Berenice chega à festa, na
companhia
de Bill Elliott e Eva Marli, cumprimentando a todos com alegria. Luís Augusto
quando vê a menina, sorri de contentamento e vai ao encontro dela, saudando os
garotos efusivamente. Como eles tinham prometido aparecer na festa, o garoto
pergunta delicadamente:
- Onde
vocês estavam? A nossa festa começou há um bom tempo!
- A
gente ficou alguns minutos na Confeitaria Cristal, acompanhando uns amigos na
comemoração da grande goleada. – Respondeu Bill Elliott que, como todos, ele
estava feliz com a vitória brasileira.
Eva
Marli franziu o nariz, demonstrando pouco apreço pelo esporte. Sem nenhuma
paciência por comemorações agitadas, disse aborrecida:
- A
gente tava vindo para cá, quando Bill encontrou alguns colegas do Ginásio do
Padre e tivemos que ficar com um bando de bêbados até agora. – A seguir,
acrescentou com raiva:
-
Detesto bêbados!
Tolerante
com os rapazes naquela situação, Berenice tentou suavizar o mau humor da amiga,
dizendo a sorrir:
- Ora,
eram apenas alguns estudantes exageradamente alegres!
- Tudo
bem! Já não está aqui quem falou. Só espero que uns e outros não entrem nessa
moda!
Bill
Elliott, sentindo aquela indireta, refutou:
- Não
se preocupe minha querida. Até o cheiro de bebida me enjoa.
Berenice
avistou Johnny na companhia de Edgar e Eduardo com suas namoradas e foi ao
encontro deles, sendo acompanhada por Eva, Bill e Luís. A garota felicitou a
todos pelos seus desempenhos nas provas parciais, principalmente a Orlando, que
todo prosa alardeava:
- Vou
melhorar ainda mais nas provas finais.
- Boa
noticia! A maior riqueza de um homem não é uma farta conta bancária e sim,
sapiência acumulada. – afirmou Bill Elliott para Orlando.
Lá
isso é verdade! – completou Luís, que ouvia sempre essa frase pronunciada pelo
seu pai. Em seguida, Berenice chegou-se a Eduardo e Luísa, perguntando:
- A
comédia que vocês irão apresentar, já foi encenada:
-
Ainda não!...Vai começar daqui a pouco. – Respondeu Eduardo.
Notando
Johnny distanciado dos demais, Berenice se aproxima do garoto e, beijando o seu
rosto, segredou-lhe ao ouvido:
- Eu
estava sentindo a sua falta, querido!
O
garoto retribuindo ao beijo, disse sussurrando:
- Eu
também baby!
Nesse
momento apareceu Dona Deocrecia oferecendo a todos um quentíssimo mingau de
milho verde. Ela era uma auxiliar muito querida dos estudantes daquele
estabelecimento escolar. Ao contrário da ríspida Dona Amália, aquela doce
senhora tinha muita paciência com todos os alunos, principalmente com as
crianças mais delicadas. A seguir a professora Mary Rabello deu início à
comédia ensaiada pelos seus intérpretes, nas últimas duas
semanas,
apresentando um por um os seus componentes. A pequena peça teatral arrancou
muitas risadas da gurizada presente naquela festividade. A encenação foi
finalizada com Orlando cantando a música tema, sendo bastante aplaudida, com
todos os atores cantando e dançando ao som do acordeom da divina Celina Lopes.
A garotada ficou ainda, um bom tempo, se divertindo e se deliciando com as
guloseimas juninas servidas na festa. Quando ecoaram as dez badaladas do
relógio da matriz, a diretora Alíria Argolo finalizou aquela festança, diante
do alegre protestar daquela meninada feliz.
Após a
finalização do festejo escolar, a garotada foi se despedindo de todos os
amigos, indo para suas casas. Eva Marli aproveitou a oportunidade para comunicar
que o ponto de encontro e a comemoração da noite de São João seriam em sua
casa, na Rua das Pedrinhas. Avisou que fazia questão das presenças de todos os
amigos. Johnny abraçou Berenice e, despedindo-se da garota com um beijo no
rosto, sussurrou ao seu ouvido:
- Eu
gostaria de acompanhar vocês, mas Orlando está de marcação. Depois Bill e Eva
marcam um encontro com a gente, Certo?
- Sim
meu querido, eu compreendo! - Afirmou a menina carinhosamente.
Luis Augusto e Bill Elliott acompanharam as meninas até a casa de Berenice, passando pela Praça Ruy Barbosa, que naquele momento já se encontrava vazia, somente com poucas pessoas e os notívagos de sempre em seus bares. Eduardo e Edgar escoltaram suas namoradas até às suas residências, enquanto Johnny seguiu para a Rua Siqueira Campos, na companhia de Pé de Pata, Nêgo e Géo.
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