segunda-feira, 6 de abril de 2020

A VENDA DE “SEU AURINO”

 Carlos Eden Meira

Ali, vendia-se de tudo. Pão, bacalhau, querosene, candeeiro, velas brancas e coloridas, “pinico”, fumo de corda, fósforos, cigarros, “mortalha” (papel de seda para enrolar cigarro de fumo de corda); cachaça temperada ou purinha, vermute, cocada, “ofélis” (doce feito com melaço de cana); bolachão, biscoito cavaco, carne seca, sardinha seca ou enlatada, preguinhos de sapateiro, anzol, linha e vara de pescar, chapéu de palha ou de couro, linha de costura, agulha, dedal, corante “tintol” para tingir tecidos, refresco, requeijão, couro pra fazer tamborim, (pois naquele tempo, tínhamos carnaval e suas batucadas); alvaiade pra pintar os “galupins” encardidos (tênis brancos, usados pelos estudantes na educação física); pião, enfieira para pião, bolas de gude diversas. Vendia muitas outras coisas das quais não me lembro, nem sei se aqui haveria espaço suficiente para citá-las.
Havia até pele de cobra e couro de onça, pendurados na parede (como decoração, eu acho). A venda de seu Aurino era famosa na Rua da Gameleira e adjacências. Nós, garotos na época encontrávamos ali, tudo que nos interessava. No mês de junho, comprávamos traques, bombinhas, cobrinhas, chuvinhas, além do papel de seda colorido para fazer balão, que era usado também, para fazer pipas ou “arraias”, como chamávamos,
Quando faltava energia elétrica - “Vai menino, ali na venda de seu Aurino comprar querosene pro candeeiro”!
Quando faltava pão na cidade - “Vai menino, na venda de seu Aurino comprar bolachão pra tomar com café”!
Quando o solado do sapato soltava - “Vai menino, na venda de seu Aurino comprar pregos de sapateiro pra pregar o solado”!
Havia também, ali por perto, algumas barracas que vendiam leite, carvão, amendoim cozido e refrescos, preparados com um pó de “essência de frutas”, conforme diziam os barraqueiros. Após nossas brincadeiras e banhos de rio, era nessas barracas que matávamos nossa sede, tomando os tais refrescos. Nossos pais advertiam, - “Esses refrescos são feitos com água do rio!! Vocês vão pegar verminose!!” - Não ligávamos para isso e tomávamos os refrescos. Muitos de nós acabávamos tendo mesmo verminose, mas ninguém sabia se era por causa do refresco ou dos banhos de rio. Entretanto, da venda de seu Aurino, nada era questionado por nossos pais. Tudo ali era considerado como coisas limpas, bem cuidadas, pois seu Aurino era uma pessoa cuidadosa, responsável e tinha um nome a zelar. Bons tempos, os da venda de seu Aurino!!!

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