Carlos Eden Meira
A
propaganda volante anunciava o show. Cada fala do locutor era intercalada por
um trecho de uma das mais famosas músicas de Teixeirinha, cantor gaúcho que fez
enorme sucesso nos anos sessenta e setenta. A música era “Coração de Luto”,
cuja letra falava de um incêndio que teria vitimado a mãe do cantor. Uma
melodia triste, com uma letra que muitos críticos consideravam de muito
mau-gosto, obviamente. Entretanto, era bastante solicitada pelos ouvintes da
“Rádio Bahiana de Jequié”, e, certamente, por muitos ouvintes das rádios de
todo o País. O show estava sendo patrocinado por uma marca de cerveja que havia
sido lançada na época, e seria realizado à noite, num dos cinemas da cidade,
numa programação dupla em que o cantor se apresentaria depois da exibição de um
filme, como era de costume.
Naquela
noite, após o filme, o auditório superlotado, público ansioso aguardando o
show, o empresário do cantor levando sua inseparável maleta “Zero Zero Sete”,
dirigiu-se à bilheteria do cinema e falou para o encarregado da venda de
ingressos: “Pode subir pra esperar o show, que eu fico aqui pra vender mais
ingressos”. Realmente, ainda havia muita gente na fila, e chegando mais! O
rapaz que àquela altura, assim como o gerente, já confiavam na distinta e
educada maneira de ser do empresário, inclusive na responsabilidade do seu
cargo, entregou-lhe a bilheteria e subiu para o auditório, feliz e radiante
para aguardar o show. Já eram mais de dez horas da noite, e nada de
Teixeirinha!! O público já começava ficar impaciente, assovios e gritos
reverberavam no auditório, pancadas nas cadeiras, o que fez com que o gerente
assustado procurasse o empresário, tendo sido informado de que ele estava na
bilheteria.
Chegando
à bilheteria, o preocupado gerente encontrou o empresário saindo agitado, de
maleta na mão, dizendo: “Fique aqui na bilheteria, porque liguei para o hotel,
e me disseram que Teixeirinha já chegou! Estou indo buscá-lo”! Saiu apressado e
entrou no seu “fusca”, estacionado na porta do cinema. Na bilheteria, o gerente
perplexo constatou que nas gavetas não havia um único centavo! Eram mais de
onze horas da noite, e nada de Teixeirinha!! O público agora enraivecido passou
a gritar, urrar e quebrar cadeiras, saindo do cinema gritando “meu dinheiro”,
chutando e rasgando todos os cartazes que anunciavam filmes, principalmente os
que anunciavam o “show de Teixeirinha”. O gerente, desesperado solicitou a
intervenção da polícia, mas de nada adiantou e o prejuízo foi enorme! O tal
“empresário” sumiu no “oco do mundo”, e dele até hoje não se sabe notícia! A
propósito, querem saber qual o trecho da música “Coração de Luto” que a tal
propaganda volante repetia ao anunciar o “show”? Era justamente a primeira
frase da letra: “O MAIOR GOLPE DO MUNDO...” O cantor Teixeirinha com certeza
nunca soube desse fato.
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