sábado, 2 de maio de 2020

FICÇÃO OU PROFECIA?

Carlos Eden Meira


Em seu livro “1984”, lançado em 1949, o escritor britânico George Orwell descrevia uma sociedade do futuro dominada pelo “Grande Irmão”, (Big Brother). Na visão do escritor, em 1984 a sociedade estaria controlada por um poder central e totalitário, que teria sob seu domínio a vida particular dos habitantes, através de uma tecnologia que colocava escuta e vigias eletrônicas nas residências, observando as atitudes e conversas das pessoas, numa completa invasão de privacidade institucionalizada. Tudo isso em nome da “segurança do sistema”, imposto pelo “Big Brother”, num país imaginário criado pelo autor.
Ora, com a diferença de mais de três décadas em relação ao futuro descrito no livro de Orwell, e 71 anos após seu lançamento, vivemos num mundo onde “grampos” telefônicos, câmeras de vigilância (ocultas ou não), agora com sistema de leitura facial, já se tornaram comuns, ainda que tais recursos sejam utilizados em benefício da população como equipamentos de segurança para investigação policial, nos casos de crimes. A Internet , no entanto, chamou a atenção do mundo para a ficção de Orwell, quando há algum tempo descobriu-se que os Estados Unidos assumindo mais ou menos o papel do “Grande Irmão”, espionaram e escutaram o mundo inteiro através da web, em nome da “segurança dos países amigos, contra o terrorismo internacional”. Tal procedimento, apesar de sua justificativa ser considerada válida para muita gente, assustou e gerou protestos em vários países, inclusive nos EUA, já que feria o direito de privacidade das pessoas e agredia os princípios de soberania das nações espionadas. Entretanto, pode-se deduzir que atualmente, outros países mundo afora podem também, estar usando tais recursos, sem o conhecimento da mídia internacional.
O artigo aqui escrito é uma adaptação atualizada de um texto meu, intitulado “Bisbilhotice e Voyeurismo”, publicado em 2002 no jornal “Novos Tempos”, edição de março/abril na página 02, no qual, eu me lembrando do livro de Orwell, fazia uma referência ao “Big Brother Brasil”, considerando o programa como um incentivo à bisbilhotice e ao voyeurismo, conforme dizia o título do artigo. Hoje, smartphones, mini câmeras e outros equipamentos eletrônicos de última geração, já possibilitam aos “voyeurs” e bisbilhoteiros mal-intencionados invadir a vida privada de qualquer pessoa a qualquer hora, e publicar nas redes sociais da Internet, prejudicando a imagem de muita gente, conforme já foi amplamente divulgado na imprensa.
O “Big Brother” de George Orwell inspirou o nome do famoso reality show. E quanto a tal espionagem via Internet aqui citada? Poderia ter os mesmos objetivos do “Grande Irmão” fictício do livro do escritor britânico? É bastante preocupante, apesar de não vivermos numa ditadura tecnológica como a que se refere o autor de “1984”. Entretanto, diante do desenvolvimento cada vez mais rápido da tecnologia na área da informática, muitas vezes utilizada para finalidades políticas e ideológicas, quem nos garante que a ficção profética de George Orwell não acabará se tornando uma dura realidade?

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